31.1.15

polícia bom / polícia mau.



O FMI aconselha Governo a manter cortes nos salários e nas pensões.
O governo faz-se de firme e diz que o FMI não está a ver bem a coisa.
Parece que o governo de submissos agora até faz voz grossa ao FMI.
Ingenuidade.
É o velho truque do polícia bom e do polícia mau.
O FMI faz de polícia mau, o governo faz de polícia bom.
O FMI faz de polícia mau PARA o governo fazer de polícia bom.
Mas a polícia / a política é a mesma.
É que Passos, quando entra em modo campanha eleitoral, é todo contra a austeridade, lembram-se? Depois, revela a sua verdadeira face.
Se os portugueses fossem no conto, Passos, depois das eleições, voltaria a dar razão ao FMI.
O polícia bom e o polícia mau voltariam a cair nos braços um do outro.
É assim que eles trabalham na conhecida rábula.


30.1.15

o que está em causa na Grécia é o interesse nacional, não é uma questão partidária.



Neste artigo "O PS pode ter começado a perder as eleições", o articulista efabula acerca do que hipoteticamente seria a posição de António Costa sobre a Grécia e a Europa. Ataca António Costa por posições que António Costa supostamente tomou - mas não se dá sequer ao trabalho de citar as declarações de AC que justificariam o que escreve: se elas tivessem sido proferidas, claro. Poderia recortar, tirar do contexto, fazer interpretações abusivas - mas nem isso. Simplesmente elabora no ar.

Na base dos equívocos deste conselheiro de Durão Barroso (terão sido os seus conselhos a conduzir o homem ao seu estatuto de presidente falhado da Comissão Europeia?) está a incapacidade para perceber o que está em causa.

Um homem que "tão bem" (!!!) aconselhou Durão Barroso... continua a não perceber essa coisa simples: sem respeito mútuo e igualdade entre todos os Estados Membros, a União Europeia acaba mal. O PS não defende os interesses nacionais na base de relações partidárias. O que interessa ao PS, na questão da Grécia, não é o Pasok ou o Syriza. O que interessa ao PS na questão da Grécia é que todos os Estados-Membros da União Europeia sejam tratados como iguais, que todos tenham direito a defender os seus interesses, que todos participem de boa-fé e empenhadamente na procura do interesse comum. O povo grego falou, vamos conversar: eles e nós todos. Isso é de interesse para Portugal, porque nós também queremos da UE outra atenção aos nossos problemas. Se a vontade da Grécia em mudar as coisas resultar, isso vai ajudar Portugal no futuro. Se a tentativa grega falhar, a nossa margem vai estreitar também. Por isso é que o PS está interessado no bom encaminhamento das negociações com a Grécia. E o governo também deveria estar, por ser do interesse de Portugal: só não está por Passos Coelho se interessar mais pelo ataque ao PS do que pela defesa do país na Europa.

A defesa do interesse nacional na Europa não se faz com base em "famílias políticas", faz-se com base nas convergências objectivas dos interesses de Portugal com os interesses de outros países. Há países governados por "partidos irmãos" cujos interesses divergem dos interesses de Portugal. Enquanto há países governados por outras famílias políticas que têm interesses convergentes com os interesses portugueses. Onde devemos procurar as alianças? Na convergência objectiva de interesses nacionais, em primeiro lugar. As "famílias políticas" servem, como acrescento, para amaciar as dificuldades negociais, quando isso funciona - e nem sempre funciona. Esse ponto essencial é esquecido por Passos Coelho, que tem do interesse nacional uma visão ideológica e partidária: sempre pretendeu usar a troika para realizar as suas experiências ideológicas, escorado na submissão "humilde" ao ministro das finanças alemão. O que é preciso entender é que a Europa tem de regressar ao funcionamento democrático das instituições, funcionamento democrático esse que foi interrompido pela troika, um corpo estranho enterrado no corpo da UE, tornando o método comunitário uma aparência.

