(Clicar para aumentar. Cartoon de Marc S.)
22.12.08
a próxima presidência europeia
A próxima presidência da União Europeia é da República Checa. Onde abundam os eurocépticos, a começar pelo Presidente do país...
19.12.08
anedotas
Uma coisa que acho deliciosa é a reciclagem de anedotas políticas antigas, que feneceram por esvaimento do objecto, transformando-as em anedotas sobre objectos políticos mais vivinhos hoje em dia. Uma reciclada seria assim:
Um alto dirigente do PS para outro:
- Oh camarada, então não foste à última reunião da Comissão Nacional ?
- Eh pá, se eu soubesse que era a última tinha ido !!!
Rodapé: esta não é para irritar aqueles que o leitor pensa... mas outros!
Rodapé 2: alguém se lembra a que objecto político esta se aplicava originalmente?
Um alto dirigente do PS para outro:
- Oh camarada, então não foste à última reunião da Comissão Nacional ?
- Eh pá, se eu soubesse que era a última tinha ido !!!
Rodapé: esta não é para irritar aqueles que o leitor pensa... mas outros!
Rodapé 2: alguém se lembra a que objecto político esta se aplicava originalmente?
18.12.08
castanhas (II)
Como é sabido, há por aí umas teorias económico-políticas que concebem o ser humano como um oportunista voraz, mesmo que pouco sistemático. Essas cabeças entendem que o egoísmo é o motor principal do indivíduo e que a sociedade, bem como a comunidade política, deviam ser estruturadas a contar antes de mais com isso. Alguns desses pensam que, então, cada um de nós engana o próximo sempre que pode. Não vem agora aqui ao caso esmiuçar o assunto, mas ele levou-me (ao longo já de vários anos) a fazer uma experiência.
Sempre que compro castanhas assadas na rua tenho um comportamento que penso seja pouco normal (pelo menos no sentido estatístico). Como, imagino eu, a maior parte das pessoas não se dá ao cuidado de contar as castanhas que compra embrulhadinhas, e não fica sequer ao pé do vendedor a comê-las, porque não haveria o vendedor de colocar, de cada vez, menos uma no embrulhinho? Se fosse descoberto podia sempre, simpaticamente, desculpar-se com um erro. Ora eu, e isto já há vários anos, conto sempre as castanhas que compro (uma dúzia, porque sou comilão). E, este é o resultado, nunca tive menos do que as que paguei. Quando houve desvio, foi para mais. Será que os vendedores de castanhas são sérios - ou, como defendem aqueles teóricos que mencionei acima, o que são é tansos, porque "deveriam" estar a roubar uma castanhinha em cada dúzia este tempo todo?
Sempre que compro castanhas assadas na rua tenho um comportamento que penso seja pouco normal (pelo menos no sentido estatístico). Como, imagino eu, a maior parte das pessoas não se dá ao cuidado de contar as castanhas que compra embrulhadinhas, e não fica sequer ao pé do vendedor a comê-las, porque não haveria o vendedor de colocar, de cada vez, menos uma no embrulhinho? Se fosse descoberto podia sempre, simpaticamente, desculpar-se com um erro. Ora eu, e isto já há vários anos, conto sempre as castanhas que compro (uma dúzia, porque sou comilão). E, este é o resultado, nunca tive menos do que as que paguei. Quando houve desvio, foi para mais. Será que os vendedores de castanhas são sérios - ou, como defendem aqueles teóricos que mencionei acima, o que são é tansos, porque "deveriam" estar a roubar uma castanhinha em cada dúzia este tempo todo?
castanhas (I)
Durante o ano que está quase a acabar houve vários episódios de um folhetim intitulado "ASAE". Uma parte dos intervenientes vinha recorrentemente à cena dizer: "mais uma maldade da ASAE, um instrumento de controlo contra a liberdade dos cidadãos". Muitas vezes fui eu também à peleja defender que, mesmo podendo haver erros ou excessos, a ASAE estava no essencial a aplicar as leis em vigor e que um país que se preza é isso mesmo que faz. Especialmente quando se trata de protecção do consumidor e quando estão em causa actividades económicas que podem fazer perigar a saúde pública se não respeitarem certos cuidados.
Uma dessas foi a "guerra dos galheteiros", por serem os restaurantes obrigados a colocar o azeite em recipientes que não pudessem ser violados para reabastecimento "pirata". Perdão, pirata mesmo, sem aspas. Diziam que isso era impossível, uma barbaridade. Afinal parece que não demorou muito a chegar ao mercado sortimento suficiente de recipientes conformes. E não me lembro, num passado já muito longínquo, de alguém ter ficado incomodado com a obrigação de as garrafas do whisky serem seladas para não nos venderem escocês de Sacavém. Entretanto, parece que as medidas sobre os galheteiros já foram mudadas outra vez, mas isso também é mania nossa nacional.
Outra dessas guerras foi a do embrulho das castanhas assadas na rua. Clamavam os do costume que tinham saudades do embrulho em papel de jornal ou folhas das Páginas Amarelas. Ora, eu, como venho todos os dias do trabalho para casa a pé, faço muitas vezes o gosto ao dedo de comer umas tantas castanhas assadas enquanto vou andando - e dei por mim satisfeito com os novos e higiénicos embrulhos. Principalmente aqueles modelos que têm um segundo "sector" para as cascas, que resolve um problema que várias vezes obrigou a minha má consciência cívica a desculpar-se com o carácter biodegradável de tais restos. E, mais uma vez, rio-me dos críticos à perda de liberdade de consumir castanhas em embrulhos emporcalhados. Hoje à tardidnha lá comi mais umas tantas. Até nem eram grande coisa (a época alta já passou), mas sempre deram... para um post.
Uma dessas foi a "guerra dos galheteiros", por serem os restaurantes obrigados a colocar o azeite em recipientes que não pudessem ser violados para reabastecimento "pirata". Perdão, pirata mesmo, sem aspas. Diziam que isso era impossível, uma barbaridade. Afinal parece que não demorou muito a chegar ao mercado sortimento suficiente de recipientes conformes. E não me lembro, num passado já muito longínquo, de alguém ter ficado incomodado com a obrigação de as garrafas do whisky serem seladas para não nos venderem escocês de Sacavém. Entretanto, parece que as medidas sobre os galheteiros já foram mudadas outra vez, mas isso também é mania nossa nacional.
Outra dessas guerras foi a do embrulho das castanhas assadas na rua. Clamavam os do costume que tinham saudades do embrulho em papel de jornal ou folhas das Páginas Amarelas. Ora, eu, como venho todos os dias do trabalho para casa a pé, faço muitas vezes o gosto ao dedo de comer umas tantas castanhas assadas enquanto vou andando - e dei por mim satisfeito com os novos e higiénicos embrulhos. Principalmente aqueles modelos que têm um segundo "sector" para as cascas, que resolve um problema que várias vezes obrigou a minha má consciência cívica a desculpar-se com o carácter biodegradável de tais restos. E, mais uma vez, rio-me dos críticos à perda de liberdade de consumir castanhas em embrulhos emporcalhados. Hoje à tardidnha lá comi mais umas tantas. Até nem eram grande coisa (a época alta já passou), mas sempre deram... para um post.
sapatadas em Bush
O jogo "a ver quem atira mais sapatadas em Bush antes que ele se vá embora" pode ser jogado aqui.
euromilhões
Quase 75 por cento dos professores mudavam de profissão se tivessem alternativa.
Eu também jogo no euromilhões todas as semanas!
E, quanto a aposentação ou reforma, ou mudar de profissão se pudessem, não duvido de que mineiros, estivadores, ajudantes de serralheiro, cavadores, ... , também não desdenhariam.
melhor que um partido oportunista, só um oportunista sem partido
Ontem, o deputado socialista Manuel Alegre voltou a defender a possibilidade de candidaturas independentes às eleições legislativas, considerando que a democracia sairia "enriquecida". Questionado se continua a defender a hipótese de independentes concorrerem às eleições legislativas, Manuel Alegre recordou que sempre concordou com essa ideia.
Agora percebi a trapalhada de Alegre acerca de criar ou não criar um novo partido. Foi candidato presidencial contra o candidato apoiado pelo seu partido porque as candidaturas presidenciais são independentes. E desde então comporta-se como se não tivesse nenhuma obrigação para com a sua agremiação política, por ter tido muitos votos na eleição presidencial. Os votos para presidente justificam que ele esteja dentro quando lhe interessa e fora quando lhe convém.
Viu agora como poderia continuar esse jogo sem nenhum risco nas legislativas: a haver candidatos independentes, ele e os seus poderiam continuar dentro e fora ao mesmo tempo. Podiam candidatar-se como independentes e depois fariam o que bem entendessem, invocando terem recolhido votos populares.
Afinal, os que mais criticam os ultraliberais em economia são capazes de ser como eles em política: o indivíduo acima de tudo, nada interessa a pertença a colectivos e o compromisso mútuo dos membros desses colectivos.
17.12.08
o bloco lateral
Oposição considera insuficiente plano anti-crise apresentado pelo Governo.
Quando o PSD e o PS convergem em posições políticas, como se isso fosse estranho dada a sua história e a sua base social de apoio, logo todos clamam contra o "bloco central" que supostamente isso significaria. E que parece que tantos abominam.
Quando comunistas, demagogos de direita como Portas, esquerda da esquerda como o partido que antigamente achava que o Zé fazia falta em Lisboa, apoiantes de Santana Lopes à presidência de Lisboa, mais verdes por fora e vermelhos por dentro - quando todos esses convergem, mesmo que seja só a dizer mal de tudo e qualquer coisa que o governo faça, quando todos esses aparentemente tão diferentes dizem a mesmímissa coisa, não se deveria falar do "bloco lateral"?
teologia da oposição
PSD acusa Teixeira dos Santos de ter ameaçado banca com a bomba atómica.
