30.4.11

uma beatificação política




Política vaticana, mas política.

Amanhã, Domingo, 1 de Maio, o Papa João Paulo II será beatificado. Atropelando as normas, como parece que admite o próprio Vaticano. Para quê? Para ungir com o estrelato eclesial um Papa político no mais alto grau.

João Paulo II fez muitas proclamações sociais que até podem ser, tomadas à letra, consideradas de esquerda. Mas, naquilo em que realmente tinha poder para mudar, a conversa foi outra.
Alimentou uma "moral sexual" indiferente às consequências sociais nefastas de dogmas sem qualquer conteúdo significante no mundo concreto onde supostamente a Igreja anda.
Insistiu no celibato dos padres e na reserva da função para os homens.
Censurou episcopados nacionais e ordens religiosas por terem leituras diferentes da sua oficial leitura.
Fez uma campanha sem dó nem piedade contra a "teologia da libertação", talvez marcado demais pelo seu passado de luta anticomunista, talvez por isso com um enviesamento que os verdadeiramente grandes são capazes de evitar.
Silenciou vozes que pensavam diferente, reduziu teólogos ao silêncio ou a reescrever os seus livros, ou proibiu-os de ensinar, ou isso tudo junto. Falamos de intelectuais como Bernard Häring, Hans Küng, Leonardo Boff, Tyssa Balasuriya, Eugen Drewermann ou Jacques Dupuis.
Meios demasiado humanos para tanta beatitude.
Vaticana política, servida por uma extraordinária máquina de comunicação e pelo jeito pessoal de Karol Wojtyla para o espectáculo.
Vaticana política que amanhã promove mais uma estrela para ter mais um instrumento de propaganda da sua própria visão do mundo, da igreja, da fé, de Deus ou dos deuses.
Eu, que nem me movo por nenhum particular ódio às religiões, nem às igrejas, e que até tenho grande falta de paciência para a militância anti-religião, tenho de confessar que sinto alguma repugnância por este espectáculo mundano da beatificação. Parece-me truque demasiado evidente, demasiado ao jeito da espuma dos dias, mesmo que meta beato e futuro santo e tudo isso.

(A imagem é de um grafito de Madrid. Bento XVI, o actual Papa, beatificador do antecessor, é o grafitado. A foto é de Porfírio Silva.)


29.4.11

os rapazes chegaram perto do seu objecto de desejo mas ficaram sem jeito, sem saber o que fazer


Política para infantes.

«Eu vi-as primeiro!» - diz o tolo.


Do filme "O Brother, Where Art Thou?". Uma sugestão de E Deus criou a Mulher.

sinais para a troika


Paulo Rangel, eurodeputado do PSD: Sócrates deu sinal à troika de que não confia em Teixeira dos Santos, por não o incluir nas listas de candidatos a deputados do PS.

Em contrapartida, deu à troika o sinal positivo de não incluir Paulo Rangel como candidato pelo PS.

(Quando é que os dirigentes do PSD percebem que não lhes cabe decidir pelo PS nas suas próprias escolhas? Até agora queriam escolher o SG, agora querem escolher os deputados. Será que acreditam mesmo em Passos Coelho quando ele confunde "unidade" com "união nacional" e já se acham a "tomar conta" dos outros partidos?)

Interacção Social com Robôs: do Mito à Realidade


Está quase a começar a edição 2011 do Ciclo de Conferências "Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais", organizado desde 2008 pelo Instituto de Sistemas e Robótica (pólo do Instituto Superior Técnico). Este ano será nas três primeiras quartas-feiras de Maio.

A primeira conferência será a 4 de Maio, pelas 17h30m: INTERACÇÃO SOCIAL COM ROBÔS:
DO MITO À REALIDADE, pela Professora Ana Paiva, Líder do Grupo de Agentes Inteligentes e Personagens Sintéticas, no Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID).



Mais informação aqui: http://institutionalrobotics2011.isr.ist.utl.pt .

28.4.11

auto-retrato...


... de um redactor principal do diário Correio da Manhã.


Fonte.



Espantados?! Por quê, não se lembram disto?


Se não se lembram, podem ler isto. Para ficarem a saber quem é filho de quem.

caro conselheiro benévolo dos socialistas portugueses


No Ladrões de Bicicletas, um blogue com cuja leitura aprendo muito, João Rodrigues chama a atenção para a entrevista que o presidente do Partido Socialista Europeu, Poul Rasmussen, deu à Lusa.
João Rodrigues faz jus ao paternalismo serôdio que uma certa esquerda usa para com o PS - nos dias em que, tão esquerda que essa esquerda é, não está a votar de braço dado com a direita. Esse paternalismo explica o título Ainda há social-democratas no PS?, bem como o conselho: "os socialista portugueses devem prestar atenção" à dita entrevista.

Claro que os socialistas portugueses dão atenção à dita entrevista. Mas também dão atenção a outras coisas. Por exemplo, os socialistas portugueses sabem que Poul Rasmussen, enquanto primeiro-ministro da Dinamarca, lançou a chamada flexi-segurança no mercado de trabalho: mais flexibilidade, quando necessária ao melhor desempenho económico das empresas (não é liberdade para despedir quando o "patrão acorda mal disposto", mas sim poder variar certos ritmos de trabalho para responder às variações das encomendas, por exemplo) combinada com mais segurança para os trabalhadores (menor precariedade no emprego). Quer dizer, uma solução em que todos ganham algo: os trabalhadores acompanham melhor a dinâmica produtiva das empresas, o que implica certos sacrifícios, mas isso, além de reverter para a saúde da economia, reverte também para a protecção dos seus postos de trabalho. Ora, quando os tais malandros dos socialistas portugueses quiseram discutir isso em Portugal, a esquerda da esquerda levantou-se em polvorosa gritando que era mais uma manigância contra os direitos dos trabalhadores.
Portanto, caro conselheiro benévolo dos socialistas portugueses, os socialistas portugueses sabem quem é Poul Rasmussen. A esquerda da esquerda, mais o sector irresponsável do sindicalismo, é que deveriam ser os destinatários desse conselho de "ouvir Rasmussen". Pela muito simples razão de que louvar agora Poul Rasmussen é fraco consolo para a cegueira com que no passado se mataram as possibilidades de uma nova maneira de regulação do mercado de trabalho em Portugal. E também por aí passou a crise deste país e da esquerda que temos.

Isto não impede que seja importante ler o que Rasmussen diz nessa entrevista. Pai da flexi-segurança diz que Troika vai demolir protecção dos trabalhadores portugueses. E diz mais: "o antigo primeiro-ministro dinamarquês afirmou que cabe agora a Portugal lutar para conseguir os melhores resultados das negociações". (Infelizmente, alguns dos que supostamente jogam pela "equipa Portugal" nem sequer vão às reuniões para mostrar os caminhos aceitáveis, o que, como método de luta, é questionável.)
É que, ainda por cima, o tema da flexi-segurança é muito apropriado para mostrar os prejuízos resultantes da combinação de conservadorismos de sinal contrário. É que importa, continuando a ouvir Rasmussen, assinalar também a parte de responsabilidade que tem a direita e o patronato na distorção desse caminho: Rasmussen disse que a flexi-segurança falhou porque os governos conservadores europeus manipularam o conceito para prejudicar os trabalhadores.

Parece-me, com franqueza, João Rodrigues, que esse conselho aos socialistas portugueses para ouvirem Rasmussen é uma história muito mal contada. E continuar a contar mal essas histórias faz parte da fraca novela que é o estado a que chegou a esquerda em Portugal.

a filha rebelde | ou | façam fila os defensores da liberdade de expressão, de informação, de criação e de outros ãos


Sobrinhos de último director da PIDE processam ex-responsáveis do D. Maria II.
Os sobrinhos de Silva Pais, último director da PIDE/DGS, apresentaram uma acção em tribunal contra a autora da peça 'A Filha Rebelde' e os ex-directores do Nacional D. Maria II, que será julgada a 3 de Maio.
Fontes ligadas ao processo disseram à Lusa que está em causa uma alegada insinuação na peça de que o ex-director da polícia política foi um dos responsáveis pelo assassinato de Humberto Delgado, que os queixosos consideram difamatória e ofensiva da memória do tio.
Os sobrinhos de Silva Pais, falecido em Janeiro de 1981, acusam a autora da peça, Margarida Fonseca Santos, bem como o então director artístico do teatro do Rossio, Carlos Fragateiro, e o seu adjunto, José Manuel Castanheira, e pedem uma indemnização de 30.000 euros.
A peça, com encenação de Helena Pimenta, esteve em cena no Teatro Nacional D. Maria II em 2007 e baseia-se no livro homónimo dos jornalistas Valdemar Cruz e José Pedro Castanheira.

Falámos da peça anteriormente. Agora esperamos que levantem a voz os que falam muito da liberdade de falar por dá cá aquela palha - para depois se fazerem distraídos em casos destes.


perguntem a Pedro Passos Coelho...


