8.1.20

Os dois Papas, o filme e a realidade




Aproveitando a hospitalidade que me deram de Domingo passado para Segunda-feira, vi "Os Dois Papas" na Netflix, serviço que não tenho em casa. Achei o filme curioso, mas acho abusiva a tentativa de colocar na boca do agora Papa Francisco uma suposta confissão de cumplicidade com a ditadura militar argentina. Não me conformo com modalidades acusativas que tendem a bloquear a capacidade do visado para apresentar o seu ponto de vista. O humor político serve muitas vezes para fazer verdadeiras críticas de que os visados não se podem defender, porque seria ridículo que argumentassem com o humorista; a ficção também pode ser uma forma ínvia de crítica, porque é sempre possível ridicularizar uma resposta séria a uma obra de ficção.

Mesmo assim - ou, talvez, por isso mesmo - entendi retomar aqui o tema da actuação de Jorge Mario Bergoglio durante a ditadura argentina. Digo retomar por ter lidado com esse tema, aqui no blogue, há já vários anos. E, também, porque vou limitar-me a relembrar materiais que aqui publiquei anteriormente.

Ainda em 2013, publiquei o texto A lista de Bergoglio - ou o Papa Francisco na ditadura argentina. Trata-se, basicamente, da recensão de um livro importante e bem documentado sobre a questão. Em modo secundário, apresento, nesse texto, já vai para sete anos, uma visão sobre o que se poderia esperar do então novo Papa Francisco. Mas, principalmente, documenta bem todas as razões que posso ter para desconfiar da tese que o filme "Os dois Papas" apresenta sobre Jorge Bergoglio.

Noutra ocasião, o Papa Francisco e a ditadura argentina, socorri-me da opinião e dos conhecimentos de Leonardo Boff, um teólogo brasileiro que personifica exemplarmente as correntes mais progressistas do catolicismo, tendo, no passado, pago um alto preço por essa condição face à intolerância dos mais conservadores na hierarquia.

Ainda escrevi noutras ocasiões sobre o homem que veio a ser o Papa Francisco, apesar de não ser franciscano. Mas os dois textos que menciono acima são suficientes, creio, para mostrar as razões que julgo ter para considerar abusiva a leitura que se tenta passar no filme "Os dois Papas" sobre o passado de Bergoglio.

Ficam à vossa consideração, clicando nos links:

- A lista de Bergoglio - ou o Papa Francisco na ditadura argentina ;

- o Papa Francisco e a ditadura argentina .


Porfírio Silva, 8 de Janeiro de 2020


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