«O líder parlamentar do PSD considerou hoje, durante o debate quinzenal com o primeiro-ministro, que "o ministro das Finanças ameaçou a banca com a bomba atómica", mostrando que "não está preocupado com a estabilidade e credibilidade do sistema financeiro". Paulo Rangel, que se referia à possibilidade de serem retiradas as garantias às instituições de crédito se não fizerem chegar o dinheiro às empresas, admitida por Teixeira dos Santos, criticou também o plano anti-crise do Governo.»
Pois, dêem lá o dinheiro aos bancos e não façam mais perguntas nenhumas, porque eles bem sabem o que hão-de fazer ao dinheiro. Aliás, o dinheiro cai do céu...
Isto é às segundas, quartas e sextas. Às terças, quintas e sábados é antes assim: andam a dar dinheiro aos bancos, isto é: aos ricos, em vez de acorrerem às pessoas, que estão aflitas, e de baixarem os impostos que não fazem falta nenhuma, até porque o dinheiro cai do céu...
Aos domingos, então, só a única e grande verdade: o dinheiro cai do céu, o dinheiro cai do céu, e essa é a nossa esperança para governar quando chegar a nossa vez.
o menino jesus vai à escola
Professores em condições de pedir a reforma até 2011 dispensados da avaliação. Dispensados também os docentes contratados em áreas profissionais, vocacionais e artísticas, não integradas em grupos de recrutamento. Estes aspectos juntam-se a outras simplificações resultantes "dos problemas encontrados na experiência prática", visando essencialmente três coisas: impedir a existência de avaliadores de áreas disciplinares diferentes dos avaliados, reduzir a burocracia dos procedimentos previstos e aligeirar a sobrecarga de trabalho que o processo original exigia.
Apoiei genericamente a avaliação de professores proposta pelo governo, defendi que ela não devia ser suspensa e devia ir sendo melhorada à medida que a sua concretização mostrava onde estavam os problemas práticos, entendi que as propostas de simplificação avançadas pela ministra eram um sinal de humildade e de boa-fé no processo, denunciei que a oposição a esta avaliação escondia em muitos casos uma oposição generalizada a qualquer avaliação com consequências, mostrei-me partidário de uma negociação global que englobasse a questão da carreira e que tomasse em conta os erros e injustiças que aí se cometeram.
Agora começo a ter uma suspeita: estão a cortar a chouriço às fatias para ele ser mais facilmente digerido. Pode ser uma táctica politicamente proveitosa. Mas, a meu ver, ter um defeito fundamental: se o povo, que somos nós e não percebemos nada disto, deixarmos de perceber qual é a lógica da posição do Ministério, é possível que deixemos de ter energia para a defender. As mantas de retalhos podem servir para tapar o corpo quando está frio e não há melhor caminho: mas dificilmente podem servir para mobilizar o apoio social de que uma reforma difícil necessita. Comprar os professores com adiamentos pode calá-los, ou até mesmo dividi-los. Mas era preciso mais do que isso: era preciso ganhá-los. Ganhá-los para a razão, claro - não para a conveniência do amuo silencioso.
Enfim, continuo como dantes (as 10 teses).
parabéns ao Parlamento Europeu
Ministros europeus chegam a acordo para prolongar semana de trabalho até às 65 horas.
Parlamento Europeu vota limitação da semana laboral a 48 horas - por uma maioria de 421 votos contra 273, e 11 abstenções.
O Parlamento Europeu poderá não ter toda a razão. Sem ir aos detalhes, não posso garantir que não estejam contra alguma flexibilidade específica que pudesse ser útil às empresas sem ser danosa para os trabalhadores. Contudo, globalmente, tenho de dar os parabéns ao Parlamento Europeu. Os Ministros, provavelmente com a cumplicidade da Comissão Europeia, estavam a abusar, dando carta branca ao excessivo laissez-faire face a certas práticas que desprezam as condições de saúde dos trabalhadores, bem como a tão propalada conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. E, se a Europa não serve para melhorar os padrões de vida e trabalho dos seus cidadãos em questões essenciais, serve para quê?
para que conste
Ministro das Finanças admite retirar garantias se banca não fizer chegar o crédito às empresas.
Eu não quero crédito. Aliás, nem tenho nenhuma empresa. E também não tentem colocar-me em posição de receber subsídio de desemprego, porque não tenho direito a ele. E nem sequer posso comprar aqueles PPRs da Segurança Social pública, porque não tenho nenhum sistema de segurança social obrigatório. E o meu sustento vem de um sistema que não actualiza os montantes "oferecidos" há uma meia dúzia de anos. Acho que também não posso fazer greve. Mas suspeito que oficialmente não sou "precário". Descontadas todas as coisas, até estou contente. E vivo.
explicar Bush
Bush diz que renuncia aos princípios da economia de mercado para salvar o sistema de economia de mercado.
Há uma explicação simples para a quantidade de tolices que Bush pronuncia. É que Bush não sabe distinguir entre as coisas que lhe dizem com a simplicidade possível para tentar que ele fique com uma ideia dos problemas (os briefings) e as coisas que lhe dizem para ele dizer em público (os speaking points). E, trocando a papelada, acaba por usar os briefings como speaking points.
16.12.08
o "sistema"
Há vítimas portuguesas da fraude de Madoff. Grandes bancos europeus assumem perdas de muitos milhões.
«No dia em que muitos bancos europeus assumiram perdas potenciais relacionadas com a fraude piramidal de Bernard L. Madoff, em Portugal só o Banco Santander Totta admitiu que, entre os seus clientes, há 16 milhões de euros aplicados nos fundos do ex-presidente da bolsa electrónica Nasdaq e até agora um dos homens mais respeitados de Wall Street.»
Quem não fica feliz por ver a economia de mercado funcionar a plenos pulmões?
Quem não gostaria de ver as suas poupanças, parcas ou largas, ser engolidas por uma falência, directa ou indirectamente, e ficar sem um centavo de um dia para o outro?
Quem não gostaria de saber que a empresa que o emprega faliu por arrastamento da falência de um banco?
Quem não gostaria de viver numa montanha russa?
Os que falam tão ideologicamente contra os apoios à banca - sem prejuízo do castigo aos que cometeram crimes - devem ter grandes colchões. E muita falta de consideração pelas outras pessoas concretas que vivem neste sistema - capitalista, já se sabe, mas não nos pediram para escolher. E muita lata. Ou estão à espera que a revolução seja o fruto maduro do descalabro? Espanta-me tão liberal que é, afinal, certa esquerda da esquerda da esquerda: o que eles queriam mesmo era que o Estado ficasse quieto a ver, sem fazer nada, não era? Mas não é isso que querem os liberais-liberais-liberais?
15.12.08
marketing
Jornalista que atirou sapatos a Bush salta para a ribalta no Iraque.
Puro marketing. Um jornalista promove-se à custa de um terrorista de Estado.
as noites brancas de Louçã
Louçã elogiou discurso de Manuel Alegre mas desvaloriza hipótese de um novo partido.
Alegre pede "coragem" à esquerda e quer ir a votos com as ideias que saíram do fórum.
Estou em condições de informar que Louçã passou a noite em claro a pensar como há-de desmobilizar Alegre de formar um novo partido.
É que Louçã sempre quis apenas que Alegre jogasse de novo o papel de tonto útil, para esboroar um pouco o PS e aumentar a penetrabilidade do Bloco - e está agora francamente assustado com a hipótese de Alegre querer tentar criar um instrumento de disputa da possibilidade de governar.
Até porque Louçã não quer nada que se pareça com governar: isso seria o seu fim. Ou pelo completo descrédito, tornando-se evidente a falta de aplicabilidade das suas propostas. Ou pela completa conversão: se, chegado lá, aceitasse deitar fora a retórica e tentar fazer qualquer coisa de útil.
Que o Bloco foge das responsabilidades de governar como o diabo foge da cruz, vê-se pela Câmara de Lisboa. Incompreensível, portanto, que Alegre queira fazer um partido para tentar a possibilidade de levar a esquerda da esquerda da esquerda ao governo: isso seria o fim da ilusão. E a morte do grande líder trotskista reconvertido.
Alegre pede "coragem" à esquerda e quer ir a votos com as ideias que saíram do fórum.
Estou em condições de informar que Louçã passou a noite em claro a pensar como há-de desmobilizar Alegre de formar um novo partido.
É que Louçã sempre quis apenas que Alegre jogasse de novo o papel de tonto útil, para esboroar um pouco o PS e aumentar a penetrabilidade do Bloco - e está agora francamente assustado com a hipótese de Alegre querer tentar criar um instrumento de disputa da possibilidade de governar.
Até porque Louçã não quer nada que se pareça com governar: isso seria o seu fim. Ou pelo completo descrédito, tornando-se evidente a falta de aplicabilidade das suas propostas. Ou pela completa conversão: se, chegado lá, aceitasse deitar fora a retórica e tentar fazer qualquer coisa de útil.
Que o Bloco foge das responsabilidades de governar como o diabo foge da cruz, vê-se pela Câmara de Lisboa. Incompreensível, portanto, que Alegre queira fazer um partido para tentar a possibilidade de levar a esquerda da esquerda da esquerda ao governo: isso seria o fim da ilusão. E a morte do grande líder trotskista reconvertido.
14.12.08
grandes investimentos em publicidade (X)
Alegre pede "coragem" à esquerda e quer ir a votos com as ideias que saíram do fórum.
