30.6.10

governo do PSD: antevisão


Um cenário:
«Imagine, por um momento, que o PSD estava no Governo em Portugal. E que o primeiro-ministro dizia:

a) a participação que a PT tem no Brasil é estratégica para o país;
b) a proposta da Telefónica é um mau negócio para a PT

O que esperariam desse Governo e desse primeiro-ministro?»

Resposta: aqui.

pesquisa



Marconi Notaro - Antropológica (No Sub Reino dos Metazoários)



Também há, noutro género, a investigação tropical.

mutantes

Os Mutantes - Ave Lúcifer (ao vivo no Barbican Theatre, Londres, 2006)

obscenidades na católica rádio


Sabiam que na rádio católica portuguesa há mulheres com comportamentos obscenos? Ah, não acreditam?! Vejam lá a reportagem do Tiago Tibúrcio.

(ilustração retirada de No Hero, de Warren Ellis e Juan José Ryp)

a propósito da nossa vida comum


Frases que merecem reflexão.

« A falta de uma linguagem disciplinada para ser capaz de analisar, dissecar, e propor melhores reformas foi dramaticamente ilustrada para o mundo após o colapso da antiga União Soviética. Estudiosos ocidentais foram convidados a ajudar a Rússia e os outros "países recentemente industrializados" para criar uma economia de mercado privada vigorosa e produtiva. Muitas das nossas propostas foram aceitas e esforços para implementá-las tiveram lugar. Mas, em vez de um mercado aberto e competitivo, as regras propostas pelos analistas políticos geraram monopólios comerciais, a corrupção maciça, e pouco crescimento económico. E este não é o único caso em que as recomendações dos analistas de política foram aceites e contudo não produziram os resultados previstos. Há, obviamente, muito trabalho a ser feito.»

Elinor Ostrom, Understanding Institutional Diversity, 2005 (tradução livre)

procuram os traidores


Contas: como terão votado os accionistas da PT?
Acrescenta o i: «Fica por saber quem traiu à última da hora Zeinal Bava, sendo certo que, ao contrário do que dizia o CEO da PT, os traidores afinal não são da Telefónica.»

Uma pista. Procurem a contradição entre os interesses financeiros de curto prazo (realizar mais-valias, quer dizer, arrecadar umas massas mais gordas do que as que lá tinham sido metidas) e os interesses "industriais" de longo prazo (dar dimensão à empresa). Pois, é que não há só uma "economia capitalista", mas várias.

acções douradas


Estado usa "golden-share"
e veta proposta da Telefónica para comprar a Vivo.

Os espanhóis são muito mais proteccionistas do que nós. Mas parece que se organizam de maneira a não terem de recorrer escancaradamente a mecanismos em vias de esboroamento (como as "acções douradas" que brevemente deverão levar uma martelada da justiça europeia).
Entretanto, se o Estado acha que há "superiores interesses estratégicos" a defender, por que razão o Estado tem andado há tantos anos a desfazer-se dos meios que tinha para defender esses interesses?
É como a história das Parcerias Público-Privadas, que há uns anos eram vendidas no discurso ideológico dominante como o remédio para todas as malfeitorias do sector público - para depois se revelarem um saco cheio de fissuras (dificuldades de contratar de forma efectiva as obrigações supostas) pelas quais se escapa o dinheiro e o interesse público.
Andamos às voltas - mas parece que nunca mais chegamos a apanhar a cauda.

modalidade desportiva agora aconselhada a Portugal


Por causa da crise, dos resultados, do "espírito" - acho melhor mudarmos para esta modalidade.

a eles não lhes fica mal arranjar-nos desculpas


Esta estação televisiva russa garante que Villa estava fora de jogo.

(Obrigado, Zelimir.)


29.6.10

isso dá muito trabalho


Mariano Gago desafia os portugueses a estudarem mais.

Continua o Público: «O ministro da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior, Mariano Gago, deixou hoje, no Porto, um desafio ao país: “É preciso estudar mais, é preciso voltar à escola, é preciso saber mais”. Isto porque, disse Mariano Gago, “todos sabemos que não basta abrir vagas, não basta organizar os cursos, não basta desenvolver o ensino à distância, tão atrasado ainda no nosso país. Não basta tudo isso que é essencial, é preciso mais”.»

Gostava de ver as oposições a apoiar explicitamente as palavras do Ministro da Ciência e do Ensino Superior. Mas, não; isso não. Qualquer coisa que seja incomodar o povo com desafios ou exigências, isso não, que isso não dá votos. E pode sempre encontrar-se uma desculpa qualquer para afastar o desafio como inconveniente.

Princípio Potosí, ainda


Há pouco mais de um mês publicámos aqui um apontamento sobre uma exposição intitulada PRINCIPIO POTOSÍ - Como podemos cantar el canto del Señor en tierra ajena?, que se pode ver no Museu e Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid, até 6 de Setembro próximo. Queremos actualizar esse apontamento com algumas notas.
Primeiro, o guia da exposição está em linha e, sendo consultado, proporciona uma visão bastante completa da exposição.
Segundo, há um blogue com informação complementar onde se pode fazer uma quase-visita-virtual.
Terceiro, o carácter "revolucionário" da exposição, que não teme propor uma leitura política, tem dado polémica, de que este texto, atacando ideologicamente a exposição, é um exemplo.

ex-certos


- (…) Acredito apenas na minha ideia principal, que consiste precisamente em que as pessoas, pelas leis da natureza, se dividem em geral em duas categorias: a inferior (vulgares), ou seja, por assim dizer, o material que serve unicamente para engendrar semelhantes; e os homens propriamente ditos, ou seja, as pessoas que possuem o dom ou o talento de dizer, no seu meio, uma palavra nova. (…) a primeira categoria, ou seja, o material, consta em geral de pessoas conservadoras por natureza, correctas, que vivem na obediência e gostam de ser obedientes. (…) A segunda categoria consta dos que violam a lei, que são destruidores ou têm propensão para o serem, consoante as suas capacidades. (…) A primeira categoria é sempre senhora do presente, e a segunda é a senhora do futuro.
- (…) Mas diga-me uma coisa: como se podem distinguir os vulgares dos invulgares? Têm alguns sinais de nascença?

Fiodor Dostoiévski, Crime e Castigo (1866)


há quantos anos foi 2009 ?


É a primeira vez em oito anos que o PSD toma a dianteira nas sondagens da Universidade Católica.
(Público, hoje)


A Universidade Católica, para a RTP, coloca o PSD à frente, com números entre os 29 e os 34 por cento e o PS com 28 a 33 por cento. (Público, 07-06-2009)

Há, de certeza, uma forma qualquer de escrever a coisa que torne verdadeira a afirmação que o Público queria fazer. Estamos em crer que por lá continuam à procura dessa fórmula mágica.

propostas inovadoras ...


... para melhorar a qualidade do processo de decisão no nosso país. E fazer avançar o barco. Aqui.


presidenciais | a hérnia estrangulada


Fernando Nobre compara situação de Portugal a uma "hérnia estrangulada".
Lê-se no Público: «O candidato presidencial Fernando Nobre comparou hoje a situação de Portugal a “uma hérnia estrangulada”, que precisa de ser operada antes que surja “a terrível peritonite e a irremediável morte”.»

Já temos um candidato presidencial que é poeta. Já temos outro (não assumido) que julga que Luís de Camões escreveu onze cantos d'Os Lusíadas. Agora temos Nobre, candidato a escritor de livro de terror.

Safa, como dizia o outro.

