24.2.10

pois pois


Léon Ferrari, Declaración de la Academia Pontificia, da série L'Osservatore Romano, 18/03/2001

(colagem de papel impresso sobre papel impresso)

[Fotografado no Museo e Centro de Arte Rainha Sofia, Madrid, Dezembro de 2009]




gente que não se esconde / para que conste



Eduardo responde a Pacheco: Cada macaco no seu galho.


Sofia responde a Pacheco: Os novos Guardiões do Templo.


Obrigado, Eduardo. Obrigado, Sofia. Em vós saúdo o facto de que haja gente que não se esconde.

23.2.10

às vezes precisamos respirar um pouco

>


clicar na imagem para ir.
este mundo explora-se com o discreto botão "anterior" que se encontra lá bem ao fundo. 
obrigado, f.


outras coisas: relatório e contas



Dito (e visto) isto que aqui deixei antes, registo uma marca e mais uma outra marca que a coisa deixou lá por onde se andou. Com os meus agradecimentos.


Sócrates nos Sinais de Fogo



O jornal i escolhe três comentadores isentos e objectivos para se pronunciarem sobre a entrevista de José Sócrates, ontem na SIC, a Miguel Sousa Tavares. Há lá pérolas de análise política. Vejamos.
Maria Filomena Mónica, que confessa ter entrado a certa altura em estado de hibernação, diz de Rui Pedro Soares: "É possível que quem vê caras não veja... competências, mas olhando o rosto do rapazinho, alguém é capaz de justificar o salário que recebia?". Esta senhora assina um "depoimento" destes e apõe ao seu nome, nesse lugar, a condição de "socióloga". Há por aí patrões que também decidem o salário pela cara... da menina a contratar. É a esse nível que se coloca Maria Filomena Mónica neste sapiente comentário.
Vasco Graça Moura, que assina como escritor, o que é pena por como escritor ter valia, escreve: "Aquilo que ele faz para apresentar a situação económica do país em relação aos números que ele considera ser mais positivos que nos outros países da zona euro - Espanha, Grécia - é desmentido diariamente pela experiência de todos os portugueses". O senhor escritor não discute números, por isso não lhe interessar. O senhor escritor acha que as economias comparadas dos vários países são sentidas diariamente pelos portugueses. Quer dizer: ou os portugueses viajam diariamente por toda a zona euro, ou o senhor escritor leva o "achadismo" ao cúmulo ("eu acho que...") ou o senhor Moura não percebeu nada do que ouviu e pensa que os dados económicos são inventados da mesma maneira que ele escreve romances.
Maria João Avillez, outra peça deste trio de comentadores isentos e objectivos, diz que Sócrates foi "mais do mesmo, devolução obsessiva de acusações, negações, vitimizações. Tudo o que o país dispensava, nada do que o país necessita." A senhora Avillez gostaria que o PM se calasse à tormenta de mentiras de que tem sido alvo. É um gosto dela, ela lá sabe, deve fazer parte da sua isenção de jornalista e comentadora. Mas devia, pelo menos, lembrar-se de quem fez as perguntas a que Sócrates respondeu: o jornalista, não o entrevistado. E, já agora, ser pessoa suficiente para ter ouvido o PM falar do país quando lhe foi dada oportunidade. Mas Avillez, nessa altura, já devia estar a dormir. Talvez ela "ache" que é disso que o país precisa.
Estes três acima são aquilo a que o i chama "o nosso painel". Palmas para o i. As recentes aquisições para colunistas estão conformes com o elevado nível deste painel. Sem dúvida.


Assessores do Governo usam meios do Estado para encomendar pizzas e chamar táxis


Não resisto a roubar esta "notícia" ao Imprensa Falsa:
Depois de vir a público que há assessores do Governo a utilizar os computadores do Estado para enviar e-mails, chega agora a notícia de que também há assessores do Governo a encomendar pizzas e a chamar táxis através de telefones do Estado.

Segundo um blogger que só uma vez teve relações sexuais mas que não quer falar sobre isso porque ainda hoje sente o hálito quente do chimpazé no pescoço, há uma rede tentacular de pessoas que usam meios do Estado para encomendar pizzas e chamar táxis.

«Eu ontem ia no táxi e ouvi no rádio “chamada ao palácio de são bento, chamada ao palácio de são bento, retalis”. Nem queria acreditar… um funcionário do Estado a chamar um táxi à conta do contribuinte! Lá tive de me abraçar ao taxista para me confortar. Mas o senhor Aníbal contou-me que o filho, que trabalha nas Telepizza da Estrela, também é muitas vezes chamado a São Bento» comentou o blogger.

O Imprensa Falsa tentou durante toda a tarde contactar alguns assessores do Governo, mas foi-nos dito que “à tarde não vale a pena ligar porque está quase tudo a ligar para os concursos da TVI, sobretudo agora que há uns que dão cinco mil euros para se adivinhar que fruto é este: ban_na”.


a apresentação da candidatura de Fernando Nobre



A apresentação da candidatura de Fernando Nobre provocou reacções engraçadas.
Há quem, tendo estado mudo e quedo perante tanta coisa grave para o país, se lembre de falar quando Nobre se apresenta. Como se se sentisse ameaçado, não propriamente pelo estado do país, mas por uma intenção de candidatura presidencial.
Há quem acuse logo Nobre de vir "dividir". Dividir o quê? Tinha sido feito algum esforço de unir alguma coisa, a tal ponto de se falar, por contraponto, em dividir? Será que alguém pensa que o espaço das candidaturas presidenciais está reservado por batalhas passadas?
Há quem manifeste enormes esperanças em Nobre, à conta do seu passado em outras guerras. Coisa que me custa a compreender: o valor não se transfere automaticamente de umas guerras para outras. E Nobre, em tão poucos dias, já falou o suficiente para se perceber que ele pensa que banalidades velhas se transformam em novas mensagens só por saírem da sua boca.
O ponto, para mim, é o seguinte. A situação moral do país é tão complicada que precisamos de uma batalha política em campo aberto, que coloque todas as cartas na mesa e obrigue a tudo discutir. Fazer caixinha para tentar garantir vitórias antecipadas (ilusões, portanto) só pode adiar e agravar os problemas. Precisamos, provavelmente, de algo como aquela eleição presidencial em que Freitas do Amaral, pela direita, enfrentou uma esquerda multipolar (Zenha, Pintasilgo, Soares) - tendo sido dessa multipolaridade aberta, e não do conluio táctico, que resultou uma clarificação. Não estamos outra vez a precisar de uma clarificação?
A ideia de que vale tudo para destronar Cavaco Silva, que alguma esquerda parece comprar, é uma ideia perigosa - porque puramente negativa. Estou certo de que pode haver vitórias "de esquerda" mais perigosas para o "povo de esquerda" do que a própria reeleição de Cavaco Silva. Os piores adversários raramente chegam a ser tão perigosos como os maus aliados.



exportações: o estilo Durão Barroso


Ainda a propósito da nomeação do português João Vale de Almeida para "embaixador" da União Europeia em Washington, sobre a qual escrevemos aqui há dias, vale a pena anotar o que alguns outros sublinham em tal movimento.