... o que ele acharia de ser vice-primeiro-ministro de Paulo Portas.

Quando ele tiver respondido, tenho outra pergunta para sugerir. (E não foi Teresa Caeiro quem me encomendou o sermão.)

a poluição mata


Não aprecio este tipo de postas. Se há coisa que não faz mal nenhum em Pedro Passos Coelho - e provavelmente até é saudável - é o que aqui se relata. O mau mesmo é a impreparação do homem e o tacticismo sem alma. Mas criticar isso não tem nada a ver com meter-se com a sua vida pessoal, onde até acredito que seja simpático. E, mesmo que não seja, não tem nada a ver com as virtudes públicas que lhe sobejem ou lhe faltem.

Detesto poluição, é o que é. Porque a poluição mata.


27.4.11

quererá Passos que lhe dêem o que ele pede? quererá?!


Passos pede que dêem ao PSD a mesma oportunidade que teve o PS.

É difícil. Para isso seria preciso dar ao PSD... o PSD como oposição. Quer dizer: um partido que detesta convergências democráticas (chama-lhes "união nacional") se for para construir, mas aprecia meter-se em coligações negativas para derrubar governos em momentos de crise. Sejamos francos: nem o PSD merece a fraca sorte de ter o PSD como oposição.


outras razões


Acho que vale a pena ler este post: Porque pretendo votar BE.
Lê-lo e reflectir sobre ele.
Começo por aqui. Não votarei BE (votarei PS), acho que há elementos de balanço muito acertados naquele texto (incluindo no capítulo das críticas ao PS), acho que este tipo de análise faz falta à esquerda toda em Portugal.
Faltam naquele texto, contudo, algumas coisas; principalmente, parece-me que falta uma análise do "problema Europa". Uma das razões pelas quais um voto no BE ou no PCP é, actualmente, a meu ver, inconsequente, é a falta de reflexão séria acerca do que deve fazer um país como Portugal na UE. Fazer muito barulho não chega; mesmo os sociais-democratas (PS e amigos por essa Europa fora) estão um pouco à nora quanto a isso (alguns até têm ideias, mas não se vê grande estratégia para as fazer viNgar). O que não se compreende, à esquerda, é que essa questão seja ignorada ou menorizada.

é preciso sujar as mãos, camaradas


PCP não reconhece “legitimidade” ao FMI.
«O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) explicou esta noite [ontem], numa entrevista à RTP 1, a razão porque aquele partido recusou reunir-se com a troika de instituições internacionais que está em Portugal. “As nossas relações institucionais são com as instituições da República [Portuguesa]. Não credenciamos legitimidade a instituições estrangeiras”, afirmou Jerónimo de Sousa.»

Não é o FMI, nem o BCE nem a Comissão Europeia, que vão decidir o que Portugal terá de fazer. Terão de ser as autoridades nacionais a decidir e a implementar. A questão não é essa. A questão reside em dois outros pontos.
Primeiro, precisamos ou não de dinheiro que seja emprestado fora das condições do "mercado livre"? Se o PCP (e o BE, que também se baldou aos encontros com o FMI) acham que não, expliquem como acham que o país deve funcionar só com o que tem neste momento. Seria possível? Seria, mas não seria a mesma coisa. Têm é de assumir o que seria preciso cortar sem financiamento externo e tendo que pagar o que devemos. Ou, então, que expliquem as consequências de não pagarmos o que devemos e ficarmos isolados do mercado de financiamento internacional. E atenção, não se trata só de financiar o Estado: trata-se de financiar a actividade económica e trata-se da desconfiança generalizada que recairia sobre as empresas portuguesas que têm presença (importadora e exportadora) no mercado externo.
Segundo, quais partidos estão dispostos a ajudar a parte portuguesa a obter as melhores condições possíveis? O PSD, por exemplo, tem feito tudo para que a troika desconfie de Portugal, desconfie da sustentabilidade interna de qualquer acordo - e, consequentemente, empurre os emprestadores para condições leoninas, destinadas a descansar os respectivos eleitorados. O PSD está na estratégia de enfraquecer a posição negocial portuguesa; está na política de quanto pior, melhor - para poder atribuir culpas ao governo e tentar ganhar votos. A esquerda da esquerda poderia estar a negociar: exigir a máxima equidade social na distribuição do esforço, prometendo guerra social contra as velhas técnicas do FMI e oferecendo perspectivas de paz social em troco de políticas mais equilibradas e mais justas. Mas coloca-se na pior posição negocial de todas: promete fazer sempre o mesmo, quaisquer que sejam as soluções. Essa é a posição negocial da inutilidade.
Será que o PCP (e o BE) contam com Passos Coelho para dourar a pílula? Ou supõem que quem precisa do empréstimo pode colocar-se na posição de quem pede o dinheiro e ainda impõe as condições - sem precisar sequer de negociar? Ou será que a esquerda da esquerda, simplesmente, quer passar directamente para a "sociedade socialista" sem ter de se misturar nestas minudências da vida concreta dos povos?

os pobres que paguem a crise


Não sou muito de copiar textos dos outros para aqui, mas desta vez trago o Daniel Oliveira inteirinho:

Claro que Diogo Leite Campos não é aldrabão

O senhor Diogo Leite Campos quer acabar com os subsídios - subsídio de renda ou abono de família - sem saber onde realmente gastam os beneficiários o dinheiro. Não deixa de ser um raciocínio económico estranho, já que a despesa - os filhos ou a casa - estão lá. Para resolver o problema, quer fazer como se faz com os mendigos: dá-se-lhes uma sandes em vez do dinheiro. Através de um cartão de débito e recorrendo a instituições de caridade, como "albergues" ou a "sopa dos pobres". A leitura de Oliver Twist, de Charles Dickens, pode ajudar a perceber o modelo social de Leite Campo.
Num excelente almoço organizado pela Câmara do Comércio e Indústria Luso Francesa, onde perorou sobre a pobreza, Leite Campos explicou que "quem recebe os benefícios sociais são os mais espertos e os aldrabões e não quem mais precisa".
Seria impensável eu dizer que o senhor Leite Campos é um "aldrabão". Longe de mim pôr em causa a honorabilidade de tão distinta figura. Os insultos, já se sabe, são coisa que deixamos para os miseráveis. O direito ao bom nome vem com o cartão de crédito e quem não o traz na carteira só pode deixar de ser suspeito se lhe derem um cartão de débito. Os pobres são, até prova em contrário, mentirosos. Como não insulto o senhor, fica apenas este facto: estando ainda a trabalhar, já recebe uma reforma do Banco de Portugal. Quando se retirar da Universidade de Coimbra, juntará o que recebe já hoje ao que receberá dali. Acumulará duas reformas vindas do Estado.
Seria um argumento "ad hominem" atacar o professor Leite Campos, competente fiscalista, por causa das suas duas reformas. Dizer que ele é "esperto" e que gasta recursos do Estado que podiam ir "para quem mais precisa". Espertos são os pobres que ficam com os trocos. Quem consegue acumular reformas por pouco trabalho é inteligente. Os pobres enganam o Estado, os outros têm direitos. Os pobres roubam o contribuinte, os outros têm carreiras. Fico-me por isso pelos factos: a reforma que o senhor Leite Campos recebe do Banco de Portugal resulta de apenas seis anos de trabalho naquela instituição.
Cheira-me que se a generalidade dos portugueses recebesse reformas, estando ainda no ativo, por seis anos de trabalho e as pudesse acumular com outras dispensaria bem o abono de família e até o cartão de débito para ir à sopa dos pobres.
Aquilo que realmente está esgotar o crédito da minha paciência é ver tanto "esperto" que vive pendurado nas mordomias do Estado a dar lições de ética aos "aldrabões" que recebem subsídios miseráveis. É mais ou menos como dizia o outro. Já chega. Não gosto de tanto cinismo. É uma coisa que me chateia, pá.
Sobre os subsídios, Leite Campos disse: "O dinheiro não é do Estado, é nosso. Quem paga somos nós. Nós, contribuintes, temos direito a ter a certeza que o nosso dinheiro é bem entregue. Eu estou disposto a pagar 95 por cento do que ganho para subvencionar os outros, mas quero ter a certeza que é bem empregue, e que não vai parar ao bolso de aldrabões". Sobre as escandalosas reformas do Banco de Portugal, faço minhas as palavras do vice-presidente do PSD.
Daqui.