25.6.10

provérbios que ainda ficam melhor de pernas para o ar


Pedro Rosa Mendes:
"em casa onde não há razão, todos ralham e ninguém tem pão"
in Peregrinação de Enmanuel Jhesus


hoje é dia de jogo



O Bolas e Letras diz que era para ser sobre futebol e livros. E que depois se dispersou. Bom, por estes dias até está bem focado. Como hoje é dia de jogo, fomos lá buscar dois apontamentos imagéticos.





comunicado aos amigos da praia grande do rodízio


Por este andar, assinalado nos últimos dias, terão Vossas Excelências de ir passar férias de Verão para outros poisos. A minha máquina fotográfica não viu, mas eu vi. As rochas, sendo embora muito românticas, deixam espaço para poucos românticos. Provavelmente (não fui verificar) estará a Praia Pequena maior que a Praia Grande.










curso de verão, precisa-se


Portagens nas Scut avançam apesar do chumbo no Parlamento.

Para evitar títulos "lindos", alguém pode explicar ao jornalista que o Parlamento ontem não aprovou nada? Que a votação de um diploma, na generalidade, carece (em geral) de uma apreciação na especialidade (em sede de comissão), durante a qual muita coisa pode ser negociada e modificada? E que só depois disso o diploma, às vezes muito diferente do projecto original, será de novo votado e eventualmente aprovado? E que, como neste caso se tratava de revogar legislação em vigor, continua por enquanto tudo na mesma - até que o processo conclua?
Claro, falta negociar como se podem e devem fazer as coisas. Infelizmente para o jornalismo apressado, legislar não é a mesma coisa que abrir uma lata de cerveja: não é só puxar pelo penduricalho e já está.

notícias deste pequeno mundo


1. Cada vez estamos mais precisados de adversários decentes: realismo fantástico.

2. Limpezas.

Cavaco sempre sempre alerta


"Não é pelo facto de irem ocorrer eleições que vou deixar de desempenhar as minhas funções", diz Cavaco Silva.

Claro que não. Só se estiver a passar o fim de semana com os netinhos em algum recanto mais-Pulo-do-Lobo e nenhum amigo requerer a sua presença.

negociar


Governo apresentou contra-proposta ao PSD sobre as Scut.

Negociar é próprio de uma democracia com alguma maturidade. E uma exigência de respeito pelos eleitores: se não há maioria absoluta, a legitimidade é ainda mais partilhada do que habitualmente. Defendemos isso aqui há muito tempo.
Ora, que isso é possível está a ser demonstrado. O PSD mostrou ser capaz de negociar. O Governo, embora devesse ter tido mais cuidado no calendário, mostrou ser capaz de negociar. Fica demonstrado: é possível negociar, apesar dos distraídos e apesar dos incendiários. Só recomendaria, para aumentar a sustentabilidade do método, que as negociações não dependam excessivamente de conferências de imprensa: falar olhos nos olhos à volta de uma mesa talvez seja mais fácil...
Entretanto, como também já aqui mostrei muitas vezes, eu preferia que fosse possível a negociação entre o PS e aquela "esquerda da esquerda" que não me canso de criticar, por discordar da amálgama em que PCP e BE se têm deixado cair (com o PSD e o CDS, compagnons de route improváveis). Pois, insisto: o que está a acontecer entre o PS e o PSD mostra que outras vias poderiam ter sido seguidas. Mostra o que vale a intransigência do PCP e o BE, em termos de oportunidades políticas para a esquerda. Mostra que só fala contra "dançar o tango" quem só sabe dançar sozinho.

chip e chispalhada não são a mesma coisa


O drama das portagens nas Scut tem várias frentes. E várias retaguardas. Uma delas é o chip e a invasão de privacidade. Sobre isso, e andando por aí galegos preocupados com as nossas portagens (vi-o na TV e o espanhol dele está ao nível do de Sócrates), vale a pena ir ler isto no Albergue Espanhol.

a transformação de M.


Cara mdsol:

Venho, em sincero espírito de colaboração, oferecer esta ilustração para o seu post intitulado sei lá, é blandícia. Talvez ajude os seus leitores à compreensão do retrato que aí traça.

Do filme Metropolis, de Fritz Lang (1927), a cena da transformação de Maria.


inquérito à comissão de inquérito


Val, no Aspirina B:
«Dizer que o Governo sabia do negócio por este ter sido noticiado na imprensa no dia anterior ao debate no Parlamento talvez não justificasse a existência de uma comissão de inquérito.»
Talvez não.

Na íntegra, aqui.

George Soros speech at Humboldt University


Para reflexão.

(Peço desculpa por não traduzir, mas não há tempo para isso.)

So what should Germany do? It needs to recognize three guiding principles.

First, the current crisis is more a banking crisis than a fiscal one. The continental European banking system has not been properly cleansed after the crash of 2008. Bad assets have not been marked-to-market but are being held to maturity. When markets started to doubt the creditworthiness of sovereign debt it was really the solvency of the banking system that was brought into question because the banks were loaded with the bonds of the weaker countries and these are now selling below par. The banks have difficulties in obtaining short-term financing. The interbank market and the commercial paper market have dried up and banks have turned to the ECB both for short-term financing and for depositing their excess cash. They are in no position to buy government bonds. That is the main reason why risk premiums on government bonds have widened, setting up a vicious circle. (...)

Second, a tightening of fiscal policy must be offset by a loosening of monetary policy. Specifically, the ECB could buy treasury bills directly from Spain significantly reducing its financing cost below the punitive rate charged by the German inspired European Financial Stabilization Fund. But that is not possible without a change of heart by Germany.

Third, this is the time to put idle resources to work by investing in education and infrastructure. For instance, Europe needs a better gas pipeline system and the connection between Spain and France is one of the bottlenecks. The European Investment Bank ought to be able to find other investment opportunities as well.

Integral aqui.

no horse




The Dead Weather - No Horse (Sea of Cowards)

o mundo é muito grande...


... para certas cabeças.

Episódio 1. Excerto de conversa, hoje de manhã, numa aldeia a trinta quilómetros da capital: "Hoje é feriado em Lisboa. É dia de S. João."

Episódio 2. Eles não as medem.

Biblioteca Nacional de Portugal, conhecem?


Planeia-se o encerramento da Biblioteca Nacional de Portugal por um período de dez meses durante o próximo ano. Isso vai tramar a vida profissional de muita gente. Há que fazer com que "a coisa" seja repensada.

Seguindo este link pode ler-se a petição contra tal encerramento - e, caso se concorde, assinar por baixo.


manuela no país dos tontinhos (in)úteis


A justiça, a política e a comunicação social.
Passo a citar:
«(...) o advogado da senhora desconhece a lei e entregou a dita queixa no DIAP em vez de a entregar na secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça; o procurador adjunto do Ministério Público também desconhece a Lei e, em vez de remeter a denúncia para o Tribunal competente, abriu inquérito e encaminhou para o juiz titular do 4º juízo do Tribunal de Instrução Criminal o pedido de constituição de arguido do primeiro-ministro; o Juiz do Tribunal de Instrução Criminal também desconhece a Lei e pediu à Assembleia da República autorização para a constituição de arguido. A comissão de Ética da Assembleia da República já informou o senhor Juiz que não está nas competências do parlamento autorizar o bizarro pedido. Parece que alguém já explicou a todos estes «operadores de justiça» que desconhecem a Lei e que todos os seus actos são nulos. São nulos, mas produzem efeitos. Não na Justiça, mas na comunicação social.»
Por Tomás Vasques.

