Há qualquer coisa neste filme que não joga certo. O que será?
29.10.11
28.10.11
26.10.11
o iPad, o iPhone e o iPod como argumentos contra o aborto?
Um argumentos contra a possibilidade legal de interrupção voluntária da gravidez. Sim, não pode ser um argumento contra a IVG, porque ninguém defende a IVG, ninguém deseja a IVG, apenas há quem defenda que, em certas circunstâncias ela deve poder ser decidida por certas pessoas directamente envolvidas na situação concreta. Aquele texto a alinhar o defunto Jobs no debate é, simplesmente, um dos argumentos moralmente mais aberrantes que já me foi dado ler. Será que, para alguns "defensores da vida", o valor de uma vida se pesa pela quantidade de coisas boas que ela nos dá a ver? Será?
25.10.11
o legado.
Anda por aí um número incontável de comentadores (entre os quais, ex-ministros, futuros ministros, ex-futuros ministros, mas também futuros ex-ministros) que afirmam a pés juntos que a culpa toda do thatcherismo serôdio de Gaspar e Passos é "o legado".
Acho que os entendo. Eles pretendem denunciar a "ideologia" e o caldo social que produziu os fenómenos BPN e BPP, a criatividade financeira que substituiu a economia real, a política-negócio que tudo justifica à "iniciativa".
Só não sei se esses comentadores estão articulados com aqueles outros que falam muito da criminalização da política.
24.10.11
solidariedade social.
«O ministro da Defesa decidiu também renunciar ao subsídio de alojamento que tinha atribuído, de aproximadamente 1000 euros, em solidariedade com os seus colegas de Governo.»
Um gesto bonito. Solidariedade entre os mais necessitados.
(Diz bem da nossa miséria colectiva que esta solidariedade de pacotilha substitua no debate público a questão da justeza das regras que se aplicam aos menos pobres.)
dedicado ao Ministro da Administração Interna.
Miguel Macedo tem uma casa a jeito de morar na área onde nos ministra grandes doses de administração interna, recebe um subsídio que se supunha ser para quem não tem casa na capital, parece que legalmente está tudo muito certo (Miguel Macedo considera-se residente em Braga). Agora, Miguel Macedo renuncia ao subsídio, mas não por lhe parecer imoral estar a recebê-lo. Só o faz por não quer perder nem um minuto com o assunto. Claro, 1400 euros não valem um minuto para tão magna pessoa. Embora valham o ordenado de 2 meses (ou mais) para muita gente.
Dedico ao senhor MAI este excerto do filme "Ludwig van", de Mauricio Kagel. Está em causa um compositor que não era capaz de ouvir a sua própria música. Quase tão mau como um ministro que não parece capaz de ver a sua própria figura.
23.10.11
sangue do meu sangue.
SANGUE DO MEU SANGUE, de João Canijo.
Ontem fomos ver o filme. A versão longa (não se nota nada que são três horas e qualquer coisa). Não tenho nada de particular para acrescentar ao que por aí se tem dito. A difícil simplicidade aparente com que se mostra como é viver sem intimidade nenhuma: estar constantemente a ouvir os vizinhos; estar sempre uma outra história a correr dentro de casa enquanto trato das voltas do meu próprio drama. A subtileza com que a banda sonora ajuda nesse mostrar. A história geral até pode parece banal (não vou desvendar, para quem não tenha visto - porque tem de ver), mas tem uma volta muito própria dada pela protagonista, que percebe bem que o mundo muda completamente se soubermos certas coisas. É algo que, visto de outra direcção no tempo, se explica por uma frase de Philip Roth em Casei com um comunista: «É óbvio que não deveria constituir uma surpresa por aí além descobrir que a história da nossa vida incluía um acontecimento, algo de importante, que desconhecemos por completo – que a história da nossa vida é em si mesma, e por si mesma, algo a respeito do qual sabemos muito pouco.» E acerca da qual pode ser preferível não saber certas coisas. A volta, na história, é outra face desta questão. Depois, há a brutalidade da vida: cheira-lhe mal, senhora? É que ela é mesmo assim. E há quem se esforce, quem faça por fazer - embora isso não ponha ninguém ao abrigo de nada, claro.
Hoje vimos, em casa, o documentário do processo de chegar ao filme: "Trabalho de actriz, trabalho de actor". Por aqui se percebe, desvendado o método de criação, onde está a grandeza do filme. A grandeza do filme está na direcção de actores. A forma como eles cresceram com a ideia, como se fizeram da família uns dos outros e habitantes daquele mundo, tornando-os gente de dentro, acho que tem de ser entendida como o segredo do realismo estupendo que nos brindam. Nesse sentido, o método de construção da obra, apresentado neste documentário, é que determina a capacidade que houve para cada interveniente compreender carnalmente o que estava ali a fazer.
Pela vossa rica saúde (mental), vão ver.
22.10.11
abafadores.
Há algum tempo encontrei no blogue embalando as horas um apontamento sobre uma certa prática que teria história no norte deste nosso suposto país de brandos costumes. O que mais me despertou a atenção nesse post, apesar do título (Ai tão católicos!), foi a referência à prática do "abafamento" de moribundos. Como acho que não se devem deixar cair pistas em saco roto, fui à procura. Uma das coisas que encontrei foi um conto de Miguel Torga, intitulado O Alma-Grande, publicado nos Novos Contos da Montanha (1944). Não sou um grande leitor de Torga, nem sou um especial amante de contos. Assim mesmo, aconselho a leitura deste exemplar. Ficam a saber mais qualquer coisa sobre "abafadores" - e sobre o tipo de animais que nos calha ser. Ah, pois.
21.10.11
viver no meio de escombros.
O PSD e o CDS chegaram ao governo de Portugal montados numa estratégia de crispação dura e permanente. A coligação negativa, que juntou em momentos decisivos a auto-proclamada esquerda da esquerda aos actuais governantes, foi a parte institucional desse cenário de confronto. A componente extra-institucional da coligação negativa foi a política do ódio, gerida na comunicação social e nas redes da boataria, servida do cardápio de ataques pessoais de todas as cores e feitios (desde o apartamento da mãe até ao freeport), em que cada escândalo novo vinha substituir mais um escândalo velho cuja vacuidade se tinha tornado incontornável.
Nesse clima de guerra civil em banho-maria, criado para obter efeitos eleitorais, o país não podia respirar. A derrota de Sócrates e a ascensão do mansinho PPC, se trazia no bojo todas as ameaças que a actual governação está a concretizar, tinha pelo menos a virtualidade de aliviar a tensão. Isso seria necessário para restaurar um saudável diálogo numa comunidade política democrática. PPC até começou bem nesse ponto, com alguma contenção. O que implicaria não abusar demasiado da velha conversa de que o governo anterior era o único ou o grande culpado de tudo o que de mau há no mundo.
Entretanto, de cabeça perdida com a constatação de que passara a campanha eleitoral a dizer disparates, a ter de abandonar medidas que tinha dado como estudadas apesar de nunca ter pensado nelas seriamente, a verificar que a sua receita para o país é pouco mais do que um certificado de óbito, PPC regressou à única cartilha que alguma vez consultou com afinco. PPC não soube mais do que voltar à crispação. A culpa é dos outros. O orçamento é meu, o défice é dos socialistas. O sucessor de PPC na JSD quer imitar os métodos estalinistas da Ucrânia e fazer julgar os governantes anteriores. A treta do desvio colossal é a matriz dessa estratégia de mentira e ocultação. Tudo para tentar salvar a pele lançando o país na confusão, reacendendo as chamas da crispação violenta. Essa estratégia de renovar a crispação é suicidária para o país, é tudo o contrário do que faz falta.