18.2.10

outras coisas


Amanhã estarei em Portimão, na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, a convite do Grupo de Filosofia, nas XI Conferências de Filosofia, onde palestrarei sob o título "São eles que não são inteligentes ou nós que somos mesmo máquinas? Inteligência Artificial para Humanos e outras Máquinas."

Segue-se aperitivo.








Para enquadramento destes vídeos, ler aqui.

já que a "imprensa livre" não publica...



João Galamba publica todos os esclarecimentos que forneceu, a pedido de órgãos de comunicação social, sobre a telenovela dos blogues apoiantes dos socialistas. Ler aqui: Da verdadeira ética republicana.


eu não me escondo


A campanha "vamos proibir os socialistas de falar" continua em grande. Agora é a batalha de sujar a memória do SIMplex, um blogue que defendeu abertamente o PS nas últimas legislativas. Será uma vingança de outros projectos parecidos, do lado do PSD, como o blogue Jamais, que claramente não ficaram bem na fotografia do encontro? Será o troco dos que viram as suas manobras desmascaradas ao mais alto nível?
Como não sou do tipo de me esconder, cito aqui uma parte do meu último post no SIMplex, intitulado então, até segunda-feira num país perto de si, publicado no dia 25 de Setembro de 2009:

Pela primeira vez empenhei-me numa campanha política na blogosfera. Mais exactamente, numa campanha eleitoral. Agora, essa fase está de partida. Segunda-feira, dependendo do resultado das eleições, Portugal estará em melhores ou em piores condições para enfrentar os nossos desafios colectivos. Segunda-feira, seja qual for o resultado das eleições, a minha vida pessoal vai continuar aquilo que era antes. Não vou mudar de trabalho, não vou ser promovido nem despromovido, não vou ganhar um gabinete com melhor vista para o Tejo. E tenho orgulho em que assim seja. Honra-me ter estado ao lado de gente que faz o que a sua consciência lhe dita, sem que isso envolva qualquer tipo de retribuição pessoal. Nesta campanha isso fez cócegas a muita gente: àquela gente que, vivendo avençada, só compreende quem vive avençado. Que não é o nosso caso.

Este post de hoje é um abraço de solidariedade a todos os que se empenharam no SIMplex de boa fé, por ideais. O que, obviamente, não inclui aqueles - mais precisamente, aquele, no singular - que foi lá apagar os seus próprios posts para tentar chegar ao seu novo futuro com a caderneta limpa, prontinha para uma preparação apressada para o que ele julga ser o novo ciclo político.



a versão Público do Correio da Manhã


O Público de hoje copia o Correio da Manhã de ontem. Com um requinte: mostra a cara de Carlos Santos e dá-lhe a habitual medalha reservada aos parceiros de ódios (a setazinha para cima). Tirando a parte escabrosa, mantém-se tudo o que escrevi ontem. Espero a biografia não autorizada de Carlos Santos.


atentado ao estado de direito


Pinto Monteiro, PGR, hoje à Visão:
«Não encontrei, nem nenhum dos magistrados que comigo colaboraram encontraram indícios que apontem para o cometimento do crime de atentado ao Estado de Direito, que não foi certamente previsto para casos como este.»

«Para se poder falar desse crime [atentado ao Estado de Direito], é necessário que existam factos adequados a pôr em causa o Estado de Direito, apontando para a sua destruição, alteração ou subversão. E esses factos não existem.»

«(...) a divulgação total e completa das escutas (e não partes ou arranjos), se fosse permitida - que não é - mostraria que não existem indícios de crime contra o Estado de Direito.»

«(...) o chamado caso das escutas, no processo Face Oculta, é neste momento meramente político. Pretende-se conseguir determinados fins políticos utilizando para tal processos judiciários e as instituições competentes.»

A ler.

17.2.10

grandes portugueses / uma derrota de Barroso



Uma certa opinião publicada tem vibrado com a indicação de João Vale de Almeida (JVA), ex-chefe de gabinete de Barroso como presidente da Comissão Europeia (CE), para “embaixador” da União Europeia (UE) em Washington. É assim como se mais um português se impusesse ao mundo. O entusiasmo parece-me um bocado apressado.
JVA, actual (recém-nomeado) Director-Geral para as Relações Externas na Comissão Europeia, estaria nos projectos de Barroso para chefe do novo Serviço Diplomático Europeu. Seria a forma de o presidente da CE tentar controlar esse novo braço armado – de forma muito pessoal, digamos assim. Talvez Barroso confiasse em que a senhora Ashton fosse tão manipulável como ele desejaria – deixando correr o marfim.
Só que a senhora Ashton, “ministra dos negócios estrangeiros da UE”, tem um duplo chapéu: exerce essa função enquanto vice-presidente da CE e enquanto representante do Conselho (órgão onde deliberam os governos dos Estados Membros). E é britânica. E os britânicos não são do género de andar nas instâncias comunitárias a dizer mal uns dos outros, bem pelo contrário. E são muito dados a limitar os poderes da CE e a alargar o peso dos governos dos diferentes países.
Resultado: o lugar de “embaixador” da UE em Washington, que Barroso já tinha espalhado que iria ser o primeiro “doce” para um diplomata de peso oriundo de um Estado Membro, teve que ser usado para desocupar a trilha de chefe do serviço diplomático europeu. JVA vai para um exílio bastante dourado, é certo. Mas vai como penhor de uma derrota de Barroso perante a senhora Ashton.
Lamento desiludir os entusiasmados com a coisa.


(Uma boa achega aqui.)

é definitivo: proibido ser socialista

José Tavares, 1976, Arquivo Diário de Lisboa (daqui)

O Correio da Manhã publica hoje uma matéria apresentada assim: «Polémica. Governo montou rede de apoio na internet. Campanha com meios públicos.» A acusação básica é que o blogue SIMplex, criado para apoiar o PS nas últimas eleições legislativas, “foi alimentado com meios públicos usados a partir do Governo”, com “conteúdos fornecidos por um conjunto de assessores”, que “usaram o seu tempo, pago pelo erário público, meios informáticos e informação privilegiada para produzir propaganda” .
Vamos por partes.