26.4.11

a culpa de João Galamba é ele ser candidato, pois está bem de ver


Não vi a entrevista de Sócrates. Passei na TVI um bocado depois e havia um programa de fazer render o peixe. Estava Maria João Avillez a dizer ao João Galamba que ele não estava em condições de expressar uma opinião livre por ser candidato a deputado. E insistia a "senhora" que não estava a insinuar isso, estava mesmo a afirmar. E repetia, parece que muito orgulhosa da figura que estava a fazer.
Desliguei-me logo da coisa, porque estou farto de ver jornalistas com a "independência" de Maria João Avillez a abusarem da boa educação do João Galamba, apesar de ele já ter chamado fdp a um moço. Eu, que sou muito menos educado do que o João Galamba, ter-lhe-ia respondido que as pessoas que substituem os argumentos pela tentativa de desqualificar as pessoas, como ela estava a fazer, são muito mais responsáveis pela degradação da vida pública do que todos os políticos juntos. E que, dirigido a um candidato por ele ser candidato, esse truque era mais um dos muitos expedientes de baixa política que estão em moda. E que foram essas modas que fizeram da política do ódio o principal cancro da vida política portuguesa.


os programas eleitorais importam. quem pense que não, vai passar mal


Sócrates apresenta programa eleitoral do PS na quarta-feira.

É mais difícil ao PS do que ao PSD. Apresentar programa eleitoral, quero dizer.
O PSD, em princípio, quando empurrou o governo já devia saber o que queria fazer diferente. É certo que entretanto não apresentou programa nenhum - ou melhor, apresentou vários, mutuamente inconsistentes, no estilo disse, não disse, queria dizer. Mas isso deve ser apenas por falta de papel de impressão: estão à espera da enésima oportunidade para causar boa impressão, já que perderam a primeira, a segunda, a... Entretanto, por mor da boa convivência democrática, temos de acreditar que o PSD derrubou o governo em nome de uma ideia alternativa, não apenas para "ir ao pote", na expressão inspirada de Passos Coelho.
Já o PS, pode pensar-se, como ficou a meio de uma legislatura, basta apresentar o que ficou por fazer do seu programa de governo. Mas não: porque os tempos mudaram, porque são precisas respostas novas, embora sem esconder o legado. E, nas actuais circunstâncias, o legado tem coisas boas e coisas más. E é importante, numa relação séria com o eleitorado, que o PS faça um balanço robusto do que fez bem e do que fez mal. Que, além de falar verdade, fale claro. Só isso pode inspirar a necessária confiança.
Finalmente, vamos poder comparar o programa do PS com o programa do PSD e com os programas da esquerda da esquerda. Quero dizer: desde que todos ponham as cartas na mesa, claro.

não há nada de errado com os trabalhadores portugueses


Ricardo Reis, Professor de Economia na Universidade de Columbia:
Aprender mais e melhor é muito importante. Mas nesta tentativa de encontrar razões que expliquem esta fraca produtividade percebi que é preciso apontar o dedo à gestão. Um estudo de dois investigadores ajuda-nos a comparar a gestão portuguesa com a de outros 17 países. Uma multinacional americana baseada em Portugal é muito mais produtiva do que uma congénere nacional. Não há nada de errado com os trabalhadores portugueses - eles são simplesmente mal geridos.
Uma das respostas da entrevista ao suplemento Economia do Expresso, edição de 22 de Abril de 2011.

mais depresssa se apanha um falso moralista - ou um invertebrado?


Há dias, Eduardo Pitta publicou no seu blogue, a ilustrar um apontamento político, uma fotografia de Passos Coelho com mulher e filhos. Nuno Gouveia reagiu com ar escandalizado, a sugerir (embora sem coragem para o dizer com todas as letras) que era uma porcaria de atitude, a do Eduardo Pitta. Agora que Passos Coelho se multiplica em aparecimentos públicos, com a mulher, no que parece ser uma nova estratégia de mistura intensiva de vida privada com vida pública, Nuno Gouveia já não tem nada a dizer. Parece que o "escândalo" para ele não estava no acto de misturar a família do político com a actividade do político, mas apenas em saber quem dava as respectivas fotos à estampa. Se a coisa for uma estratégia eleitoral de políticos que ele acha necessário apreciar, a moralidade desaparece logo debaixo do tapete.
A propósito desta americanização da vida política portuguesa, por iniciativa de Passos Coelho, o Câmara Corporativa faz o seguinte título: Uma fronteira sem retorno. Trata-se, como se pode constatar, de verificar a estratégia aparentemente determinada pelo próprio líder social-democrata.
No mesmo blogue do tal moralista que só se lembra de moralidade quando a coisa lhe convém politicamente, um tal PPM "responde" ao Câmara Corporativa desta forma. Quanto ao tal PPM, nada de estranhar: já vimos o suficiente de quanto lixo esse político metido a jornalista é capaz. Ficamos é à espera que o moralista Nuno Gouveia se atire às canelas do tal PPM, seu parceiro de blogue. E que aproveite para lhe explicar que há uma grande diferença entre um político procurar a exposição da família a ver se ganha uns votos - e um político que sempre tentou preservar a família (caso de Sócrates) ser objecto de coscuvilhice para gozo de invertebrados que por aí andam.


25.4.11

Jorge Sampaio, 25 de Abril 2011


Sem lamúrias, falar claro: o "compromisso nacional" não é uma forma vazia, nem a absolvição das responsabilidade de cada um - tem de ser uma nova partida; a crise não pode ser um prémio para os que a causaram.

23.4.11

"semana santa"


A minha "semana santa" em Madrid... no ano passado.

«A perfeição transparente do futuro digital»


Eu gostaria de ir ouvir Manuel Portela, Professor do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, falar sobre «A perfeição transparente do futuro digital».
O computador e o software oferecem-nos um futuro automatizado numa sociedade totalmente administrada. A ubiquidade do discurso digital serve para legitimar a crescente penetração dos dispositivos digitais em todas as esferas de actividade. Observando a relação entre discursos e dispositivos, conseguimos ver algumas promessas de felicidade em curso.
Será em Coimbra, a 2 de Maio próximo, pelas 17 horas, no Departamento de Ciências da Vida - Antropologia, Anfiteatro I, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Mais informação - e outras coisas que surgem - em milplanaltos.

21.4.11

eu troiko, tu troikas, ele troika | não tenho troikos


A história seguinte, sobre Agostinho de Hipona, conhecido na literatura cristã como Santo Agostinho, faz parte da tradição dessa religião.
Conta-se que Santo Agostinho andava a passear na praia a meditar sobre o mistério da Santíssima Trindade. Enquanto caminhava, observou um menino que tinha um balde com água. A criança ia até o mar, trazia a água e deitava-a dentro de um pequeno buraco que tinha feito na areia. Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, perguntou-lhe:
- Que estás a fazer?
O menino, olhando-o, respondeu:
- Quero colocar a água do mar neste buraco.
Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe:
- Mas tu não percebes que isso é impossível, mesmo que trabalhes toda a vida? O mar é infinitamente grande. Nunca o conseguirás colocar aí todo, dentro desse pequeno buraco...
Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe:
- Ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que entenderes o que estás a pensar.
Tanto quanto se pode esquematizar um problema teológico, a dificuldade teria mais ou menos a seguinte forma:


De qualquer modo, o esquema acima seria uma traição à incompreensibilidade característica da própria divindade: tentar reduzir "o mistério" à razão humana seria demasiada pretensão, uma espécie de arrogância, quase pecado (para alguns).

Por que será que este "mistério" me faz lembrar a troika?

Boaventura Sousa Santos disse que "este não foi um dos dias mais felizes da sua vida", depois de duas horas e meia de reunião de trabalho com a troika.

a cidadania não tem donos; já agora: a esquerda também não


Publiquei aqui, recentemente, dois manifestos:

Um compromisso nacional.

Convergência nacional em torno do emprego e da coesão social.

Declarei-me de acordo com o primeiro e subscrevi o segundo. Acho que fui coerente ao apoiar ambos. Compromisso não é unanimismo; diferentes opções não devem impedir os compromissos; os compromissos devem ser escolhas sobre a importância relativa das diferenças.

Outro cidadão que se juntou a ambos os documentos foi Boaventura de Sousa Santos. Ao que eu faço ninguém liga, mas Boaventura foi atacado (vi no facebook) por ter assinado ambos os documentos. Dizia a pessoa em causa que os documentos são "opostos". Em concreto, Joana Lopes pergunta: será que Boaventura SS já explicou porque assinou, a uma semana de distância, dois documentos opostos? Afirma ainda Joana Lopes que Quem «exige» um próximo governo de «salvação nacional» não reconhece, de facto, que ele é impossível sem cedências gravíssimas ao estado social e à democracia.

Por favor, expliquem-me devagarzinho, para eu perceber: qual é a contradição/oposição entre os dois documentos?

Ou estaremos apenas perante mais uma manifestação de "clubismo", aquele tipo de reacção cuja matriz se resume a isto: mantém-te com os "nossos", não dês a mão ao inimigo, conversar com o diabo é pecado? Deve ser por isso que Joana Lopes escreve: [o segundo manifesto é uma resposta ao primeiro], "E foca os mesmos problemas, de modo diferente porque o posicionamento POLÍTICO dos subscritores é outro." É isso: como o "posicionamento POLÍTICO" é diferente, não pode haver compromissos.