Esta gente, de facto, só sabe viver no meio de escombros. Estão, portanto, a construir a casa à medida desse gosto. É pena.
o governador do Banco de Portugal aderiu ao sindicato dos banqueiros?
O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, afirmou esta sexta-feira que o facto de os líderes europeus admitirem o default de um Estado provocou uma “falha sísmica” na zona euro e colocou os bancos na dependência dos políticos. Para resolver o problema, a Europa tem de afastar qualquer possibilidade de um país não pagar as suas dívidas.
Eu estou mais preocupado com o facto da política estar dependente dos bancos. Mas o Governador do Banco de Portugal escolhe o seu campo de modo diferente. Estará a confundir o lugar com o de presidente da associação de bancos, que também existe mas é outra coisa?
grandes revolucionários, pá!
Há no 5 dias quem defenda a existência de um tecto para as pensões. À mistura com indignações contra políticos vários. Se o autor do post em questão sabe do que fala, estará ciente de quem tem defendido a existência de um tecto para as pensões, e para quê. Vejamos. Não se pode obrigar uma pessoa a pagar, num regime contributivo, aquilo que já se sabe à partida que não poderá vir a seu benefício. Havendo tecto para a pensão, tem de haver também tecto para as contribuições. A parte acima do tecto fica a descoberto nos regimes públicos - essa parte vai para fundos privados. É por aí que têm atacado muitos dos partidários da privatização parcial da protecção social. Ignorar isto e meter o assunto do tecto das pensões em argumentos "políticos" demasiado esquemáticos e simplistas - é uma lástima.
(Cheguei ao post criticado graças a uma referência do Ricardo Alves.)
20.10.11
ok, Khadafi foi morto.
E é bom que a guerra na Líbia tenha acabado. Se tiver acabado. Mesmo assim, teve de chegar a vez de Paulo Portas para ouvir um dirigente político afirmar que não festeja a morte de nenhum ser humano, mesmo que ele tenha sido um tirano. E mesmo que isso seja bom para esse país e esse povo. Em tempo de tão pouca coisa, consola-me ver o MNE do meu país, nem que seja uma vez por desfastio, a ser mais decente do que a média.
continuar a interpretar Cavaco.
Aos que ficaram muito chocados com o meu exercício de interpretação da mais recente aparente-rasteira de Cavaco ao governo, digo mais: ainda cá tenho mais intepretações-menos-que-lineares. Aqui vai mais uma.
Cavaco deu ao governo a oportunidade de lançar uma grande operação de negociação do orçamento de 2012 com a oposição. Passos dirá: se o PR tem dúvidas, vamos à procura de alternativas. Isso entala o PS, obrigando-o a apresentar propostas que dêem o mesmo resultado com menos sangue, propostas que, uma vez expostas, passarão a ser o alvo das críticas no lugar das propostas do governo. Assim como o grão-vizir que queria ser califa no lugar do califa, conhecem? Se o PS apresentar alguma alternativa de jeito, o Gaspar terá de engolir e o pragmático PPC mostrará que ainda manda alguma coisa. Caso contrário, a orelha murcha do PS valerá mais que uma orelha cortada numa tourada.
(Senhor PM, se o ofende esta ideia de que quereria realmente negociar alguma coisa, peço-lhe respeitosamente desculpa.)
corpos digitais / corpos analógicos.
Até mais logo: o corpo da máquina.
push down
gently
but firmly
until the body is fully connected
by touching
a grounded metal surface
firmly
until the body is fully connected
(excerto de “Fully Connected”, do álbum No Waves dos Micro Audio Waves)
posto a intérprete de Cavaco, posição delicada.
Não alinhei nas hostes dos que ficaram muito excitados com a crítica que o PR fez ao governo, em matéria decisiva neste momento: corte dos subsídios é a “violação de um princípio de equidade fiscal”; corte salarial para grupos específicos é “um imposto”. Aliás, está por ver que água traz essa declaração no bico.
Essa mensagem de Cavaco Silva, continha, contudo, outro elemento que me chamou a atenção. É que o PR, que podia ser interpretado como protagonizando assim uma quebra de solidariedade institucional, ou uma ingerência em matéria governativa, justificou a tomada de posição declarando: “Mudou o Governo, mas eu não mudei de opinião”. Haveria muito que escrutinar quanto à prática desse princípio por este presidente, mas deixemos isso e fiquemos pelo valor facial da declaração: “Mudou o Governo, mas eu não mudei de opinião”.
É que o barruço podia perfeitamente enfiar em muitas cabeças que por aí andam. Governantes que governam ao contrário do que diziam quando eram oposição. Oposições tentadas a fazer oposição com o mesmo estilo que criticaram em outros tempos. Comentadores que comentam tudo ao contrário do que comentavam há uns meses, tendo passado milagrosamente a ver regiões do ser que não suspeitavam sequer que pudessem existir. Blogues que praticam agora a má-língua e a trica que no passado detestavam. Tudo por quê? Por ter mudado o governo. O que deu azo a mudanças, não apenas de opinião, mas também de tom, de estilo, de código de conduta. O que era abjecto passou a ser virtuoso, o que era louvável passou a ser abominação.
Será que Cavaco se meteu ao caminho com aquelas declarações (“Mudou o Governo, mas eu não mudei de opinião”), não para falar de economia e finanças, que era o que parecia ser o seu assunto naquele momento, mas para lembrar que é demasiado indecente tantos intervenientes na coisa pública fazerem tanta pirueta com tanta celeridade?
(Senhor Presidente, se isto é demasiado confuso para si, peço respeitosamente desculpa.)
19.10.11
Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile.
Leituras.
Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia.
Pedro Lains, Uma carta fora do baralho. Vale muito a pena ler tudo.
Acho que este texto pode bem ser lido em conjunto com este outro: A Europa e o canto das sereias.
a Europa e o canto das sereias.
Uma falha evidente na abordagem do actual governo de Portugal à situação económica e financeira é a miopia em relação ao contexto europeu. Para justificar a política de desmantelar o Estado, entregar as peças aos privados e fazer-nos a todos pagar por isso, com língua de palmo, o governo Passos e Gaspar (por onde Portas passa de vez em quando como cão por vinha vindimada) insiste em que "isto" é tudo culpa nossa: efeito dos erros dos adversários políticos, Sócrates e quem que tenha dormido com ele. A crise internacional, a flutuação louca das expectativas dos mercados, o ataque ao euro por parte de zonas monetárias concorrentes, nada disso existe na cabeça dos nossos ministros do momento. Agora que parece que a Grécia vai ter uma reestruturação parcial da dívida, suportada largamente pelos próprios credores privados, coloca-se a óbvia pergunta: e nós, se pudermos, também queremos? Perguntado, Gaspar responde que não responde, que não se pronuncia sobre cenários ("questões hipotéticas"). Claro que cenários é tudo aquilo com que se trabalha. Não se faz política sem previsões, previsões são cenários, dizer de vez em quando que se não fala de cenários é fugir com o rabo à seringa. Mas Gaspar não se pronuncia, porque, segundo ele, trata-se de cumprir aquilo a que nos comprometemos e já está.