Gente paga pelo erário público? Os membros do governo são pagos pelo erário público. Os deputados também. Os presidentes de câmara e os vereadores também. O mesmo para deputados europeus. E respectivos assessores. Quando o PM anda em campanha eleitoral, está a ser pago pelos dinheiros públicos. Quando chegar a vez de o PR fazer o mesmo, será do mesmo modo. Ou com deputados em exercício em campanha de recandidatura. O país paga a infra-estrutura da democracia, é assim em todo o lado onde há democracia, só não compreende isso quem preferia que o Estado fosse gerido por quem pudesse pagar do seu próprio bolso para exercer cargos políticos. Os assessores trabalham: o seu trabalho é político, a sua assessoria é política: quando o seu “político” titular vai à vida, eles vão à vida também. Só os salazarentos de serviço é que ainda exploram a repulsa anti-democrática pela política. Eu, que não sou assessor de ninguém, recebo uma bolsa: sou pago pelo erário público! Devo renunciar a escrever sobre política em blogues? E posso escrever sobre cinema e teatro, ou nem isso? Ou só posso publicar à noite, depois do horário de trabalho? Mas eu não tenho horário de trabalho! Terei de pedir autorização para escrever – ou até mesmo para pensar – em assuntos que não sejam “de serviço”? Estes tipos ultrapassam até a análise de Marx: quem me paga não compra só a minha força de trabalho, compra todo o meu tempo, não me deixando sequer margem para a reprodução do suporte orgânico da dita força de trabalho.

“Propaganda”, dizem eles. Essa só pode vir na linha da campanha da “verdade” do PSD de Pacheco Pereira nas últimas eleições. O PS, e o governo apoiado pelo PS, não deviam ter direito a apresentar as suas informações, nem os seus argumentos, nem a defender-se dos ataques múltiplos – porque isso é propaganda. Aquilo a que o CM chama “propaganda” é o exercício do debate democrático, tão-só. O que lhes dói é que tenha havido gente capaz de desmontar as mentiras sistemáticas avançadas por sectores para quem a derrota dos socialistas valia tudo. E mais: alguns blogues dizem verdades que jornais como o CM escondem, obliteram, ignoram. É isso que lhes custa?

Foram usados “meios informáticos do governo” para divulgar informação? Isso quer dizer o quê? Que os textos foram escritos num processador de texto chamado Word que estava no computador de trabalho do assessor X ou Y? Que as mensagens de correio electrónico foram enviadas do servidor de correio electrónico habitualmente usado por essas pessoas? E daí? As páginas do CM que estou a analisar chegaram-me, a meu pedido, digitalizadas. Crime: não comprei o jornal, alguém o digitalizou para mim. O monitor onde vi essas páginas é de um computador que não me pertence: crime? Em rigor, podia estar a trabalhar em “Robótica Institucionalista” em lugar de estar a escrever este texto: crime? Sequer criticável? Uma falha ética? Haja pachorra. Esta gente vive na idade da pedra, literalmente: parecem ser do tempo em que, se eu escrevesse na lousa do outro, só podia estar a usurpar o que não era meu.

Enfim, também sublinham que há blogueiros que escrevem sob pseudónimo. E daí? Há muitos outros blogues onde, por variadas razões, não é fácil saber quem são os seus autores. Isso é proibido? É criticável, porquê? Será só coscuvilhice doentia? Ou querem poder perseguir mais facilmente quem apoie o governo?

A única acusação séria que é feita é a de que o SIMplex teria usado “informação privilegiada”. Eu, que nem sou jurista, acho que isso quer dizer que foi usada informação que, devendo ser reservada por motivos legais a certas pessoas, foi disponibilizada a pessoas que não deviam ter acesso a ela. Essa acusação tem, pois, um contorno legal. Devia, então, ser circunstanciada: esperávamos exemplos de “informação privilegiada” abusada pelo SIMplex. Esses exemplos não são dados. Nada me faz crer que existam, mas aguardo.

Há, em destaques nas páginas desta novela, algumas pérolas exemplificativas da mente distorcida dos seus autores. Parece que no blogue Simplex se escreveu sobre coisas como o Magalhães e o TGV, óbvios temas de campanha eleitoral num blogue de campanha eleitoral. O CM acha que isso é notícia. Parece que no blogue Simplex se atacava a campanha de Ferreira Leite. O CM acha que isso é notícia. O blogue SIMplex defendia coisas que Ferreira leite atacava. E o CM acha que isso é notícia. Depois da campanha, foram criados outros blogues favoráveis ao governo. E o CM dá isso como notícia.

Acho que há aqui um outro problema: alguns jornais, habituados a determinar criteriosamente certo tipo de informações e análises que de modo algum deixam vir à luz do dia, mesmo conhecendo as matérias, ficam aborrecidos por haver hoje em dia blogues que são veículo alternativo a essa censura, encapotada ou nem tanto. Blogues que publicam, que argumentam, que opinam, que informam. Enquanto alguns jornais deitam poeira para os olhos. Ao CM e a outros jornais que temam a concorrência dos blogues, há que dizer: habituem-se.

Mas, no fundo, talvez haja outro problema aqui também: o CM diz que o material lhe foi mostrado por um dos membros do SIMplex. Quem será? Talvez algum candidato a notável que pensava que realmente nos iam pagar por escrevermos para o SIMplex, tendo ficado zangado quando os cheques nunca chegaram. Quem diz os cheques diz uma colunazinha num jornal de Lisboa ou qualquer outra tribuna onde mostrar a sua notável inteligência… Enfim, um tipo de fonte com que o CM deve saber lidar… Sempre houve gente a pretender ser sabedora de como lidar com as mudanças de ciclo político na perspectiva da gestão da carreira. Sempre houve “jornalistas” sabedores de como comer parolos ao pequeno-almoço. Com muito molho, claro.

(Declaração de interesses: eu fui, com muito prazer e honra, um dos autores do SIMplex.)

Ler ainda:
Escândalo: o governo faz política, por Pedro Adão e Silva, no Léxico Familiar
A Central, por Eduardo Pitta, no Da Literatura
A ética do bufo, por Rogério da Costa Pereira, no Jugular
Do 37º e 38º, por André Couto, no Delito de Opinião 
Chamar os bois pelos nomes, por Tomás Vasques, no hoje há conquilhas, amanhã não sabemos
Os ratos, por Tiago Barbosa Ribeiro, no Metapolítica
Dos métodos totalitários de propaganda, por Sofia Loureiro dos Santos, no Defender o Quadrado
De Salazar à república dos juízes procuradores, por Miguel Abrantes, no Câmara Corporativa
A espuma dos dias, por Vasco M. Barreto, no Aparelho de Estado
Da ética, por Luís Novaes Tito, no A barbearia do senhor Luís 
Da ética republicana ou qualquer outra, por Francisco Clamote, no Terra dos Espantos

e ainda
O país onde vivemos, por José Reis Santos, no Blogue de Esquerda


eu façarei, tu façarás, ele façará



Cavaco Silva, em declarações sobre o actual momento do PSD: «Há uma coisa que um Presidente da República nunca pode fazer, que é de comentar em público a vida dos partidos políticos. Nunca o fiz, nem faço, nem façarei.»
O meu corrector ortográfico e gramatical está aos urros... por que será? Não terá gostado da pequena frase cavaquiana?
(ouvir na TSF, pode ser que eu tenha entendido mal)
(via Palmira)


16.2.10

Precious, o filme


Precious, de Lee Daniels, é um filme sobre desgraças bem reais. Nada de novo: nem a dependência, nem o abuso, nem a separação das comunidades, nem a espiral de violência que se auto-alimenta, nem o facto de os "bons" serem sempre os bonitos e os limpinhos, nem a lagriminha previsível (nada contra a lagriminha: também a verto quando dá o caso), nem a indiferença que espreita, nem a coragem que também há. Estão lá todos os ingredientes de uma receita conhecida, é certo. Mas as vítimas merecem que se insista no seu caso. E, neste filme, Gabourey Sidibe, que faz de Clareece "Precious" Jones, a adolescente obesa, iletrada, mãe solteira e grávida que vive em Harlem - vale pelo filme todo.