Desde há muitos anos que a esquerda que pior faz à esquerda é aquela que não liga pevide à governabilidade. A esquerda que se esgota na cultura de oposição. Falar é fácil. Ter as décadas que Alegre tem de político profissional sem nunca ter tido uma função governativa relevante - mostra bem quem é Alegre. Mas essa esquerda está a dar. (Também, convenhamos, por culpa da direcção do PS e do governo. Mas sobre isso falaremos noutra altura.) E, claro, lá estava o Dr. Marcelo a fingir-se radiante com a janela de oportunidade que Alegre oferece a Ferreira Leite. Nunca ouviram falar na história dos aliados objectivos?
ele há doidos para tudo
Num post aqui abaixo chamei a atenção para o nível da linguagem com que certos "professores" se exprimem na caixa de comentários do blogue A Educação do meu umbigo, onde aparentemente se sentem à vontade para libertar os dedos. Um frequentador desse blogue acusa outro dos frequentadores desse fórum, um tal "Trabalhador da Silva", que baralha as cabecinhas simples que por lá eventualmente aterrem, de ser um "agente provocador". Está neste comentário. Provocador - para provocar certas reacções. Esse frequentador, que deve ter tirado um curso de "inteligência" na CIA (Secção de Moimenta), "prova" a sua "suspeita" (ou será acusação?) apontando para o meu citado post. Ele está a acautelar os companheiros para terem tento na língua, por causa dos espiões! É de partir o coco a rir. Suspeito que o tal "agente da inteligência" pensa que eu sou o "Trabalhador da Silva"! Viva, viva: já entrei numa teoria da conspiração como provocador! Que promoção! Excitante!
um chuveirinho de esquerdas
Fórum das Esquerdas: debate sobre educação centrou-se na avaliação dos professores.
Lê-se ainda no Público:
«António Avelãs fez a defesa da avaliação dos professores e de uma diferenciação entre eles, admitindo que muitos são bons, outros “acima da média” e outros ainda “abaixo da média”. “Há quem pense que os professores não podem ser avaliados, mas isso é um suicídio político”, afirmou o dirigente da Fenprof António Avelãs.»
Afinal, parece que alguém do lado dos sindicatos compreende o problema. É claro que o mesmo dirigente sindical acrescentou que «A distinção deve ser feita, mas “não através desta forma idiota, entre professores titulares e outros”» - mas não sublinho muito isso, porque é claro que só um suicida iria para ali dizer que a distinção entre titulares e não titulares é uma forma possível de concretizar a sua própria ideia de diferenciação. Simplesmente, quem quiser ouvir que ouça.
Pelo seu lado «Jorge Martins, um professor do Porto, “militante do PS”», «contestou os argumentos do Governo do partido em que votou para contestar a ideia, “falsa”, de que “não existe avaliação” dos professores – “não estava era regulamentada”». Conheço e estimo Jorge Martins, mas lamento que continue a dizer que "já existia avaliação" - porque aquilo que não tem consequências relevantes, nem impacte no sistema, de facto não existe. Terá uma existência metafísica. Faz de conta que existe, mas não existe. E fugir a isso é tentar tapar o Sol com a peneira. Jorge, larga a peneira, camarada...
jóias naturais (III)
Parece que um grupo de professores fez um manifesto a favor do modelo de avaliação que o governo está a aplicar à classe. Ainda não o consegui ler, logo não tenho opinião sobre o mesmo. (E até acho estranho que ele esteja tão longe de vários meios de informação - ou será "comunicação", já que não informam?)
Entretanto, vale a pena ler as apreciações que alguns militantes anti-esta-avaliação-que-diz-que-seriam-a-favor-de-outra-desde-que-a-outra-tão-pouco-existisse fazem aqui. Não me refiro tanto ao post, mas mais aos comentários. É que a sensação de impunidade que parece inerente a escrever na caixa de comentários de um blogue se revela poderosa e capaz de soltar as línguas. E os dedos. E exibir as almas. Quero crer (mas não sei se consigo) que não são realmente professores, mas apenas provocadores que fazem passar-se por professores para denegrir a classe.
Ride Me (ou "Natal é quando um homem quiser" ?)
o que é Nacional é bom (I)
Ministério da Justiça disponibiliza 17,5 milhões de euros para pagar defesas oficiosas.
Quando vou aqui à mercearia da D. Lurdes comprar clementinas, apesar de ela não saber ler, nem escrever, e quase nem contar, só vendendo quilos inteiros das coisas para ser capaz de pedir o preço adequado, quando vou aqui a essas pequenas compras pago na hora. Dinheiro na mão. Não que a senhora não fiasse, que até fiava. Mas pago na hora. O Estado, entretanto, também paga na hora - só não se sabe a que hora. E, assim sendo, faz notícia quando se aproxima a hora. Com direito a anúncio e tudo: os atrasos têm diminuído.
Países normais.
estou azedo neste domingo (se calhar porque dormi pouco)
Grandes fortunas devem ser taxadas para apoio aos pobres, defende Manuela Silva, Presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, organismo católico.
Concordo. E não me venham dizer que é radicalismo político (ainda para mais, vindo de Manuela Silva). É que há capitalismos e capitalismos. E os últimos vinte anos têm transformado efectivamente o capitalismo numa máquina produtora de mais desigualdade: os mais ricos a ficarem mais ricos, os mais pobres a ficarem mais pobres, o fosso relativo a aumentar. E achar isso imoral não tem em si nada de revolucionário. Ser capaz do juízo moral de que a desigualdade extrema e sem propósito é intolerável, ser capaz de pensar nesses termos, é um sinal de civilização. Ser capaz de agir em conformidade é política. E nem todos os políticos que falam nisso mostram estar em primeira mão preocupados com isso. Claro, há sempre quem pense que só o mecanismo económico interessa. Para esses o juízo moral é de palha. A esses deviam dar só palha. Que ainda seria mais do que muitos podem comer.
12.12.08
intervalo para prolongamento
Avaliação: tutela fecha negociações para este ano lectivo .
Os sindicatos, afinal, não quiseram aproveitar a oportunidade de contribuir para melhorar o modelo. Não contribuíram para as comissões que concordaram criar, que eram para resolver dificuldades concretas. Julgaram poder impor como ganho mínimo que nada mudasse em termos de avaliação com consequências. Gostaram da solução administrativa de Alberto João. Assim sendo, que fazer?
Negociar deve ser uma forma de chegar à melhor decisão acerca de como fazer. Negociar não pode ser uma forma de bloquear a acção. Contudo, espero que o governo saiba criar as melhores condições para "limar as arestas". Porque as há.
grandes investimentos em publicidade (IX)
Sócrates convoca Conselho de Ministros extraordinário para amanhã para aprovar plano português de resposta à crise.
Conselhos de Ministros ao fim de semana têm outro sabor. E servem o propósito de deixar toda a semana livre aos partidos de oposição para criticarem. E para reafirmarem pela enésima vez que a culpa da crise internacional é de José Sócrates. O governo tem boas razões para proceder assim: é que cada vez que um partido vem a público fazer essa atribuição de culpa, enterra-se ainda mais. Principalmente no caso do partido que aspira a ser alternativa de governo. Sócrates joga bem, pois, quando lhes dá mais tempo para repetirem a mensagem.
grandes investimentos em publicidade (VIII)
Comissão Parlamentar de Economia adiada por falta de quórum.
O povo, que não pode faltar ao emprego para não ter dissabores, pensa que as faltas dos deputados são motivo para processo disciplinar e eventual despedimento. Esquece, apenas, que a função parlamentar não é um emprego. E que, por vezes, uma falta é ela mesma um acto político (veja-se o exemplo de Zita Seabra que veio dizer que tinha faltado à votação da suspensão da avaliação dos professores por ter opinião diferente da do seu partido). E que mesmo várias faltas concertadas podem ser uma manobra política (vide a acusação de que o PS provocou intencionalmente esta falta de quórum). Mas os que sofrem com a obrigação de ir ao emprego sentem algum consolo na perspectiva de poderem atirar para o "desemprego" os faltosos. Esquecem, porventura, que muitos dos deputados "faltosos" trabalham muito mais horas por semana do que os esforçados trabalhadores que os tratam como "malandros" (em vários sentidos). Mas, claro, não é politicamente correcto dizer nada disto. Paciência.
a barbárie interior
Relatório do Senado dos EUA acusa Donald Rumsfeld de cumplicidade nas agressões a prisioneiros.
Alguns dizem que isto demonstra que os EUA não são um país bárbaro, porque tem os mecanismos para detectar e corrigir os seus erros. Eu acho que isto demonstra que a barbárie espreita em todo o lado. Nunca estamos a salvo dela. E devemos julgar acções concretas, e as políticas que as instigam ou permitem, e não julgar nações ou povos por inteiro.
levem o Sócrates
Líderes da UE de acordo sobre plano de 200 mil milhões de euros para relançamento da economia.
Mas então a crise não é toda da culpa do Sócrates? Nesse caso deviam remover Sócrates do lugar de PM, porque essa parece ser a causa de todos os males do planeta. E, para facilitar, deviam ainda levar Sócrates para presidente da Comissão Europeia. É que esse lugar, como se vê, é irrelevante: nesse posto só se soma o que os Estados Membros gastam e fazem para, juntando tudo na mesma coluna, chamar-lhe "um plano contra a crise". Resolviam-se assim vários problemas desta parte do mundo.
e que tal a autogestão?
General Motors, Chrysler e Ford em risco. Senado recusa plano de ajuda aos construtores automóveis americanos.
Este ano a estação louca chegou mais perto do Inverno do que do Verão. Face à crise, velhas soluções abanam o cadáver e pulam para cima da mesa. A esquerda volta a mostrar que não fez os trabalhos de casa. E mesmo este regurgitar de antigas glórias, sem remendos nem nada, mostra que os velhos debates à esquerda, pelo menos na esquerda menos acomodada, estão todos por resolver. Para aqueles que ainda se lembram dessas coisas, pergunto: porque será que tantos se excitam com as nacionalizações (Estado resolve) mas a ninguém passa pela cabeça a autogestão (os trabalhadores que resolvam)? Porque será?
quemtemmedodaavaliacao
É um blogue. Quem tem medo da avaliação? Trata de coisas que me interessam, com uma minúcia que agora não me posso permitir. Vou andar a ler esse blogue, então.
Para começar, um pequeno historial das declarações sindicais acerca do que pretendem nessa matéria: Uma grande cambalhota.
11.12.08
jóias naturais (II)
Ministra diz que sindicatos não apresentaram "proposta verdadeiramente alternativa" para a avaliação dos professores.
Escreve ainda o Público:«De acordo com a ministra, a proposta apresentada esta tarde pela Plataforma Sindical “cabe, basicamente, numa folha A4” e contempla sobretudo a auto-avaliação pelos docentes, sem observação de aulas e sem envolvimento da direcção da escola, nem qualquer possibilidade de distinção do mérito...» Se é assim, a Ministra fez muito bem em não aceitar tais propostas.