De facto, se isso é que é ser de esquerda, fiquem lá com a bicicleta que eu não dou para esse peditório.

design atrás das grades


“Design Atrás das Grades” junta o improvável: prisões e design, num mundo que procura um futuro sustentável. Do pequeno estúdio de costura do Estabelecimento Prisional de Tires sai uma mistura de idiomas, aqui são produzidas as consagradas malas La.ga. Vikki, uma reclusa romena, diz que o tempo que passa na “fábrica” voa. Como as La.ga, as mulheres também saem das prisões com um carimbo. Seguimos a sua luta para melhorar e fortalecer as suas vidas em Portugal, dentro de Tires, e na Venezuela, onde a ex-reclusa Yanetzi continua a coser.

Design Atrás das Grades,
Dia 25 de Abril, às 19h20m, na RTP2.
Realizadora: Margarida Leitão.



Este documentário narra uma experiência muito interessante, que me impressionou ao primeiro contacto. Espero agora aprender mais sobre o seu desenvolvimento com este trabalho da Margarida Leitão, que realiza sempre com grande sensibilidade e inteligência. Trata-se de algo que nos dará a possibilidade de continuar a libertação: continuar o 25 de Abril, por assim dizer. A nossa própria libertação dos horizontes estreitos, quero eu dizer. Uma pequena libertação de cada vez, claro.

Quero dizer-vos que no Natal passado houve várias prendas a circular na minha família que foram produzidas pela iniciativa descrita neste documentário. E que não foi por "caridade" ou "pena" que essas prendas foram muito apreciadas. Foram apreciadas pelo seu valor artístico próprio. Mas, sim, com um gostinho especial acrescentado.

Ver para crer.

são guerras, senhor, são guerras


Nações Unidas preocupadas com envio de militares europeus para a Líbia.
«A chefe da agência de ajuda humanitárias das Nações Unidas expressou-se muito preocupada com a possibilidade de uma presença militar europeia junto do movimento rebelde a Muammar Khadafi, na Líbia Oriental, alertando para os perigos de misturar operações militares com o trabalho de assistência humanitária.»

A questão, a meu ver, não é apenas a atrapalhação que causam uns aos outros no terreno. Problema maior é que o "Ocidente" se meta nos vespeiros que bem lhe apeteçam, ao sabor das circunstâncias e dos efeitos políticos imediatos e eleitoralmente pagantes. Duas teorias opostas concorrem pela compreensão do mundo: "que se matem à vontade, nada temos a ver com isso"; e "cabe às 'democracias' vigiar a ordem e os bons costumes em todo o globo". O equilíbrio entre essas duas teorias (quer dizer, longe de qualquer uma delas), tem sido difícil de encontrar. Não me parece que seja ainda no caso da Líbia que o "Ocidente" se evite a si próprio mais uma tolice.


a ratolândia


Tommy Douglas, 1904-1986, canadiano de origem escocesa, social-democrata/socialista, introduziu o modelo de saúde pública universal no Canadá. Um exemplo da sua oratória, ao serviço do seu idealismo, é o discurso em que apresenta a fábula "Mouseland" ("Ratolândia"). É esse discurso que aqui se apresenta.
É fácil pegar neste discurso e usá-lo para criticar os partidos do "centrão" em Portugal. O PS e o PSD. Será fácil à esquerda da esquerda, que tem feito tudo para fugir às responsabilidades da governação, usar este discurso para sacudir a água do capote. Se eu detesto essa atitude do PCP e do BE, por que coloco aqui esta peça? Por uma razão muito simples: julgo que qualquer cidadão, hoje, sendo democrata, independentemente da sua opinião político-partidária, deve preocupar-se com o rotativismo que deslegitima o sistema. Quando as pessoas tendem a pensar que "são sempre os mesmos", ou "acabam todos por fazer o mesmo", isso põe em perigo a própria democracia. O discurso dominante acerca do "arco da governação", que assume que há partidos que podem governar (PS, PSD e CDS) e partidos que não podem governar (PCP e BE), é uma perversão da democracia. Perversão que os próprios "excluídos" (PCP e BE) alimentam, colocando-se sempre de fora de qualquer tentativa séria de assumirem responsabilidades da governação. Mas não quero, agora aqui assim a correr, distribuir responsabilidades. Quero é chamar a atenção para um perigo, bem desenhado nesta fábula da Ratolândia.




o bom povo português, ah ah


Nada vou dizer sobre os valores que a sondagem publicada pelo Diário Económico dá aos partidos. Há muito ainda por discutir, isso é que conta de momento. Não resisto é a registar o espectacular resultado que Cavaco Silva consegue com todas as suas tropelias. Bem merece, ele que é o principal responsável por esta crise. Foi ele que deu ordem para avançar, com os discursos assassinos que fez.


Em 124 meses de barómetro da Marktest, é a primeira vez que o saldo da imagem do Presidente é negativo.

«Pela primeira vez desde Janeiro de 2000 (124 recolhas mensais) um Presidente da República tem um saldo negativo de popularidade num barómetro da Marktest. Por outras palavras, nunca como neste mês de Abril um Chefe de Estado teve um número de opiniões negativas superior às opiniões positivas. No mês de Abril, 47% dos inquiridos pela Marktest disse ter uma opinião negativa de Cavaco Silva, face aos 35% que responderam em sentido contrário, o que dá um saldo final de -11%.»

20.4.11

um livro


Este livro...
Este livro fala abundantemente de máquinas. Computadores e robôs, especialmente. Contudo, ele não é sobre os perigos e potencialidades das máquinas. Este livro é sobre pessoas. Sobre humanos em sociedade. Sobre o que somos capazes de querer e o que somos capazes de fazer com os meios que temos ao nosso alcance – assumindo que não devemos deixar-nos substituir na definição dos fins para que esses meios podem ser mobilizados. Este livro é sobre a possibilidade de que as sociedades em que vivemos sofram determinadas transformações que tornem apropriado dizer que elas são sociedades artificiais.
Este trabalho é uma investigação em Filosofia das Ciências do Artificial, incidindo sobre essa constelação de teorias e práticas científicas que inclui, por exemplo, a Inteligência Artificial e a Nova Robótica. Quem esteja convencido de que há uns anos um computador venceu um campeão mundial de xadrez num torneio dessa modalidade – deve ler este livro. Desde logo, porque vamos tentar mostrar-lhe que não deve estar assim tão seguro disso. Depois, porque deve querer saber que há equipas de robôs a ser preparadas para vencer a equipa campeã do mundo de futebol segundo os regulamentos oficiais da FIFA. Será divertido esse momento? Por muito desafiadora que seja essa perspectiva, talvez devesse ser mais assustador saber que há ramos das ciências sociais que pensam nos humanos como se fossemos computadores, como calculadores impenitentes e moralmente indiferentes.

Do Prefácio:
Este livro é parte de um já longo percurso do autor em torno do tema do paralelismo entre as Sociedades Artificiais e as Sociedades Humanas. O que mais fascina nesse percurso é a forma natural como nele interagem disciplinas aparentemente estanques ou mesmo contraditórias. Como diz Porfírio Silva, ele tem sido “um Filósofo entre Engenheiros”. Nesta altura, alguns filósofos sorrirão imaginando como deve ser impossível a alguém que vive no mundo das ideias interagir com uns seres estranhos, que dedicam a sua vida a olhar para um computador ou para uns chips incrustados numas estranhas placas verdes, produzindo tecnologia que faz maravilhas, mas que os transforma em seres associais e não pensantes. Ou, então, antevejo o sorriso amarelo dos engenheiros mais empedernidos, que agem primeiro e pensam depois, assumindo que tudo na vida é gerido por uma imensa equação matemática cuja solução pode ser complexa de encontrar mas existe. Pessoalmente, mais professor universitário de engenharia que engenheiro, prefiro pensar que o Porfírio Silva tem estado a “fazer filosofia com uma chave de fendas”, conforme a citação que ele próprio faz de Inman Harvey.
Pedro U. Lima
Instituto de Sistemas e Robótica
Professor do Instituto Superior Técnico