15.2.10

A Regra do Jogo


Construída por Claude Elwood Shannon - o inventor da palavra "bit" e pioneiro da idade da informação - esta é "The Ultimate Machine" - e é absolutamente PERFEITA !!




A Regra do Jogo


Tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta.


Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica à espreita.


Tão ladrão é que vai ao nabal como o que fica ao portal.


Pela democracia, nós tomamos partido

MANIFESTO

Vivemos tempos que impõem uma tomada de posição. O que se está a passar em Portugal representa uma completa subversão do regime democrático. Os sinais avolumam-se diariamente e procuram criar as condições para impor ao país uma solução rejeitada nas urnas pelos portugueses.

Com base numa suposta preocupação com a «liberdade de expressão», que não está nem nunca esteve em causa, um conjunto de pessoas tem fomentado a prática de actos nada dignos, ao mesmo tempo que pulverizam direitos, liberdades e garantias. É preciso recordar: à Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política.

Num País, como o nosso, em que os meios de comunicação social são livres e independentes, parte da imprensa desencadeou uma campanha brutal contra um Primeiro-Ministro eleito, violando a deontologia jornalística, as regras do equilíbrio democrático e as bases em que assenta um Estado de Direito, em particular o sistema de justiça. Reconhecemos, e verifica-se, uma campanha diária, sistemática e devidamente organizada, que corresponde a uma agenda política contrária ao PS e que se dissolve tacticamente na defesa de uma suposta liberdade cujos autores são os primeiros a desrespeitar.

Não aceitamos ser instrumentalizados por quem pretende que um Primeiro-Ministro seja constituído arguido nas páginas dos jornais, tal como já aconteceu noutras ocasiões num passado recente, alimentando um chocante julgamento popular que tem por base a violação dos direitos individuais e a construção de uma tese baseada em factos aleatórios, suspeições e vinganças pessoais.

Defendemos o interesse público e o sistema democrático para lá de qualquer agenda partidária. Os primeiros signatários são militantes do PS mas redigem este manifesto na qualidade de democratas sem reservas, abrindo-o a todos os portugueses que queiram associar-se a um repúdio público pelo que se está a passar. Recusamos esta progressiva degenerescência das regras do Estado de Direito e não aceitamos que se procure derrotar por meios nada lícitos um Governo eleito pelos portugueses, nem tão pouco que se procure substituir o sistema de Justiça por um sistema de julgamento mediático.

Pela democracia e pelo respeito da vontade popular, nós tomamos partido.



Os primeiros signatários,
Tiago Barbosa Ribeiro e Carlos Manuel Castro

Porto e Lisboa, 13 de Fevereiro de 2010


NOTA: Os comentários ao Manifesto não constituem uma subscrição, que deverá ser feita neste link.

última hora: PSD


O apelo de Alexandre Relvas a José Pedro Aguiar-Branco e a Paulo Rangel foi ouvido. Mas de forma descoordenada: ambos desistiram das respectivas candidaturas à presidência do PSD.
Pedro Passos Coelho, que quer competição, pretende agora obrigar Ângelo Correia a candidatar-se contra ele.


ficarei no silêncio necessário à escrita





Andrew Polushkin, In Passing Sketches (street photography), 2004-2008

14.2.10

ainda há quem os tenha no sítio (os neurónios)


António Chora, dirigente do Bloco de Esquerda:
«O mundo mudou, as indústrias mudaram, e os Sindicatos têm que mudar. Foi assim em boa parte do mundo, mas em Portugal, no sindicalismo, como nas associações patronais, ficámos agarrados ao passado.
O Patronato manteve-se o mais retrógrado de toda a Europa, os Sindicatos os mais marcados ideologicamente pelo sistema sindical que implodiu com o dito socialismo real do Leste.»
Convém ler tudo aqui.

(agradeço a dica ao João Galamba)

os polícias sempre foram grandes exegetas



«Segundo o PÚBLICO apurou, a informação publicada pelo Sol faz efectivamente parte do processo Face Oculta. Contudo, quanto às suspeitas de um crime de atentado contra o Estado de Direito, não existem escutas transcritas, mas apenas relatórios de intercepções dessas escutas. Isso significa que não há uma transcrição literal das conversas escutadas, mas apenas resumos elaborados por inspectores da PJ que ouviram as intercepções telefónicas, sendo provavelmente esse relatórios que o semanário cita entre aspas.»


nem tudo é literatura


Eduardo Pitta, no Da Literatura:
Sejamos claros: o actual impasse político não leva a lado nenhum. Nem com Fontes Luminosas, sejam elas promovidas por quem forem, nem a assobiar para o lado com o beneplácito do Presidente da República. Sócrates devia apresentar uma moção de confiança ao Parlamento no dia seguinte à aprovação do OE na especialidade. Se a oposição não tem fibra para aprovar uma moção de censura, o governo deve dar um passo em frente. Assim como assim, o mundo não acaba se tivermos eleições entre o fim de Maio e meados de Junho (cumpridos de forma expedita os prazos constitucionais). Chafurdar no lodaçal é pura perda de tempo.
Texto completo: Eleições, com certeza.

bandeira nacional




Grupo Puzzle, Bandeira Nacional, acrílico e colagem sobre tela, 1976
(Albuquerque Mendes, Armando Azevedo, Carlos Carreiro, Dario Alves, Graça Morais, Jaime Silva, João Dixo, Pedro Rocha, Fernando Pinto Coelho)


13.2.10

paladinos da liberdade de imprensa

O semanário SOL é um grande defensor da liberdade de imprensa. Neste país, Portugal, onde as liberdades estão ameaçadas pelo maléfico Sócrates e quejandos.
O semanário SOL, na edição para Angola do seu último número, omitiu duas das páginas dessa "reportagem" sobre as escutas ao "polvo". Estavam, nas páginas omitidas, transcrições que envolvem Joaquim Oliveira, sócio de Isabel dos Santos na ZON. Alguém imagina quem seja Isabel dos Santos? Alguém faz ideia das razões para este desaparecimento de duas páginas? Parece que a direcção do SOL diz que foram "motivos técnicos".
São muito corajosos, mas é em países ditatoriais, como Portugal. Em países livres, como Angola, já são mais cuidadosos com as filhas do presidente.