Mais se lê no Público:«A Plataforma Sindical já avisou que a revisão do estatuto [da carreira docente] terá de passar pela eliminação da actual divisão da carreira em duas categorias (professor e professor titular).» Se é assim, a Ministra não poderá aceitar tais pretensões.
Pode ser que, desta vez, fique mais claro quem propõe o quê; que se veja qual é a "avaliação" que alguns querem; que se perceba quem quer uma "tropa" em que podem ser todos "generais".
grandes investimentos em publicidade (VII)
PSD apresenta projecto para suspender avaliação dos professores, como forma de reparar "falha" de sexta-feira.
Deve o Parlamento servir para os partidos jogarem aos seus jogos de cabra-cega? Apresentam-se projectos para resolver o problema A ou o problema B do país que somos - ou apresentam-se projectos para resolver minudências intrapartidárias? Para salvar a face? Ou o PSD vê a hipótese de uma grande coligação que inclua os deputados do PS que se julgam mais professores do que deputados?
Lindo país. Para férias.
jóias naturais (I)
AQUI ENTRA TEXTO LINKADO.
Um blogue escreveu assim, a abrir uma posta no dia 3 de Dezembro, dia da greve dos professores: «Hoje os porcos chafurdam na merda que têm vindo a fazer e que hão de ter de comer. Os que pactuam com eles, e cobarde e asinamente, hoje furaram a greve pertencem ao estrume da classe, sobre a qual eles cagam e espezinham, esfregando-se nela.»(*)
Antigamente, tínhamos medo de ir às manifestações. Agora, alguns querem que tenhamos medo de não ir às manifestações. Antes, tínhamos medo de fazer greve. Agora, alguns querem que tenhamos medo de não fazer greve.
(*) (Isto é realmente uma citação, como se vê pelos erros de pontuação. Não dou a referência, porque este blogue não tem bola vermelha e, assim, não pode fazer publicidade a certas coisas. Mas, como tenho frequentado certos locais onde algumas pessoas se sentem livres para mostrar o que lhes vai na alma, se calhar qualquer dia trago mais jóias naturais aqui.)
Cheguei a esta jóia natural pel' A Ritinha.
Um blogue escreveu assim, a abrir uma posta no dia 3 de Dezembro, dia da greve dos professores: «Hoje os porcos chafurdam na merda que têm vindo a fazer e que hão de ter de comer. Os que pactuam com eles, e cobarde e asinamente, hoje furaram a greve pertencem ao estrume da classe, sobre a qual eles cagam e espezinham, esfregando-se nela.»(*)
Antigamente, tínhamos medo de ir às manifestações. Agora, alguns querem que tenhamos medo de não ir às manifestações. Antes, tínhamos medo de fazer greve. Agora, alguns querem que tenhamos medo de não fazer greve.
(*) (Isto é realmente uma citação, como se vê pelos erros de pontuação. Não dou a referência, porque este blogue não tem bola vermelha e, assim, não pode fazer publicidade a certas coisas. Mas, como tenho frequentado certos locais onde algumas pessoas se sentem livres para mostrar o que lhes vai na alma, se calhar qualquer dia trago mais jóias naturais aqui.)
Cheguei a esta jóia natural pel' A Ritinha.
10.12.08
rotos e remendos da autonomia
Secretária da Educação dos Açores altera grelha de avaliação dos professores.
A Madeira terá um sistema de avaliação docente, os Açores o seu, o Continente outro ainda. Que mal há nisso?
O curioso é que esta situação, mais do que a bizarria administrativa que alguns vêem sempre em tudo o que seja diferença entre regiões, é que ele coloca o próprio problema da autonomia - não das regiões, mas das escolas.
Porque é que cada região não há-de ter o seu sistema de avaliação? Porque é que cada escola não há-de ter o seu sistema de avaliação? Porque é preciso que haja carreiras nacionais de professores na escola pública e essas carreiras, para serem transparentes, têm de assentar em alguns critérios e mecanismos de comparabilidade. Garantindo, por exemplo, alguma justiça no acesso à mobilidade. Cada escola não pode ser uma ilha rodeada de silêncio e escuridão por todo o lado.
E isto, precisamente, sendo necessária muito mais autonomia para as escolas. Mas enfrentando estes "pequenos" problemas. Que vão sendo atabalhoados na vozearia da negociação ao estilo "todos contra todos".
grandes investimentos em publicidade (VI)
Educação, avaliação e coisa e tal. Mário Nogueira: "O primeiro-ministro está sempre em desacordo com as soluções apresentadas pelos sindicatos para a Educação".
Nogueira acusa o PM de estar sempre em desacordo com as propostas dos sindicatos. Os sindicatos, pelo contrário, têm dados imensas mostras de abertura às reformas que o governo da nação pretende levar a efeito, não é? O PM discorda, oh! o malandro! Mas não faz mal, porque como os sindicatos, que são bonzinhos, concordam habitualmente, a coisa faz-se. Com o acordo dos sindicatos, porque Nogueira não quer que os acusem de estarem sempre em desacordo, não é assim?!
trabalhos de casa
Ajuda aos fabricantes de automóveis dos EUA transforma Estado em accionista das empresas.
Antigamente, a Direita governava e a Esquerda sonhava. Entre outras coisas, sonhava com as nacionalizações e outras simplicidades acerca do papel do Estado na comunidade política.
"Antigamente" é coisa para querer dizer "antes de Mitterrand chegar à Presidência em França". A Esquerda juntava-se nisso mesmo: em sonhar. Enquanto se dividia no facto de a "esquerda democrática" não tolerar as ditaduras comunistas e os comunistas as acharem "democracias reais" (ou socialismo real, que supostamente era o mesmo que ditadura do proletariado). O fosso entre as várias esquerdas foi-se agravando, nomeadamente quando comunistas se viraram contra comunistas, quando (por exemplo na Hungria e na Checoslováquia) alguns comunistas quiseram democracia real e outros acharam isso uma ingenuidade. Mas continuavam todos a sonhar.
Até que um dia - suponhamos que foi um ano depois da primeira eleição de Mitterrand - alguma esquerda se apercebeu de que sonhar não bastava. O que era justo. Porque era preciso ser mais concreto quando se chegava ao governo. Mas não valia a pena ter exagerado e ter acreditado que valia a pena deixar de sonhar - de todo. Mas esse foi o primeiro passo para o pensamento único: vamos devagar e vamos fazer tudo com as ferramentas que os neoliberais nos recomendam. É assim uma espécie de querer comer a sopa com o garfo de sobremesa: é assim, mais coisa menos coisa, a "esquerda moderna".
Entretanto, e por falta de trabalho de casa, ninguém pensou muito em fazer qualquer coisa pelas velhas ferramentas. Os "modernos" nem queriam ouvir falar delas. E os "antigos" (tipo Jerónimo e Louçã) continuaram a pensar tudo mais ou menos nos mesmos moldes. E foi assim que, chegados à crise, constatamos que em vinte e tal anos não fizemos grande coisa para actualizar a caixa de ferramentas da esquerda. Ou será que a política da esquerda é, agora, o que a General Motors pede que se faça?!
9.12.08
porreiro, pá... ou, quem tramou o tratado de lisboa?
Depois da carne de porco: Bovinos irlandeses também estão contaminados com dioxinas, alerta Comissão Europeia.
Quem tramou o Tratado de Lisboa, já se sabia, foram os Irlandeses. Mas quais? Os suínos? Os bovinos? Ou nem uns nem outros?
Afinal, Barroso sempre encontrou uma solução para "o problema irlandês". Maoísta uma vez, maoísta para toda a vida: e ninguém dobra a espinha a um maoísta.(*)
(*) Tal como ninguém molha um copo de água.
microscópios embaciados
Alunos "maiores de 23" não estão nos cursos do ensino superior que garantem mais e melhores empregos.
Este é um dos temas de capa do Público de hoje. A linha geral é simples: aumentou muito o número de inscritos no ensino superior pela "via da segunda oportunidade" mas a maioria desses alunos não têm grande sucesso (não estão a transitar em grandes percentagens) e escolhem cursos sem interesse.
A miopia face à realidade, por razões ideológicas, é há muito tempo uma constante deste jornal.
As razões ideológicas, neste caso, são a desconfiança de tudo o que seja criar oportunidades para as pessoas fazerem da sua vida algo que não conseguiram "à primeira". Quem teve berço, ou sageza, para arrancar na linha certa, aproveitou. Quem não teve esse berço ou essa sageza, paciência, que se aguente e que não tenha agora "ideias".
A miopia, neste caso, nota-se pela completa ausência de análise das condições que diferenciam um estudante da "via mais de 23 anos" da maioria dos outros estudantes: são trabalhadores e têm condicionamentos horários para participar na escola? têm família? a escola têm horários compatíveis para quem não é estudante a tempo inteiro? um estudante "regressado" necessita ou não de tempo para voltar a ter o necessário ritmo de trabalho?
É mais fácil escrever que estes estudantes "quase não se encontram nas faculdades que, segundo o Ministério do Ensino Superior, garantem melhor empregabilidade". Escolhem, portanto, cursos tortos. E os outros, o que escolhem? E ainda: foi estudado qual o tipo de progressão que esses cursos podem garantir a quem os escolhe, no concreto?
Reconheço que o meu percurso pessoal me torna particularmente irritável por este tipo de abordagens. Comecei a trabalhar a tempo inteiro antes de entrar para a universidade. E nunca mais deixei de o fazer. E isso reflectiu-se no meu percurso académico. Levei mais anos a fazer o curso do que teria necessitado se fosse um aluno "certinho". Isso não me impediu de ter feito o que entretanto fiz em termos académicos. Se a análise do Público me tivesse apanhado há uns anos atrás, certamente daria a previsão de que eu nunca faria o doutoramento e nunca teria oportunidade de fazer o tipo de investigação que actualmente faço. E certamente daria também a previsão de que o curso que escolhi, Filosofia, não passava de um remendo para a impossibilidade de escolher um "bom curso", com empregabilidade.