O nosso camarada (alemão do SPD) que preside ao Parlamento Europeu, Martin Schulz, foi a Atenas, encontrou-se com o PM Tsipras e gostou do que ouviu. O Público relata assim: «“Raramente senti durante o meu mandato que tive uma discussão tão construtiva e aberta”, disse, citado pelo diário grego Kathimerini. “Há a impressão na União Europeia de que o novo Governo grego vai tentar seguir um caminho à parte”, mas “descobri hoje que não é o caso”, afirmou, após o encontro.» Isto é a família socialista e social-democrata a jogar um papel positivo neste cenário complexo. É disso que precisamos. Não precisamos nada de conselheiros de Durão Barroso a quererem empurrar-nos para as mesmas tolices que Durão Barroso andou a fazer durante a crise, levando Passos Coelho pelo braço.

Precisamos é desta visão: enterrar o "método troika" e regressar ao método comunitário, a sério, é a única forma de salvar a Europa. E de nos salvar a nós. De restituir a Europa aos europeus. E, para que isso aconteça, é bom que aconteça já com a Grécia. Perceberam agora, austeritários ideológicos, por qual razão a Grécia importa tanto?


28.1.15

erros grosseiros. também ditos "erros Cratos".



«A onda de críticas ao processo de avaliação das unidades de investigação científica levou o Governo a recuar e a pedir uma sindicância ao processo de avaliação levado a cabo pela European Science Foundation, apurou o Económico. (...) O processo não é reiniciado, mas serão analisados os casos em que foram denunciados erros grosseiros.»

Não foi a troika que mandou destruir o consenso nacional em torno da prioridade à ciência.
Tal como não foi a troika que mandou inventar uma experiência desastrosa com a colocação de professores e perturbar profundamente o arranque do ano lectivo.
Mas, entre a ideologia escondida sob a capa de incompetência e a incompetência escondida sob a capa de ideologia, o ministro Nuno Crato tornou-se um ícone da fórmula governativa patrocinada por Passos Coelho.
Agora, vão começar a catar os erros grosseiros. Para isso, pelos vistos, vão pagar para corrigir os disparates que tinham sido pagos em primeira instância por encomenda do governo. Espero que aproveitem para analisar também o erro grosseiro que consiste em ter um ministro cuja incompetência dá uma "má educação" a toda a gente que deveria poder olhar para ele como um exemplo.


[Adenda. Há por aí um blogue que acha que o texto acima é um ataque pessoal a Nuno Crato. Isso só confirma algo que já se sabia: há uma certa direita que nunca conseguiu perceber a diferença entre um ataque político e um ataque pessoal. Deve, aliás, ser por isso que desse lado se pratica tanto a confusão entre essas duas coisas. Será defeito ou feitio?

27.1.15

"estadistas" do calibre "conto de crianças".



Ideias do Syriza são "conto de crianças", diz Passos Coelho.

O PM fala da Grécia e das escolhas políticas dos gregos com total falta de sentido de Estado. Falar do programa que outro Estado Membro quer aplicar no governo e, para tal, usar a expressão "conto de crianças" - é uma falta de respeito e um mau principio como início de conversa para estadistas que se sentarão à mesma mesa no Conselho Europeu.

A linguagem grossa não deveria servir sequer para a política interna, mas há quem não perceba que em política europeia os excessos são ainda mais prejudiciais. A aspiração de PPC a ser o polícia europeu da austeridade leva-o a um papel ridículo, agitando-se para ser mais grosseiro e radical do que qualquer líder europeu.

Em definitivo, PPC entrou prematuramente em campanha eleitoral e esqueceu a ponderação exigida a um chefe de governo responsável. Passos Coelho passou a funcionar como mero chefe de facção. Uma lástima, mas não espanta.

26.1.15

25.1.15

e o PASOK?



E bem verdade que o "partido irmão" do PS na Grécia foi levado com a água da chuva.

E isso quer dizer o quê? Quer dizer que os partidos que se esquecem de representar os seus... serão atirados para a valeta.