23.6.10

dificuldades na coligação negativa


Parece que o PS e o PSD estão a negociar o que fazer com as portagens nas Scut. Apesar do desgosto que isso causa a alguns dirigentes do PSD, e de outros terem uma vaga esperança insurreccional no assunto, o que é natural é que os dois partidos que acordaram uma certa via de ataque à crise não falem apenas de teses gerais, mas negoceiem também como elas se hão-de concretizar. Concorde-se ou não com esse acordo, essa negociação é exigível.
Vejo agora nas televisões que há dirigentes da "esquerda da esquerda" que dizem que essa negociação é uma "troca de favores". Chamar "troca de favores" a uma negociação entre forças políticas, negociação essa conduzida no seio do parlamento e no quadro de um processo legislativo, é um gesto indigno. É uma tentativa de cuspir no melhor que há na democracia: a capacidade de compromisso. Chamar "troca de favores" a uma negociação é mostrar que se prefere a destruição das instituições ao seu funcionamento. Criticar o conteúdo de uma negociação é legítimo; apontar outras soluções e defendê-las, é desejável. Falar de "troca de favores" é sintoma de arrogância: mesmo na oposição, há quem se ache detentor do exclusivo da verdade. Lamentável.

a Alemanha vai matar a União Europeia?



George Soros declarou hoje ao semanário alemão Die Zeit que a Alemanha pode causar o colapso do Euro e destruir o projecto Europeu com as suas políticas orçamentais de poupança. Segundo Soros, "A política alemã é um perigo para a Europa, poderia destruir o projecto europeu”. Acrescentou: "Se os alemães não mudarem a sua política, a sua saída da União Monetária seria útil para o resto da Europa". É que "o que os alemães estão a fazer neste momento é arrastar os seus vizinhos para a deflação, o que ameaça uma longa fase de estagnação. E isso leva ao nacionalismo, à agitação social e à xenofobia. A própria democracia poderia estar em risco". E diz mais: "A Alemanha está isolada no plano global. Por que não deixam subir os salários? Isso iria ajudar ao arranque de outros estados da UE."

o estado da nação, ainda


Ministério Público pediu levantamento da imunidade parlamentar de Sócrates e juiz concordou.
Comissão de Ética delibera que não tem competência para suspender Sócrates.
Queixa de Moura Guedes vai para o Supremo Tribunal de Justiça.

Uma jornalista, ex-deputada do CDS/PP, pode dizer o que lhe apetecer, usando a tribuna de uma televisão, de forma que muitos jornalistas (e não só) consideram mau jornalismo ou mesmo não-jornalismo.  (Marinho e Pinto diz a Manuela Moura Guedes, cara a cara, como se pode ver no vídeo abaixo:  "Você viola todos os dias, de forma sistemática, o seu código deontológico.") Um político tem obrigação de comer e calar.

Um ou mais agentes de justiça podem correr para qualquer acto que dê publicidade à sua movimentação baseada na queixa da pura jornalista, aparentemente sem qualquer cuidado formal (pedir ao Parlamento que levante a imunidade parlamentar de um não deputado, numa fase prematura do processo) - sem que o país se espante com o desplante.

"Vende-se". Cartaz à porta do país. "Vendido". Cartaz à porta de muita gente que deveríamos respeitar. Não, "vendido" não: "fechado para obras".

o estado da nação, again


Henrique Granadeiro: "O país é governado por coligação de procuradores e jornais". (Jornal de Negócios)
«"O País é governado por uma coligação entre alguns procuradores da República e alguns jornais", denuncia Henrique Granadeiro. " É uma verificação. Sei muito bem como as coisas são cozinhadas". A denúncia parece dirigir-se ao "caso TVI" e à sua evolução para a "Face Oculta", que, aliás, levaram Granadeiro à Comissão Parlamentar de Inquérito que acaba de encerrar.»
Comentário do Pedro: «A questão é que ou alguém quebra a espinha a essa coligação ou o País pura e simplesmente não poderá ser governado. »

o estado da nação


Ontem, no "telejornal", ouvi um "condutor do Norte", em vias de buzinão contra o pagamento de portagens nas Scut do Norte, dizer algo como "eles [governantes em sentido lato] que paguem a crise, que foram eles que a criaram".
Claro, a enorme dívida privada, mais a dívida dos bancos privados (contraída para satisfazer a procura privada de crédito), é culpa dos governantes. As carradas de consolas de jogos de vídeo, os carrinhos cujas prestações consomem o ordenado, as salas cheias de presentes de Natal para esquecer na hora seguinte, os vestidinhos renovados na estação, as moto-4 que vemos a estragar as nossas zonas costeiras, os sapatos ténis de boas marcas que se vêem nos pés de rua, etc., etc. - são tudo coisas que os pobres dos portugueses compram para consumo dos governantes.
O consumo sem tino (quando desligado das reais necessidades de uma "vida boa"), a falta de juízo na gestão doméstica, a fatal ingenuidade na avaliação das armadilhas colocadas pela publicidade e pela profusão de cartões de crédito e até de créditos sem cartão - nada disso aconteceu, nada disso importa. Quem tem a culpa são os "governantes": eles é que vestem as nossas calças e bebem as nossas bebidas espirituosas.
A crise é, em grande medida, esta tendência para passar as culpas. É uma crise de (in)consciência, apoiada pela incivilidade dos que pensam ganhar algo com isto.

22.6.10

cá vou eu no meu Trabi


PSD faz ultimato ao Governo para alargar portagens a todas as Scut.
Acrescenta o Público: «É um ultimato e a reafirmação de um desmentido: O PSD desafia o Governo a dizer se avança para a cobrança de portagens em todas as Scut e impõe uma data limite – 9 de Julho - dia em que o Parlamento aprecia o decreto que determina o pagamento das portagens nas três Scuts. Caso contrário, o PSD votará a favor nesse dia da revogação do diploma que introduz as portagens no Litoral Norte, Costa de Prata e Grande Porto.»

Concorde-se ou não em substância, esta posição do PSD tem a virtude de ser clara. O Governo tem de optar entre dois caminhos. Ou, terceira via, deve apresentar na praça pública uma razão compreensível para querer excluir determinada Scut da regra geral e tentar convencer o PSD da bondade dessa razão. Isto talvez não deixe contentes os social-democratas que preferiam a insurreição, mas faz sentido. De qualquer modo, qualquer dia não haverá dinheiro para o gasóleo, portanto...


Marco António está cheio de razão


Marco António desmente negociações com o Governo sobre portagens nas Scut
.

Marco António é que é sábio. Dado que se vislumbra uma possibilidade de secessão "do Norte", dada a tremenda injustiça de só haver portagens pagas no Norte, como toda a gente sabe (acho que há tipos que pensam que a passagem da Via Verde é um canal especial para passarem os sulistas sem pagar), é preciso evitar qualquer coisa que pareça negociar. Do que estamos a precisar é, primeiro, igualdade (o pessoal do Norte também deve poder passar nos tais canais especiais onde se passa na acelera, parece que sem pagar) e, segundo, confronto. Claro que, para o futuro do país, as Scut são o mais decisivo. Saúde ou segurança social, comparados com portagens que não existem em mais lado nenhum em toda a extensão do território nacional, são temas irrelevantes e que. obviamente, não merecem sequer uma pequena insurreição.

(Declaração de interesses: eu também sou do Norte. E, em Lisboa, pago para ter o carro estacionado à porta de casa. E não me convém nada a secessão do Norte, pelo incómodo de depois ter de passar fronteiras para ir a casa dos pais e dos irmãos, nomeadamente. )

insurrectos de trazer por casa amarrados ao baraço


Rui Rio, a propósito das SCUT: "Estamos à beira das pessoas se poderem revoltar a sério".