Mas essas coisas escapam aos microscópios embaciados dos ideólogos de serviço.
Este é um dos temas de capa do Público de hoje. A linha geral é simples: aumentou muito o número de inscritos no ensino superior pela "via da segunda oportunidade" mas a maioria desses alunos não têm grande sucesso (não estão a transitar em grandes percentagens) e escolhem cursos sem interesse.
A miopia face à realidade, por razões ideológicas, é há muito tempo uma constante deste jornal.
As razões ideológicas, neste caso, são a desconfiança de tudo o que seja criar oportunidades para as pessoas fazerem da sua vida algo que não conseguiram "à primeira". Quem teve berço, ou sageza, para arrancar na linha certa, aproveitou. Quem não teve esse berço ou essa sageza, paciência, que se aguente e que não tenha agora "ideias".
A miopia, neste caso, nota-se pela completa ausência de análise das condições que diferenciam um estudante da "via mais de 23 anos" da maioria dos outros estudantes: são trabalhadores e têm condicionamentos horários para participar na escola? têm família? a escola têm horários compatíveis para quem não é estudante a tempo inteiro? um estudante "regressado" necessita ou não de tempo para voltar a ter o necessário ritmo de trabalho?
É mais fácil escrever que estes estudantes "quase não se encontram nas faculdades que, segundo o Ministério do Ensino Superior, garantem melhor empregabilidade". Escolhem, portanto, cursos tortos. E os outros, o que escolhem? E ainda: foi estudado qual o tipo de progressão que esses cursos podem garantir a quem os escolhe, no concreto?
Reconheço que o meu percurso pessoal me torna particularmente irritável por este tipo de abordagens. Comecei a trabalhar a tempo inteiro antes de entrar para a universidade. E nunca mais deixei de o fazer. E isso reflectiu-se no meu percurso académico. Levei mais anos a fazer o curso do que teria necessitado se fosse um aluno "certinho". Isso não me impediu de ter feito o que entretanto fiz em termos académicos. Se a análise do Público me tivesse apanhado há uns anos atrás, certamente daria a previsão de que eu nunca faria o doutoramento e nunca teria oportunidade de fazer o tipo de investigação que actualmente faço. E certamente daria também a previsão de que o curso que escolhi, Filosofia, não passava de um remendo para a impossibilidade de escolher um "bom curso", com empregabilidade.
Mas essas coisas escapam aos microscópios embaciados dos ideólogos de serviço.
8.12.08
grandes investimentos em publicidade (V)
Estranho,o ET?! De modo nenhum! Estranhos são os outros!
(Este é um cumprimento, um tanto ou quanto zangado, a todos aqueles que frequentam a caixa de comentários deste blogue, não para atacar o rigor factual das informações aqui expostas ou a lógica dos argumentos - mas para se espantarem, ou até se escandalizarem, por eu - pasme-se! - não estar alinhado com as suas impecáveis visões do mundo.)
6.12.08
4.12.08
todos virados para o mesmo lado
Ministra admite substituir modelo de avaliação no próximo ano lectivo. Esta audição de urgência da ministra da Educação foi pedida pelo Bloco de Esquerda e todos os partidos da oposição vão apresentar projectos de resolução que pedem a suspensão do actual regime de avaliação dos professores, que serão votados amanhã.
Uma lenda muito contada diz que, estando todos virados para o mesmo lado, devem ter razão.
Em governação da comunidade isso espanta-me: projectos politicamente opostos (toda a oposição, de esquerda e de direita, mais o PSD que não se sabe já o que é) pedem a mesma coisa. Isso, para alguns, parece ser significativo de que têm todos razão - menos o governo.
Não concordo. Acho que isso significa que o gato só tem o rabo de fora: querem aproveitar os putativos ganhos eleitorais de cavalgarem o protesto de uma classe profissional. Mas, tirando o rabo, está tudo escondido: o que realmente propõem está por afirmar. A isto chama-se União. Nacional. Das oposições. União Nacional das Oposições. União Nacional. Tão irresponsável, a prazo, como a outra.
uma questão bizantina
Vital Moreira dá razão a Cavaco Silva no Estatuto dos Açores.
Não sei, do ponto de vista constitucional, se o PS tem razão, ou se Vital tem razão em a negar ao PS. Parece-me, contudo, que o PS, ao contrário do que o Presidente tem feito, não deve entreter-se com miudezas. Que o PR entenda perder-se em coisas menores, deixar os seus conselheiros misturar-se com a política de todos os dias, levantar a voz em momentos em que era preferível estar calado - isso é lá com ele. O governo, e o PS por arrasto, têm de pensar em coisas sérias - porque a coisa está séria. E deviam, não apenas concentrar-se nisso - governar - mas também mostrar que é nisso que pensam. E deixar as questões de saber quantos anjos podem dançar na ponta de uma agulha para os teólogos do palácio de Belém.
Para já não dizer que isto faria outro arraial se fosse o Jardim a bailar em lugar do César.
eu cá prefiro o plano barroso...
... para injectar 200 mil milhões de euros na economia europeia.
BCE corta juros em 0,75 pontos para 2,5 por cento.
Trichet prevê entrada da Zona Euro em recessão no próximo ano.
(Cartoon, aumentável pelo método do clique, da autoria de Marc S.)
nevoeiro
Plano de apoio ao sector automóvel. Estado paga 80 por cento dos salários e proíbe despedimentos até 2010.
A esquerda da esquerda da esquerda (ou a que gosta de assim se ver) acha mal que as autoridades públicas não deixem o sector bancário ir pelo cano abaixo. O raciocínio - ou melhor, o reflexo de Pavlov - é simples: os ricos que paguem a crise. Mesmo que, se os ricos pagarem a crise, isso se traduza em mais crise para os que não são nada ricos. Ninguém parece preocupado com o facto de as crises dos "ricos" serem normalmente pagas, em dobro ou em triplo, pelos que não são de todo ricos, que normalmente estão do lado da "economia real". (Ainda um dia me dedicarei ao problema filosófico desse uso do "real".) Outro problema com essa atitude da esquerda da esquerda da esquerda (à qual se junta Paulo Portas à procura de um partido, bem como o PSD à procura de um Portas) é o seu judicialismo: querem fazer crer que o problema de política económica que é denunciado por esta crise é um problema identificável com os crimes de uns tantos em certas instituições financeiras. Misturar os crimes de um punhado com os vícios de um sistema serve o eleitoralismo, mas não serve a causa pública.
Agora, o governo tenta concertar com um certo número de empresas que são ou dependem do sector automóvel uma resposta a certos aspectos da crise na economia real, usando ferramentas que foram antes experimentadas em empresas onde o patronato olha para o futuro e onde os representantes dos trabalhadores sabem distinguir o essencial do acessório. Ferramentas essas que foram entretanto institucionalizadas na nova legislação do trabalho. E que, acima de tudo, permitem enfrentar como principal desafio a preservação do emprego - o que não impede, claro, que alguns continuem a achar mais importante defender as horas extraordinárias do que o emprego. A essas ferramentas, como cimento negocial, junta-se, aparentemente, um uso "criativo" de certos recursos financeiros. Tudo, julgo eu, na óptica de que a economia não trata apenas de números, mas também de pessoas. O que dirá agora a pretensa esquerda da esquerda da esquerda, mais os seus aliados de circunstância na direita parlamentar? E o que dirá a direita parlamentar, mais os seus aliados de circunstância à esquerda deste mundo e do outro, aqueles cujos deputados se sentam à volta da representação do Partido os Verdes?
Há, realmente, uma grande diferença entre governar e falar. Os tempos mostram isso, todos os dias. Porque é nas crises que isso se vê melhor. Porque as crises têm o condão de dissipar o nevoeiro.
3.12.08
28.11.08
por falar em burocracia...
... aconselhamos a leitura, no De Rerum Natura, do apontamento Docentes à beira de um ataque de nervos.
grandes investimentos em publicidade (IV)
MADE OUT
por Joaquim Castro Caldas, in Convém Avisar os Ingleses, edições quasi
Importámos da Escócia os tatoos militares, o tecido para o cachecol que utilizamos para as cortinas, o whisky falsificado para acender lareiras e a medicina especializada para os filhos dos burgueses.
Importámos de Inglaterra os monóculos dos marechais, os chuis que vão buscar a walter e disparam na mulher se o porco não estiver assado à hora da novela, o cinismo subtil e os folhetins das mulheres a dias da rainha.
Importámos da Irlanda as meias de senhora para os assaltantes de bancos, uma certa desconfiança pela igreja e o terrorismo rafiné.
Importámos do País de Gales as bolas de rugby para os estudantes ricos – os filhos de vidro do Poder – que fazem uma cadeira por ano.
Importámos de França as críticas dos jornais, os nossos próprios emigrantes, a snobeira dos foyers, as obras completas de Victor Hugo só para encher as estantes, os requintes judeus do Eça de Queiroz e a vida privada da Mireille Mathieu.
Importámos do Mónaco a fuga aos impostos e as crónicas femininas sobre os jogadores de ténis à vez das princesas.
Importámos de Espanha os crimes passionais, as frases das portas dos urinóis, as tintas para o cabelo dos punks, o complexo de guerra civil e eventualmente a boa educação.
Importámos de Andorra os blusões para os fogos postos, as botas de ski para as inundações e o contrabando de soutiens.
Importámos da Alemanha Federal o turismo do Algarve, as contas de cabeça do Sr. ministro das finanças, o chichi dos bordéis de cerveja enlatado e o faro dos cães para a droga.
Importámos da outra Alemanha a celulite das atletas do Ginásio Clube, o arame farpado para os jardins-escolas, a tentação da denúncia, material da I guerra para a tecnologia da tropa e as balas da GNR.
Importámos da Bélgica a inteligência, como toda a gente, a água oxigenada para o cabelo das meninas da caixa dos supermercados, as munições que já não servem nas armas que já ninguém usa e a vida privada do Art Sullivan.
