13.3.24

RECOMEÇAR, ONDE O POVO DECIDIU

23:41



No passado dia 11 de março, o órgão oficial do PS, o Acção Socialista, na sua versão digital diária, retomou a sua presença na esfera pública com identidade plena, isto é, com página própria e autónoma, o que já não acontecia desde junho de 2021. Desde que fui eleito para diretor do Acção Socialista que tinha fixado o dia a seguir às eleições legislativas antecipadas de 2024 para dar esse passo, o que se concretizou.
Nesse dia, entendi que essa edição deveria contar com um editorial do diretor - obviamente, marcado pela circunstância pós-eleitoral. Para registo, reproduzo aqui esse texto.

O Acção Socialista Digital diário pode ser consultado em https://accaosocialista.pt 


RECOMEÇAR, ONDE O POVO DECIDIU

O povo votou. Em eleições livres, umas vezes ganha-se, outras vezes perde-se. Desta vez, o PS não tem maioria e não tem condições para congregar uma maioria parlamentar e social funcional para governar o país. Não há maioria à esquerda e entrar no jogo da AD seria trair o nosso programa, as nossas propostas e a nossa base social de apoio. Em coerência – como, aliás, fizemos em 2015, sob a liderança de António Costa – não vamos inviabilizar a governação de quem ficou em primeiro lugar sem termos condições para oferecer uma solução alternativa. Vamos, pois, ser oposição: respeitamos o papel que o povo nos deu. Em democracia, ser oposição é uma função nobre e decisiva. O Secretário-Geral do PS, Pedro Nuno Santos, deixou isso muito claro logo na noite eleitoral: seremos oposição, não deixaremos esse papel para a extrema-direita, e é na oposição que vamos reconstruir a nossa relação com os portugueses a quem devemos a construção diária deste país.

 

O aspeto mais positivo destas eleições legislativas foi termos feito recuar ainda mais a abstenção e termos conseguido uma participação eleitoral acima dos padrões dos últimos anos. Independentemente do resultado, esse é um vetor indiscutivelmente positivo desta dinâmica e temos de trabalhar nessa base para aprofundar o nosso regime onde o povo é quem mais ordena.

A direita acede à oportunidade de governar em condições económicas e financeiras excecionais: há problemas difíceis para resolver (como o PS afirmou, sem tibieza, na campanha), mas a governação socialista deixou os meios e as oportunidades para permitir a sua superação: não apenas os recursos, mas também os instrumentos. Em muitos casos, a direita só tem que não estragar e deixar que se continue a implementar o que deixamos em movimento. Vamos lá ver se a cegueira ideológica não os impede de entender isso.

Depois de termos assumido responsabilidades em tempos excecionalmente desafiantes, com uma pandemia que ultrapassou em risco de saúde tudo o que qualquer humano vivo conhecera e com uma guerra na Europa que julgávamos impossível e causou uma crise inflacionária que não testemunhávamos há décadas, a direita acede ao poder com uma situação económica em que temos mais liberdade face aos mercados financeiros, com uma inflação a retomar a normalidade, com uma população mais qualificada para ajudar o país a dar um salto em frente e com os recursos para resolver problemas complexos e aflitivos para muita gente – como na habitação, onde o esforço de longo prazo, feito pelo PS, permitirá agora muitas inaugurações…

Quer isto dizer que não cometemos erros? Cometemos, certamente. Não seria capaz de fazer aqui uma lista dos mesmos. Desde logo, porque me falta sabedoria para tanto, mas, igualmente, claro, porque ter feito parte do número dos que erraram não me ajuda nessa tarefa… De qualquer modo, e porque esta foi uma eleição para deputados e deputadas à Assembleia da República, assinalo, neste capítulo, o seguinte. Convém nunca desvalorizar o papel de reais representantes dos povos e dos territórios que todos os deputados são. Alguns deputados podem não ser brilhantes a discursar, podem não ser mestres de retórica e, por isso, não acederem ao reconhecimento mediático, mas todos, e no seu conjunto, conhecem as suas terras, as suas gentes, as disfunções que atrapalham a nossa vida coletiva, as insuficiências opacas dos serviços, as revoltas e injustiças sofridas ou percebidas – e, assim sendo, os parlamentares mereciam ser ouvidos com mais atenção e com mais cuidado, num país onde a mediatização excessiva do processo político favorece a excessiva governamentalização da ação política e uma subalternização indevida da função parlamentar. A reconciliação do povo com a política, com a democracia e com os socialistas, de que falou apropriadamente o Secretário-Geral do PS na sua claríssima intervenção na noite eleitoral, também passará por aí, é minha convicção. Não parece desadequado dizê-lo quando se prepara uma nova legislatura.

Porfírio Silva


(Editorial do Acção Socialista Digital diário, edição nº 1461, de 11 de março de 2024)


O Acção Socialista Digital diário pode ser consultado em https://accaosocialista.pt 


Porfírio Silva, 13 de março de 2024
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25.1.24

Relatório REFLeT - Reflexão Sobre Ensino e Formação na era dos Large Language Models

 
 
Parece claro que precisamos de pensar organizadamente sobre as oportunidades e riscos que emergem nos processos de ensino e aprendizagem devido à disponibilidade de novas ferramentas de Inteligência Artificial, designadamente as que são capazes de compor textos, produzir imagens, ...
 