Concordo, contrariamente à esquerda que se regozija com o "não pagamos", concordo que Portugal deve mostrar-se como um país que quererá sempre cumprir com o conteúdo dos seus compromissos internacionais. Não ajudaria nada que fossemos encarados como um bando de gente sem palavra. Só que, e isto importa, cabe termos a noção de quão a "receita" que nos passaram depende do contexto político europeu. Se a Europa passar a agir, não como se a crise fosse coisa de uns pigs isolados, mas como a crise sistémica que é, muita coisa mudará. E mudarão, também, as receitas para os aflitos. E o governo de Portugal, se não tiver um interesse ideológico no "Estado mínimo e pobre", terá de jogar na renegociação. Se os bancos podem querer que o Memorando de Entendimento (MdE) seja renegociado, por que carga de água a renegociação há-de ser tabu para tudo o resto? Na verdade, as condições iniciais de aplicação do MdE já mudaram, com a revisão em baixa da taxa de juro e o prolongamento do prazo dos empréstimos. Outros pontos podem mudar. Se tudo muda no mundo, porque há-de o MdE ser a única peça imutável do puzzle? Para obter isso é preciso jogar no tabuleiro da Europa. Como, aliás, fez Sócrates - apesar de Passos Coelho, com a pressa de "ir ao pote", ter boicotado o que se estava a conseguir por esse lado. O chumbo do chamado "PEC IV" foi o primeiro acto de uma farsa pela qual o actual PM calou Portugal no tabuleiro europeu (excepto para ir a Berlim dizer o que Merkel manda, mesmo contra nós). Antes das eleições, o guião da farsa dizia que tudo se faria sem mais sacrifícios, porque a degradação da situação era exclusiva culpa nossa (de Sócrates). Depois das eleições, a crise é culpa dos outros (a crise internacional afinal existe), mas temos, na mesma, de nos desembaraçar sozinhos. Ou seja: cegueira completa sobre o ponto onde tudo verdadeiramente se joga: a Europa. Por isso Gaspar não mostra interesse nenhum na eventual nova abordagem à Grécia - nem agora, que já todos perceberam que nós também somos a Grécia.
Tudo isto para dizer que o tabuleiro europeu é decisivo. Portugal tem de voltar a ter uma política europeia, em vez de ser o menino surdo, mudo e quedo em que o actual governo nos transformou, como se estivéssemos de castigo no canto. Desse ponto de vista, aquele recente discurso do PR em Florença foi positivo - mas precisamos de mais, com mais consistência. Barroso também tem dito coisas acertadas ultimamente: já não era sem tempo! Temos, contudo, de nos preparar para as complicadas guerras de trincheiras que qualquer episódio europeu sempre implica. O essencial, aí, é sermos capazes de ver o nosso interesse a longo prazo como mais importante do que qualquer interesse de curto prazo. Não se trata de sermos altruístas, trata-se de não sermos míopes e não prejudicarmos os interesses permanentes no altar das conveniências imediatas.
Dou um exemplo: a regra da unanimidade. Muitos "pequenos países" abominam a ideia de deixarem de ter um voto absolutamente decisivo em certas decisões importantes. Raciocínio: em questões fulcrais, temos de poder vetar, como última defesa. Defeito essencial deste raciocínio: qualquer outro também pode vetar o que para nós seria decisivo. Por exemplo, um partido populista na Finlândia pode levar esse Estado-membro a bloquear uma decisão de nos financiar. Afinal, abandonar a regra da unanimidade é uma necessidade para que o calendário interno de qualquer país não aprisione todos os outros. Um governo responsável de um qualquer país, colocado perante uma decisão europeia necessária mas impopular, fica no dilema: ou vota a favor de algo que o seu eleitorado interno não apoia, ou vota contra e impede uma solução (às vezes provocando remendos cosméticos que tornam tudo ainda mais disfuncional). Ora, essa pressão podia ser aligeirada se, precisamente, se eliminasse a possibilidade de um único país (ou um número muito restrito de países) bloquear uma decisão. Em termos de processo de decisão europeia, precisamos de nos libertar da armadilha do excessivo peso das circunstâncias, do aqui e agora de qualquer uma das partes (países), sem que isso signifique qualquer menos respeito por cada parceiro. O ponto é que, visto o conjunto e visto para lá do imediato, às vezes precisamos de nos acautelar contra as más decisões que nós próprios podemos tomar em certos momentos. Trata-se de trocar uma visão simplista dos processos de decisão por uma compreensão mais lata dos seus mecanismos como processo histórico. Ajuda, para compreender isto, ver como Homero, no Canto XII da Odisseia, apresenta o episódio do canto das Sereias.
As Sereias, na sua ilha, atraíam com um canto irresistível os marinheiros que navegavam ao largo, que assim se deixavam conduzir a uma armadilha mortal. Ulisses, avisado por Circe, sabendo que também ele e os seus companheiros não resistiriam à tentação, preparou-se para a ocasião explicando a situação à sua tripulação, tapando com cera os ouvidos dos seus marinheiros e ordenando-lhes que o amarrassem ao mastro do navio e que o prendessem ainda com mais cordas quando ele pedisse para o soltarem. Ulisses não expôs os seus companheiros à tentação e garantiu que ele próprio, concedendo-se a oportunidade de experimentar a situação, seria impedido nessa ocasião de tomar a má decisão que nesse momento haveria de querer tomar: aceder ao armadilhado convite das Sereias. Esta distribuição do processo de decisão revela uma competência sofisticada para, com antecipação, tornar evitável o que de outro modo (e para os que assim não procedessem) era uma inevitabilidade.
Mudar os processos de decisão na União Europeia, para evitar que, em dado momento, este ou aquele país ceda ao canto das sereias, é necessário para tornar mais sábia esta comunidade de destino. Se Portugal perceber onde se joga o seu futuro, entra nesse jogo. Se, como tem sido timbre deste governo, Portugal se distrair desse palco, continuaremos a ter uma governação que pensa que nos safamos, contra o mundo, cortando, cortando, cortando, sem amanhãs. Nem dos que cantam, nem dos outros.
18.10.11
uma pergunta pelo seguro.
Quanto tempo vai a actual direcção do PS - por omissão, inépcia, distracção, ou seja lá pelo que for - continuar a ser cúmplice da táctica do actual governo, que consiste em culpar os anteriores governos socialistas pelas políticas actuais? Se António José Seguro continuar a olhar para o lado, assobiando, sendo ainda aquilo que foi nos últimos anos (um opositor mal disfarçado de Sócrates), em vez de assumir o património completo do PS, veremos a prazo um enterro compósito: Seguro arrisca-se a ser enterrado na mesma cerimónia fúnebre de PPC. Ou será que Seguro simplesmente não percebe o que está em causa e goza, impudicamente, a tentativa de PPC para debitar ao PS esta política, com base em mistificações e ideologia da dura?
O último processo eleitoral no PS teve um gravíssimo defeito: não fez o balanço do socratismo. Fazer o balanço é preencher as colunas do "conseguido" e do "falhado". E as colunas do "ainda bem que não se conseguiu, apesar de tentado" e do "pena não ter tentado". Fazer o balanço é identificar os métodos, respectiva eficiência e eficácia: houve suficiente diálogo social? houve suficiente flexibilidade negocial? houve a sabedoria de distinguir o essencial do acessório? quanto custaram as más opções nesse campo? Fazer o balanço é escrutinar as alianças e seus efeitos na correlação de forças quando a luta aquece: foi sábio desistir do diálogo da esquerda? foi boa ideia não tentar um bloco central? poderia fazer-se melhor com um presidente errante? Fazer o balanço serve para medir o passo, fazer contas com a responsabilidade, consolidar o património, abrir caminhos com melhores mapas. Nada disso se fez. Em particular, o actual SG do PS evitou imprudentemente dizer uma palavra que fosse de relevante para resolver essa questão. Agora, parece que a actual direcção do PS tem um certo gozo em deixar passar a mistificação que por aí anda. Seguro engoliu a narrativa da direita ou não a percebeu - e, por isso, engole-a na mesma? Que tenham de vir antigos ministros e secretários de estado explicar em público como as coisas se passaram, e quais são os números, como se houvesse um PS velho e um PS novo, e o PS novo lavasse as mãos, não augura nada de bom. Porque para estes tempos difíceis não serve de nada um PS de facção.
o corpo da máquina.