Numa boa livraria perto de si.
Lançamento: 3 de Maio, 18:30, Centro Nacional de Cultura

a blogosfera é um local muito giro


Uma das coisas mais interessantes da blogosfera é a argumentação: cita-se um tipo (de qualquer género), faz-se um link, dá-se uma bordoada, denuncia-se uma incongruência, junta-se um dado, contesta-se ou engrossa-se a corrente. Com maior ou menor elegância, esse jogo é sumo da parte boa desta fruta.
Como há gente que não sabe distinguir um fruto maduro de um fruto podre, há uns bizarros que pensam que aquilo (discutir ideias, com mais ou menos picardia, por blogues entrepostos) se confunde com escrever umas atoardas ou chamar uns nomes feios (pensam eles: alguns acham mesmo que "socialista" é um insulto). Bolsar disparates, para alguns, é quase como escrever uma tese de licenciatura à bolonhesa. (Já para não falar de um certo maluco do Porto, com uns patins mirabolantes, que tenta "insultar" um mínimo de 750 blogues em cada post.) Nunca percebi se esse comportamento resulta, simplesmente, de calos mal tratados, que dão muitas dores e indisposições, ou da tentativa de atrair conversa. Confesso que continuo sem perceber, especialmente na parte em que entram adereços estranhos na peça (por exemplo, deixar insultos anónimos na caixa de comentários, embora os mesmos insultos sejam depois "elaborados" em postas lá nos blogues dos seus autores.)
Admito que parte da minha incompreensão por fenómenos deste tipo seja defeito meu: provavelmente, nem sempre me apercebo quando topo com um blogue de humor. Ora, como é sabido, confundir uma palhaçada com uma coisa séria é um equívoco no mínimo embaraçante. Afinal, tudo tem uma explicação: fazer humor é mais difícil do que se pensa. Detectá-lo, também. Mesmo quando é humor negro.

malabarismos verbais com a nossa vida, não, por favor


A nova estratégia do PSD é fazer de conta que fala verdade - para mentir. Assim no género: Pedro Passos Coelho vem e conta a história do Capuchinho Vermelho; o pessoal não percebe a que vem aquilo, mas ri-se, por compaixão; depois das eleições, se chegar a PM, o homem vem dizer "eu bem avisei que os vermelhos iam ser comidos pelos lobos". Parece estúpido, mas é assim que PPC está a apresentar o seu programa ao país: diz umas coisas, como se nem soubesse exactamente o que está a implicar, para depois dizer que tinha prometido isso.
Espécime mais recente desta mentira organizada: PPC anuncia na rádio que vai voltar à ideia do plafonamento no sistema de pensões; explica com detença a parte que parece saborosa: "ah, não vamos andar a pagar pensões muito altas, que isso derrete os cabedais à nação"; diz de passagem "claro que cada um só contribuirá na parte em que pode depois beneficiar". Quer dizer: veste uma promessa de privatização parcial da protecção social - entregar a fatia mais rica à exploração privada - com as roupagens demagógicas do "não vamos andar a pagar pensões milionárias".
A estratégia é sempre a mesma: vender a nossa vida aos privados. O que é estranho: se os privados querem, é porque é bom negócio. Se é bom negócio, porque não há-de ficar no Estado, se não se trata propriamente de "coisa" (a nossa segurança social) que deva ser mercantilizada? A táctica também é sempre a mesma: o Estado que tome conta dos mais pobres, ou dos remediados, que as "companhias" tomam conta dos mais abonados.
Pedro Passos Coelho, mais uma vez, tentou dizer a coisa de modo que parecesse o contrário do que realmente estava a dizer. E depois manda um sargento qualquer tentar embrulhar as palavras a ver se ninguém percebe.
Este comportamento do PSD tem um nome: desonestidade política.

(Fernando Medina explica o que está em causa.)

notícias estrondosas


Passos admite que programa do PSD será igual ao do FMI.

Isto é notícia? Ah, compreendo. Não é notícia que o programa do PSD seja igual ao do FMI, mas é notícia que Passos o admita.

e não há um crime de gestão danosa do debate público?


O Diário Económico promove a iniciativa "Uma ideia para Portugal sair da crise. Qual é a sua?". Pedro Sousa Carvalho, subdirector, acha-se na obrigação de ter também uma ideia.
Bem sei o que custa por vezes precisarmos de uma ideia de jeito e só aparecerem trambolhos. Nesse escabroso processo de tentar parir uma ideia que valha a pena, Pedro Sousa Carvalho percorre o doloroso caminho das pedras (dizer cobras e lagartos de todos os partidos, ou quase todos), passa pela ideia não original de criminalizar a política (os fracassos da governação) e acha que isso é demais - mas fixa-se numa brilhante contribuição para a teoria política nacional. Passo a citar: "os políticos que façam uma gestão danosa da coisa pública deviam ser proibidos de voltar a ocupar o lugar".
Claro, não passa pela preclara mente de Pedro Sousa Carvalho que para saber o que é "a gestão danosa da coisa pública" não há um danómetro que meça a coisa mecanicamente. Para apreciar isso seria preciso fazer um juízo político. Que depende de muitas coisas: pontos de vista, interesses, projectos, avaliações, etc. e tal. E que a vida em comum é muito mais complicada do que parece ser entendível para certos subdirectores de diários económicos. Que os programas eleitorais e as responsabilidades políticas não são livros de fiado da mercearia da esquina. E que, por isso, fazer passar esta ideia como uma "ideia para Portugal sair da crise" - é uma fraude. Talvez apenas intelectual, mas uma fraude.
Mas, claro, quem irá julgar essa fraude e condenar Pedro Sousa Carvalho por ela? Talvez os mesmos que fariam o julgamento da gestão danosa da coisa pública. Os quais teriam, portanto, de ter também competência para julgar crimes de gestão danosa do debate público.

despesismos


Evolução da despesa pública em % do PIB, 2006-2011
Portugal comparado com diversos outros países



(roubado ao Miguel e ao Pedro)

procura-se, vivo ou morto


De 1991 a 2011 vão estes anos (conto devagar, para pessoas com mais dificuldades em usar os dedinhos das mãos): 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011. Qualquer coisa como vinte anos. Entre a primeira e a última data, só para dar o meu caso pessoal, vivi no estrangeiro por três períodos diferentes, fiz um mestrado e um doutoramento, publiquei três livros. E envelheci vinte anos. É muito tempo para qualquer pessoa. Mas isso não inibe estas tolices primárias. Deve ser escrita de querubim, espécime de uma espécie de seres que, como se sabe, têm outra escala temporal.
(O problema dos querubins, contudo, é outro: não vivem numa comunidade política, razão pela qual nunca tiveram que aprender que nem tudo o que troa é argumentação.)

o PS passou à clandestinidade?


Vejo notícias de que o PCP, o BE e o partido melancia recusaram falar com "a troika"; de que o CDS já está reunido com eles; de que o PSD não vai apresentar propostas nenhumas. Não vejo notícia nenhuma sobre o encontro do PS com a CE, o BCE e o FMI. O PS não foi convidado? O PS foi convidado mas recusou e não disse nada a ninguém? O PS reuniu ou vai reunir mas conseguiu melhor do que os demais esconder o tempo e o lugar? Ou o PS passou à clandestinidade?

18.4.11

o FMI está em greve


Os funcionários da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, que estão em Portugal para apalpar o pulso ao país que foi empurrado para um pedido de ajuda externa, depois de lerem esta posta do Jumento, entraram em greve por tempo indeterminado. Pelo menos até lhes fornecerem sondas de profundidade para perceberem o país que lhes deram para análise. Pelo contrário, não ficaram nada surpreendidos com a recusa de certos partidos da oposição em falarem com eles. Segundo fontes ouvidas à socapa, terão dito: "se eles nem falam entre eles, por que haveriam de querer falar connosco?".

«Jardim, a grande fraude», de Ribeiro Cardoso


Acabei de ler no fim-de-semana. Não diz muito de novo, mas é, no mínimo, uma compilação útil de muito material que já se tem publicado acerca da ditadura em vigor na Região Autónoma da Madeira. Um manual de malfeitorias, que vamos usar intensamente, mais para a frente, para que ninguém esqueça que Portugal é um país onde há uma ditadura. E muitos cúmplices.



não se riam


Dirigente republicana diz que Obama é filho de macacos.
Continua o Público:
«A dirigente do “Tea Party” Marilyn Davenport enviou um e-mail para os seus companheiros do Partido Republicano no condado de Orange, na Califórnia, em que diz que o Presidente dos EUA, Barack Obama, é filho de macacos. “Agora sabeis porque não há certificado de nascimento”, diz o e-mail de Devenport, que incluiu uma fotomontagem com Obama acompanhado por dois macacos.»

Não se riam, portugueses. Deixem lá esse desdém que vos faz julgar que somos incapazes dos piores dislates dos americanos mais alucinados. Se ainda não vimos uma tolice deste tamanho por cá (não vimos?), o princípio é o mesmo: a política do ódio, esse ingrediente que tem servido para arregimentar tropas independentemente das ideias políticas.

convergência nacional em torno do emprego e da coesão social


Num momento dramático como o que vivemos, a sociedade portuguesa precisa de debate e de convergências democráticas. Precisa também de reconhecer que a crise do liberalismo económico, de que a acção dos programas patrocinados pelo FMI tem sido uma expressão, obriga a reavaliar opiniões e prioridades e a construir soluções novas, assentes em ideias e escolhas claras e num programa explícito, sabendo que na democracia nunca há a inevitabilidade de uma escolha única, porque a democracia procura as melhores soluções da forma mais exigente.