No ano de 2023, o Instituto Superior Técnico constituiu uma comissão para estudar as implicações nos processos de ensino e de formação de algumas ferramentas de Inteligência Artificial que, sendo acessíveis de forma generalizada a estudantes e docentes, poderiam suscitar novas questões nas dinâmicas de uma instituição de ensino superior. 
 
Essa comissão, designada REFLeT, era composta essencialmente por vários professores do IST com responsabilidades científicas e pedagógicas, sendo presidida pelo Professor Arlindo Oliveira, alguém muito presente no debate público sobre estas matérias.
A "encomenda" entregue à Comissão REFLeT contemplava o convite a duas pessoas exteriores às profissões e disciplinas mais ligadas àquela escola, para integrarem a dita comissão. Os escolhidos foram o Professor Paulo Mota Pinto (Direito) e eu próprio (Filosofia das Ciências).
 
A Comissão entregou o relatório em Julho de 2023 - Relatório REFLeT - Reflexão Sobre Ensino e Formação na era dos Large Language Models (clicar para aceder ao documento) - e, com base nesse documento, o Conselho Pedagógico veio, posteriormente (Novembro de 2023), a publicar um conjunto de orientações Sobre a utilização de IA nos métodos de ensino e de avaliação de conhecimentos (clicar para aceder ao documento).

O jornal dos estudantes do IST, diferencial, publicou (a 8 de Janeiro passado) uma notícia sobre este processo: Conselho Pedagógico aprova documento sobre a utilização de Inteligência Artificial (clicar para aceder ao documento). (A imagem acima foi "copiada" dessa matéria.)

Soube, entretanto, por informação do Prof. Arlindo Oliveira, que algumas universidades estrangeiras têm mostrado interesse por estes documentos.

De qualquer modo, se a questão vos interessa - devia interessar! -, podem consultar os documentos nos links que fui deixando ao longo do texto.
 
Porfírio Silva, 25 de Janeiro de 2024
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8.1.24

Quem escolhe o governo é o povo, não é o presidente

10:40

 

Camaradas,

O que nos move é o país. As pessoas concretas. O que ainda falta fazer. 

Os nossos adversários são as desigualdades, são as injustiças, são as discriminações.

O nosso método é a solidariedade, é a redistribuição, é a responsabilidade coletiva de cuidarmos do interesse geral. É apoiarmos a iniciativa privada para que faça o seu trabalho e reforçarmos o Estado social para que rumemos a uma sociedade decente – sabendo que público e privado só entregam resultados em boa articulação. 

É por isso que temos de derrotar a direita radicalizada que por aí anda, a recauchutada AD, que é a coligação dos pais e das mães do CH e da iniciativa neoliberal.

 

O PSD gosta muito de falar de reformas, mas, quando vê uma reforma a passar-lhe à frente do nariz, não a reconhece.

Foram contra a criação do SNS, essa reforma estrutural de primeira grandeza.

Quando aprovámos o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, o PSD absteve-se. Não percebeu que era uma verdadeira reforma estrutural.

Nós apostámos na educação de adultos, o PSD tentou destruí-la.

Quando Mariano Gago apostou na ciência, a direita resistia e dizia que havia doutorados a mais.

Quando o PS lançou a aposta nas energias renováveis, o PSD foi contra. E depois foi contra a mobilidade elétrica no transporte público. E depois foi contra o plano de redução tarifária.

É que como isto não é cortar salários nem cortar pensões, como isto não é cortar direitos sociais, o PSD não reconhece que sejam reformas estruturais.

É que só se fazem reformas a sério com tempo, estratégia, determinação, rumo, persistência.

Foi isso que fizemos, por exemplo, quando apostámos numa economia assente nas qualificações. Desde 2015:

- a percentagem de jovens com Ensino Superior subiu de 33% para 44% e já estamos acima da média europeia;

- o peso dos que NÃO concluíram o Secundário desceu de 33% para 17%;

- o abandono escolar precoce reduziu para metade;

- a percentagem de jovens com qualificação profissional de nível secundário subiu de 14% para 20%.

E o mercado de trabalho respondeu: o emprego privado cresceu, mas cresceu significativamente mais nos sectores que pagam salários acima da média.

Porque a persistência e o rumo dão resultados.

Isto é ser reformista. É no PS que está a capacidade reformadora da esquerda democrática.

 

Camaradas,

Há uma coisa que a direita já devia ter aprendido em 2015, uma coisa que o nosso camarada António Costa lhes explicou direitinho nessa altura, e lhes mostrou como funcionava, mas que pelos vistos eles ainda não entenderam.

E até é uma coisa simples de compreender para um democrata:

É que quem escolhe o governo é o povo, não é o presidente. 

Quem escolhe o governo é o povo, através dos representantes que elege na Assembleia da República, não são aqueles que andaram a conspirar a dissolução do parlamento desde o primeiro dia da legislatura, nem são aqueles que desperdiçam a estabilidade.

Por isso, camaradas, termino deixando-vos um apelo: é preciso votar, vale a pena votar, é votando que se escolhe o país que queremos.

É por isso é preciso passar a mensagem:

Votar, votar, votar, por Portugal Inteiro.

 

(Intervenção no XXIV Congresso Nacional do PS, Lisboa, 5-7 Janeiro 2024)

 
Porfírio Silva, 8 de Janeiro de 2024
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