O Eduardo Pitta, sem papas na língua, como de costume:
Vamos por partes. Eu, quando vou a Cascais, a Óbidos, a Palmela, ao Porto ou a Elvas, pago portagens. Até para ir à Marmeleira se paga portagem. E sempre me fez muita confusão não ter de pagar entre o Porto e Afife (na realidade, entre o Porto e Vila Praia de Âncora, local em que é preciso deixar a A28 para retroceder a Afife), ou entre o Ancão e os Salgados, servindo-me da Via do Infante. Portanto, na minha, as Scut devem ser pagas. Todas. Desconheço a razão de começar por aquelas três. Se é por causa da crise, deviam ser oneradas as sete.
Isto dito, a ameaça ontem proferida por Rui Rio é inqualificável.
Na íntegra, SCUT, CHIPS & INSUBORDINAÇÃO.

títulos de pernas para o ar


Autarca de Faro ameaça punir funcionários que façam pausas para café prolongadas. (Público)


A mim parece-me que pausas demasiado longas durante a jornada de trabalho, seja para tomar café, fumar charros ou ler o Povo Livre, seriam sempre merecedoras de "repressão". O Público, no seu estilo de "jornal de referência", prefere falar da ideia de Macário Correia como se este fosse um troglodita a planear chicotear os funcionários. Gostava de conhecer a política de bicas do jornal Público.

a propósito de franceses que falam inglês


Contaram-me que, há uns anos, uma equipa que levou um robot a uma demonstração em França, a um evento onde a comunicação seria em língua inglesa, baptizou esse robot como Z Robot. Uma piada mais ou menos subtil ao The Robot dito pelos franceses. Este cartoon bate (amigavelmente) na mesma tecla.

(Cartoon de Marc S.)

21.6.10

política de verdade


Lembra-se aqui uma intervenção do dirigente do BE, Luís Fazenda, na Convenção do Partido Bloco de Esquerda em 2009. Um exercício de política de verdade, um estilo muito espalhado na "arena política portuguesa". (via Convenção Extraordinária)


Dada a mania que o BE tem de "não ser bem um partido", manobra que se destina a deixar margem para a demagogia anti-partidos, enquanto usam todos os truques do partidismo exacerbado, acho que devemos começar a referir-nos a essa formação como "o Partido BE". Com todo o respeito, claro.

20.6.10

o PSD e Saramago - isto existe?


O Grupo Parlamentar do PSD, através da sua conta no Twitter, reagiu como segue à morte de Saramago.

Eu não quero acreditar. Mas, se calhar, tenho mesmo de acreditar. Lembro-me de Sousa Lara. E lembro-me, ainda há pouco tempo, deste deputado europeu do PSD.

Imagem e info do Ponte Europa, via Câmara Corporativa.



Saramago, um espelho


Quando morre um grande, de repente todo um exército de outros mortais se lembra de o terem conhecido, admirado, ouvido, lido. Meio mundo, de um momento para o outro, tinha, com os seus próprios ouvidos moucos, escutado umas palavras muito sábias da sua própria boca. Outro meio mundo, também de um momento para o outro, descobre que o agora falecido tinha esta e aquela mancha nos bastidores da história pequena, paredes meias com a história grande. Há sempre uns funcionários do ódio que pensam aproveitar a ocasião para tentar ter a última palavra na conversa. Ridiculamente, não percebem que, empurrando na memória dos outros, apenas ficam mais enterrados na sua própria armadilha maniqueísta, uma heresia que há muitos séculos a própria ortodoxia católica teve de expurgar. E, indispensavelmente, há um cardume de peixes a ajeitar a gravata e a chegar-se à frente para ficar na fotografia, do velório ou do funeral. Este é o teatro da morte dos grandes, cuja parte invisível são os funcionários do protocolo a tratar do aspecto das coisas que devem menos ao aspecto do que a nossa cara barbeada em cada manhã. Para tudo isso os grandes foram - e são - grandes: para terem de suportar o nosso teatrinho.

A morte tem a grande vantagem de coar. Pelo pano da morte poucas cousas resistem a passar. Saramago, tão apenas por ter escrito dois ou três grandes livros, deixa umas pepitas que não passarão facilmente pelo pano de coar com esquecimento. Claro que, como cidadão, Saramago pertencia à cidade e, aí, o aplaudimos, citámos, criticámos, gozámos (como se pode ver neste blogue). Isso não nos impede, agora, de perceber que a morte depura, modifica o horizonte, entorna os líquidos e as areias ao ponto de misturar o nosso universo de outra maneira.

Saramago esteve exposto em câmara ardente - com óculos. Li que ouve quem estranhasse isso: "nunca vi um morto com óculos". Mas, afinal, para quem sem óculos não consegue ler nem escrever (como é o meu caso, a única coisa em que eu era parecido com Saramago), isso é o mais natural. E o mais humano, pois seria crueldade imensa aproveitar que Saramago esteja morto para, tirando-lhe os óculos, o impedir de ler e de escrever.

***

últimos posts com referências a Saramago, antes da sua morte, neste blogue:
as lágrimas, Galileu e Saramago, Saramago e os monstros, outro Lara?, devem andar mal as finanças de Saramago, para não esquecer a unidade de esquerda, again, as guerras são dos homens, avaliação contínua, palavras, Ibéria, Saramago, Cavaco.


deus lhes perdoe


O diário do Vaticano atacou, este sábado, o recém-falecido escritor português José Saramago. L'Osservatore Romano considera que «Um populista extremista como ele, que tomou a seu cargo o porquê do mal do mundo, deveria ter abordado em primeiro lugar o problema das erróneas estruturas humanas, das histórico-políticas às sócio-económicas, em vez de saltar para o plano metafísico». O artigo afirma ainda que Saramago não devia ter «culpado, sobretudo demasiado comodamente e longe de qualquer outra consideração, um Deus no qual nunca acreditou, através da sua omnipotência, da sua omnisciência, da sua omniclarividência». (TSF)

Não deixo de me espantar com a capacidade dos escribas de serviço no "funcionalismo público" da Igreja Católica. Quero dizer: a capacidade para a arrogância, para a presunção de superioridade, para o sem sentido de quererem que o diálogo seja sempre nos seus termos. E depois ainda se queixem de, coitados, não serem entendidos pelo mundo. E isto, a meu ver, não tem nada a ver com o Deus que invocam, nem mesmo com a religião que dizem servir. Parece-me, apenas, comportamento e mentalidade sectária. Uma lástima, por, assim, só darem razão aos que os atacam, aos que os acusam de manterem um impulso censório.

19.6.10

libertem Aung San Suu Kyi


Mundo assinala 65 anos de Suu Kyi com apelos à sua libertação.

O mundo envergonha-nos. Os generais lá da Birmânia até podem mudar o nome do país para se esconderem debaixo da sombra, mas toda a sua incivilidade se revela no facto cristalino de não suportarem o olhar desta mulher. Mulher grande. Libertem-na.