Tenho muita pena, PASOK - mas é assim que funciona a democracia representativa.

É responsabilidade dos partidos nunca deixarem de oferecer alternativas aos povos a que pertencem.

piratearam o facebook do deputado comunista Miguel Tiago?



No Facebook do deputado do PCP Miguel Tiago lê-se a seguinte posta: «Se, como parece, a burguesia grega tiver de facto reagrupado no SYPIZA, lá terá o capitalismo mais um balão de oxigénio, quando só mesmo a sua morte nos libertaria o caminho.»

Eu preferia não fazer nenhum comentário. Mas faço. Há em algumas esquerdas quem se ocupe principalmente a desejar que as outras esquerdas se espalhem ao comprido. Quem se ri e aproveita com isso? Não a esquerda, certamente.

A minha esperança é: piratearam o facebook do deputado comunista Miguel Tiago.

alguns dos meus poemas gregos. hoje, não por acaso.




As mulheres de Delos

O lago sagrado no centro de Delos está seco.
Secou a água, secaram os deuses, secaram os homens.

Vista a vida nas casas das famílias desta cidade,
é tarde para perguntar às mulheres de Delos

por quê.


***


A explicação do espiritual


O azul move-se em colunas entre o mar e o céu,
espesso como o som das cigarras o dia inteiro.
Linguagens humanas várias movem-se
leves na mesma conversa;
as mulheres nadam ao largo,
os homens ficaram a falar em casa,
os do mar cuidam dos de terra,
os de terra cuidam dos do mar,
os conhecidos dos desconhecidos
e sobre todos paira a cítara que Hara lida no terraço.
O sol amassa todo o arquipélago num único ponto do tempo,
fora do presente.
Isto e nada mais são todos os deuses do Olimpo.
A explicação do espiritual é tão simples como uma salada grega:
a diversidade é o logos da unidade.


Imagem: Ísis em Delos.



***


a invenção de Apolo

Delos, exausto no teu seio, pergunto-te: como pôde
uma ilha inteira sem uma sombra
tornar-se uma casa de deuses?
Respondes-me, muito mais claramente que o oráculo,

em prosa,
porque a poesia é para as questões inúteis e obscuras,

que um santuário é um campo de batalha
onde os deuses nos venceram,
uma ilha purificada pela proibição de nascer e de morrer.
Um santuário é uma promessa de deserto.
Delos, exausto no teu ventre, pergunto-te: como pôde
uma ilha cercada de ausências,
sem plantas nem carneiros, sem mel nem vinho,
como pôde a aridez em símbolo produzir deuses?
E Delos responde-me que Apolo
fez o centro do mundo, um nada em pedra,
com a matéria do lugar geométrico do melhor cruzamento das rotas.
E Apolo levanta-se do túmulo para protestar
que culpa pode um pobre deus ter
de terem feito do seu templo
o primeiro banco da Antiguidade.


Imagem: lugar do templo de Apolo em Delos


***


a ilusão panóptica

No mar da madrugada contornamos a temida Babel.
Todos nadando no mesmo azul

dizemos sem palavras a mesma porção do mundo.
À míngua de equívocos fenece a torre erecta

mas Babel espera apenas que regressemos
a terra; só na nossa ilusão ela está quieta.


***




As Cíclades


duzentas e vinte ilhas mal contadas fizeram de ti,
Delos, casa de Apolo, o centro do universo.

nunca tão claramente o comércio dos homens
foi a agricultura da semente dos deuses.

agora, vazia a ágora,
o deserto do presente é de novo e finalmente eterno.

[imagem: Delos, casa de Cleópatra]
***




a pedra suspensa


A pedra que pesa suspensa sobre a cabeça de Tântalo
não se explica a si mesma.

Os palácios do Príncipe, marcados
como espaços vazios nos atlas da cidade,

não testemunham deuses irados nem catástrofes naturais:
o silêncio na parte comum do mundo é uma invenção

humana
incompreensível.
***




(Textos e imagens © Porfírio Silva)

Mais em Monstros Antigos. Ou aqui.