Importámos do Luxemburgo os carros alugados para vir um mês de férias mostrar lá na aldeia que se tem automóvel depois de 11 meses de escravo e depois morrer bêbedo na estrada na viagem de regresso.
Não sei de onde é que importámos as casas de banho do avesso com que se anda a espatifar a paisagem por esse Portugal fora.
Importámos da Suíça o civismo dos árbitros para o Benfica-Sporting, os cravos vermelhos de plástico para os aniversários dos golpes de Estado, a reputação de lava-pratos eficazes, as fortunas pessoais dos funcionários dos penhores e eventualmente a pontualidade.
Importámos de Itália a psicose industrial para usar na agricultura, a corrupção política para usar em pequenas doses e com receita médica, as patilhas até ao queixo, a brilhantina dos empregados da CP, s bólides para os meninos queques espetarem nos rallys, as cuequinhas de cera para tapar o sexo das estátuas nas igrejas e eventualmente o falar de mansinho à saída dos jogos de futebol.
Importámos da Grécia o excesso de sensatez das donas de casa e um certo estado de decomposição do património.
Importámos da Holanda quase todo o hard-core 1º escalão e uma percentagem considerável das vacas da Feira do Ribatejo.
Importámos da Áustria os lugares dos mutilados nos autocarros que não servem para nada porque eles não conseguem entrar nos autocarros e a mania de que é chic chegar atrasado meia hora às estreias de teatro.
Importámos da Dinamarca a mentalidade preocupante dos vídeos e penteados dos anos 80.
Importámos da Suécia o mito da boazona e eventualmente a sobriedade alcoólica ao volante.
Importámos da Noruega o infiel amigo e só não importámos nada da Finlândia porque não há lá nada que interesse à nossa amena temperatura.
Importámos da Rússia as medalhas para condecorar os artistas que atinjam uma idónea senilidade, as histórias da Sibéria para massacrar as crianças, os efeitos psicológicos do imobilismo dos jogos de xadrez, os boatos da morte dos governantes e a prepotência dos canhões.
Importámos dos outros países de Leste o sofrimento militar para aliviar o sado-masoquismo civil.
Importámos de Marrocos a grande pedra.
Importámos do cansaço de guerra ultramarino o 25 de Abril sobre o joelho e as fardas para os teenagers se mascararem.
A única coisa relevante que importámos das antigas colónias foi um canibal de Cabo Verde que comeu o fígado de uma criança nos arredores de Lisboa.
Importámos dos países árabes o asseio das retretes dos lugares públicos.
Importámos da Índia um documentário sobre a nossa épica debandada.
Importámos do Japão os pacotinhos de Vinho do Porto em pó para beber nos aviões, os gritinhos das jogadoras de voley, o turismo de massas do hotel ao hotel e do hotel para o hotel, os filmes a mais e o comer a horas mesmo sem fome.
Importámos da América Latina o espectáculo dos bancos dos hospitais, a coca dos barões, o hábito prático de levar a cozinha e a mobília da sala para a praia, partidos políticos do século passado e slogans demagógicos ou inconsequentes.
Somos exportados pela China em Macau onde não temos sorte nenhuma ao jogo.
Importámos do Brasil o dia-a-dia ocioso e fútil das funcionárias do Estado, a língua de trapos das manicures, as brocas dos dentistas, o mau hálito das meninas dos telefones, as sopeiras da TV Globo, a alegria à força e uma dor de cotovelo incestuosa.
E no fim deste estendal ainda fomos obrigados a importar a ingerência externa dos computadores americanos que nos ensinam a lidar com esta gigantesca salada fria de Cultura que não é nossa e que talvez até nos convenha agora, aos poucochinhos, começar a exportar.
grandes investimentos em publicidade (III)
Fenprof pede demissão da ministra e apela a greve de cem por cento dos docentes.
Isto é disfarçar que mais uma vez chegamos a sexta-feira e não aparece a proposta sindical para outro modelo de avaliação, "aquela" avaliação que querem mesmo, já que só não querem "este" modelo? Ou será que "este modelo" é uma nova expressão para "qualquer modelo que esteja efectivamente em cima da mesa"?
grandes investimentos em publicidade (II)
Portugueses consideram que há discriminação dos doentes com sida, mas também discriminam.
E continua o Público: «Quase todos os portugueses consideram que as pessoas com Sida são vítimas de discriminação, mas quando confrontados com perguntas concretas, metade acha "natural" que estes doentes tenham dificuldades em progredir profissionalmente, revela um estudo da Universidade Católica.»
Grandes são os pecados dos outros. Isto dizem os outros. E nós somos os outros dos outros.
27.11.08
governança sindical
Passo a citar.
«O pano de fundo, um caso real, explica-se em poucas linhas: um sindicato de profissionais de educação é réu numa acção. Como testemunhas, o sindicato arrola dez pessoas. Em audiência, as testemunhas são, todas elas, impugnadas pela parte contrária, por pertencerem à direcção do mesmo sindicato e, nessa medida, se encontrarem impedidas de depor enquanto tal.
Para decidir o incidente, o tribunal ordena a junção aos autos de cópia dos estatutos do sindicato e do elenco da sua direcção.
Juntos estes elementos, apura-se que a direcção é o órgão executivo máximo do sindicato, sendo composta por 667 membros efectivos (2,9 vezes o número de deputados à Assembleia da República) e oito suplentes!
Entre os 667 lá estavam as testemunhas impugnadas, que não foram admitidas a depor.
(...) Que razão ou razões terão ditado a opção por uma mega-estrutura para um órgão de gestão que se quer activo, eficiente e eficaz? (...)
O Decreto-Lei n.º 84/99, de 19 de Março, assegura a liberdade sindical dos trabalhadores da Administração Pública e regula o seu exercício (...).
Mas mais interessante é o que determina o artigo 12.º daquele diploma: as faltas dadas pelos trabalhadores membros dos corpos gerentes para o exercício das suas funções consideram-se justificadas e contam, para todos os efeitos legais, como serviço efectivo, salvo quanto à remuneração. Mas, apesar desta ressalva, esses membros têm direito a um crédito de quatro dias remunerados por mês para o exercício das suas funções. O que isto significa é que, ao prever e eleger 667 membros na sua direcção, este sindicato (e haverá outros, estou certo) conseguiu que o Estado-empregador suporte o encargo do pagamento de 32.016 dias de trabalho em cada ano sem que dos seus funcionários receba a correspondente prestação de trabalho.
A história, evidentemente imoral, não acaba aqui.
É que o artigo 15.º do mesmo Decreto-Lei n.º 84/99 permite que aqueles créditos de faltas de cada membro dos corpos gerentes de uma associação sindical possa, por ano civil, ser acumulado ou cedido a outro membro da mesma associação, ainda que pertencente a serviço diferente.
Se cada membro dos corpos gerentes tem quatro dias pagos por mês, são precisos 7,5 membros para cobrir um período de 30 dias e, por conseguinte, 90 membros para assegurar um ano de salários – ou 105 se considerarmos o subsídio de férias e de Natal. Para assegurar a seis membros verdadeiramente executivos o seu vencimento integral, basta ter, além deles, mas 630 membros na mesma direcção. Os números não batem exactamente, mas não ficam quaisquer dúvidas.
Ou seja, na prática, dos 667 funcionários do Estado que integram formalmente a direcção do sindicato, só uma meia-dúzia é que efectivamente exerce as funções executivas necessárias à governação. Os restantes limitam-se a dar o nome e a ceder os seus créditos para que os primeiros possam dedicar-se em permanência à sua nobre missão sindical (...).»
Excertos de um artigo de Filipe Fraústo da Silva, intitulado Trade union governance, no Jornal de Negócios
Texto integral no Jornal de Negócios Online, aqui.
A pista veio do COGIR.
«O pano de fundo, um caso real, explica-se em poucas linhas: um sindicato de profissionais de educação é réu numa acção. Como testemunhas, o sindicato arrola dez pessoas. Em audiência, as testemunhas são, todas elas, impugnadas pela parte contrária, por pertencerem à direcção do mesmo sindicato e, nessa medida, se encontrarem impedidas de depor enquanto tal.
Para decidir o incidente, o tribunal ordena a junção aos autos de cópia dos estatutos do sindicato e do elenco da sua direcção.
Juntos estes elementos, apura-se que a direcção é o órgão executivo máximo do sindicato, sendo composta por 667 membros efectivos (2,9 vezes o número de deputados à Assembleia da República) e oito suplentes!
Entre os 667 lá estavam as testemunhas impugnadas, que não foram admitidas a depor.
(...) Que razão ou razões terão ditado a opção por uma mega-estrutura para um órgão de gestão que se quer activo, eficiente e eficaz? (...)
O Decreto-Lei n.º 84/99, de 19 de Março, assegura a liberdade sindical dos trabalhadores da Administração Pública e regula o seu exercício (...).
Mas mais interessante é o que determina o artigo 12.º daquele diploma: as faltas dadas pelos trabalhadores membros dos corpos gerentes para o exercício das suas funções consideram-se justificadas e contam, para todos os efeitos legais, como serviço efectivo, salvo quanto à remuneração. Mas, apesar desta ressalva, esses membros têm direito a um crédito de quatro dias remunerados por mês para o exercício das suas funções. O que isto significa é que, ao prever e eleger 667 membros na sua direcção, este sindicato (e haverá outros, estou certo) conseguiu que o Estado-empregador suporte o encargo do pagamento de 32.016 dias de trabalho em cada ano sem que dos seus funcionários receba a correspondente prestação de trabalho.
A história, evidentemente imoral, não acaba aqui.
É que o artigo 15.º do mesmo Decreto-Lei n.º 84/99 permite que aqueles créditos de faltas de cada membro dos corpos gerentes de uma associação sindical possa, por ano civil, ser acumulado ou cedido a outro membro da mesma associação, ainda que pertencente a serviço diferente.
