30.8.12

ainda as guerras da História de Portugal (em fascículos).

11:07

A acrescentar ao meu apontamento de ontem sobre "as guerras da História de Portugal", um texto de José Mattoso. Em termos de historiografia, uma opinião relevante:

Uma História de Portugal para o nosso tempo

Aproveito para mostrar o meu repúdio (mas não a minha surpresa) com este texto do senhor Fernandes:

Um é apenas intelectualmente desonesto; os outros nem sei classificar.

O senhor Fernandes escandaliza-se muito com os preconceitos contra Rui Ramos mas, ao mesmo tempo, ataca Loff com "argumentos" políticos (logo nas primeiras palavras avança com o "argumento" de que ele é comunista). E, sobranceiro como de costume, trata Loff como um historiador menor. Mas quem é o senhor Fernandes para avaliar cientificamente o historiador Loff? O senhor Fernandes usa armar-se em avaliador-mor (X é uma pseudo-realizadora de cinema, Y é um qualquer-coisa menor) e insiste em amalgamar diferenças interpretativas com desonestidade: o senhor Fernandes "condena" Loff por causa de uma tese (sobre a forma de comparar o "fascismo" português com outros "fascismos") que pode não ser consensual, ou ser mesmo já minoritária, mas não deve ser tratada como um erro puro e simples. Por quê? Por estar assim o senhor Fernandes a fazer, para defender os seus, aquilo que critica nos outros: colocar o "grupismo" político antes do debate sério das matérias. Mas, como digo, não acho isso surpreendente no senhor Fernandes.

Entretanto, Loff volta hoje à carga: junto à pastinha, para que não vos falte nada.

29.8.12

a guerra da História de Portugal.

23:12

Há tempos passei a palavra sobre um artigo de Manuel Loff a criticar a parte de Rui Ramos na História de Portugal que anda agora a ser distribuída em fascículos pelo Expresso. Esse artigo pode ser lido, em duas partes, nestes dois links:

Uma história em fascículos - Parte 1

Uma história em fascículos - Parte 2

Ando a ler a dita História de Portugal, com agrado, mas ainda não cheguei à parte de Rui Ramos, que é sobre o período mais recente. Estava de boa-fé a divulgar a crítica. Entretanto, li a resposta de Rui Ramos à crítica. Essa resposta pode ser lida aqui:

Um caso de difamação

Ao ler a resposta de Rui Ramos fiquei alerta para um coisa simples: iria ter de julgar a coisa pelos meus próprios olhos, porque, apesar das convicções de Rui Ramos não serem as minhas, e de ele assumir muitas vezes uma postura provocatória servida pelos seus conhecimentos de História, a resposta dele parecia-me credível.

Descobri agora um texto de Pedro Rolo Duarte, que pede desculpa a Rui Ramos por ter propalado a visão de Loff. Esse texto pode ser lido aqui:

Pedido de Desculpa

O meu comentário, de momento, é este: se para ser um "historiador de esquerda" é preciso ser caluniador, estamos tramados.

Deixo os dados. Quem quiser que leia e retire as suas conclusões. Eu vou continuar a ler a dita História de Portugal, com atenção. E a ter cada vez mais cuidado com os falsos amigos, que não atacam apenas nas tarefas de tradução.

coordenação governamental musculada.



28.8.12

Assange, Garzón e outros

13:02

O caso de Julian Assange não é diferente: uma aparentemente boa ideia pode esconder uma tragédia de horror. O século XX explicou isso a qualquer pessoa de esquerda que se deixe interrogar pelas realidades da história: entre os piores crimes de massas estiveram os que foram cometidos em nome dos mais nobres ideais.
Muitas vezes, a podridão escondida e em expansão no cerne de uma maçã ainda bonita por fora revela-se pela má escolha das companhias. Se Assange, que fez a sua fama de cavaleiro andante à custa do refrão da transparência absoluta, escolhe como protector o presidente do Equador, teórico e praticante de truques há muito conhecidos para combater os "excessos opinativos" da comunicação social, temos de concluir que para ele já vale tudo. Confesso que, para mim, isso não é uma surpresa: sempre me opus a todo e qualquer esquema de "justiça popular", que é uma prática em que alguns, em nome do "bem comum" que ninguém lhes deu a tarefa de defender, se arrogam o direito de perseguir e castigar este ou aquele sem respeito por qualquer tipo de regras, sem contraditório, sem julgamento. Isso pode ser feito por grupos de "populares" armados de varapaus que perseguem ciganos nas aldeias do norte ou pode ser feito por informáticos que decidem roubar e expor a vida de pessoas e instituições que eles condenaram sem processo, sem controlo, sem direito de defesa. Assange é a bandeira dessa forma de agir, da "justiça popular" global da era da internet. Mais sofisticada tecnologicamente, mas tão bárbara como as milícias populares. E tão arbitrária como elas.
O que mais me espanta nesta equação (mas pode ser ingenuidade minha) é a participação de Garzón. Como nota Ana Palacio neste artigo, Garzón lutou contra os estratagemas das relações diplomáticas usados para furtar uma pessoa à justiça (não queria deixar que Pinochet se escondesse nas malhas dos obstáculos à extradição) e agora contribui com o seu saber para ajudar Assange a usar os estratagemas das relações diplomáticas para se furtar à justiça. E não me digam que é escandaloso comparar Pinochet a Assange: escandaloso é querer uma justiça diferente para cada cor política. Critiquei a forma como Garzón foi perseguido em Espanha: estou convencido de que cometeu erros (abuso dos seus meios como juiz), mas também estou convencido de que foi perseguido pela direita mais reaccionária que quer impedir que se vasculhe na porcaria que os seus heróis fizeram há umas décadas. Mas ser vítima não lhe dá imunidade ao disparate, nem o isenta de análise crítica.
Infelizmente, todo este caso ilustra o avanço global da lei da selva: Robin dos Bosques nunca foi bem aquilo que nos contaram, mas os candidatos a seus herdeiros arriscam tornar-se uma máscara horripilante dos valores de que se reclamam.