Hoje a Grécia. Lições antes do voto.




Acredito que, mesmo antes das eleições, o Syriza já mudou os dados da situação na Europa.

Mesmo que não ganhe, o Syriza já mostrou que a vontade política de traduzir as aspirações das pessoas pode fazer caminho. Se temos democracias representativas, os partidos têm de dar às pessoas a oportunidade de verem representadas as suas posições. Se os partidos não são capazes de fazer isso, a democracia representativa é uma farsa.

Os partidos têm de juntar o que as pessoas querem com a inteligência da estratégia para lá chegar. Os partidos não são meros repositórios das reivindicações, são o colectivo onde as pessoas se podem juntar para dar inteligência de futuro ao que queremos "já" mas precisa de tempo para ser construído. Os sistemas políticos democráticos onde os partidos não percebem isto... acabam mal.

O Syriza poderá, também, dar uma nova oportunidade à Europa se, vencendo as eleições, souber mostrar a todos que há sempre alternativas - mesmo na complexa situação que vivemos, mesmo nesta Europa desigual onde o sonho de um continente dos povos está sempre a ser adiado (ou, pior, atacado).
Que o Syriza ouse querer governar (e não apenas protestar), que o Syriza ouse querer governar na Europa (em vez de sugerir a porta falsamente fácil da saída do euro ou da própria UE), que o Syriza esteja a fazer o trabalho de negociar e aceitar a União Europeia como espaço onde tem de ser possível negociar, atendendo quer à vontade dos povos quer aos constrangimentos da realidade - é uma lição. Que espero seja compreendida por todos os que se reclamam da família do Syriza.

Note-se que eu não pertenço à família política do Syriza. Os meus "camaradas" na Grécia não perceberam que os partidos não subsistem se deixaram de representar a realidade da vida das pessoas que fizeram esses partidos. Os partidos não subsistem se deixarem de representar. Isso também é uma lição para mim. E para os meus.

Entretanto, noto um pormenor. Muitos estão desejosos de que o Syriza tenha maioria absoluta. Compreendo o anseio. Mesmo havendo pequenos partidos de esquerda moderada que podem fazer maioria com o Syriza, muitos por cá verbalizam o seu anseio por uma maioria absoluta para o Syriza. Entre esses, alguns (ou muitos?) que por cá estão sempre desconfiados das maiorias absolutas, que dizem ser um risco de excessos. Até nisto a Grécia e o Syriza podem dar uma grande contribuição: ajudar mais e mais pessoas a perceber que para governar não basta ter programa, é preciso também ter condições institucionais e políticas para o fazer. Quando se começa a pensar em termos de fazer, e já não apenas em termos de propor, o raciocínio muda. Para melhor: ganha aderência acrescida à realidade.

Bem vistas as coisas, a Grécia volta a ensinar muita coisa à Europa em assuntos de democracia.E ainda nem fecharam as urnas.

os ensaios abertos do Teatro da Cornucópia.



O Teatro da Cornucópia vai apresentar, a partir de 12 de Fevereiro, o seu novo espectáculo "Lisboa Famosa (Portuguesa e Milagrosa)", a partir de uma mistura de cenas de diferentes Autos quinhentistas e seiscentistas (de Gil Vicente, Anónimos, Baltesar Dias, Afonso Álvares, etc.). Aí se fala da vida social da cidade de Lisboa (ou de muitas cidades, a propósito de Lisboa), passando por motivos como os Santos populares e milagres de Santo António, fado, sardinha assada, porto de mar, com gente de todo o mundo, mas também terra dos corvos de São Vicente, dos terremotos, da fome e da mentira e corrupção.

O Teatro da Cornucópia tem vindo a alimentar, com carinho e inteligência, uma relação com o público que, por fugir à lógica comercial, se torna genuína e maravilhosamente subversiva. Um novo passo nessa relação são os "ensaios abertos". Hoje foi o primeiro. Fomos lá e estamos aqui a dar conta.