É indiscutível que o estado das finanças públicas, que é em grande medida o resultado da profunda crise económica, exige um conhecimento e avaliação exigentes de todos os compromissos públicos. E que se torna urgente identificar a despesa pública desnecessária, supérflua e geradora de injustiças sociais, distinguindo-a da que é indispensável, colmata problemas sociais graves e qualifica o país.É também útil que se reconheça a importância do trabalho, dos salários e dos apoios sociais na sociedade portuguesa, se admita a presença de carências profundas, sob a forma de pobreza e de desigualdades crescentes, e se considere que os progressos alcançados na nossa sociedade são o resultado da presença de mecanismos de negociação colectiva e de solidariedade cujo desmantelamento pode significar uma regressão socioeconómica que debilitará o país por muito tempo.

Qualquer solução para os nossos problemas tem de partir de uma constatação realista: até agora as intervenções externas foram a expressão de uma União Europeia incapaz de perceber que a alternativa à solidariedade, traduzida em cooperação económica e integração sem condicionalidade recessiva, é o enfraquecimento das periferias sob pressão da especulação e de cúmplices agências de notação. A zona euro paga o preço de não ter mecanismos decentes para travar a especulação em torno da dívida soberana e para promover políticas de investimento produtivo que permitam superar a crise. As periferias pagam o preço da sua desunião política, única forma de colocar o centro europeu, principal responsável por este arranjo, perante as suas responsabilidades.

No momento em que se vão iniciar negociações entre o Governo e a troika FMI-BCE-CE, sabe-se que a austeridade provoca recessão económica e gera fracturas profundas, de que o desemprego elevado é a melhor expressão. As experiências grega e irlandesa exigem uma revisão das condições associadas aos mecanismos de financiamento em vigor. De facto, devido à austeridade intensa dos últimos dois anos, a economia irlandesa contraiu-se mais de 11% e a recessão grega atingiu 6,5% só entre o último trimestre de 2009 e o último de 2010. O desemprego ultrapassa já os 13% nestes dois países. A este ritmo, e apesar dos cortes orçamentais intensos, nenhum deles conseguirá reduzir a sua dívida. Isso só acontecerá com crescimento económico e com uma noção clara de que não é nos salários e no trabalho, mas antes na escassa inovação e na fraqueza organizacional de grande parte das empresas portuguesas, que residem os problemas de competitividade. Portugal não pode ser um laboratório para repetir as mesmas experiências fracassadas, e corremos o risco de uma recessão ainda mais prolongada, se tomarmos em consideração as previsões do próprio FMI.

Por tudo isto, considera-se necessário um apelo a um compromisso sob a forma de um programa de salvaguarda da coesão social em Portugal, de manutenção e reforço das capacidades produtivas do país para gerar emprego, com atenção às pessoas, evitando sacrifícios desnecessários. Os pontos essenciais de tal compromisso são os seguintes:

1. Garantir que em todas as decisões económicas e financeiras se coloca o objectivo de promoção exigente do crescimento e do emprego, reconhecendo que a sociedade portuguesa não comporta níveis de desemprego que outras sociedades registam, dada a fragilidade da estrutura de rendimentos e a insuficiência dos mecanismos de protecção social. A presença, já sugerida, da OIT nas negociações entre o Governo e a troika FMI-BCE-CE seria um sinal construtivo muito importante, colocando a questão do trabalho digno.

2. Desencadear um escrutínio rigoroso da despesa pública, auditando a dívida do país, sobretudo a externa, identificando com rigor as necessidades reais e os desperdícios da administração pública e salientando a necessidade de concentrar os recursos na esfera essencial das políticas públicas que combatem a exclusão social e a desigualdade, qualificam as pessoas e promovem a actividade produtiva, a competitividade e o crescimento da economia.

3. Afirmar que a educação, a saúde e a segurança social, bem como outros bens públicos essenciais como os correios, não podem ser objecto de privatização, fazendo da lógica lucrativa um mecanismo de regulação nestes domínios, visto que tal solução seria cara e insustentável financeiramente, levaria à exclusão de muitos e generalizaria injustiças sociais e regionais.

4. Recusar qualquer diminuição do papel do Estado no sector financeiro, sublinhando que a Caixa Geral de Depósitos deve permanecer integralmente pública e com uma missão renovada e que a regulação do sector terá mesmo de ser reforçada para evitar novos abusos.

Os signatários entendem que um compromisso deste tipo viabiliza as acções necessárias ao momento presente, capacita a sociedade para enfrentar positivamente as dificuldades e tem como objectivo tornar claro que, em circunstâncias graves, há direitos associados à dignidade do trabalho, ao respeito pelas pessoas e à garantia da coesão social que não podem ser postos em causa, sob pena de fragilizar gravemente o país e de eliminar qualquer capacidade própria de superar a situação dramática em que nos encontramos.

(Pode subscrever-se aqui. Eu subscrevo.)

quando certas coisas me cansam a mim, que devoro literatura negra, nem imagino quão devastador seja o seu efeito sobre cidadãos de alma pura


Ontem ouvi umas declarações do secretário-geral do PS sobre o "caso Nobre". Uma inutilidade - essas declarações. Já toda a gente percebeu o que se passou. E quem não percebeu é porque não quer perceber. Voltar a "explicar" tudo tintim por tintim é tratar os cidadãos como incapazes de perceber o que está à vista de todos. Que o líder do partido do governo desperdice tempo de antena com essas novelas, nesta altura do campeonato, como se fosse preciso mostrar às pessoas o que elas já viram, arrisca-se a ser interpretado como sinal de não ter nada de mais substantivo a dizer ao país. As pessoas não gostam disso. E está muito bem que não gostem.

É preciso largar a retórica do costume. O episódio pouco Nobre de um recente candidato presidencial embrulhado nas suas próprias fraquezas não passa, afinal, de uma amostra de um pecado generalizado na vida pública portuguesa (não só na política): o exercício voluptuoso da arrogância. Diz-se mal com demasiada pressa, faz-se de conta que a vida comum é fácil de levar e só corre mal por os outros serem tontos. Faz-se assim crer que "se fossemos nós" tudo seria fácil e escorreito. Nobre, com o seu discurso anti-partidos, e com este repentino volte-face, ilustra bem a coisa: os demais são culpados de todos os pecados; eu, se me puser no lugar deles, tenho, pelo contrário, direito a todas as interpretações favoráveis. É este emaranhado de arrogâncias que tem alimentado o fedor a ódio que tresanda na vida pública portuguesa.

Sócrates, que tem sido o principal alvo - vítima - da política de ódio que invadiu a vida pública portuguesa, pode ter a tentação de responder na mesma moeda. Até admito que tenha o direito de o fazer, já que não se lhe pode exigir que ofereça a outra face e é compreensível que queira que os outros provem uma gota que seja do veneno que lhe têm despejado em cima como dilúvio. Contudo, a meu ver não é disso que o país precisa nesta altura. O país precisa de quem seja capaz de reinventar a palavra no espaço público. Não a palavra de aparência poética mas sem conteúdo útil. Não a palavra da destruição, que essa está já em uso corrente. É preciso reinventar a palavra capaz de refrescar o laço social, a palavra capaz de virar os nossos olhos para o futuro comum, para o sonho concreto que seja possível. As próximas eleições, e a próxima campanha, não deveriam ser um ritual de desistência de nós próprios, mas um refrescamento das nossas cabeças e disposições.

Só poderá ganhar as próximas eleições quem perceba e pratique isso.


16.4.11

coisas que fazem muita falta em Portugal e talvez Passos Coelho nos consiga dar se lá chegar. ou não


A direita portuguesa é envergonhada. Ou tem vergonha de não ser propriamente social-democrata, ou tem vergonha de não ser bem democrata-cristã e nunca ter chegado a perceber a "doutrina social da Igreja", ou tem vergonha das duas coisas ao mesmo tempo - porque, no fundo, tem-se dedicado mais a "estar" do que a fazer. O resultado disso é que os únicos governos que tiveram condições para ser de direita-à-séria, os de Cavaco Silva, foram afinal apenas governos de gastar o dinheiro "da CEE" da forma mais acomodada possível, comprando acalmia com a ilusão de que "a torneira" tinha vindo para ficar.
Esta circunstância, aliada a um crónico medo do PS em tentar qualquer coisa que pareça demasiado arrojada para o lado da esquerda, teve um péssimo efeito sobre a política portuguesa: as pessoas estão convencidas que "os socialistas" e "a direita" são mais ou menos a mesma coisa. Esse "rotativismo" ameaça os próprios fundamentos do regime democrático. Parecia, inicialmente, que Passos Coelho vinha com vontade de mudar isto: ele teria, imaginava-se, um programa liberal em economia, que prometia romper a continuidade e desassossegar as pessoas, libertando as "forças ocultas da iniciativa individual" - e demónios associados. Isso teria uma grande vantagem: podermos incluir na história política da nossa democracia as feridas que a senhora Thatcher levou ao Reino Unido. As escolhas deixariam de ser tão teóricas, o termo de comparação com o que temos deixaria de ser apenas imaginário. Claro: o problema dessas "experiências sociais" é que elas custam caro, levam muitos anos a corrigir - e, entretanto, alguns atropelados nunca mais terão a sua oportunidade.
De qualquer modo, começo a suspeitar que nos vai escapar de novo essa oportunidade. Passos Coelho tem medo, quer mesmo ganhar as eleições com qualquer discurso e, por isso, anda a tentar esconder o seu programa com eufemismos. Até ensaia o expediente de ter um discurso em inglês e outro em português. Parece que não compreendeu que as revoluções radicais, com que ele às vezes sonhava antes de ir todos os dias à S. Caetano, são baseadas na frontalidade, na capacidade para assumir o programa. Não pode dizer que vai repensar a despesa com o emprego financiado por dinheiros públicos: tem de assumir que quer despedir funcionários públicos. O sangue só é vivo e queima as calçadas quando as pessoas o fazem com um propósito claro. Com as falinhas mansas com que Passos Coelho anda a encriptar o seu programa, a sua revolução vai ser pífia. Se calhar é pena: vai continuar a faltar-nos um módulo prático prático de introdução à governança. Ou não.