Se cada membro dos corpos gerentes tem quatro dias pagos por mês, são precisos 7,5 membros para cobrir um período de 30 dias e, por conseguinte, 90 membros para assegurar um ano de salários – ou 105 se considerarmos o subsídio de férias e de Natal. Para assegurar a seis membros verdadeiramente executivos o seu vencimento integral, basta ter, além deles, mas 630 membros na mesma direcção. Os números não batem exactamente, mas não ficam quaisquer dúvidas.
Ou seja, na prática, dos 667 funcionários do Estado que integram formalmente a direcção do sindicato, só uma meia-dúzia é que efectivamente exerce as funções executivas necessárias à governação. Os restantes limitam-se a dar o nome e a ceder os seus créditos para que os primeiros possam dedicar-se em permanência à sua nobre missão sindical (...).»
Excertos de um artigo de Filipe Fraústo da Silva, intitulado Trade union governance, no Jornal de Negócios
Texto integral no Jornal de Negócios Online, aqui.
A pista veio do COGIR.
grandes investimentos em publicidade (I)
Portugueses estão entre os europeus que mais desconfiam do próximo, revela inquérito.
Os portugueses sabem do que falam. Conhecem-se.
(*) Imagem identificada no bem haja.
26.11.08
os labirintos do costume
Lisboa: Sá Fernandes defende "união à esquerda" para as próximas autárquicas.
PS acusa BE de fazer purga e de perseguir Sá Fernandes por delito de opinião.
Ruptura consumada ontem. Sá Fernandes acusa Bloco de Esquerda de pôr os interesses do partido acima dos da cidade.
A esquerda da esquerda da esquerda perde-se nos mesmos labirintos de todos os outros.
O BE, um partido que podia ser útil, porque junta primos desavindos, porque dá uma certa consistência programática a sectores da esquerda que tradicionalmente se estão a borrifar para a governabilidade, porque podia ajudar a reanimar uma procura de soluções de que o PCP desistiu por pensar (e bem) que as fórmulas velhas continuam a render eleitoralmente - o BE, um partido que podia ser útil, seria talvez capaz de sobreviver ao irritante jeito moralista-sacerdotal de Louçã.
Mas o BE não sobreviverá certamente a esta insistência em se perder nos mesmos labirintos do poder que todos os outros usam. Não estranha, sabendo que velha esquerda lidera o Bloco, que o Bloco ponha o partido acima de tudo. Mas não podiam esperar um pouco mais antes de mostrar isso tão claramente?
Timor-Leste, a ilha insustentável
O artigo de Pedro Rosa Mendes, ontem no Público, com o título acima - pelo desassombro do conteúdo e pela qualidade da escrita - até faz pensar, por um dia, que Portugal tem uma grande imprensa.
não é um caso de polícia, mas de política
BPN tem ligações a deputados do PSD da Madeira.
O que cabe aos tribunais, julguem os tribunais. Mas isto cabe aos cidadãos: a mistura entre a representação política e o dinheiro, que se suspeita mas nem sempre se prova, é o resultado "natural" de uma concepção profundamente errada da vida pública. O que esta em causa é uma ideologia. A ideologia do dinheirismo: o dinheiro (de cada um que o pode arrecadar) é o máximo bem público ("público" porque em teoria qualquer um pode arrecadar). E julgavam que isso não tinha consequências?
25.11.08
24.11.08
super-visão tem alguma coisa a ver com super-homem?
Os continuados e demagógicos ataques ao governador do Banco de Portugal, na base da ideia "se ele não descobriu (mais cedo) a fraude (no BPN) é porque não faz o seu trabalho", equivalem a afirmar que "se se cometem crimes em Portugal, a polícia devia demitir-se toda". Os iluminados que sabem sempre tudo, melhor do que todos, parecem esquecer que vários casos em vários países mostram que a supervisão do sistema financeiro não tem como ser mais omnisciente do que os próprios deuses - porque operações escondidas são isso mesmo: escondidas. Mas há sempre, num país onde falta emprego, quem só se sinta bem quando se emprega a lançar lama sobre quem está. Quanto mais não seja porque isso serve de entretenimento aos que gostam de circo. E são muitos. Porque o circo entretém a falta de pão.
Entretanto, um conselho a Vitor Constâncio: tentar dar alfinetadas subtis a Judite de Sousa, do género como quem diz "se não entendeu devia ter estudado", não merece a pena. Perdem-se pelo caminho...
por qual razão Judite de Sousa...
... faz mais perguntas a Vitor Constâncio em cinco minutos de entrevista do que todas as que fez a Dias Loureiro em toda uma "grande entrevista"?
Um conselheiro de Estado inspira-lhe mais temor do que o governador do Banco de Portugal?
Ou percebe mais de assuntos de supervisão financeira do que percebe de gestão de empresas privadas, gostando mais de perguntar de coisas que sabe do que sobre coisas que não sabe?!
Poema para Galileu, de e por António Gedeão
No Dia Nacional da Cultura Científica.
Também pode ver e ouvir cientistas portugueses a ler o Poema para Galileu, no sítio do Público, aqui mesmo.
as guerras são dos homens
« (...) Nasci na índia e sou cornaca, Cornaca, Sim senhor, cornaca é o nome que se dá àqueles que conduzem os elefantes, Nesse caso, o general cartaginês também deve ter trazido cornacas no seu exército, Não levaria os elefantes a lado nenhum se não houvesse quem os guiasse, Levou-os à guerra, À guerra dos homens, A bem dizer não há outras. O homem era filósofo.»
José Saramago, A Viagem do Elefante, Caminho, 2008, p. 217
22.11.08
Diz que era uma espécie de inquérito...
Agora que acabou o “inquérito” que promovemos durante seis dias sobre a crise da avaliação dos professores, vou aqui fazer uma leitura pessoal dos respectivos resultados.
Em primeiro lugar, uma palavra aos que escreveram a insultar-me por causa do mesmo. Uma mensagem de correio electrónico até dizia que eu devia ter tirado o título de investigador por fax, porque o inquérito não era científico. Um, também por e-mail, até insiste que escreve por eu andar a atacar a profissão da esposa - e manda-me links brasileiros para me explicar que incorro em responsabilidade criminal. Ainda há cavalheiros, hã!? Há quem pense que ser “investigador” é um “título que se tira”. Há quem pense que todos os investigadores têm como trabalho fazer “inquéritos científicos”. E também há quem ignore que nem todos os inquéritos têm de ser “científicos”. Esses precisariam aqui de uma explicação de todas as razões pelas quais este “inquérito” não é científico – para ficarem com uma ideia mais concreta do que significam as palavras que pronunciam. Mas não somos nós quem lhes pode fazer esse “regalo”.
Quanto às 361 respostas (não necessariamente equivalentes a 361 respondentes), apraz-me comentar como segue.
Sentido geral das afirmações propostas
As sete afirmações disponíveis representavam, a meu ver, o seguinte:
- 2 representam posições de fundo de muitos professores: “Os professores devem ensinar e não perder tempo com outras tarefas, tais como avaliar os colegas” e “O modelo de avaliação deve garantir que todos os professores possam chegar ao topo da carreira”.
- 2 representam posições favoráveis a uma acção radical contra a contestação dos professores: “O governo não deve negociar com os representantes dos professores se estes não participarem nas estruturas de acompanhamento que concordaram criar para analisar dificuldades” e “Os professores que arranjarem maneira de não ser avaliados têm de ser prejudicados na carreira”.
- 1 representa uma posição “interpretativa” muito desfavorável à posição dos professores, mas não contendo qualquer apelo à acção contra eles: “A maior parte dos professores quer uma avaliação sem consequências, por isso nunca se manifestaram contra o modelo antigo”.
- 1 apontava uma solução global (política) radical: “Estas querelas resolviam-se todas com a entrega da gestão das escolas a entidades privadas”.
- finalmente, 1 e só 1 era única num sentido próprio: era a única com um tom positivo e com uma “linha de futuro” que nem sequer tomava partido por qualquer das partes em confronto: “Devia ser dada muito maior autonomia às escolas em todos os aspectos, incluindo a avaliação”.
Os resultados e as reflexões que me suscitam
Das duas afirmações que pretendiam representar dois tópicos da posição de muitos professores, uma delas foi a mais escolhida [“Os professores devem ensinar e não perder tempo com outras tarefas, tais como avaliar os colegas”], com 200 votos. A outra foi bastante escolhida [“O modelo de avaliação deve garantir que todos os professores possam chegar ao topo da carreira”], 142 votos – mas tinha um problema lógico (uma ambiguidade) muito grave. Explico-me sobre isso abaixo.
Posso concluir que uma parte significativa dos que visitaram o blogue nestes dias discordam de aspectos centrais da minha posição. Contrariamente ao que se possa pensar, acho isso interessante: se o que escrevo só atraísse os convencidos da justeza das minhas ideias, estaria a chover no molhado. E, por outro lado, isto justifica perante mim próprio o meu esforço em explicar-me nessas matérias.
Duas afirmações traduziam o desejo de uma reacção radical do governo face à luta dos professores. Era claramente o caso com [“O governo não deve negociar com os representantes dos professores se estes não participarem nas estruturas de acompanhamento que concordaram criar para analisar dificuldades”], que teve 74 votos. Outra frase também traduz algum radicalismo, mas presta-se a outra interpretação: [“ Os professores que arranjarem maneira de não ser avaliados têm de ser prejudicados na carreira”], com 84 votos. Alguns podem ter entendido esta frase como uma constatação, como se dissesse “serão prejudicados”, porque de facto sem avaliação não progridem. Mas, como estava redigida, parece-me traduzir também um desejo de “partir a espinha” à contestação. Será que alguns leitores julgam que essa é também a minha posição?
É curioso comparar o número dos que concordariam com uma linha de acção radical contra a contestação (frases acima) com o número dos que fazem uma crítica de fundo à posição dos professores: os 118 que escolheram [“A maior parte dos professores quer uma avaliação sem consequências, por isso nunca se manifestaram contra o modelo antigo”] estão a endossar uma interpretação do problema que muitos professores detestam ouvir. Mas estes “críticos de fundo” da posição dos professores são muito mais numerosos do que os “radicais” das afirmações anteriores. Sinto-me confortado, por esta ser em parte a minha ideia: muitos professores têm motivações erradas para a luta, mas isso não nos obriga a querer que o governo radicalize a sua própria posição.