Recebendo as pessoas que quiseram ir assistir ao ensaio de hoje, Luis Miguel Cintra explicou que não querem ter a mera relação comercial com os espectadores. Querem cumplicidade. Que maravilhoso conceito, este de cumplicidade! Maravilhosa cumplicidade, por quê? Porque, creio eu, "cumplicidade" começa por ter um tom negativo, como se fosse relação de criminoso com criminoso, conspirando para o mal, numa certa escuridão, fazendo planos para prejudicar alguém. Mas a compreensão profunda entre humanos transforma essa noção numa outra cumplicidade: uma cumplicidade à luz do dia, uma cumplicidade sem planos, sem estratégias, sem truques. Uma cumplicidade sem um objectivo, apenas uma atitude: disponibilidade, confiança, querer que o outro possa falar e crescer no meio de toda a fauna e toda a flora do mundo. A cumplicidade dos amantes distribuída por tanta outra gente. Luis Miguel Cintra não fez estes rodriguinhos, não quero estar aqui a dar-lhe essa responsabilidade, mas fez-me pensar assim quando disse que queria a cumplicidade entre pessoas na vida e que também queria cumplicidade entre público e companhia de teatro.

E disse mais: este espectáculo é mesmo sobre a cumplicidade. Os Autos quinhentistas e seiscentistas que dão a carne para este espectáculo eram praticados em círculos fechados, na corte, em casas de nobres, em igrejas, círculos restritos onde havia mais contacto e mais interacção entre quem representava e quem circunstanciava. Até por, muitas vezes, não serem peças completas, fechadas, e terem uma estrutura que facilitava essa ligação (como se dá quando se canta). E este espectáculo quer soprar na fogueira dessa cumplicidade recriando esse ambiente. Pelo que pude ver neste ensaio aberto, acho que consegue.

Cintra explicou o significado dos ensaios abertos. O público vê o espectáculo a construir-se, a entrar nos actores. Vendo os ensaios, o público pode sentir as palavras a encorpar, a fazerem corpo com o corpo dos actores. A ideia é que a Cornucópia faça ensaios abertos em quatro momentos diferentes da construção de um espectáculo: (1) o primeiro contacto com o texto, quando se está à mesa a ler os textos; (2) quando se sai da mesa e se começa a passar para a implicação do corpo nas palavras, quando os actores, para usar a expressão de Cintra, comaçam a dizer o texto como se fossem palavras inventadas por eles próprios; (3) quando o jogo já está estabelecido, esboçado, mas não funciona ainda inteiramente, quando ainda se experimenta, corrige, repensa, quando ainda nem toda a gente sabe inteiramente o seu papel, se engana ou esquece, ou ainda anda com os papéis na mão; (4) quando se está próximo do ensaio geral, com todos os elementos a funcionar, incluindo as roupas como finalmente completam o boneco das personagens.

O ensaio aberto de hoje correspondeu à terceira fase das quatro enunciadas acima. O próximo ensaio aberto de "Lisboa Famosa (Portuguesa e Milagrosa)" será no dia 7 de Fevereiro, correspondendo à quarta fase. Para assistir não é preciso jogar no euromilhões: basta telefonar para lá e marcar um lugar. Vale a pena, pelo menos para quem gosta de perceber melhor como funciona o teatro por dentro. Para mim, depois da experiência da Ilusão, é sempre uma emoção voltar àquela casa. (Mas uma emoção não desprovida de razão.) Aprende-se ali tanto de tanta coisa... Voltar a ver Cintra a desdobrar a dramaturgia ali à nossa frente... é uma delícia para todas as partes da pessoa que somos.