18.6.10

questões básicas de ontologia


A "Comissão de Inquérito TVI", mais conhecida por "Comissão Vamos Lá Espremer Umas Dúzias de Gajos a Ver se o Semedo Consegue Escrever a Novela Dele Caso Contrário é uma Vergonha e o Sócrates Fica-se a Rir", encerrou os seus trabalhos.
O resultado, o relatório do tal Semedo, era tão claro, tão bem fundamentado, tão factual, que os dirigentes do PSD tiveram de andar a conversar muito lá por casa para decidir se votavam a favor ou se abstinham. Está bem de ver com que tremenda convicção acabaram por votar a favor. Foi mesmo só para não terem a trabalheira de inventar uma desculpa esfarrapada para salvar a Dra. Manuela Ferreira Leite de andar o resto dos dias com uma mantilha preta pela cabeça, já que foi ela que deu a cara pela inventona.
O tipo de verdade que o PSD andava à procura fica bem explicado por uma declaração do deputado Pedro Duarte, que parece que era para funcionar como coordenador dos deputados social-democratas na Comissão, não fora estar lá o Pacheco Pereira que tem sempre uma verdade que só ele conhece mas é única e distinta de tudo o mais ao cimo da Terra em qualquer momento passado presente ou futuro. Mas, para parar com esta tentativa frustrada de imitar o estilo Guidinha do Diário de Lisboa, vamos lá às declarações de Pedro Duarte pelo PSD. Diz ele que ficam com «alguma frustração, por não se poder ter ido tão longe» quanto o partido desejava. E diz mais: diz que os trabalhos terminam com fortíssimas suspeitas. Mas, suspeitas não era o que tinham no princípio?
Pois, é muito difícil provar a existência do que não existe. Isso, pelo menos isso, o filósofo da Marmeleira devia ter explicado aos companheiros. Para agora não se sentirem "agarrados" por um relatório que é só fumo. Se não fosse, estariam a exibir os factos na praça pública. Não ouvimos factos nenhuns, continuamos apenas a ouvir as interpretações dos deputados-polícias do costume. O que quer dizer que não têm nada. Como diz o deputado Pedro Duarte, do PSD, suspeitas. Suspeitas. Apenas. Sempre e apenas.


na morte de José Saramago


A morte de José Saramago desperta-me uma das (para mim) mais amargas reflexões acerca das relações entre humanos. José Saramago é a instância mais forte da minha questão privada com a dissonância entre admirar a obra de uma pessoa e ser muito crítico dessa pessoa como cidadão.
José Saramago escreveu dois ou três livros que eu reputo de muito bons. Antes de tudo, o Ensaio sobre a Cegueira. Também o Memorial do Convento, algo que não entendi bem a primeira vez que tentei entrar, tendo tido que regressar. E, ainda, Todos os Nomes. Também escreveu coisas absolutamente desprovidas de qualquer engenho, entre os quais o (muito admirado pelos que o tomam como bandeira ideológica) Ensaio sobre a Lucidez, que é um tratado sobre a banalidade. Dois ou três livros verdadeiramente relevantes é, a meu ver, crédito suficiente para fazer um escritor admirável.
Por outro lado, José Saramago foi, como cidadão e como agente político, capaz de algum rasgo aqui ou ali - mas, a seu tempo, foi fautor de excessos e de impulsos criticáveis, nomeadamente nos tempos da revolução. E nunca fez uma outra leitura desses tempos, sempre tendo querido compatibilizar as suas várias faces num só homem. Isso, em abstracto, é louvável - mas, neste caso, sempre vi isso como uma encenação de si mesmo, como uma forma de deixar pistas baralhadas para a história, numa espécie de antecipação arrogante do julgamento dos vindouros. E, verdadeiramente, isso nunca o tornou simpático aos meus olhos.
Claro que isto só interessa a mim. Como não estou obrigado a fazer homenagens, não é grave. De qualquer modo, estas reflexões vieram a propósito deste José. E, mais tarde ou mais cedo, teremos meia dúzia de pessoas à volta da nossa pira ardente a pensar se a nossa partida lhes deixa alguma coisa para pensar. Saramago, ao menos, deu-nos que pensar.

a direita, as presidenciais, os católicos e as teorias


A propósito deste post da Joana, ou até ainda mais a propósito do debate que lá corre na caixa de comentários, eu avanço que também tenho a minha própria teoria da conspiração sobre a matéria. Em resumo, é como segue.

O cardeal patriarca de Lisboa, que será um esquerdista encapotado, além de ser também outras coisas discretas igualmente inconfessáveis, quer dar o seu silente e maquiavélico contributo (os cardeais sempre foram os melhores cultores de Maquiavel) para a eleição do candidato presidencial da esquerda. Com esse fito, anda a picar os católicos conservadores para arranjarem um candidato a Belém, que supostamente, mais do que baralhar as contas de Cavaco, lhe embrulharia o discurso em ainda maior opacidade. As "senhoras católicas" estão, pois, por vias travessas, a jogar o jogo do inimigo, coisa que só a fina psicologia do cardeal seria capaz de engendrar.

Adoro inventar teorias da conspiração...

17.6.10

os ricos que paguem a crise, again


Ainda a questão dos 100 mil euros como patamar que pode excluir famílias do acesso a certas prestações de protecção social. A este meu post, Tiago Tibúrcio responde com este. Respeito a argumentação, mas discordo. Passo a dizer por quê.
Uma família estruturada pode ter poupados 100 mil euros para fazer face às contingências da vida e ficar sem rendimentos regulares. Desemprego de uma ou duas das pessoas que suportam o orçamento, por exemplo. O que se argumenta é: então, se estão aflitos, gastem as reservas. Parece simples, não é? Eu acho tudo menos simples. Vejamos.
Para que servem 100 mil euros? Por exemplo, para fazer face a situações aflitivas de saúde. Goste-se ou não, caro Tiago, vivemos num país em que, se não se tiver uns dinheiros de lado, pode-se morrer à espera do Serviço Nacional de Saúde. Se não está consciente disto, posso contar-lhe exemplos concretos do que isto quer dizer. Ora, pergunto eu, uma família que poupou 100 mil euros para não deixar morrer nem ficar inválido nenhum dos seus membros, por fragilidade do SNS, pode ser obrigada a esturrar esse pé de meia para subsistir numa situação de aflição - enquanto nós inchamos o peito e dizermos que o Estado deve poupar nesses casos?
Há aqui qualquer coisa de psicológico, que na argumentação do Tiago até fica mais ilustrada com a necessidade que ele tem de lembrar que estamos a falar de 20 mil contos na moeda antiga. Essa é a razão pela qual intitulei estes posts "os ricos que paguem a crise": está-se a passar a ideia de que uma família que tenha poupado "20 mil contos" é uma família rica que pode bem ser passada para trás na protecção do Estado. Fará o Tiago ideia, só para lhe dar um exemplo, o que significa uma pessoa ficar quase cega por não ter sido tratada a tempo no SNS - e de quanto teria custado a essa pessoa desenrascar-se sem "as consultas da caixa"?
Dá a ideia que se tornou corrente pensar com naturalidade que a crise pode reduzir gente normal a novos pobres e que não temos de nos afligir com isso. Acho isso aberrante. E, caro Tiago, não vale a pena iludir a questão com a (minha) piada do caviar: certo é que, em certas situações, pode valer a pena gastar o dinheiro mal gasto. A família que o tiver feito talvez evite ser tomada por "suficientemente rica" para pagar a crise do seu próprio bolso.
Sim, Tiago, tornar corrente este raciocínio faz parte da cultura que despreza a poupança. Poupar, afinal, é mesmo ser tanso. Em vez de poupar é melhor mudar mais vezes de carro: tem mais pinta e evita-nos o incómodo de sermos tomados por ricos.