(Lido na primeira página do Expresso de hoje.)


pensar mais à frente


Valupi, no Aspirina B:
«[...]os debates políticos obedecem a códigos tácitos onde se representa o adversário como inimigo, não como parceiro de solução. Esta lógica de conquista e ocupação do espaço governativo por exclusão, num qualquer futuro, será vista como arcaica. Corresponde a um absurdo económico, pois esbanja inutilmente recursos intelectuais ao não procurar consensos.»
Ler tudo aqui.


12.2.10

as duas Judites (de Sousa)


O Jumento pede para compararmos a Judite de Sousa que ontem tratou com uma agressividade despropositada o presidente do Supremo Tribunal de Justiça e a outra Judite de Sousa que fazia carinhos a Manuela Ferreira Leite no final de uma entrevista ("foi gira esta última pergunta, não foi?").



e alegre se fez triste



No meio desta tempestade toda, depois disto, o que tem a dizer o único candidato a Presidente da República que já está no terreno, por vontade própria e sem ter sido empurrado por ninguém?


coz(s)er o polvo


Sugiro a leitura de um post do 31 da Armada. Autor: Francisco Proença de Carvalho. Título: O outro polvo.


polvo



"A imprensa não percebe nada de cozinha. O polvo nunca se coze em lume brando. Fica tipo borracha." (comentário a este post)


dedicatória


Aos que acham que se podia "falar menos de política".


Por Chema Madoz

hermenêutica / André Macedo


René Magritte, Le Viol, c. 1934

O editorial do i , hoje assinado por André Macedo e intitulado O país entre o heroísmo e os animais acossados, termina assim: "Não há nada pior do que um animal acossado. Sócrates tem andado assim no último ano e meio. Veja como está o país."

Para o meu fraco entendimento, este grand finale é misterioso. Usa uma construção que deixa uma dúvida fundamental acerca do destinatário do apelo contido na última frase. A quem se pede que "veja como está o país"? A nós, leitores, é-nos pedido que avaliemos o resultado de ano e meio de acosso ao PM? Ou é pedido ao PM que, ele mesmo, avalie o resultado para o país de ele estar acossado há ano e meio? A diferença está no seguinte - e por isso importa a interpretação: se somos nós, leitores, os convocados, então o ano e meio de acosso é posto perante gente que, em princípio, não tem aí qualquer responsabilidade; se é ao PM que a fala se dirige, essa invocação toma o ar de uma interpelação sugestivamente incriminatória, de uma exigência de justificação, até de uma censura de fundo e com retrospectiva.
Ora, não me parece defensável que se peça à vítima deste longo e intenso acosso que responda pelos autores do assédio. Esta é a razão pela qual julgo negativamente aquela construção ambígua, por ter ela o efeito de colocar quem vitima e quem é vitimado no mesmo plano. Em democracia precisamos de métodos democráticos, também para julgar os actos dos políticos, que não se traduzam no assassinato pelo método da nuvem de fumo. Nesse método não há defesa, não há fuga, não há responsabilidade, não há verdade.
E, sim, o país paga caro por isso. É preciso é saber a quem é justo passar a factura. Em vez de a distribuir ao modo de Pilatos, para rejubilo da turba.


palavra de Sofia



Manter a lucidez, ver o essencial.
(http://defenderoquadrado.blogs.sapo.pt/615537.html)


a cena patriótica de Nuno Melo...



... no Parlamento Europeu parece que não foi ouvida com muita atenção lá fora. Devem ser esses governos e financeiros da Europa que estão todos comprados pelo governo português.

Vítor Constâncio vai ficar com a supervisão financeira do BCE.


expectativas



A 20 de Outubro passado, à espera da entrada deste governo, escrevi este texto: Expectativas. O Pacto para o Emprego. Passados uns meros três meses, parece uma expectativa de outro mundo. Um delírio. Uma boa medida, acho eu, do estado de loucura geral em que vive este país. A crédito de quem? pergunto eu.


[ Foi então que te vi inteiriçado ]


Foi então que te vi inteiriçado
em facas.


Os teus olhos abriam dois
buracos na manhã.
E de aí um medo antigo de
tropeçar


na primitiva e inominável insolência
do teu abandono.

Eduardo Pitta

aulas gratuitas com assistência


Judite de Sousa acabou de receber uma lição de Estado de Direito, de borla, pela voz própria de Noronha do Nascimento. Duvido que ela seja senhora para aprender com o que ouviu, mas era capaz de lhe fazer bem. Escapatória: fazer uma espécie de resumo em que o importante é que "Cavaco não consta". Desta feita foi mesmo uma Grande Entrevista. Graças ao Presidente do Supremo, que não se vergou nem um segundo ao politicamente correcto.

a providência divina (perdão, cautelar)


Há muito por aí quem grite mas não me mereça crédito. Tomás Vasques merece-me crédito, tenho de considerar os seus argumentos. Escreve ele, no hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, a propósito da providência cautelar sobre o Sol:

Contudo, sou de opinião que uma providencial cautelar destinada a «impedir a publicação de…», independentemente da decisão judicial final sobre o pedido, provoca sempre o efeito contrário ao desejado. Sempre provocou, mas nos tempos que correm, numa sociedade hipermediatizada, a «publicação de…» é impossível de impedir e só amplia a sua divulgação.

Vasques tem seguramente razão sobre o efeito da iniciativa. Efeito mediático. Claro, fica mal, é fácil de atacar, deixa os autores sob suspeita geral. Mas, Caro Tomás, isso não é tudo na vida. Dessa armadilha têm consciência os que provocam a situação: sabem que ganham em todos os tabuleiros, no que toca a publicidade gratuita e no que toca a vendas futuras, façam os outros o que fizerem. Mas as vítimas, Tomás, as vítimas: quem lhes pode pedir o sacrifício de não reagir? Tens razão na questão táctica, na questão de fundo suponho serem ponderáveis outros valores.
Claro, Tomás, nesta área temos mesmo de ficar incomodados com a necessidade de chegar a este ponto para fazer respeitar a lei. Mas, por outro lado, os visados - insisto, as vítimas, que são vítimas desta forma de proceder mesmo que sejam culpados do que se lhes aponta - os visados têm simplesmente de comer e calar, qualquer que seja a ignomínia? E se fosses tu, Tomás, e se fosses tu?