O teatro que se faz na Cornucópia é, sempre, para quem queira pensar e não, simplesmente, entreter-se. Mas, por vezes, nota-se nas encenações de Cintra o desejo de atingir um dos cúmulos da arte, que é juntar a máxima metafísica na máxima leveza aparente. Desta vez, dizem eles sobre este espectáculo que aí vem: "Espectáculo leve, brincado, uma brincadeira ligeira que pode ser uma óptima introdução ao português antigo e à primeira fase do teatro português."

Faz-me lembrar aquela frase: "o mundo é um brinquedo sem dono". E a metafísica regressa a galope.

Não se distraiam dos ensaios abertos da Cornucópia.

24.1.15

o primeiro-ministro anda esquecido.


Passos aplaude decisão do BCE de comprar dívida, mas já foi contra. Embora agora diga que nunca foi contra. Mas foi. Contra. E agora aplaude. E diz que nunca foi contra. Mas foi.

Será que o senhor pensa que os portugueses se habituam ao seu hábito de "se esquecer" ?


Encontra-se cada coisa na net...



23.1.15

um P.M. muuuuuito esquecido.


Ontem, na declaração sobre o programa de compra de dívida pública em larga escala pelo BCE, António Costa, a certo ponto, afirmou o seguinte:

“Vale a pena recordar as declarações do Primeiro-Ministro sobre as políticas hoje anunciadas. Em Novembro de 2011, o Primeiro-Ministro afirmou que a compra de dívida pública por parte de um banco central era, e cito, um “péssimo sinal".
Já mais recentemente, em Maio de 2014, o Primeiro-Ministro insistiu que estaria contra a compra de dívida pública pelo BCE em larga escala porque, e cito, “é importante que a economia europeia recupere pelos seus próprios meios”. Ou seja, o PM foi sempre adversário desta medida e contrário à mudança de orientação da política europeia.”

Hoje, porque a memória dói a alguns, várias foram as tentativas de fazer de conta que PPC não tinha dito aquilo que disse.

Passos Coelho: ««Nunca me manifestei contra o programa do BCE, antes pelo contrário». O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse hoje que é «bem-vinda» a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de comprar dívida pública e que espera que ela «seja tão eficaz quanto se deseja».»

Na realidade, PPC nunca disse nada daquilo que disse, porque faz sempre o que a sua pulsão ideológica lhe dita e diz seja o que for que lhe pareça conveniente no momento. Passos Coelho é o político que "jurava" ser contra o aumento dos impostos, que antes de ser governo afirmava que o país não precisava de mais austeridade, que criticava o governo anterior porque estava a atacar o Estado social (!), que dizia (com razão!) que apertar o cinto demasiado podia matar o doente (que descaramento!), que se queixava de termos desempregados sem subsídio, que acusava o governo anterior de estar a atacar a classe média, que afirmava ser preciso defender os reformados e pensionistas. Quando estava na oposição, Passos Coelho até se pronunciava contra a alienação de participações do Estado, dizendo que isso era vender os anéis. O que se pode dizer de alguém que no governo faz tudo ao contrário do que declarou quando estava na oposição? Bom, sejamos simpáticos: o senhor é esquecido. Passos Coelho tem uma certa queda para se esquecer de coisas que disse anteriormente.

Ora bem, neste caso concreto, Passos Coelho disse ou não disse aquelas coisas que António Costa diz que ele disse?

Ponto 1: «o Primeiro-Ministro afirmou que a compra de dívida pública por parte de um banco central era, e cito, um “péssimo sinal".» Disse ou não disse? Disse. Aproveito um vídeo colocado por Dimas Pestana, onde se exibe esse ponto... e até mais:



Ponto 2: «Já mais recentemente, em Maio de 2014, o Primeiro-Ministro insistiu que estaria contra a compra de dívida pública pelo BCE em larga escala porque, e cito, “é importante que a economia europeia recupere pelos seus próprios meios”.» Disse ou não disse?

A 15 de Maio de 2014, a cadeia de televisão CNBC difundiu uma entrevista com Passos Coelho. Está neste link: Passos Coelho à CNBC.