é tão ridículo, o politicamente correcto


A Palmira explica-lhe o mundo de tolice que se esconde nesta imagem.


io sono l'amore



(Aviso à navegação: SPOILER)

Ontem fomos ao cinema para ver Io Sono l'Amore, de Luca Guadagnino. Sem dúvida, uma espécie de tentativa de transposição de Il Gattopardo, de Luchino Visconti, para os nossos tempos.
Trata-se, na mesma, das grandes mudanças sociais e dos seus impactes nas vidas dos "grandes", apanhados na onda. Se Visconti retrata o período da libertação da Itália por Garibaldi, no século XIX, com os olhos postos num príncipe que se ajusta à emergência de uma burguesia mais empreendedora apenas assente no dinheiro, Guadagnino retrata o declínio das famílias industriais desta outra transição de século: como essas famílias industriais degeneram em famílias de financeiros. O ajuste aqui, como convém, é mais cobarde.
Até há, também em Eu Sou o Amor, um Tancredi, ao qual também aqui cabe interpretar a mudança dos tempos - embora este, claro, não tenha o ar heróico da personagem interpretada por Alain Delon no filme de Visconti. Este Tancredi de meia tigela também estará envolvido numa troca amorosa, mas, sinal dos tempos, de feição bem diversa. Enquanto o Tancredi d'O Leopardo troca a filha do príncipe pela filha do endinheirado, aliás mais bonita (feita por Claudia Cardinali), aqui Tancredi é que é trocado: a mulher, russa, prefere o jovem amigo do jovem filho, amor em que, aliás, concorre com o seu próprio filho - o que acaba mal.
O filme tem parecenças estéticas com a grande obra de Visconti. Noto isso, principalmente, no intenso sentido da representação, da vida como representação, ao cuidado de quem pode: a beleza da casa da família industrial, o requinte do vestir, a arte que se espraia pelos espaços da família, o delicado dos comportamentos em espaço comum,  o comer bem, uns assomos de paisagem rural de grande efeito, a palavra cuidada em personagens que vivem como se a história os contemplasse e esse fosse o seu fado.
Certas cenas, mais especificamente, marcam claramente um paralelo: a festa em vez do grande baile; há uma grande refeição em cada filme; as cenas de caça no campo e as cenas de amor da senhora com o jovem também no campo. Claro, não há cenas de revolução e guerra: isso agora só aparece nos telejornais e perdeu o ar romântico que alguns ainda viam nessas coisas: agora o sangue paga-se com dinheiro e a coisa não tem graça nenhuma.
Contudo, a meu ver, o filme estatela-se um tanto num fim cuja suposta dramaticidade não cola nada com aquele ambiente de decadência. A não ser que a justificação para isso venha do carácter russo da senhora que está no centro do furacão: planta arrancada do seu meio, esteve domesticada durante muito tempo mas guardou a força de quebrar os laços. E no fim quebra-os. Será? A mim cheirou-me um pouco forçado, a fechar.
O fresco merece, de todo o modo, uma saída de casa.

mundial de futebol | sem vuvuzelas | na tv


É tecnicamente possível. Ver jogos do mundial, com som ambiente e tudo - mas só e apenas sem o som das vuvuzelas. Vai haver essa possibilidade e rapidinho. Como se explica aqui. (Link roubado à Shyz Nogud noutro mundo.)

É uma espécie de doença e cura entre o social e o tecnológico (aqui se lê o que quero dizer com isto).

valha-nos miranda



Michael Nyman & Motion Trio - Miranda



para que serve a UE?


Líderes da UE enfrentam novo teste à unidade na gestão do euro. (Público)

A esquerda europeísta, na qual me incluo há muitos anos, contra os comunistas de várias cores que alimentam mais ou menos descaradamente versões do nacionalismo económico, tinha uma certa ideia da "Europa" (CEE, UE). A ideia era: temos de ganhar escala, aqui neste canto do mundo, para não termos de nos limitar a imitar os "grandes" (os EUA, designadamente) e podermos ser mais "sociais". A dimensão da Europa seria a sua muralha para proteger a sua diferença: um capitalismo menos selvagem, mais protecção de quem trabalha, mais equidade. Assim chegamos a 27 membros da UE, com candidatos à porta e mais em preparativos para o serem.
Ora, a ver como esta crise tem sido gerida, é compreensível que muita gente comece a interrogar-se: vale a pena? Eu acho que não há alternativa, que é dentro da UE que temos de procurar as soluções. Mas parece-me tragicamente certo que a esmagadora maioria dos dirigentes europeus neste momento, a começar pelos "grandes", não perceberam ainda que arriscam o feito histórico de virar definitivamente os povos europeus contra a "Europa". Do imaginário dos Barrosos e das Merkeles não faz parte a ideia de uma Europa mais justa e que, se avança, avança por ter mobilizado o esforço consciente dos povos que precisam de um futuro melhor. A crise trouxe muitas palavras e promessas de mudança - mas, no essencial, está tudo na mesma e, como alguém disse, a finança já está a engendrar a crise seguinte.
E cada vez se percebe menos o que se passa nas reuniões de Bruxelas. Ou, se calhar, até se percebe...

os ricos que paguem a crise


Apoios sociais vão acabar para famílias com mais de 100 mil euros em dinheiro e acções. (Público)


Ilustração de Le maitre de peinture (Richaud & Makyo & Faure)

A ser verdade, fica assim esclarecido um grande enigma da ciência política: quem são os ricos. Qualquer família (ou indivíduo) que tenha acumulado, certamente fruto da exploração do homem pelo homem, 100 mil euros, não tem direito a prestações sociais.
Mensagem: não poupem. Se têm 100 mil euros e arriscam ficar desempregados longamente (todos arriscamos!), desfaçam-se da massa. Comprem meia dúzia de latas de caviar e blinis e ponham-se a salvo do opróbrio de serem tomados por ricos. Aquela ideia de poupar para precaver o facto de a protecção social cada vez proteger menos? esqueçam! É absolutamente necessário que sejam pobres e sem recuo, sem um centavo poupado: caso contrário, ainda vão exigir-vos que paguem a crise.

16.6.10

o futebol é uma oportunidade


O Da Literatura tem oferecido aos leitores boas oportunidades de aprender alguma coisa a propósito da localização do Mundial na África do Sul. Está lá mais uma dessas oportunidades, bem fresquinha. Um excerto:

Tendo nascido e vivido até aos 26 anos em Moçambique, ligam-me à África do Sul laços de outros tempos. Hoje com 49 milhões de habitantes, dos quais perto de cinco milhões são brancos (e, desses, 10% portugueses), o país que Mandela arrancou ao apartheid é a maior economia de África, não obstante as gritantes desigualdades sociais e uma taxa de desemprego superior a 40% da população activa. Johannesburg, Pretoria, Durban, Cape Town e Port Elizabeth são (ou eram) cidades com um elevado padrão de vida.