polaroid


Às vezes basta pouco para definir uma pessoa.
Escrevi esta manhã um post onde criticava (de passagem) uma forma de expressão ocorrida numa peça do jornalista PPM na edição de hoje do i. Também - aí já por causa do ponto que me interessava - fui participar numa troca de comentários neste post d' O Insurgente. Troca civilizada, em geral. Não obstante...
...o mesmo PPM foi lá para me dirigir a seguinte fala: «O Porfírio faz o quê na vida para eu poder dizer que é bom em qualquer coisa?».
Este simples, breve e espontâneo gesto de PPM é interessante. Porque:
(1) PPM não discute política, sequer língua portuguesa, sem se arrogar o direito de pedir o BI ao interlocutor. O BI ou o CV. Talvez também o certificado de registo criminal. Se calhar também aquela coisa que diz que fui à tropa. (Não diz.) Suponho que PPM acha que, no caso dele, as credenciais estão apresentadas por natureza.
(2) PPM acha, não sei bem a que título, que ele é competente para (e capaz de) me avaliar (dizer se eu sou bom em alguma coisa, na expressão dele). Para seu esclarecimento, a minha subsistência depende de quem me avalia, gente que eu nem escolho. E não invoco, como outros, que a avaliação me perturba psicologicamente. Mas mantenho o direito de me rir muito da sua reivindicação de poder ser meu avaliador. Instantâneo, ainda por cima.
(3) A reacção de PPM talvez seja de puro e genuíno espanto por, enquanto ele se preocupa com questões importantes e gente de peso, aparecer um anónimo qualquer, como eu, a ousar criticá-lo, mesmo que incidentalmente. Isso diz alguma sobre o estado do círculo de intervenientes na coisa pública. Talvez se surpreendesse menos se eu usasse o estilo dos comentários mais frequentes nos sítios em linha dos jornais. Mas não: que se há-de fazer?
Gosto muito de instantâneos. Retratos instantâneos, quero eu dizer. Mesmo que sejam pequeninos. Tipo 3 por 5. Centímetros. Os instantâneos, claro.

Mandela



Mandela saiu em liberdade há 20 anos.


bom jornalismo



O jornalista Paulo Pinto Mascarenhas veio à caixa de comentários deste blogue reinventar a língua portuguesa - mas fora de qualquer acordo ortográfico. É a propósito do meu post anterior, e de saber se Nixon se demitiu (o que foi o caso) ou se foi destituído (o que não foi o caso). Escreve ele: "o comentador Porfírio Silva deve decerto saber que escrever que alguém foi destituído das suas funções não quer dizer que tenha sido por outrém. Ou seja, Nixon ao demitir-se foi destituído das suas funções."
Aplausos, PPM, aplausos. Clap, clap, clap. Mas que grande folgazão!
Olhe, PPM, agora a sério: isso é como se, tendo eu morrido pacatamente e pela força dos dias que passam, alguém dissesse que eu tinha sido assassinado... pela morte natural.
Ainda para mais quando Nixon se demitiu... para não ser destituído ou demitido ou exonerado, porque as distinções são aí mais técnicas. O que não é nada técnico é que Nixon foi pelo seu próprio pé, para evitar o processo de ser levado à porta, de depois da porta encontrar outras prendas, como seria o julgamento pelos seus actos criminosos. Nixon demitiu-se para evitar as consequências da destituição e como parte de um pacote de "controlo" da situação, que incluiu o perdão presidencial de Gerald Ford.

trapalhice


O jornalista PPM publica hoje no i uma peça sobre a petição "Todos Pela Liberdade", que, de passagem, serve para dar a saber da concentração marcada debaixo da mesma bandeira. A peça inclui, no título, uma expressão entre aspas: "O presidente Nixon também não foi preso". O texto não esclarece quem terá proferido essa afirmação, citada entre aspas. Valeria a pena (já lá vamos).
O próprio jornalista parece baralhar um bocado os narizes: apesar de citar Henrique Raposo a dizer que "Nixon não foi preso mas teve de se demitir", o que é verdade, PPM acrescenta que "Nixon foi destituído das suas funções depois do caso Watergate". Afinal, demitiu-se ou foi destituído? Demitiu-se, mas PPM não vê dificuldades nos pormenores.
Voltando ao ponto: "O presidente Nixon também não foi preso", uma citação cuja paternidade não parece claramente atribuída, mas que é capaz de ser devida ao único entrevistado na peça que menciona Nixon, a saber, Henrique Raposo. Ora, esse dizer merece esclarecimento. Nixon não foi preso porque foi perdoado pelo presidente seguinte, Gerald Ford. Ford, sendo o vice-presidente de Nixon, foi presidente graças à demissão de Nixon. E deu-lhe o seu perdão por qualquer crime que tivesse cometido. Na verdade, não fosse esse perdão político, Nixon poderia mesmo ter sido condenado e preso. Porque, ao que se sabe, Nixon cometeu mesmo crimes graves.
É nesse ponto que tudo é diferente. É esse ponto que os peticionários querem obscurecer. E isso não deixa de ser assim por haver por lá militantes do PS zangados por nunca terem sido ministros. A mentira não passa a ser verdade por causa da molhada. Nem por causa de a mentira invocar causas nobres.

apostas


Aos que pensam que Pedro Passos Coelho está mal preparado para ser presidente do PSD: esperem para ver Paulo Rangel mais do que fugazmente e vereis como sois injustos.


pequeno título



Na capa da Visão de hoje: "Mário Crespo: Alegre enviou-me sms de solidariedade."
Morreu-lhe alguém?


só raia chaves


Sim, no passado fim de semana fui ver A Bela e o Paparazzo, último filme (em data) de António-Pedro Vasconcelos. Rapidinho, que se faz tarde, meia dúzia de palavrinhas. Foi o primeiro filme que vi onde entre aquela rapariga que a minha mulher diz que é muito expressiva corporalmente: nota-se que tem estudado qualquer coisa; mais tarde ou mais cedo terá um grande papel. A história não é mais tonta do que tantas histórias banais. O trio de rapazes da casa, com o Markl à cabeça a declarar a independência, é o único núcleo de verosimilhança narrativa do filme. E já dá muito que entreter. Entretenimento. Adiante, que vem aí o Rangel e os outros. Desculpem qualquer coisinha.



10.2.10

razões para Paulo Rangel



Paulo Rangel, recente cabeça-de-lista do PSD para o Parlamento Europeu, candidata-se a presidente do PSD. Vejo razões para este acto. Diziam-me hoje à tarde de Bruxelas que nevava e estavam seis graus negativos. Celsius, os graus.

Aguiar-Branco também se candidata a líder do PSD. Para este acto, já não vejo qualquer razão.

Mas há quem veja. Ou espreite.

Durão Barroso paga a dívida


O eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, afirmou em Estrasburgo: «Pela forma que estamos a andar, Portugal já não é um Estado de direito.»

Segundo o Expresso e outros, Paulo Rangel anuncia às 20h a candidatura a presidente do PSD.