Para vos poupar ao visionamento, deixo-vos um print sublinhado, a confirmar que Passos Coelho disse aquilo que agora alguns pretendem que não disse.


Pelo menos, Santana Lopes, que talvez tenha repulsa em mentir em defesa de Passos Coelho, disse hoje que "só os burros não mudam de opinião". Certo. Mudar de opinião pode ser bastante razoável. O que já não é razoável é querer aldrabar-nos, fazendo de conta que não se disse aquilo que efectivamente se disse.

De facto, os políticos não são todos iguais.

Já agora, para esclarecer outra mistificação em torno desta medida do BCE, cito João Galamba:

«Alguém avise Luis Montenegro que a razão pela qual Portugal pode beneficiar das medidas ontem anunciadas pelo BCE não é a conclusão do programa de ajustamento, não são as reformas estruturais, não é o seu empenho austeritário, nem a sua submissão face aos alemães. A razão pela qual Portugal pode beneficiar do Quantitative Easing é a manutenção de um rating acima de lixo por parte da agência de rating canadiana DBRS. Pequeno pormenor (delicioso): este rating precede o programa de ajustamento e é anterior ao governo PSD-CDS.»



21.1.15

filósofos, robôs e crianças.

Muitas pessoas estranham, quando ouvem falar pela primeira vez, que eu, tendo uma formação em filosofia e sendo doutorado em Filosofia da Ciência, tenha optado (vai para uma dezena de anos) por me integrar em equipas de robótica para desenvolver a minha investigação. Por estranho que pareça - e isso diz muito sobre muitas coisas - até aconteceu nos últimos meses o seguinte episódio. Durante o mais recente processo de avaliação das unidades de investigação científica em Portugal, um avaliador, ciente de que estava a visitar um laboratório integrado num campus "de engenheiros" e uma instituição povoada de cientistas da computação e áreas afins, manifestou grande espanto quando foi informado de que tinham um filósofo como colaborador. O excelentíssimo avaliador parece que não conseguia entender para que serviria tal colaboração. De facto, a multidisciplinaridade é um chavão que poucos entendem realmente e quase ninguém pratica.

Mas, como isto são contas de outro rosário, hoje venho por assunto mais concreto. Aproveitando o meu histórico de investigação sobre "sociedades de humanos e robôs", no seio do Instituto de Sistemas e Robótica (no Técnico), tornei-me um modesto colaborador do projecto MOnarCH – Sistemas Cognitivos com Múltiplos Robôs para Operação em Hospitais.

O projecto MOnarCH centra-se na Robótica social usando robôs e sistemas de sensores interligados em rede para interacção com crianças, através de actividades educativas e de entretenimento, na enfermaria pediátrica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPOL). Para além de ser um cenário realista, o IPOL possui uma regulamentação de aspectos éticos, que introduz restrições importantes quanto ao uso de algumas tecnologias de eleição na Robótica. Estas restrições colocam desafios importantes no planeamento e desenvolvimento do projecto mas, no geral, o cenário no IPOL permite limitar as interacções sociais entre seres humanos e robots por forma a serem implementáveis com tecnologias actualmente existentes.

É claro que a construção efectiva e a concepção concreta destas máquinas não resulta em nada das minhas competências. Como de costume, a minha participação consiste, modestamente, em ajudar a analisar as questões relativas à entrada de máquinas na vida social dos humanos. Uso para isso, como tenho vindo a fazer há anos, a inspiração nas instituições humanas que tanto me dão que pensar.

Posta esta longa introdução, hoje vinha só, com grande contentamento, mostrar-vos um vídeo de um dos robôs que vão entrar na vida das crianças no IPO de Lisboa. O desafio técnico e tecnológico é grande mas, claramente, é maior e mais significativo o desafio de fazer tudo em grande respeito pelas pessoas, em particular pelas crianças que naquele ambiente passam momento difíceis das suas vidas - vidas que o projecto quer melhorar, não perturbar.