27.8.12

de pernas para o ar.

21:38

O Parlamento quer espaço para disponibilizar à população em geral o sinal vídeo das sessões onde os deputados estarão a tratar de nos representar. Pretende disponibilizar o sinal vídeo tal e qual o Parlamento o usa internamente, sem edição, sem modificação. E todas as decisões sobre a "TV Parlamento" são por unanimidade dos grupos parlamentares, o que parece uma garantia suplementar contra qualquer manipulação.
Face a isto - que me parece de louvar - há um regulador que tenta colocar sob a sua alçada, como se fosse um canal de televisão, o espelho possível do que faz o nosso parlamento. E, aparentemente, esse regulador até faz voz grossa à Assembleia da República, para fazer valer os seus "direitos" de regulador, parece que até afiando as unhas para multar o Parlamento.
Fico espantado: o regulador que não é capaz de tomar uma posição consequente sobre um ministro que anda por aí a fazer voz grossa a jornalistas que investigam coisas que não interessam ao dito ministro... é o mesmo regulador que ladra às canelas do Parlamento para controlar uma forma elementar de os deputados nos darem contas do que andam a fazer.
De pernas para o ar devo estar eu, certamente.

21.8.12

por que faz o Público censura?

10:43

Os leitores têm o direito de saber: se o Público deixa passar comentários às suas notícias na edição em linha que contêm insultos e inverdades, qual a razão para não publicar comentários que se limitam a fornecer dados que corrigem o conteúdo das notícias que publica?

A propósito desta notícia "Criminoso de guerra preso em Lisboa pode requerer liberdade em 2020", porque continua ainda por publicar - desde ontem à tarde - o comentário (em duas partes) cuja imagem publico a seguir? (Clicar sobre as imagens para as ampliar.)



Não parece sequer que seja um problema técnico, porque o mesmo leitor que viu estes comentários silenciados conseguiu, pouco depois, publicar um reacção a um comentário que já estava em linha.

Terá o Público alguma explicação razoável para isto?

(Note-se que o autor dos ditos comentários não sou eu; o nome e a localização do leitor em causa são genuínos, posso asseverar. E trata-se de um conhecedor da situação, concorde-se ou não com o seu ponto de vista global sobre o conflito.)

4.8.12

Pais e Filhos.

15:02

Henrique Monteiro escreve hoje, na sua habitual coluna da última página do Expresso: "O mundo que nos deixaram era um fantástico  mundo de liberdade, crescimento económico e garantias sociais".
O mundo que nos deixaram?! O que quer isso dizer? Não sei que idade tem Henrique Monteiro, não sei em que país tem vivido, não sei o que andou a fazer, mas acho estranho que lhe tenham caído tantas coisas boas no colo, assim a modos de dádiva,como quem não tem de bulir para que as coisas aconteçam. Pela minha parte não me revejo nada nessa herança dourada e fácil, mas acredito piamente que Monteiro tenha nascido melhor do que eu, ou num pais mais afortunado do que o meu.
Essas tiradas de Monteiro fazem parte dessa teoria, usada para justificar que nos tirem tudo o que temos, segundo a qual todos os nossos direitos são roubos ao futuro dos nossos filhos e netos. Para isso, os Monteiros que por aí andam representam a geração adulta de hoje como uma geração de oportunistas que vivem das facilidades herdadas e da irresponsabilidade face aos outros e ao país e ao futuro.
Não me revejo nessa teoria. Desde logo por causa do meu percurso de vida. Mas também porque essas sereias não trabalham pelo melhor futuro dos vindouros; trabalham, isso sim, como ideólogos da rapina em curso.
Não sei o que Henrique Monteiro acha do seu próprio contributo para a comunidade. Pelo que escreve deve achar que fez pouco e usufruiu muito. Quem sou eu para o contrariar. Coisa diferente é pensar que todos gozamos o que ele gozou. E partir dessa presunção para as suas fábulas políticas.