Durão Barroso prepara-se para pagar a José Sócrates o apoio que o PM tem dado ao presidente da Comissão Europeia.


os casos são feitos para morrer

O Freeport está mudo, porque não havia nele afinal nada do que interessa aos falsos moralistas da coligação negativa. Mas, a seu tempo, era uma "evidência". Uma evidência para os que acreditam em aparições na Cova da Iria ao jeito de O Milagre segundo Salomé. Outros casos estão esquecidos por não serem da cor escolhida para esta guerra civil em curso (formato nihilismo). A senhora de Sexta à Noite, que foi andando por dar mau nome à casa, recolhe donativos para a coroa de mártir e vai picando os dedos todos para manchar o lençol que provará a virgindade. E o país, sem problemas, agradece o circo. Que o pão, esse, não.




este não é candidato a presidente do PSD



O i titula que "Sócrates insiste que PT não informou Governo sobre intenção de comprar a TVI".

Mas é Sócrates que insiste?!

Dêmos a palavra ao presidente do Conselho de Administração da PT, Henrique Granadeiro: "Reitero (...) que não recebi nenhuma indicação, quer directa, quer indirecta, do primeiro-ministro ou do ministro das Obras Públicas. (...) A decisão que nós tomámos, e que foi comunicada ao mercado, foi tomada única e exclusivamente por motivos de oportunidade de negócio. Quando a possibilidade se desfez, porque não chegámos a acordo, comunicámos ao mercado através da CMVM." (aqui)


estupidez científica



A propósito dos afídeos, uns insectos minúsculos que se alimentam da seiva das plantas e que exibem um comportamento social, escreve-se hoje no i que há uns cientistas perturbados por esses bichinhos exibirem um aparente altruísmo. Diz um deles: "Estamos interessados em perceber por que razão os animais são simpáticos para os outros - porque mostram um comportamento social. É intrigante porque, quando há uma luta feroz por recursos, ajudar os outros parece um jogo estúpido." Estupidez é o individualismo cego, e pouco científico, que contamina estes cientistas.


9.2.10

a urgência



O relato do Sol sobre as "escutas proibidas" avança uma justificação para uma alegada pressa na concretização do negócio da TVI, por sua vez explicativa de certa celeridade em determinados actos processuais: o facto de se estar "a três meses das eleições legislativas". Seria essa proximidade das eleições justificação, também, para o modo de agir do polícia, do procurador e do juiz?


divina trindade



Um polícia, um procurador da República e um juiz – Deus é uno e trino, segundo a melhor teologia – viram o perigo avançar e mobilizaram-se contra o Maligno. Uma das três pessoas divinas, desse reino dos céus que fica para os lados do leitão da Bairrada, o procurador viu assim a coisa: “um plano governamental para controlo dos meios de comunicação social visando limitar as liberdades de expressão e informação a fim de condicionar a expressão eleitoral através de uma rede instalada nas grandes empresas e no sistema bancário”. Mesmo naquele recorte de escutas, tão bem recortada pelas duas senhoras jornalistas, não vejo nada que pudesse resultar em condicionamento da expressão eleitoral. A não que o Jornal de Sexta fosse, em si mesmo, uma peça tão importante de um plano eleitoral que a partida de Manuela constituísse uma forte alteração da condições eleitorais. Seria isso?

a rede



Uma expressão relevante nas peças do "processo" de atentado ao Estado de Direito por parte do Governo (ou "caso Sol nasce em Aveiro") é aquela coisa da “rede instalada em grandes empresas e no sistema bancário”. Traduzindo: trata-se da ignomínia que constitui a presença de gente do PS nesses meios. É crime, ou pelo menos suspeito, que dirigentes do PS sejam empresários, administradores de empresas ou altos quadros – porque o natural seria que todos esses lugares fossem ocupados por duques, condes ou marqueses, ou, pelo menos, por gente dos partidos decentes, necessariamente da direita, dos que se sacrificavam por esses encargos. Os dirigentes do PS, por definição, deviam, quando muito, ser dirigentes de cooperativas ou de associações recreativas. Tudo o mais coloca-os logo sob suspeita: andarem por aí a fazer negócios, onde se encontram em mesas de conselhos de administração? Só pode ser tramóia. Se dirigentes do PSD ou do CDS se encontrarem nas mesmas mesas, e fizerem igualmente negócios, estão a fazer o seu trabalho. Já dirigentes do PCP e do BE supõe-se, mesmo que se encontrem a essas mesmas mesas, estarem lá para boicotar o capitalismo, a mais ou menos longo prazo. O que, enfim, se compreende. Agora, tipos do PS, nessas mesas, é que não. Isso faz uma "rede". "Instalada", claro.


as escutas proibidas



Consegui, finalmente, ler o Sol e a coisa das escutas proibidas. Há por lá muitas pérolas. Comentaremos algumas nos intervalos. Entretanto, só esta anotação. As senhoras que editam o texto das escutas, a certo ponto, comentam assim uma afirmação de Rui Pedro Soares e Paulo Penedos: «O ego dos dois é enorme (...)». Parecem as senhoras, momentaneamente, aperceber-se de que não podem dar crédito total ao que aqueles dois dizem entre si. Isso não as impede de, em tudo o resto, considerar sagrada a palavra dos tais dois do ego enorme. Sempre que isso seja para sugerir qualquer mão suja a Sócrates, já não há dúvida que lhes ensombre o espírito.


liberdade de imprensa


Basta andar pela rua e ver os escaparates dos quiosques de jornais para perceber que a imprensa não é livre em Portugal. E só títulos a tecer loas ao governo. E críticas aos governantes, nenhuma, em jornal nenhum.
Além do mais, os grandes patrões da comunicação social são todos históricos do PS, enquanto os meios da oposição não têm acesso, sequer, a uma grande televisão. Veja-se o caso de Pinto Balsemão, esse grande socialista.
Na verdade, um socialista bom é um socialista silenciado. Como é sabido, é histórico que seja a direita a mandar nas empresas, nos bancos, nessas coisas que interessam. Mexer nisso, ou sequer pensar em mexer nisso, ou mesmo que seja falar nisso em privado, deve ser duramente causticado.
Ou não será assim?

8.2.10

fogos / destinos / visões / fábulas


Jules Bastien-Lepage, Joan of Arc (1879)
(@ The Metropolitan Museum of Art, New York)

6.2.10

Leonard Cohen - Joan of Arc




Now the flames they followed Joan of Arc
as she came riding through the dark;
no moon to keep her armour bright,
no man to get her through this very smoky night.
She said, "I'm tired of the war,
I want the kind of work I had before,
a wedding dress or something white
to wear upon my swollen appetite."

Well, I'm glad to hear you talk this way,
you know I've watched you riding every day
and something in me yearns to win
such a cold and lonesome heroine.
"And who are you?" she sternly spoke
to the one beneath the smoke.
"Why, I'm fire," he replied,
"And I love your solitude, I love your pride."