15.4.11

parabéns ao blogue Câmara Corporativa


Segundo este escrito, o tenebroso Miguel Abrantes, além do crime de andar sempre a escrever no Câmara Corporativa, terá também agora uma influência maléfica no The New York Times. Pelo menos parece ser a única explicação que o "articulista" (por assim dizer) encontra para se escreverem coisas naquele jornal, do outro lado do lago, que não colam com a sua (do "articulista") visão do "socratismo".

mensagens curtas para aquecer a crise no colo


Enrique Tabara (Equador), Shrubs, 1994


Pacheco Pereira revela ordem de silêncio a deputados do PSD sobre PEC4.

«O social-democrata Pacheco Pereira revelou na noite de quinta-feira no programa “Quadratura do Círculo”, na SICN, que no dia em que José Sócrates estava a negociar o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC4) em Bruxelas os deputados do PSD receberam uma mensagem em que lhes era pedido para não fazerem “nenhuma declaração” que “pudesse prejudicar as negociações”. "Não façam nenhuma declaração até logo à noite sobre a cimeira europeia", revelou Pacheco Pereira, salientando que este facto já era conhecido.»

liga europa


Vá. não se amofinem. Eu até rejubilei com o golo do Luisão, imaginem...


Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra.

e português-português, não há?


Universalizar a tradução automática.

«Um executivo português pega num telemóvel topo de gama para falar com um parceiro de negócios em França. Ambos carregam num botão no ecrã do aparelho para activar a funcionalidade de tradução automática. Cada um pode agora falar no conforto da sua língua mãe: o aparelho faz o reconhecimento de voz de cada um dos lados e uma voz computorizada traduz o discurso, em tempo real.»

Estão à espera de quê para inventar a tradução de português para português e vice-versa? (Quero dizer: português-de-Portugal de/para português-de-Portugal; entre portugueses e brasileiros ou moçambicanos não há problema, a gente entende-se.)


alguém conhece esta universidade?


Falta-me tempo (e às vezes falta-me paciência, engenho ou arte) para partilhar com os passantes por aqui certas pérolas que se vão encontrando pela blogosfera, seja por caixas de comentários, seja pelas primeiras páginas de blogues cheios da capacidade de dizerem o que lhes passa pela cabeça sem o menor receio do ridículo. Abro aqui uma excepção.
Aqui há tempos dei com um exaltado numa caixa de comentários que dizia que José Sócrates é tão mentiroso que, neste currículo que tinha feito chegar à Universidade de Columbia, tinha inventado um MBA que teria tirado numa universidade que nem sequer existe. A tal universidade que nem sequer existe chama-se Instituto Universitário de Lisboa (mencionado no tal currículo como Lisbon University Institute) e é, nem mais nem menos, o ISCTE. Que adoptou mais ou menos recentemente este nome.
Quando estas coisas são lançadas na espuma dos dias, alguém aproveita para esclarecer; perante o que, alguns mais envergonhados, fazem semblante de quem percebeu e calam-se com o disparate. Não obstante, alguns mais distraídos, ou mais renitentes a perceber o que não lhes convém, ou simplesmente mais desonestos, continuam pelas margens do mundo a repetir a calúnia. Uma e outra vez, sempre e sempre. No caso da "universidade que não existe", topei recentemente com um blogueiro e com um "comentador" no FB que voltavam à mesma conversa. Cheios de prosápia, os larápios da honra alheia continuam a ganir os seus ódios, mais ou menos às claras, mais ou menos nos cantinhos com mais sombra, mas sempre e ainda atacando os reservatórios de decência que tanta falta faz à coisa pública.

14.4.11

será mesmo impossível mudar as palavras?


Não pense que não tem nada a ver uma coisa com a outra... Não seremos, também, capazes de mudar as palavras da política portuguesa?


vemos, ouvimos e lemos: para que não se possa dizer que eu ignorei


Que se critique Passos Coelho e Fernando Nobre desta maneira, é uma javardice. (O "humor" não tem direito a tudo; muito menos o negócio do "humor" rasca.) Que gente decente aceite parecer que aplaude tal javardice, confundindo isso com política, é uma lástima.

(Às vezes fico triste com a blogosfera. Aliás, várias vezes tenho escrito que é um fenómeno incrível como gente normal, decente, inteligente, ponderada, quando afina os dedos para escrever num blogue, fica às vezes de repente tão fraca de forças que escorrega facilmente para uma escrita de segunda ordem capaz de efeitos muito perniciosos. Vou passar a chamar a isso o "efeito blogosténico".)

não, "eles" não são todos iguais


Cito José Reis Santos, no Diário Económico (12/04/2011):
Aparte as leituras sobre a responsabilidade de quem terá tido mais ou menos culpas na actual situação política nacional (até porque sinceramente delas ninguém poderá verdadeiramente esquivar-se), Sócrates procurou identificar o que poderá ser um debate interessante nestas eleições: que funções, hoje, deve ter o Estado neste cenário de crise económica e financeira mundial? E para o realçar individualizou as áreas da Saúde e da Educação, bem como a proposta de Passos Coelho para a privatização da Caixa Geral de Depósitos.
Este é um debate entre uma visão liberal e minimalista da sociedade, defendida por Passos Coelho, que pretende um Estado reduzido e com funções quase restritas às áreas da segurança e da representação externa (até porque as áreas económicas e financeiras estão cada vez mais em Bruxelas); e uma socialista moderna que entende que o Estado deve estar presente em mais áreas (nomeadamente nas sociais) e garantir, por exemplo, o acesso livre aos serviços de saúde e educação. E apesar de ser expectável que o PSD procure justificar esta visão minimal com o actual estado da economia portuguesa, na realidade estamos perante duas visões ideológicas bem distintas da sociedade.

Na íntegra: O tom e o debate.

"para dar a pessoas como eu um benefício fiscal de 200 mil dólares, eles vão obrigar 33 reformados a gastar mais seis mil dólares cada um em despesas de saúde"


O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mudou decisivamente o curso do debate sobre o Orçamento para 2012 e, de forma mais abrangente, sobre o futuro fiscal do país, ao defender a necessidade de reduzir de forma drástica o défice público através de uma receita ponderada de cortes na despesa e reformas fiscais, para que os sacrifícios sejam partilhados por todos.

Continuando a citar o Público:
Numa declaração ao país, Obama disse que quer diminuir o défice em quatro biliões (milhões de milhões) de dólares nos próximos 12 anos, até 2023. Esse é um objectivo realista e que pode ser cumprido, garantiu o Presidente, sem "pôr em causa a recuperação da economia, criando postos de trabalho e protegendo os investimentos necessários para o futuro".
Parte da intervenção de ontem foi pensada como resposta à versão de Orçamento para 2012 apresentada há uma semana pela maioria republicana na Câmara de Representantes: um ambicioso documento que reclama cortes draconianos de 6,2 biliões de dólares na despesa, prevê maiores benefícios fiscais para a parcela mais rica da população e prevê a privatização dos programas Medicaid e Medicare.
Obama não se desviou dessa agenda, e até concedeu que os republicanos têm razão em insistir na redução do défice. "Temos de viver dentro das nossas possibilidades, temos de reduzir o nosso endividamento", sublinhou. Mas depois tratou de demonstrar como as "ideias radicais" dos republicanos não servem o país - não podem sequer ser aplicadas com justiça, argumentou. "Para dar a pessoas como eu um benefício fiscal de 200 mil dólares, eles vão obrigar 33 reformados a gastar mais seis mil dólares cada um em despesas de saúde", exemplificou.
"Não podemos considerar sério um plano de redução de défice que prevê um bilião de dólares em benefícios fiscais para milionários e bilionários", criticou. "Todos temos de fazer sacrifícios, sem sacrificar o futuro da América", disse.
Não me venham dizer que a política não serve para nada. Não me venham dizer que são todos iguais. Não me venham dizer que não há diferença entre esquerda e direita.

