Li o livro de Luís Paixão Martins, "Como perder uma eleição ". Gostei de ler: tenho uma certa tendência para gostar de livros que me recordam de coisas que pertencem à história que vivi e que, no entanto, se foram apagando nas brumas do tempo.
O livro de LPM começa com a pretensão de ser obra de um prático, mas, na verdade, é um livro de teoria da comunicação na política - com casos práticos. Ainda bem. Mas há um episódio em que eu teria apreciado muito que LPM fizesse mais teoria (uma teoria adequada deve, no mínimo, explicar os dados empíricos, embora deva fazer mais: fazer predições acertadas), em vez de se ficar por uma breve descrição.
É o episódio de o conselheiro ter levado o líder do PS a verbalizar a hipótese de uma maioria incompleta ser completada com os deputados do PAN. O que eu gostaria de ver teorizado seriam as respostas a perguntas como estas: como é que alguém, que quer evitar qualquer tipo de discussão propriamente dita numa campanha, pode aconselhar o PS sem conhecer a relação complexa que a base eleitoral do PS tem com as propostas do PAN? Como é que se pode levar o líder do PS, que conhece tão bem o seu partido, a fazer um movimento contra tudo aquilo que sabe tão bem?
É um livro interessante, porque resume uma cultura política. Provavelmente, a cultura política dominante nos nossos dias. Mas, convenhamos, algo que não é uma inevitabilidade. Apenas uma escolha condicionada. Valeria a pena pensar sobre as razões pelas quais esta cultura política é hoje dominante; e pensar porque é que ela é apresentada como uma inevitabilidade. E pensar se o trabalho dos políticos é "seguir o povo" ou, antes, "abrir outras possibilidades" à cidadania.
Porfírio Silva, 16 de Fevereiro de 2023