"Then fire, make your body cold,
I'm going to give you mine to hold,"
saying this she climbed inside
to be his one, to be his only bride.
And deep into his fiery heart
he took the dust of Joan of Arc,
and high above the wedding guests
he hung the ashes of her wedding dress.

It was deep into his fiery heart
he took the dust of Joan of Arc,
and then she clearly understood
if he was fire, oh then she must be wood.
I saw her wince, I saw her cry,
I saw the glory in her eye.
Myself I long for love and light,
but must it come so cruel, and oh so bright?


A liberdade e os seus falsos amigos



Não sei quando é que se cunhou a ideia de que se "se vivem tempos maus para a liberdade de expressão". Não me lembro por exemplo de ter ouvido tal coisa quando o jornalista João Carreira Bom foi dispensado do Expresso por ter escrito uma crónica a chamar rei do tele-lixo a Balsemão - crónica que o então director do Expresso (agora no Sol) disse só ter sido publicada por não a ter lido antes. Ou quando Joaquim Vieira saiu do mesmo jornal por, segundo ele, divergências com o director em relação à redacção de uma notícia sobre Joe Berardo, anunciado accionista da SIC. Ou quando em 2008 Dóris Graça Dias denunciou a não publicação de um seu texto sobre um romance de Miguel Sousa Tavares, cronista do jornal.

Os três casos, mais aquele que ocorreu no DN quando em Agosto de 2004 a direcção de Fernando Lima decidiu não publicar uma crónica minha por ser "política", podem ser qualificados como clássicos atentados à liberdade de expressão. Foram até denunciados como "censura". No entanto, não só não foram pretexto para caracterização de "um clima" como parecem, inexplicavelmente, ter-se varrido da memória dos que, caso do director actual do Expresso, declaram nunca ter visto ou feito algo de parecido.

Quando Henrique Monteiro, que recusou a publicação de uma crítica literária alegando "não se tratar de uma crítica mas de um ataque ao autor", afirma que nunca viu nada de parecido com um director de jornal exprimir dúvidas a um cronista sobre o conteúdo de uma crónica quanto aos factos que imputa a outrem sem ser deles testemunha directa e considera isso "censura" estamos perante aquilo a que se chama double standard. Traduzindo: o que eu faço está sempre acima de suspeita, o que tu fazes é sempre suspeito.

Fernanda Câncio, no Diário de Notícias, ontem

(o resto aqui)



as mãos medindo a palmo



as mãos medindo a palmo
o desejo, esse engano


fundo e breve
que alarga a noite.

Renata Correia Botelho, in Um Circo no Nevoeiro, Averno, 2009


procuro a minha vida passada



«É óbvio que não deveria constituir uma surpresa por aí além descobrir que a história da nossa vida incluía um acontecimento, algo de importante, que desconhecemos por completo – que a história da nossa vida é em si mesma, e por si mesma, algo a respeito do qual sabemos muito pouco.»

Philip Roth, Casei com um comunista, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999, pp. 26-27


dão-se alvíssaras



Dão-se alvíssaras a quem encontrar um escândalo que eu tinha preparado para enlamear o primeiro-ministro. É que tenho um livro para vender e preciso de o vender. Preciso, portanto, de publicidade. E da gratuita, que a vida custa a todos e eu não tenho meios. Preciso de mais um caso, coisa fácil de arranjar, mas desta vez tem de ser acerca de mim. Para isso estava mesmo a jeito. Mas passou, perdi-lhe o momento e tenho mesmo de o recuperar. Pelo que, repito, dou alvíssaras.

(Aproveito, pela imagem junta, para fazer uma recomendação de leitura, catrapiscada no Status Quo, aqui mesmo.)

2.2.10

pingos do "caso" Mário Crespo


Citando Sofia:
«Mário Crespo sabe que o seu artigo é um conjunto de maledicência e do mais puro diz-que-diz, mas muito cuidadoso no que se refere à divulgação do executivo da televisão.»

nunca estamos preparados para certas coisas


Sonata V, de "Sonatas e Interlúdios para piano preparado", de John Cage.


1.2.10

Invictus, o filme; Mandela, o homem



Sábado passado houve tempo para ir ao cinema. "Invictus", um filme de Clint Eastwood, com Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela e Matt Damon como capitão da equipa sul-africana de rugby. Aconselho: é um filme a ver.
Bom, o filme não é verdadeiramente grande coisa. Muitos clichés (está-se mesmo a ver que os pretinhos e os branquinhos vão dar um abraço ou um aperto de mão quando chegar a hora da salvação), um abuso de técnicas simples de entretenimento e suspense de pacotilha (o tempo da final de rugby parece quase tempo real), aquelas coisas todas que estão desenhadas para sacar uma lagriminha (ou pelo menos um roer de unhas).
Então, por que ir ver? Porque a história é simplesmente fabulosa. É uma história verdadeira, embora pareça que há ali uns pormenores aldrabados, por exemplo o poema do poeta inglês William Ernest Henley (1849–1903) que dá o título ao filme não terá jogado exactamente aquele papel. Mas a história, no essencial real, é extraordinária.
Como extraordinário é Mandela, provavelmente o melhor símbolo de grandeza humana do século XX neste planeta (e talvez também em outros planetas). E aí bate o ponto: estou por tudo para homenagear Mandela e por apoiar homenagens a Mandela. E ele próprio concordou no essencial com este filme, o que me dá certas garantias.
A dificuldade que me parecia mais difícil de ultrapassar era a seguinte: como serei capaz de aceitar a cara de outro tipo a fazer de Mandela, quando a cara do líder histórico nos é tão familiar e presente? Pois, Morgan Freeman consegue isso ao não tentar sobrepor o seu próprio brilho ao brilho solar da personagem interpretada.
Em resumo: um filme médio que é absolutamente a não perder.

Caro Carlos Santos, serve a presente...



Carlos,
Este teu post tem, a meu ver, um defeito comum com outros posts teus dos últimos tempos: critica um dos actores institucionais com responsabilidades na gestão da coisa pública (o governo), mas esquecendo o contexto político da actual governação.
Falar de um governo que, sendo minoritário, está, graças ao tipo de oposição que temos, sempre vulnerável às graçolas e propostas irresponsáveis de mais 4 ou 5 partidos que praticam o quanto pior melhor, que mesmo quando são constrangidos a concordar com qualquer coisa estão sempre à espera da primeira esquina para a facadinha propícia - sem entrares sistematicamente com esse factor em conta: é má análise, a meu ver.
Acho que, escrevendo assim, está a cair num pecadilho que muito criticas (e bem) a outros economistas: pensar (ou fazer de conta que pensas) que a economia é um sistema de comportamentos que pode ser entendido sem o integrar num sistema mais vasto: o político-social em todo o seu esplendor.
Espero que não te tenhas tornado em mais um daqueles economistas que não levantam os olhos da secretária (da mesa de trabalho, quero eu dizer), esquecendo que há muito mais mundo lá fora.
Cumprimentos.