Nos anos 1950-60, Johannesburg era a Nova Iorque dos laurentinos como eu. Rui Knopfli achava que era Paris: «O meu Paris é Johannesburg, / um Paris certamente menos luz, / mais barato e provinciano. / [...] À noite janto no Monparnasse / de Hilbrow, que é o Quartier Latin / do sítio e olho essas mulheres / excêntricas e belíssimas / de pullover e slacks helanca / e esses beatniks barbudos / excêntricos e feiíssimos, / tudo com o ar sincero / mas pouco convincente do made in USA. / [...] Depois do turkish coffee meto-me / até ao Cul de Sac e fico-me / a ouvir o sax maravilhado / de Kippie Moeketsi. O jazz, sim, / é genuíno e tem um bite / todo local. O néon e a madrugada / silenciosa, o asfalto molhado, / a luz da aurora e a luz dos reclamos / misturando-se, a minha solidão, / aconteceriam assim em Paris. / Aqui ninguém sabe quem sou, / aqui a minha importância é zero. / Em Paris também.» (cf. Máquina de Areia, 1964; o poema é de 1962)

Íntegro, aqui.

há sempre um conselho disponível para dar aos pobres

«Quando William Petty aplicou um raciocínio matemático estrito aos fenómenos sociais, particularmente na elaboração de recomendações sobre questões fiscais e o governo da Irlanda, alguns dos seus contemporâneos consideraram a sua abordagem incrivelmente ingénua. E, na verdade, assim era. (...) A sua afirmação de que os trabalhadores poderiam pagar mais impostos se prescindissem do jantar de sexta-feira (poupando assim no custo de o preparar) era, é claro, perfeitamente verdadeira.(...)
Em 1729, Jonathan Swift satirizou esse estilo seco, desligado, dos filósofos políticos "científicos", na sua proposta de que os pobres da Irlanda poderiam compor o seu orçamento e ao mesmo tempo servir o bem comum vendendo alguns dos seus filhos para serem cozinhados e comidos - pois, "uma criança jovem e saudável, bem nutrida, é, com um ano de idade, um alimento delicioso, extremamente nutritivo e completo; quer seja Guisada, Grelhada ou Assada quer seja Cozida; e, não tenho dúvidas, também não deveria ficar mal num Fricassé ou num Estufado".»

Philip Ball, Massa Crítica, Gradiva, pp.564-565
Fica, pois, à atenção dos "filósofos políticos 'científicos'", e também dos economistas "científicos". Para já não dizer dos comentadores (que, pelo menos, em geral não querem passar por cientistas - salvo os "politólogos", claro).

questões de ciência



Modelo sugere que Marte teve um oceano
. (Público)



Modelo? Qual delas? Heidi Klum, Gisele Bundchen ou Naomi Watts? Ou outra? Ou outro?

14.6.10

a chatice belga: pensar duas vezes


Contrariando a tendência mais imediata da reacção pública sobre o "nacionalismo flamengo" e o risco que ele constitui para a integridade da Bélgica, Joana Lopes contribui com outros elementos (em "defesa" dos flamengos) que ajudam a ver melhor a complexidade do problema. Os que hoje se queixam também têm as suas responsabilidades históricas, essa é a questão. Não concordo inteiramente com o texto, por não me parecer acertado atirar com o "egoísmo dos mais ricos" para nota de rodapé, embora seja sempre útil acordar do seu sonho profundo aquela esquerda que tende a dar pouca atenção a "factores segundos" como o nacionalismo. Mas, de todo o modo, é uma peça a merecer leitura e reflexão.

ciências sociais e vuvuzela | antes da selecção portuguesa entrar em campo


Se eu for ao banco levantar o meu dinheiro, trata-se de uma coisa perfeitamente corriqueira e sem consequências de maior. Eu só quero o meu dinheiro de volta, isso não perturbará o banco.
Se, no mesmo dia, metade dos clientes do banco decidirem levantar todo o dinheiro das suas contas, isso provavelmente acaba com o banco. Cada um dos depositantes (agora "levantantes") só quer o seu dinheiro de volta, mas será gerado um efeito não intencionado individualmente, um efeito das acções agregadas. Nem sempre é fácil às ciências da sociedade compreender as dinâmicas dos efeitos não intencionados das acções dos indivíduos.
Mais ou menos como a vuvuzela: a coisa, à partida, poderia ser interessante, até por celebrar um instrumento tradicional - mas, com uma larga percentagem dos espectadores num estádio a soprar na coisa, torna-se insuportável.

(Cartoon de Marc S.)

presidenciais


Se a candidatura de Fernando Nobre for, ou parecer, uma invenção dos "soaristas" para se vingarem de Alegre, o seu enterro será triste.

(Espero que qualquer leitor, mesmo sem ser diplomado em lógica matemática, compreenda a estrutura básica "se... então...".)

krise

Grafito em Coimbra, Janeiro de 2010

13.6.10

domingo é um bom dia para cozinhar


Caramel Croissant Pudding by Nigella Lawson

Cheguei lá via Vieira do Mar, que diz que os homens se babam com isto. Isto, o quê?!


25 anos da assinatura


Sócrates diz que resposta europeia à crise é “condição indispensável do futuro da integração".

Hoje comemoram-se 25 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal (e Espanha) à União Europeia, então CEE. José Sócrates lembrou ontem os que, na altura, duvidavam desse passo. Eram muitos, para dizer a verdade. Pelo menos no início do processo, muitos aconselharam Mário Soares a não fazer o pedido de adesão. Entre esses, estivessem certos ou errados, primavam opiniões políticas e económicas de fundo, ligadas à avaliação que faziam do interesse nacional. Respeitável. Mas também houve quem, à última da hora, e por questões de puro jogo partidário, tivesse tentado boicotar a assinatura.

Na entrevista biográfica que Maria João Avillez fez a Mário Soares, em três volumes, pode ler-se no volume intitulado Democracia (1996), na parte respeitante às consequências da chegada de Cavaco Silva à presidência do PSD, (p. 251 e seguintes):

Maria João Avillez - A própria assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades ficou tremida. O PSD ameaçou que não assinava. Como reagiu?

Mário Soares - Para além de pretenderem estragar-me a festa (o que admito poder considerar-se uma reacção natural), tiveram um comportamento mais grave: puseram em risco, por questões estritamente partidárias, o interesse nacional. A entrada de Portugal no Mercado Comum - como depois reconheceram, amplamente - significava, sem sombra de dúvida, a defesa estrita desse interesse nacional. Deveria ter sido colocado acima de todas as outras preocupações. Não o foi! Nas vésperas, ainda não se sabia se o assinavam ou não! Foi preciso fazer uma cedência de última hora, ridícula, que não tinha qualquer razão de ser: aceitar que Rui Machete, na altura Vice-Primeiro-ministro, assinasse também. Quem negociara tudo, no meu Governo, fora uma equipa coesa constituída pelo Ministro das Finanças, Ernâni Lopes, por Jaime Gama, titular dos Negócios Estrangeiros, e, finalmente, António Marta. Eram estes que deviam, portanto, assinar comigo. Segundo as regras da CEE, por Portugal só poderiam figurar quatro assinaturas, no máximo. Assim, para meter Rui Machete, foi necessário eliminar António Marta, o que considerei uma injustiça. (...)
Convém lembrar.

a memória incomoda muita gente


O Câmara Corporativa, volta e meia, lembra as flagrantes contradições que representam as declarações de certos responsáveis políticos. Assim do género mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Alguns, incluindo comentadores que lá vão, não gostam. Só posso dizer: Caro Miguel, ainda bem que alguém tem memória e a usa, como fazes. Não apenas por a memória incomodar uns comentadores que gostariam que só nos lembrássemos de ontem e já nada soubéssemos de anteontem. Mas também por isso. A memória é essencial à civilização. Sem essa memória profunda e organizada seríamos, colectivamente, como uma colónia de insectos sociais. Assim, tipo formigas.

11.6.10

o teste do algodão


Relatório PT/TVI: Sócrates diz que relator fez "uma completa distorção dos factos".

