16.1.15

afinal, somos todos gregos?



A direita grega perdeu a cabeça e até já começou a usar "argumentos" xenófobos contra o Syriza. Alguns dirigentes alemães tiveram um momento em que pensaram que podiam votar nas eleições gregas em lugar dos gregos. E, na verdade, o que pode acabar por acontecer é que a Grécia oferece à Europa uma oportunidade para repensar o que andou a fazer de errado nos últimos anos.

Afinal, o Syriza - que, note-se, não é da família política em que me incluo - não é um partido delirante, como alguns juravam. Tudo indica que o Syriza estudou, reflectiu e pode perfeitamente ter condições para obter para os gregos aquilo que a direita (e uns socialistas de cabeça perdida) não foi capaz de obter nos anos que passaram. Tudo isso depois de uma crise que, na Grécia, apareceu com aquela viruência e descontrolo porque a direita de lá pura e simplesmente falsificou as contas nacionais. Coisa que trataram de fazer esquecer.

Agora, vemos esta notícia: "Syriza exclui saída da Grécia do euro. Cenário conduziria à rutura da zona euro e a mais austeridade". E isso foi afirmado por Yannis Miliós, um dos quatro economistas responsáveis pelo programa económico daquele partido. Acho que, desta vez, isto deve dar que pensar aos "camaradas portugueses do Syriza": afinal, quando chega a altura de governar, se calhar vale a pena deixar de lado a retórica pseudo-radical e começar a pensar nas consequências concretas, para as pessoas concretas, de prometer aventuras.

Claro que nada disto será fácil. Creio que o Syriza e o povo grego deveriam ter sempre presente que, numa negociação a 28, não podemos nunca estar certos de qual será o resultado exacto de um processo. O que a Grécia quer talvez possa ser obtido e, no entanto, isso não acontecer da forma exacta em que o pensaram. Mas temos de louvar que queiram tentar.

Talvez os mais puros dos radicais ainda tenham alguma coisa a aprender com alguns socialistas da velha escola da social-democracia à moda antiga... que querem combinar firmeza com capacidade negocial e foco nos objectivos, não na retórica.