Notícias do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa.
O Projecto Interno "Perspectivas sobre o Corpo: Filosofia, Ciência e Arte" inaugura este mês um ciclo de palestras sobre o tema do corpo, com uma conferência de Porfírio Silva (ISR-IST) intitulada "O corpo da máquina".
Data e local: Quinta-feira, 20 de Outubro, pelas 18h00, na Faculdade de Ciências da UL, no prédio C8, piso 2, sala 8.2.23.
O CORPO DA MÁQUINA
Porfírio Silva
As primeiras reflexões críticas sobre os fundamentos do programa de investigação da Inteligência Artificial clássica tiveram como foco organizador a questão do corpo, ou, melhor, o problema da ausência (ou incompreensão) do corpo naquela visão dos seres inteligentes. A viragem da IA clássica para a Nova Robótica, que, em larga medida, representa uma profunda transformação das Ciências do Artificial, em parte regressando ao primeiro impulso cibernético, é guiada pela questão do corpo (e do corpo no mundo). Pensa-se o robô autónomo como uma inteligência com corpo, profundamente ligada às competências sensoriais e motoras que lhe permitem certos comportamentos num certo mundo. Nesse sentido, foi dado um certo corpo à máquina para que ela possa ser inteligente. Contudo, no cerne do projecto continua a estar uma concepção de “corpo da máquina” que é profundamente abstracta (digital, por contraposição a analógico). Vamos olhar para certos aspectos desse empreendimento, e serão apresentadas experiências com “hardware evolutivo”, para que se possa começar a questionar o pacote de pressupostos implicados no projecto de “dar um corpo às máquinas inteligentes”.
pensar a indignação.
A indignação, tal como ela se apresenta agora na praça pública de uma parte do mundo ocidentalizado (convém não esquecer essas fronteiras), merece ser pensada. Tal como convém a um blogue, vamos fazendo isso fragmentariamente. Deixo hoje duas vozes.
Segundo o Público de ontem, o ex-presidente Bill Clinton mostrou empatia com os manifestantes que protestam contra Wall Street, declarando que as movimentações poderiam converter-se em "algo positivo" se não forem apenas contra, se forem a favor de acções específicas. O seu exemplo: deviam apoiar o novo plano de Obama para a criação de emprego. Terá dito, arriscando-se a ser paternalista, que as pessoas que protestam devem abrir-se a pessoas que sabem mais. Penso que o marido da secretária de Estado chama a atenção para uma reflexão importante acerca dos "indignados": é parolo tentar manipular esses movimentos com pura simpatia ou mero apoio de conveniência, tal como é indigno fazer de conta que eles são "a única e grande" oportunidade para fazer mudanças interessantes. Esse atitude de complacência pode ser tacticamente atraente, mas ignora que não foi hoje que começou a haver gente que detectou as injustiças e luta contra elas. Passar a mão pelo pêlo aos "indignados", sem exigir rigor no respeito pelas estruturas da democracia, sem pedir um verdadeiro escrutínio de alternativas, pode ajudar as emoções de pessoas (como eu) que são capazes de reconhecer que têm saudades da efervescência "revolucionária", mas não vai ajudar a construir nenhuma alternativa. A rua é essencial em democracia, mas não há democracia nenhuma que possa viver fundamentalmente da rua. Protestar é necessário, mas o momento exige muito mais do que protestar: exige ver para lá do nevoeiro.
Outro contributo para uma reflexão crítica vem de Zigmunt Bauman, filósofo e sociólogo polaco, professor emérito da Universidade de Leeds, 86 anos. Famoso pelo seu conceito de modernidade líquida, deu uma entrevista ao El País onde aplica o conceito à actualidade da indignação. Diagnóstico do estado do mundo: a origem de todos os graves problemas da actual crise está principalmente na "dissociação entre as escalas da economia e da política." As forças económicas são globais e os poderes políticos, nacionais. Uma das consequências da resultante "descompensação" é que os políticos sejam vistos como incompetentes ou corruptos. E a resposta dos indignados? Bauman diz que este movimento é emocional e que a emoção, se é capaz de destruir, é particularmente inepta para construir qualquer coisa. A emoção é "líquida": ferve muito, mas também arrefece depressa. "A emoção é instável e inadequada para configurar algo de consistente e duradouro." O movimento cresce e cresce, mas "fá-lo através da emoção, não tem pensamento. Apenas com emoções, sem pensamento, não se chega a lado nenhum”. Afinal, resolver os complexos problemas de coordenação no seio de um colectivo sofisticado é uma tarefa exigente, que não pode ser levada a bom porto apenas com uma clara noção do que se recusa. E, para ser sincero, duvido que o movimento dos indignados tenha, sequer, uma noção clara do que realmente recusa.
Mesmo que uma certa esquerda continue a fazer de conta que estas questões não existem, eles sabem que nós sabemos que eles sabem que esta excessiva liquidez implica enormes défices de futuro no seio da indignação. E isso deve ser conversado sem diplomacias. Sob pena de a indignação, mesmo quando justa, não servir para nada.
16.10.11
livro de animais.
Vasco Pulido Valente, para o bem e para o mal, sabe muito de animais. Na sua coluna de opinião, no Público, publica hoje um texto intitulado O "independente". Lê-se como segue.
Este Governo tem um número anormal de “independentes”, coisa que em princípio parece meritória ao cidadão comum. Mas será? Para começar, conviria saber o que é um “independente”. É um senhor (ou uma senhora) que nunca por nunca se interessou por política e menos por política partidária, e que votou sempre segundo a sua “consciência”, ou conveniência, sem se interessar se votava no PS, no PSD, no CDS ou no diabo em pessoa? Admito que haja por aí esse animal indefinido, embora não conheça nenhum. É, pelo contrário, o “independente” um cidadão desconhecido que conseguiu o milagre geométrico de ser, como se dizia, “equidistante” dos grupos e grupelhos que por aí andam? Ou é um sábio fechado num gabinete inacessível, que sabe ao certo o remédio para salvar a Pátria e está calado por humildade cristã e científica?
Em grosso, não penso que o “independente” seja nada disto, pela simples razão que não acredito na “independência” do “independente”. O “independente” costuma esvoaçar à volta à volta dos grandes grupos de interesses, dos lobbies universitários, do PSD e do PS. Verdade que não frequenta sessões de militantes, nem se candidata a cargos que o possam pôr em evidência pública. Prefere o género “encontro”, “simpósio”, “seminário” ou conferência, onde se roça com assiduidade pela gente importante e, principalmente, pela gente séria e onde com o tempo (com pouco tempo) começa ele próprio a adquirir sem excessivo esforço a sua reputação de importante e sério. Não incomoda ninguém, não provoca ninguém, quase não se nota e é útil para encher uma cadeira ou fazer uma pergunta.