José Sócrates teve de responder a umas dezenas de perguntas da Comissão de Inquérito. Fê-lo por escrito, o que quer dizer que não tem modo de fugir agora ao que respondeu na altura: está escrito, pode ser citado rigorosamente. Se a Comissão de Inquérito tivesse, ao fim de semanas (e de outra comissão parlamentar a trabalhar para o mesmo) encontrado algum facto que contradissesse o PM, seria fácil mostrar isso mesmo: seria só juntar 2 e 2. Citar o facto e a afirmação do PM que era desmentida por esse facto. Se, mesmo assim e ao fim de toda esta tourada, João Semedo vem dizer (vi eu na TV) que não escreveu que Sócrates mentiu, mas escreveu que ele disse o contrário do que se tinha passado, só podemos concluir duas coisas. Uma, que já se sabia, outra que se vinha adivinhando. Já se sabia que Semedo queria arranjar palco para uma tese, que já trazia de casa, e que não partiu para isto por amor à verdade e de mente aberta. Vinha-se adivinhando, e agora confirma-se, que Semedo, além do mais, é cobarde: gasta 250 páginas para dizer que não diz mas afinal diz ou se não disse podia ter dito e patati patatá. Que gente!

o Público tem razão


O deputado João Semedo apresentou o seu relatório sobre o "caso TVI". O Câmara Corporativa e o Jugular mostram que, sobre o relatório, é possível dois jornais fazerem manchetes completamente opostas e contraditórias. O Público titula que o relatório prova que Sócrates mentiu; o Expresso titula que o relatório não atinge Sócrates. Mas os que estão errados são o José Magalhães e o João Galamba. Como a Comissão não provou coisa nenhuma, e servia apenas para alimentar o fogo em torno de Sócrates, e nunca foi intenção dos seus principais mentores que ela fizesse luz sobre nada, o que conta é a intenção. E aí, obviamente, o Público interpreta muito melhor a intenção de Semedo e Pacheco do que o Expresso. Por que será?

o relato


Relatório PT/TVI: Primeiro-ministro mentiu ao Parlamento. (Público)

Ilustração recortada de Le Capitaine Écarlate (de Guibert & David B.)

O deputado João Semedo já sabia, antes de começarem os trabalhos da Comissão, o que se iria concluir. Em traços grossos, claro: a Comissão de Inquérito era só para apurar os detalhes. O deputado João Semedo não tem noção nenhuma da diferença entre um papel institucional e uma pessoa privada: Sócrates ter ouvido uns zunzuns ou o governo estar informado em boa e devida forma, para Semedo não tem diferença nenhuma. Confere com o respeito que estes "revolucionários" têm das instituições e revela, realmente, a noção que têm da vida privada numa democracia. O deputado João Semedo argumenta, para "provar" qualquer coisa contra Sócrates, com notícias que na altura já tinham sido publicadas nos jornais: para isso, não era preciso andar meses numa comissão de inquérito. O deputado João Semedo insinua qualquer coisa sobre a suposta fonte da suposta informação privada que Sócrates teria: pagam a relatores parlamentares para fazer insinuações?
(Comentário escrito após a leitura apenas da notícia do Público. As 250 páginas do relatório ficam para depois.)

mundial de futebol | ele há muitos futebóis


Parece que hoje começa o Mundial de Futebol. Ora vejam lá estes robots humanóides. Estarão eles a jogar futebol?
Fiz estes vídeos, que mostram robots humanóides (NAO), numa partida da fase final do RoboCup (Campeonato Mundial de Futebol Robótico) 2009 (em Graz, Áustria), do qual fiz a cobertura para o Ciência Hoje.




Um exemplo da dinâmica do jogo.


Um golo interessante.

dizias-me tu


(...)
I´ll break your heart
To keep you far from where
All dangers start
(...)

Warpaint, "Elephants" (de Exquisite Corpse)

mocidades

Professora garante que "ninguém" vai "recriar Mocidade Portuguesa". (Jornal de Notícias)
«No passado mês de maio, o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Soares apresentou um requerimento na Assembleia da República a questionar o Ministério da Educação sobre se tinha conhecimento desta iniciativa que, segundo sustentou, "obriga alunos menores de idade a serem actores num ato laudatório e acrítico de uma página negra da História de Portugal". Em resposta, a professora afirmou à Lusa que "o BE contestou aquilo que não existe" e "afirmou que iria acontecer uma coisa que não vai acontecer".»
A notícia completa (linkada acima) explica o que vai acontecer e o que não vai acontecer.

Isto, de que se fala acima, é educação. História, para que as crianças conheçam o seu país. E possam exercer a sua cidadania.

E isto ...
Se gostava de ver o seu filho a marchar vestindo a farda da Mocidade Portuguesa, é melhor não ler o texto que se segue. Se não gostar, lamento ter de torná-lo convertido por um momento, é assim a vida. O conselho que dou ao primeiro grupo é fazer uma excursão a Aveiro quando acontecer o tal desfile alusivo ao 5 de Outubro e relembrar – quem sabe se de lágrimas nos olhos – os tempos em que aquela fatiota janota e o efeminado gesto com curva hitleriana que a juventude esboçava estavam na moda. Atenção, longe de mim achar que o saudosismo é uma indesculpável fraqueza: ninguém consegue viver bem no presente se dele não fizer parte o passado. Mas recriar o passado de forma acrítica, esquecendo os erros e as imprecisões, fantasiando uma realidade que nunca existiu, já me parece menos sensato.
o que é?

Desinformação, insulto, falta de respeito pelo trabalho dos outros, apelo à censura e ao policiamento das formas de ensinar, demagogia, uma forma de pensar a política que faz lembrar o Adobe Photoshop para tótós.

Fascista é a tua tia, pá
.

se calhar vai haver eleições antecipadas


INE revê em alta crescimento da economia portuguesa
. (Público)
«O INE reviu hoje em alta o crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano, com o PIB a crescer 1,8 por cento face ao trimestre homólogo e de 1,1 por cento face ao quarto trimestre de 2009. A evolução positiva deu-se graças ao aumento da procura interna, do consumo privado e das exportações.»

A continuar assim, as oposições vão ter de provocar eleições antecipadas - para evitar que as coisas lhes corram mal.
Alternativamente, podem sempre esperar que as medidas recessivas "gentilmente aconselhadas" pela UE travem a retoma do crescimento.

agenda | Biosemiotics


Biosemiotics: A Naturalistic Approach to the Question of Meaning
por Jesper Hoffmeyer (Universidade de Copenhaga, Presidente da International Society for Biosemiotic Studies)

21 de Junho 2010, 16:00 H
Faculdade de Letras de Lisboa
Sala Mattos Romão (Departamento de Filosofia)


Resumo:
Signs, whether of natural or cultural origin, act by provoking receptive systems - human or non-human - to form interpretants (e.g. a movement or a brain activity) that somehow relates the system to this "something else". Semiotics sees meaning as connected to the formation of interpretants. In a biosemiotic understanding living systems are basically engaged in semiotic interactions, i.e. interpretative processes, and organic evolution exhibits an inherent tendency toward an increase in semiotic freedom. Mammals are generally equipped with more semiotic freedom than are their reptilian ancestor species, and fishes are more semiotically sophisticated than are invertebrates. The evolutionary trend towards the production of life forms with an increasing interpretative capacity or semiotic freedom implies that the production of meaning has become an essential survival parameter in later stages of evolution.



confesso que começo a ter medo


Ou, melhor dizendo, receio.

Será que começo a sentir-me num país em que escrever isto é assim algo como um acto de coragem?
Será que é tempo de começar a ter medo de gente que anda por aí a dizer-se de esquerda?

O que isto quer dizer, mais isto e isto, é que anda por aí muita "esquerda" a ponderar estes métodos: Cavaco, Estaline, Soares, Trotsky e o Adobe Photoshop.

Gaita.