Acredita Portugal | Realize o Seu Sonho


Tendo como missão "reforçar e desenvolver a confiança dos Portugueses e nos Portugueses", a associação Acredita Portugal promove o Concurso Realize o Seu Sonho, uma iniciativa que desafia os Portugueses a transformarem os seus sonhos/ideias num conceito de negócio, independentemente da sua formação académica ou idade. As inscrições são gratuitas e podem fazer aqui até 15 de Maio. Prémios até 60.000€.




eu não consigo explicar isto




Aqui ao lado, a sondagem: «Há assim uma diferença tão grande entre um telefonema e uma reunião de 4 horas?»

pronto, lá vem ele com a conversa da política do ódio


Acho que alguns leitores estranham a minha insistência em denunciar a "política do ódio" que por aí tem andado. Torno-me um chato, eu sei. Mas eu também não ando aqui para vos amenizar os dias, ando aqui para vos espicaçar. Para vos incomodar, mesmo. Hoje quero dar-vos um exemplo concreto do que quero dizer.

A política do ódio tem servido para substituir a política. A política do ódio não é criticar. Criticar, até criticar veementemente, "faz parte". Sarcasmo, ironia, picardias: tudo isso é condimento quando a comida é boa. "Política do ódio" é outra coisa: rasteira, difusa, generalizada, esquiva, insinuante mas fugindo tanto quanto possível à declaração escrutinável.
Convenhamos que a técnica usada contra Sócrates foi mais específica: o primeiro-ministro foi alvo de uma tentativa de criminalização. Tentaram fazer-nos crer que ele era um criminoso, recorrendo mesmo à conspiração (provada em tribunal) entre um político, um jornalista e um polícia para "parir" um processo concebido para o sentar no banco dos réus de um tribunal comum. Também tentaram tratá-lo como um criminoso político: quiseram convencer o país que ele mentira ao parlamento e gastaram horas infindas de trabalho parlamentar para isso. Para acabar em ar o que nunca fora mais consistente do que o ar. Gastaram-se anos de emporcalhamento da vida política a desmontar todas essas atoardas.
Mesmo assim, a política do ódio é outra coisa, mais popular, de consumo mais imediato, mais esquiva, mais vaga, mais babugem apenas. Querem um exemplo: leiam esta posta e respectiva caixa de comentários. Pelo nome, Albergue Espanhol, reconhecem logo a marca do passismo. Vejam bem que não há só gaivotas em terra, vejam bem como eles se vestem bem.
Já agora, para começar a responder à pergunta do tipo que não sabe para que tem servido o Partido Socialista, damos-lhe uma primeira pista. Assim só para começar, que tal o Serviço Nacional de Saúde?


1978 - O Despacho ministerial publicado em Diário da República, 2.ª série, de 29 de Julho de 1978, mais conhecido como o “Despacho Arnaut”, constitui uma verdadeira antecipação do SNS, na medida em que abre o acesso aos Serviços Médico-Sociais a todos os cidadãos, independentemente da sua capacidade contributiva. É garantida assim, pela primeira vez, a universalidade, generalidade e gratuitidade dos cuidados de saúde e a comparticipação medicamentosa.
História do Serviço Nacional de Saúde


cidadania, renovação, entrega à coisa pública - sim, mas sem exageros. que um marechal não pode ser rebaixado a mero capitão


Fernando Nobre renuncia caso não seja eleito Presidente da Assembleia da República.

Quer dizer: vai ser um falso candidato a deputado. Aparece na lista como candidato a deputado, mas se os eleitores não lhe derem o rebuçado a que ele se julga com direito, vai-se embora. Está, portanto, a gozar com a instituição parlamentar, com as eleições, com os eleitores. Não é o primeiro. Infelizmente, não há-de ser o último. Mas é triste.

'pera lá: hoje é 1 de Abril, não é?!


temos de continuar com janelas pequeninas ao canto



Assim o exige o calibre do filme.

(Cuidado, contém um actor que continua a chamar mentirosos aos outros.)



Zeca numa palavra


Joaquim Vieira dirigiu um documentário em três partes sobre José Afonso, o qual será exibido na RTP1 nos próximos dias 24, 25 e 26 deste mês, a seguir ao Telejornal (cerca das 21h00). A alguns dos entrevistados para o documentário "Maior que o Pensamento" foi pedido que resumissem a figura do artista numa única palavra. Daí resulta um segmento, que não fará parte do programa, pelo que só pode ser visto na rede. Ei-lo. Pensa tu também uma palavra para o Zeca.



12.4.11

programas: de muito pouco ou nada à proliferação desordenada


Nuno Morais Sarmento, no programa "Falar Claro" da Renascença, afirma, sobre a apresentação de Fernando Nobre como candidato a presidente da Assembleia da República, o seguinte: «O lugar de presidente da Assembleia da República é um lugar de intervenção passiva.» Está ele a tentar explicar que a escolha de Nobre para tal função é desadequada.
Ora, não é nada assim que Fernando Nobre entende as coisas. Segundo a edição de ontem do Diário Económico, Fernando Nobre «adiantou estar já a preparar um programa que submeterá aos futuros líderes parlamentares, "para gerar mais consensos, para reforçar o regime e a Democracia, para abrir novas oportunidades de auscultação e diálogo com os cidadãos"». Ah, agora os presidentes da Assembleia da República também têm programa... Com um pouco de jeito, ainda consegue inventar um governo de iniciativa presidencial... do presidente da Assembleia. Havia de ser bonito. (Ainda bem que Nobre não sabe quem serão os futuros líderes parlamentares, se não haveria de querer começar já a reunir com eles para lhes explicar o seu "programa".)

Vamos lá a ver se nos entendemos. Não tenho nada contra a chegada de independentes à política. Se Nobre tivesse andado a dizer este tempo todo que "a política precisa de renovação, os partidos precisam de renovação, isso faz-se com gente que vem de outras vidas, quando eu achar que é importante intervir darei a minha colaboração a um partido, aquele que na altura entender que está a fazer o melhor trabalho para o país" - se ele tivesse andado a dizer isto, a sua actual candidatura seria entendível. O que cheira mal é querer pular para número dois do Estado, poucos meses depois de se ter candidatado a número um, nas listas de um partido político cujas propostas actuais são o oposto daquilo que Nobre defendeu anteriormente, poucos dias depois de ter jurado a pés juntos que nem com uma mó ao pescoço faria tal coisa. Os mais gravosos contributos para a degradação da política vêm muitas vezes dos mais radicais críticos da política e dos políticos. Dito de outro modo: as supostas virgens são frequentemente fracas conselheiras de virtude, porque falam do que não sabem e acontece ficarem alucinadas quando lhes dão a provar da vida.

cenas dos próximos capítulos

Dennis Sibeijn, Verdade

Enquanto dizia lá fora que não tinha aprovado o PEC IV por este não ir suficientemente longe, ao mesmo tempo que dizia cá dentro que não aprovava o PEC IV porque não se podiam pedir mais sacrifícios aos portugueses; depois de Miguel Relvas passar aquela fatídica sexta-feira a dizer que o PSD não faltaria às suas responsabilidades apoiando todas as medidas que fossem necessárias para enfrentar a crise, Passos Coelho ao fim da noite dizia que não estava para aí virado e que o PEC IV iria ser chumbado. Principal desculpa: o governo não tinha passado cavaco ao principal partido da oposição, sem cujo apoio nada daquilo se poderia fazer. Assim nasceu mais um dos episódios da política do ódio em que o PSD tem mergulhado uma e outra vez: tinha sido esse silêncio desleal de Sócrates que tinha provocado a ruptura, de tal modo que o PSD não podia outra coisa se não chumbar o PEC e, retirando ao governo os meios de governar, empurrá-lo e abrir uma crise política. Depois veio a história do telefonema: Sócrates tinha falado, mas apenas um telefonema. Afinal, Passos Coelho esteve quatro horas a falar sobre o PEC IV com Sócrates. Afinal, o telefonema tinha sido só para combinar o encontro. Agora, Passos Coelho obstina-se em tentar dourar a pílula: eles falar, falaram; mas não negociaram. Uma vez que esta verdade-verdadinha de Passos Coelho vem a conta-gotas, esperemos sentados pelo resto da novela.

Não seria melhor acabar com as tentativas de disfarçar os problemas políticos com querelas pessoais (quantas vezes já acusaram Sócrates de mentiroso, para depois se vez que pinóquios são os que acusam?), assumir a necessidade de compromissos e criar outro tipo de corrida? Seria uma corrida a ver quem encontrava melhores pontos de convergência, melhores combinações de propostas à partida diferentes. Seria uma competição política pela positiva, tentando enterrar de vez esta manobra velha de seis anos que consiste em substituir o nobre combate político pelas tentativas de assassinato de carácter.