Mas não se imagina que o “independente” escolhe ao acaso, como um pássaro tonto, os meios por onde circula e as relações que laboriosamente angaria. Sabe perfeitamente para onde sopra o vento: onde poisa o PS e onde poisa o PSD. Quem tende a “subir” e quem tende a “descer” e, portanto, para usar o termo pornográfico corrente, em quem deve “apostar”. Depois de uma eleição ou de uma remodelação, muitas vezes até ganha. Serve para tapar um “buraco”, para afastar um apoiante incómodo, para resolver com mansidão e “neutralidade” uma querela entre dois “caciques”. A televisão e os jornais declaram o “independente” uma “cara fresca” e ele entra esfusiante pelo Estado dentro na completa ignorância do que sejam a administração e a sociedade portuguesa. Para naturalmente fugir dali a uns meses como um sendeiro triste, à procura de um novo dono.
E assim vos deixa com esta pequena viagem ao jardim dos animais.
manifestações.
Não me manifesto na rua facilmente. Mas não excluo manifestar-me. Uma coisa é, contudo, certa: não participarei nunca numa manifestação em que julgue provável que se grite, à porta da sede de um órgão de soberania, "invasão, invasão". Como ontem aconteceu frente à Assembleia da República.
orçamento rectificativo.
Afinal, em 2012 o governo não vai cortar o 13º nem o 14º mês a nenhum trabalhador.
Apenas vai pagá-los em vouchers para estadias na Madeira.
O paquete Santa Maria vai ser reconstruído para fazer a ponte permanente entre o Continente e a nova colónia de férias forçadas para funcionários públicos.
Fica o esclarecimento.
15.10.11
as mentiras da austeridade.
Palavras claras acerca de algumas inverdades e mistificações que por aí andam - e que estão a ser manipuladas pelo governo para justificar uma política de suicídio.
(Grato ao João.)
ranking das escolas.
Estive a ver o "ranking" das escolas.
Fiquei surpreso de não haver uns asteriscos a assinalar os colégios que antes da Páscoa mandam embora os alunos que não estão a ter as notas que convêm à publicidade da instituição.
É claro que, do mesmo modo, não vem nenhum sinal particular para as escolas que recebem esses alunos empurrados pela borda fora das "boas casas".
pequenos cursos para governantes.
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Orçamento de Estado na Especialidade
Docente: João Quadros
1. Por cada neto que nascer vão ter de morrer 2 avós
2. Comércio tradicional vai pagar IVA de XXIII %
3. Trabalho escravo regressa mas apenas com contratos a prazo
4. O eléctrico 28 vai fazer a ligação Alfama - Sines - Salamanca em bitola alfacinha
5. Governo vai aumentar a segunda-feira para 48 horas
6. Subsídio de Natal vai ser um par de meias
7. Horas extraordinárias vão ser pagas com desenhos do filho do ministro das Finanças
8. Metro do Porto vai voltar a ser uma piada
9. O IVA do vinho depende do que se aguenta
10. Bancos vão poder servir mini-pratos ao balcão
11. Diferença horária para os Açores vai aumentar 15%
12. Quebra de produção com feriados santos vai ser compensada com trabalho forçado de padres
13. Casais com mais de 3 filhos vão ter de abater 1
14. Taxas moderadoras podem ser pagas com sexo
15. Reformas antecipadas congeladas até Manoel Oliveira parar de filmar
16. TSU de empresas de empresários supersticiosos cai 13%, se eles quiserem, eles é que sabem…
17. Juízes perdem subsídio de renda e vão passar a ir dormir a nossa casa
18. Pensionistas do Estado com pensões inferiores a 485 euros vão poder trocar consultas por órgãos
19. TSU de empresas com gestores com hipermetropia vai descer 0,0000000000000001 pontos
20. IVA dos restaurantes pode ser levado para casa
21. Portuguesas com um sexto sentido vão ter que desistir de um dos outros
22. Vão haver portagens à saída das maternidades
23. São proibidos ajuntamentos de mais de 3 pessoas junto das caixas multibanco
24. IVA da Coca-Cola aumenta se agitarem as embalagens
25. Desempregados vão formar empresa de logótipos humanos para eventos em estádios
26. Vai haver portagens à entrada do tribunal de Oeiras
27. Madeira vai ser alugada para experiências nucleares
28. EPAL vai cobrar taxa nos sonhos húmidos
29. Pelo princípio do utilizador-pagador, pessoas com três rins vão pagar mais taxa de esgoto
30. RTP fica só a dar música sacra até à Páscoa
31. Portugueses nascidos a 29 de Fevereiro vão deixar de ter documentos
32. TSU das empresas de pesca vai descer assim (fazer gesto do tamanho que quiser com as mãos)
33. TAP vai fazer a ligação por terra Sines-Entroncamento
34. Militares vão substituir bombeiros nos seus deveres conjugais
35. Reformados que ultrapassam a esperança média de vida proibidos de andar na rua
36. TSU das empresas de Duarte Lima vai descer sete palmos
37. As SCUT vão poder ser percorridas a pé por metade do preço
38. Castrados vão perder o abono de família
39. Escolas passam a distribuir rações de combate ou em alternativa refeições da TAP
40. A força vai passar a ser igual a metade da massa vezes a aceleração.
incendiários.
Pareceu-me ouvir na rádio esta manhã (TSF, noticiário das 7:30) que o presidente da JSD defendeu a responsabilização criminal de Sócrates e todos os seus ministros pela gestão que fizeram do país.
Confesso que não sei se ouvi bem. Estaria o homem a defender a responsabilização criminal de quem provocou a crise política, por interesses meramente partidários, que descarrilou definitivamente a nossa exposição aos mercados financeiros e que, finalmente, nos empurrou para os braços da troika? Estaria o homem a defender a responsabilização criminal de quem provocou eleições por achar que o PEC IV já era PEC a mais, para agora já ir no PEC n + y elevado a z?
E incendiários, senhor presidente, incendiários do seu calibre, não deviam ser responsabilizados criminalmente?
13.10.11
desfolhada. e mal paga.
Passos Coelho acabou de falar ao país.
Afinal, PPC já não dispensa a desculpa de que tudo isto se deve aos anteriores governantes. A sua determinação em não ser passa-culpas durou pouco. Também descobriu, entretanto, que há uma crise internacional, que o que se passa cá dentro não depende só de nós. Esqueceu-se foi de dizer que, anteriormente, fazia de conta que não sabia disso. Mas isso, no conjunto, não interessa muito.
Interessa mais que, das duas uma: ou PPC passou a última campanha eleitoral a mentir descaradamente o tempo todo, ou não fazia então ideia nenhuma da gravidade da situação. Em qualquer dos casos, a permanente revisão das previsões, a sucessiva passagem de mal a pior, era antes culpa das más políticas, porque isso convinha à sua demagogia de tomada do poder - e agora passou a ser culpa exclusiva dos outros. O mundo tem de ajustar-se ao discurso que mais lhe convém politicamente, é o que parece. Mas isso ainda não é o que realmente importa.
Importa mais que PPC tenha, em campanha eleitoral, dado como assente que tinha a lição estudada, que sabia muito o que fazer, e que os outros é que, ignaros, tinham dúvidas. Foi assim, notavelmente, na redução da Taxa Social Única, que afinal passou da evidente bondade de uma redução substancial para a actual decisão de não haver mexida nenhuma. Mas isso não é ainda o osso da questão.