Uma afirmação marcadamente ideológica destacou-se como a menos preferida pelos respondentes: [“Estas querelas resolviam-se todas com a entrega da gestão das escolas a entidades privadas”] teve apenas a preferência de 29 respondentes.
A única afirmação positiva que estava disponível, [“Devia ser dada muito maior autonomia às escolas em todos os aspectos, incluindo a avaliação], foi escolhida por menos de metade dos respondentes, 162 votos, mas, mesmo assim, foi a segunda mais escolhida. Olhamos para a metade vazia do copo (os respondentes só tinham uma opção “positiva” e mesmo assim não a escolheram maioritariamente) ou olhamos para a metade cheia do mesmo copo (no meio de tanta tensão, ainda há quem pense em termos positivos)? Não sei.
Um esclarecimento
Disse acima que a afirmação [“O modelo de avaliação deve garantir que todos os professores possam chegar ao topo da carreira”] contém uma grave ambiguidade. Vejamos. Tal como está formulada, essa afirmação é, na prática inócua, uma vez que todos os professores podem chegar ao topo da carreira – no sentido de que qualquer professor pode chegar ao topo da carreira, tanto no modelo antigo como no novo. Isso só não seria o caso se houvesse algum impedimento a que cada um dos professores pudesse singrar até ao topo. Por exemplo, se houvesse uma regra segundo a qual os professores do género feminino não poderiam ser titulares.
O que traduziria correctamente uma crítica frequente ao actual desenho da carreira seria uma frase diferente, do tipo “O modelo de avaliação deve garantir que os professores possam chegar todos ao topo da carreira”. Quer dizer: todos podem (qualquer um pode) chegar ao topo, mas não podem chegar todos.
Devo confessar que só me dei conta deste problema depois de ter colocado o “inquérito” no blogue – e, a partir daí, só poderia corrigir o erro apagando o próprio inquérito. Decidi deixar andar, até para ver se alguém me assinalava o defeito. Nenhum dos que escreveram a insultar-me acerca do inquérito chamou a atenção para isto. Provavelmente por pena de mim. Para não me perturbar. Ou com receio de que eu não compreendesse tamanha subtileza. Fico-lhes grato pela caridade.
E agradeço aos que participaram.
E “desagradeço” aos que me escreveram a dizer que não participavam por, alegadamente, o “inquérito” traduzir uma visão a preto e branco do problema. Foi por causa desses que agora coloquei alguma "cor" neste apontamento.
E pronto. Vamos "partir para outra".
governo concorda com sindicatos
Manifestação da função pública junta 50 mil pessoas.
O Ministro das Finanças assomou à varanda da Assembleia da República para comunicar de viva voz aos manifestantes da função pública que concorda com eles relativamente ao irrealismo da proposta de aumento de 2,9% para 2009. O Ministro comunicou ainda que irá rever essa proposta em linha com a inflação agora prevista. O Ministro informou ainda, com um pedido de desculpas aos manifestantes, que tinha proposto aumentos de 2,9% por "achar giro" esse número ser aplicado em 2009: "era só tirar os zeros do meio", explicou o ministro dos Santos.
[Agora a sério: Modernizar as relações laborais.]
serviço público e ciência
No excelente blogue Ciência ao Natural, recentemente premiado no concurso Super Blog Awards, onde foi o vencedor na categoria Educação e Ambiente (Parabéns, Luís), está agora uma posta que é um exemplo de várias coisas. Nomeadamente, de como as instituições públicas tantas vezes deixam passar ao lado o interesse público (também há interesse público em matéria científica, ou achavam que não?); mas também de como há pessoas (cientistas, neste caso) atentas, mesmo sem que lhes paguem para isso. A posta é O Museu e o Mercador e merece ser visitada (ela e "as colegas").
recuo
Conselho das Escolas deverá manter pedido de suspensão do processo de avaliação.
Reunião entre BE e professores termina com insistência na suspensão da avaliação.
Analistas vários dizem, sobre as medidas tomadas ontem pelo governo em matéria de avaliação dos professores, e em particular pela Ministra da Educação, que se trata de um "recuo". E, acrescentam alguns, por isso a Ministra ficou "fragilizada". Este raciocínio diz tudo sobre a concepção de democracia que vai nestas cabeças: deve-se negociar, ou não? devem reconhecer-se os problemas, ou não? devem procurar-se soluções, ou não? Se se reconhecem os problemas e se identificam soluções, o que se deve fazer: esconder as soluções na gaveta para evitar reconhecer que nem tudo é perfeito - ou propor as soluções que se conseguiram desenhar?
Quem chama a qualquer tentativa de aproximação de posições uma cedência, ou um recuo, tem uma noção muito pobre do que deve ser a governação. No fundo, a bitola desses comentadores ainda continua a ser o pior de Salazar: a convicção de que o poder não negoceia, não cede, não discute - porque isso enfraquece. A Ministra da Educação, pelo contrário, como governante democrática, fez um esforço para compreender e responder às dificuldades práticas reais envolvidas no modelo de avaliação - e apresentou caminhos que mostram essa atitude.
Contudo, há outra tese, a que deitam mão alguns um pouco mais elaborados - mas não menos errados. Protestam alguns: "mas a Ministra devia ter pensado nesses problemas todos antes". Esses acham que a obrigação de um governante é ser um iluminado. A esses sempre digo, repetindo-me:
«Nenhum modelo é perfeito, logo tentar eliminar um modelo por ele não ser perfeito equivale a tentar matar antecipadamente todos os modelos que venham a ser tentados. Mais: nenhum modelo pode ser aperfeiçoado apenas em teoria, pelo que é na prática que ele vai mostrar os ajustamentos necessários e, nunca passando à prática, nunca chegamos a apurar nenhum modelo. (“Faz-se caminho ao andar.”)» (Excerto da Quarta das 10 teses sobre a crise da avaliação docente.)
Estão errados aqueles que pensam que qualquer reforma deve fazer-se em duas fases nitidamente distintas: primeiro, pensar à exaustão o que fazer, determinando todas as possibilidades em termos de consequências e, assim, gizar o plano perfeito; depois, simplesmente aplicar o plano perfeito. Essa visão hiper-racionalista e idealista da acção é um tremendo erro: o nosso poder de cálculo não é suficiente para lidar com a complexidade do mundo ao ponto de eliminar toda a incerteza dos nosso planos. O que temos é de nos dotarmos de mecanismos para ir-pensando-enquanto-aplicamos, de modo a fazer interagir a teoria (o plano de acção) e a prática (a sua concretização).
De passagem: aquela teoria errada da acção foi uma das grandes dificuldades do projecto da Inteligência Artificial. E uma das principais causas dos seus fracassos. Só que em ciência às vezes aprende-se com os erros. Em política (mesmo em política sindical) parece mais difícil.
pensem no país
Ontem, chegado a casa mesmo a tempo de ouvir a Ministra da Educação ser entrevistada, e verificando depois na imprensa electrónica o que o governo tinha anunciado sobre a avaliação docente, logo vim aqui ao blogue apoiar genericamente o que se tinha feito. E criticar a reacção maximalista de certas organizações de professores, que se comportam mais como guerreiros de uma batalha campal do que como partes numa negociação civilizada, na qual estão em causa interesses de toda a comunidade. E mantenho tudo o que disse. Mas, e volto a isso, comecei o primeiro post de reacção às novidades com as palavras "Continuo a manter o que defendi nas 10 teses sobre a crise da avaliação docente, nomeadamente nas últimas três sobre a forma de relançar as negociações". Para que fique claro, aqui repito a Oitava das 10 teses sobre a crise da avaliação docente:
«Uma negociação que aspire ao sucesso (acordo substancial e sustentável) tem de centrar-se nos verdadeiros problemas que preocupam as partes – e não restringir artificialmente o cardápio dos problemas ou das soluções, porque isso empurra as partes para posições de fachada, destinadas apenas a evitar adiar um prejuízo temido. Dotar as negociações de um cardápio de verdade pode implicar reabrir dossiers considerados fechados, por muito que isso desagrade ao ME. Por exemplo, a percepção de que o preenchimento dos lugares de professor titular deu lugar a injustiças, seja em muitos ou poucos casos, é um factor de envenenamento de todas as situações conexas. Questões ligadas à autoridade dos professores na escola, por exemplo, podem também ter de ser invocadas. Pode ser necessário alargar o âmbito da negociação actual, de forma a colocar em jogo todos os factores que realmente pesam nas posições de fundo das partes, condição indispensável para uma negociação em bases verdadeiras.»
Se fosse eu a ter de optar, teria ido mais longe. Estou convencido de que o processo de titularização, em si mesmo necessário para modernizar a carreira, cometeu injustiças relativamente a alguns professores, provavelmente afectando alguns dos melhores. E isso repercute-se negativamente na autoridade do ME em todo o processo e afecta mecanismos importantes ligados à própria avaliação. E seria preferível corrigir já essas injustiças, em vez de manter este fogo que já nem é brando. Manifestamente, os governantes não lêem este blogue... (uff...para eles e para mim...)
Ministra da Educação discute hoje com pais e professores as medidas anunciadas ontem.
20.11.08
arrogância
Ministra da Educação vai “zelar” para que professores não adiem avaliação dos alunos .
A Ministra mostrou estar atenta aos problemas e querer resolvê-los. Mostrou inteligência, humildade, coragem e dignidade. Os que a acusam de arrogante estão já por todo o lado a mostrar que eles próprios é que são arrogantes. Os que acusam a ministra de não ouvir os professores estão já a mostrar que não lhes interessam os professores, mas apenas as suas lutas político-sindicais, o seu penacho. Não duvido de que o país compreenderá isto: quem realmente se interessa pela educação não precisaria de pensar pelo menos três ou quatro horas acerca da utilidade das propostas da ministra, em vez de se precipitar logo para o microfone a fazer novas ameaças?