Já começa a ser o osso da questão que PPC fale ao país sem uma palavra que seja acerca de como vamos estimular a economia. Para usar as próprias palavras de PPC, antes de ser PM, este é o caminho para matar o doente com a medicina. Isto já começa, de facto, a ser uma questão central.
Contudo, muito mais decisivo é que PPC faça de conta que Portugal pode safar-se à custa da sua própria austeridade, ponto final. A malta aperta o cinto até só caber um palito - e sobrevivemos. Está absolutamente errado. O que nos vai acontecer depende essencialmente do que a Europa vai fazer. Provavelmente, quem cai a seguir à Grécia nem sequer é Portugal, mas a Itália. E o que isso representa para nós não depende da meia hora de trabalho a mais por dia, nem da evaporação dos subsídios de férias e de Natal. O actual PM, que chegou ao lugar graças a um golpe do baú à boleia da crise, dizendo que a permanente revisão das previsões se devia à burrice das políticas do governo deste jardim à beira do mar plantado, que dizia que tudo se resolvia sem mais sacrifícios desde que tivéssemos juízo, afinal não tem juízo e continua a não perceber que isto não é uma ilha no meio do oceano Pacífico.
Bom, para não estragar o jantar, consolem-se com esta magnífica versão da Desfolhada. Mais não vos posso dar.
Amanda Knox digital.
Muito se escreveu já sobre o "caso" Amanda Knox, a jovem americana condenada a mais de vinte anos de prisão em Itália pelo assassinato da ex-colega de casa, a inglesa Meredith Kercher. Knox veio recentemente a ser libertada em sede de recurso. Nada tenho a dizer sobre a culpabilidade dela, ou sobre o desfecho que tudo isto terá, muito menos sobre "a verdade" do caso. Mas vale a pena tentar perceber como estes casos espelham certos movimentos da nossa forma actual de processar a vida, às vezes sem nos darmos conta.
Richard K. Sherwin escreve o seguinte sobre o "julgamento digital":
Menos discutida do que as provas de ADN suspeitas é se uma animação gráfica digital que também contribuiu para a incriminação de Knox. Nas suas alegações finais no julgamento, o promotor Giuliano Mignini, de Perugia, passou uma simulação gerada por computador que mostrava um avatar de Amanda a matar um avatar de Meredith. A simulação terminava com uma foto sangrenta do corpo de Kercher na cena do crime. A animação parece agora ter sido uma mera fantasia, uma versão animada da teoria do promotor, apresentando Amanda Knox como uma femme fatale louca por sexo, "Foxy Knoxy", como os tablóides britânicos lhe chamaram, um "diaba", como muitos jornalistas europeus escreveram, apropriando-se da frase do promotor.
Na íntegra aqui: The Digital Trial.
a teoria da limonada.
Dani Rodrik, em Milton Friedman’s Magical Thinking:
Os mercados são a essência de uma economia de mercado no mesmo sentido em que os limões são a essência de limonada. Sumo de limão puro dificilmente se poderá beber. Para fazer uma boa limonada, teremos de misturar água e açúcar. Claro, se pusermos demasiada água na mistura estragamos a limonada, tal como demasiada intromissão do governo pode tornar os mercados disfuncionais. O truque não é descartar a água e o açúcar, mas ter as proporções correctas. Hong Kong, que Friedman mostrou como exemplo de uma sociedade de livre mercado, continua a ser a excepção à regra da economia mista - e mesmo ai o governo tem desempenhado um extenso papel na provisão de terrenos para habitação.
(Cheguei lá sentado no Banco Corrido.)
12.10.11
a França por vezes ilumina.
Já escrevi anteriormente para mostrar o meu apoio à opção dos socialistas franceses, que estão em primárias abertas para escolher o seu candidato presidencial. Abertas, quer dizer: quem simplesmente se declare solidário com os valores da esquerda e da república, e queira dar esse passo de aproximação ao PSF, pode votar para escolher o candidato. Defendi que se trata de uma excelente oportunidade para, genuinamente, abrir os partidos à participação cidadã.
Esta noite, os dois vencedores da primeira volta, adversários agora para a decisão final, François Hollande e Martine Aubry, estão a debater, em directo na TV. Estão a mostrar que, no essencial, estão de acordo: quanto ao que não querem do que está, quanto ao rumo geral do que é preciso fazer diferente. Estão a dar uma excelente mostra de unidade saudável, sem deixar de mostrar algumas diferenças de tom, e até de dar algumas bicadas suaves (indirectas). Contudo, no essencial, estão a contribuir enormemente para dar voz aos socialistas como um todo - e à forma como querem sair desta crise.
Os partidos não têm que se esconder da cidadania.
boas práticas, boa política.
Longe da demagogia.
Coisas que sobrevivem à espuma dos dias.
«Portugal decriminalized drugs a decade ago. What have we learned?»
No The New Yorker.
este post tem bola vermelha, depois não se queixem que não avisei.
O Eduardo Pitta mencionou ontem, no FB, um dos poemas em prosa da Adília Lopes que falam de coisas importantes da vida com palavras que se usam mais na real no que nas versões literárias. Uma f-palavra, sim.
Isso serve-me para voltar a um tema sobre o qual já me debrucei (mas sem chegar a cair) anteriormente, então a propósito de Banda Desenhada. Como sou entusiasta leitor de livros desenhados por Milo Manara, já tive ocasião de reflectir que a fronteira do pornográfico na sua obra é uma questão. Uma das vezes que escrevi sobre isso foi por causa do álbum A Metamorfose de Lúcio, inspirado em O burro de ouro, de Apuleio, mas já anteriormente tinha notado que em outros álbuns as dúvidas eram resolvidas claramente do lado de lá da raia. O que, afinal, não é de estranhar: lá mais para trás na sua carreira, Manara foi desenhador de pornografia, ponto parágrafo. Não vou aqui regressar aos argumentos sobre o mal fundado de certas distinções, mas, perante este texto de Adília Lopes (do livro Irmã Barata, Irmã Batata, 2000)
Para foder, nestes tempos que correm, parece que é preciso um escafandro. As pessoas pensam muito em foder. E sofrem muito quando não fodem. Quem não pensa em foder está fodido. Mas as pessoas fodem e não são felizes.
tenho que dizer que, por muito que use f-palavras, é um texto seriíssimo, que diz verdades como punhos, e que são relevantes para multidões de exércitos perdidos na guerra do sentido de cada dia. Esse era o texto citado por Eduardo Pitta no FB, a propósito deste acontecimento, narrado no seu blogue.
por que é que esta manchete não é uma notícia.
Para saber por que é que esta manchete não é uma notícia, em nenhum sentido da afirmação, convém ler o Rogério da Costa Pereira. Depois, podem ir à vossa vida.
11.10.11
as pessoas não são uma mercadoria.
Pois. Eu sou um radical.
Não. Para outros, eu sou um acomodado.
Também não.
Se eu acredito na indignação?
Um indignado pode ser menos lúcido do que alguém que estremece menos mas pensa mais.
Embora, sem capacidade de indignação sejamos caracóis.
É só pôr os cornos ao sol - e apanhar nos ditos cujos.
Fazer é mais difícil.
"Por nossas mãos, por nossas mãos"... lembram-se?
Não, não se lembram nada.
A moda não vai por aí.
"Eles" é que têm a culpa.
E nós, confundimos Play Station com Polícia de Segurança Pública.
Eles não sabem nem sonham que o sonho NÃO comanda a vida.
Sim, porque também tu continuas convencido de que o inferno são os outros.
E os tipos da "física da sociedade" ainda não perceberam que as ciências moles é que são as ciências duras.
Ou alguma vez viram um neutrino a fazer discursos sobre a economia da repressão com base no spin entre partículas elementares (meu caro Watson) ?
carta aberta aos que entre nós querem criminalizar a política.
Ex-primeira-ministra ucraniana condenada a sete anos por abuso de poder.
«A antiga chefe de Governo da Ucrânia e musa da “revolução laranja” Iulia Timochenko foi condenada a sete anos de prisão pelo crime de abuso de poder. O processo diz respeito à assinatura de acordos de gás com a Rússia, em 2009, no qual a ex-primeira-ministra é acusada de ter excedido as suas competências firmando um compromisso que os críticos de Timochenko dizem ser muito desfavorável para a Ucrânia, onerando o país com preços “exorbitantes” e pondo mesmo em risco os “interesses nacionais”.»
Vários dos nossos demónios da coisa pública, gente que não se importa de incendiar seja o que for para exibir uma opinião, têm por cá defendido a criminalização da política. Consoante as cores, alguns querem colocar Sócrates no banquinho, outros inclinam-se mais para lá sentar Jardim. Não se trata de fazer julgar qualquer pessoa por crimes que tenha cometido, seja presidente de câmara ou ministro; nem, por outro lado, se trata de tirar os "poderosos" das mãos da justiça. Trata-se de recusar absolutamente misturar julgamento político com tribunais. Temos repetido que isso é uma aberração, um caminho perigoso; pensamos que a tentativa de criminalizar a política é um ataque à democracia, um extremo de demagogia e de populismo que só pode piorar as condições da nossa vida em comum. Que as musas da liberdade nos salvem de cairmos nessa tentação.
O caso de Iulia Timochenko, na Ucrânia, mostra para que servem as ideias de criminalização da política. Se alguma coisa a beleza da senhora faz neste caso é aumentar a sensação de peça de teatro rasca, pela qual não haveríamos de querer pagar para assistir. Aproveitemos para ver com olhos de ver, no espelho dos outros, para que servem as ideias de certos exaltados que vivem (no aquário do comentário político) da actividade doentia de espalhar ideias destrutivas.
10.10.11
se isto não é um método fascista, é o quê?
Um jornal da oposição atacado por "very lights", a populaça arregimentada pelo partido do poder a gritar na rua "nós só queremos o DIÁRIO a arder", um deputado a orquestrar o ataque com o slogan "filhos da puta olé".
Se isto não é um método fascista, não vejo a diferença.
Ler aqui o relato dos atacados.
(Agradeço à Shyznogud a indicação.)
inteligência artificial.
Bela ilustração de mais um problema fundamental da Inteligência Artificial.
Que vos ocorre?
Eu diria que o problema enunciado nesta imagem diz respeito a uma fronteira essencial entre as criaturas naturais e as "criaturas" artificiais. As estas últimas falta contexto, sendo que o contexto é dado pela história partilhada. Não é de espantar! Vejam bem: "fazer" um adulto humano demora muito mais de dez anos, desde o primeiro "acto" até uma certa autonomia e auto-determinação; por que haveria de ser mais rápido fazer um robô inteligente? A parte de leão daquelas características que nos tornam aceitáveis ao convívio humano são paulatinamente (às vezes, penosamente) adquiridas por um intenso e contínuo historial de interacção complexa e múltipla em grupos de congéneres, grupos esses onde há pares e onde há "mais velhos" que já viram muitas outras coisas. As máquinas, mesmo as inteligentes, não têm essa oportunidade. Falta a história de interacção, falta-lhes contexto. Ora, e aí está o ponto desta magnífica ilustração, os humanos também podem perder o contexto. Quem não vê como é que aqueles dois objectos estão relacionados - perdeu uma parte da história!
dar tempo ao tempo.
Uma chamada de atenção para um texto meu, que ficou disponível recentemente: "Dar tempo ao tempo. O estudo do comportamento nas ciências do artificial e o problema das escalas temporais", in Antropologia Portuguesa, volume 26-27, pp. 181-208
Resumo. Neste texto sugere-se que as Ciências do Artificial podem contribuir com a sua dimensão experimental para o avanço da compreensão da dinâmica das interacções entre processos da história da vida que têm lugar em diferentes escalas temporais, como sejam a evolução de uma espécie, o desenvolvimento de indivíduos dessa espécie e a evolução cultural de uma sociedade.
Para substanciar essa sugestão apresentam-se exemplos de trabalhos desenvolvidos no âmbito das Ciências do Artificial, uma constelação de abordagens científicas que procuram realizar em máquinas construídas por humanos certos comportamentos definidos como objectos de atenção por parecerem típicos dos próprios humanos ou de outros animais. Os exemplos apresentados são: primeiro, a Robótica Evolutiva, que procura obter robots que resultem de processos de evolução artificial; segundo, a Robótica do Desenvolvimento, que tenta implementar em plataformas robóticas alguns aspectos do complexo de processos que levam, em espécies que se reproduzem sexualmente, do zigoto ao indivíduo adulto; terceiro, experiências com a emergência de linguagens simbólicas em robots.
A consideração destes exemplos conduz à identificação de um problema metodológico nas ciências do artificial: o problema das escalas temporais. Sugerimos que, para avançar na compreensão desse problema, as ciências do artificial beneficiariam de procurar inspiração na etologia.
(em linha)
9.10.11
primárias e primários.
Socialistas franceses decidem candidatura presidencial com "primárias" abertas a não militantes.
«Pela primeira vez em França, a escolha de um candidato socialista à presidência poderá ser feita por qualquer eleitor que pague um euro e que assine um papel a dizer que partilha "os valores da esquerda e da República". A inovação valeu uma exposição mediática inédita dos candidatos, com audiências televisivas recordes para debates políticos entre candidatos da mesma família política.»
Por cá, foi pena que, na última campanha para a liderança socialista, esta possibilidade de maior osmose entre partidos e cidadãos tenha sido descartada com demasiada facilidade, ainda por cima atropelada por um apelo demagógico contra "a invasão do PS pelos estranhos". Neste ponto concreto, Seguro esteve mal, usando uma receita que não é nova no PS (matar debates para atalhar votações). Espero que um dia, mais cedo do que tarde, a actual liderança do PS faça a Assis a justiça de lhe repegar a proposta e colocá-la a debate, dessa vez com seriedade.
pequenos artistas.
Esquerda: Abraham de Vries, Retrato de Homem, 1631
Direita: Tatiana Santos (3 anos), Retrato de Homem (com os olhos postos em Abraham de Vries), 2011
Esquerda: Autor desconhecido, Retrato de Dona Catarina de Bragança, rainha de Inglaterra, c. 1660
Direita: Alice (3 anos), Retrato de Dona Catarina de Bragança (com os olhos postos...), 2011
Imagens tomadas no Museu de Évora, exposição "Pequenos artistas à descoberta do Museu", Maio 2011
sobre certas virtudes.
Era uma vez... Houve um tempo... detesto estas fórmulas, que podem dar a ideia de que sou um saudosista, que julgo que "no meu tempo é que era bom".
Não obstante, como posso deixar de recorrer a essas expressões para dizer que: Anos atrás as pessoas liam A Crítica da Razão Pura, de Kant, sendo que a leitura não é fácil, começar a compreender exige entrar no ritmo do homem, é preciso um esforço de "reverse architecture" (vá, façam o paralelo com "reverse engineering" e pensem no carácter arquitectónico do pensamento kantiano). Suavam-se as fontes do Éden para perceber o que andava o senhor Martin a querer dizer com Ser e Tempo. Para já não falar das Investigações Lógicas, e de Edmund Husserl em geral, que João Paisana explicava como quem esmaga a banana para as criancinhas, mas que, deixados ao abandono, nos esgotava pilhas Duracell umas a seguir a outras.
Líamos. E não nos queixávamos. Até porque, depois do sofrimento, vem o prazer. Neste caso, que não em geral. Se não conseguíamos meter o dente, a culpa era nossa, não das obras. Como escreveu Kuhn, a propósito dos enigmas que os cientistas tentam resolver: se o cientista não consegue resolver o enigma, é ele que está a falhar, não são "as coisas".
Pois, agora, gente muito decente comporta-se como se a papa tivesse de ser cozinhada por "alguém" antes de ser comida. Se um livro não se lê como um romance (ligeiro!), implica esforço, regressar e rever o que foi lido, pensar uma e outra vez, juntar as pontas, tomar umas notas à margem para manter o andaime a funcionar... então, com tudo isso, o livro é uma seca. Como se a dificuldade fosse um deserto, em lugar de ser uma aventura. Esquecendo-se que é no deserto que se encontram oásis. E, em caso de seca, a culpa é do autor, claro, que se esqueceu de tratar de ser um autor popular.
Se eu não tivesse compreendido a Crítica da Razão Pura (andei um Verão a lê-la, e suei), ou da Razão Prática, ou o que fosse, só tinha que fazer melhor até compreender. Mudados os ventos, e com eles as vontades, tal como as coisas andam ainda o senhor Immanuel Kant há-de ser citado em tribunal de justiça para reescrever a obra em doze episódios de 3 minutos cada, com intervalos para pipocas e coca-cola ou fanta. Pela mesma ordem de ideias, os cientistas reclamariam ao "criador" que resolvesse os enigmas que mais lhes resistem, porque não lhes pagam para tanto esforço a desvendar segredos que bem poderiam ser apresentados em formas mais simples, equações de menor grau.
Alberto Manguel, em A Cidade das Palavras (Gradiva), escreve a páginas 71: «precisamos de deixar de lado as sobrevalorizadas virtudes do rápido e fácil e recuperar a percepção positiva de certas qualidades quase perdidas: profundidade de reflexão, lentidão na progressão, dificuldade da empresa.»
Pois, precisamos. Manguel também descreve, sem novidade mas com precisão, como a indústria de encher chouriços publica livros nos dias que correm. Ao gosto do freguês, por ser rei o consumidor. Mesmo que seja um consumidor de papel enlatado.
(Ilustração retirada daqui.)
7.10.11
insubstituível...
... só a vaquinha no presépio! Haja alguém que tenha juízo e não queira tornar-se indiscernível da coisa pública.
Carlos César termina não se recandidata ao governo dos Açores.
miguel de vasconcelos aterra na portela.
Bruxelas terá uma ‘task force’ em permanência, em Portugal, para agilizar a aplicação dos fundos estruturais nas reformas da ‘troika’.
Já não somos capazes de nos governar? Nem mesmo de aplicar as decisões? O que vêm fazer para Lisboa em permanência os funcionários da troika? Escrever os despachos, contar as moedas, despachar os polícias para conter as manifestações, ir ao INE buscar as estatísticas (ou ir ao INE levar as estatísticas), sentar o rabinho em cima de AJJ para ele não estrebuchar, cobrar as portagens, fazer as contas?
Quem pediu ao doce Barroso esta prenda? Ou foi o próprio que ofereceu? A oposição passa a ser feita directamente junto da troika? É a troika que passa a ir aos debate quinzenais debater com o Professor Louçã?
Até agora, uma das grandes diferenças entre a Grécia e Portugal é que a Grécia não era capaz de aplicar as suas políticas com a sua própria Administração, pelo que tinha bombeiros da troika a labutar em vez dos seus dirigentes. Portugal passou a estar na mesma situação.
Miguel de Vasconcelos saiu pela janela para entrar pela Portela passados estes séculos todos.
E não me digam que tanto faz, que é só simbólico. Os humanos são uma espécie simbólica: por aí vivemos, por aí morremos.
Que tralha.
a paz esteja connosco.
Nobel da Paz para os Direitos das Mulheres.
O comité norueguês decidiu atribuir o Nobel a estas três mulheres - as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkul Karman - pela sua luta pacífica em nome dos direitos das mulheres.
"Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo a menos que as mulheres tenham as mesmas oportunidades do que os homens", escreve o comité em comunicado.
Apoiado.
as contas do PS.
Segundo o sítio do Expresso, Francisco Assis «manifestou hoje surpresa por a Comissão Política do PS debater a situação financeira deste partido, dizendo que a última vez que isso aconteceu foi no tempo da liderança de Vítor Constâncio.» Parece que a referência a Constâncio era para ser um enxovalho, mas isso seria estranho em alguém que defende que o PS tenha memória e se respeite na integralidade da sua história.
Francamente, se Assis disse aquilo que o Expresso afirma que ele disse, não percebo. Estava a elogiar Seguro? Só pode. Sim, porque num partido democrático o assunto do financiamento é um problema político de primeira importância. Se a direcção de um partido não toma conta desse assunto, quem toma? O "tesoureiro"? O homem do fraque? Mal é que desde Constâncio (segundo Assis, não fui confirmar) esse assunto tenha andado arredado da Comissão Política.
Francamente, eu - que estou muito longe de ser um admirador de Seguro - começo a achar que a pressa dos derrotados no último congresso do PS em estarem sempre a dizer coisinhas é, apenas, política de trolha. Sem ofensa para os trolhas, claro.
6.10.11
abandono.
Faz hoje anos que morreu Amália Rodrigues.
Abandono
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
O poema é de David Mourão-Ferreira.
um poema do Nobel.
Tomas Tranströmer é o Prémio Nobel da Literatura.
Nobel da Literatura para um poeta. Tomas Tranströmer é sueco. O mais que vos posso dar é uma versão inglesa de um seu poema.
After a Death
by Tomas Tranströmer
translated by Robert Bly
Once there was a shock
that left behind a long, shimmering comet tail.
It keeps us inside. It makes the TV pictures snowy.
It settles in cold drops on the telephone wires.
One can still go slowly on skis in the winter sun
through brush where a few leaves hang on.
They resemble pages torn from old telephone directories.
Names swallowed by the cold.
It is still beautiful to hear the heart beat
but often the shadow seems more real than the body.
The samurai looks insignificant
beside his armor of black dragon scales.
Só agora vou começar a conhecê-lo.
e eu a pensar que a culpa era de um certo português.
Segundo a agência AFP, o Secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, falando ontem numa conferência pública em Washington, pediu aos americanos que reconheçam a responsabilidade dos Estados Unidos pelo desencadear da última crise. "Todos os americanos envolvidos na vida pública devem reconhecer que causámos enormes danos à nossa reputação no mundo ao permitir que o sistema financeiro tenha chegado ao ponto que chegou, provocando uma crise tão destrutiva quer para nós quer para o mundo inteiro", disse.
um jardim de nogueiras.
Não, com nogueiras não se faz um jardim. Faz-se, quando muito, um arremedo de pomar.
Fonte: RTP. Imagem manipulada: esta convivência entre um Nogueira, Mário Nogueira, e um Jardim, Alberto João Jardim, nunca existiu. Não podia existir.