O vídeo é da Exame Informática e está aqui. Acedem a informação mais completa sobre o projecto MOnarCH aqui.


16.1.15

quem paga o orgulhosamente sós?


Passos Coelho foi questionado no Parlamento, hoje de manhã, sobre a comunicação da Comissão Europeia para uma leitura inteligente do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Essa leitura inteligente, que o PS tem vindo a defender, consiste, para o dizer simplesmente, em dar margem aos países para poderem fazer investimento e poderem fazer reformas que melhorem o fundamental da sua situação económica. Um dos aspectos dessa estratégia consiste em fazer com que certos investimentos e certas despesas com reformas de alcance estratégico não sejam contabilizadas para efeitos de procedimentos por défice excessivo.

Qual tem sido a resposta de Passos Coelho a este esforço (tímido, para já) da Europa para encontrar caminhos que não sejam simplesmente o empobrecimento disfarçado de austeridade?

Passos Coelho começou por se orientar por metas puramente partidárias: se António Costa defendia uma leitura inteligente do Tratado Orçamental, o PSD tinha de ser contra. Essa forma de fazer política não deixou de se confundir com ignorância: Passos Coelho acusou os socialistas de pretenderem que as despesas de investimento não contassem para o défice. Dizia ele que o PS julgava que essas despesas não seriam para pagar. Não teria estudado o assunto? Estaria simplesmente a tentar enganar as pessoas? Não sei; neste governo cada vez mais a incompetência e a má política são faces da mesma moeda.

Mas, enfim, é normal que o PM faça política partidária. Isso não nos choca. O problema é quando a visão partidária estreita impede o PM de defender o interesse nacional. Agora que vemos que a França e a Itália vão beneficiar claramente da nova orientação de Juncker, e que se percebe que Portugal não está na linha dos que serão os principais beneficiários, perguntamos: não deveria PPC ter trabalhado, negociando e fazendo diplomacia a sério, para tornar esta orientação da Comissão Europeia mais favorável a Portugal? Se o governo tivesse feito o seu trabalho, as propostas da Comissão poderiam ser-nos mais favoráveis. Mas não. E hoje percebemos por quê. Passos Coelho sugeriu hoje no Parlamento que, afinal, a tal leitura inteligente do Pacto não beneficia Portugal. Quer dizer: para não perder a face na política interna, o governo fez-se cábula e deixou por defender os nossos interesses em Bruxelas. É gravíssimo que ao governo já só interesse a propaganda.

Os socialistas também querem combater o défice. Foram, aliás, governos socialistas que registaram os mais baixos défices da democracia. Mas sem investimento não há economia e sem economia o défice nunca será reduzido de forma sustentável. Mesmo seguindo a ideologia do empobrecimento, proclamada por PPC, sem investimento nunca sairíamos da cepa torta. É por isso grave que este governo queira, contra tudo e contra todos, insistir em ignorar esta dimensão estratégica desta questão.

Comentando esta situação, PPC disse, e repetiu, que o governo não se importa de estar isolado. É triste que o PM de Portugal não perceba que, na União Europeia, estar isolado é "a morte do artista". Estar nos combates, fazer diplomacia a todos os níveis, estar atento, fazer propostas, procurar aliados em cada momento, estar informado e informar, puxar a brasa à nossa sardinha - isso tem de ser feito todos os dias. Mas não: Passos Coelho volta ao "orgulhosamente sós" e os portugueses que paguem a factura.



afinal, somos todos gregos?



A direita grega perdeu a cabeça e até já começou a usar "argumentos" xenófobos contra o Syriza. Alguns dirigentes alemães tiveram um momento em que pensaram que podiam votar nas eleições gregas em lugar dos gregos. E, na verdade, o que pode acabar por acontecer é que a Grécia oferece à Europa uma oportunidade para repensar o que andou a fazer de errado nos últimos anos.

Afinal, o Syriza - que, note-se, não é da família política em que me incluo - não é um partido delirante, como alguns juravam. Tudo indica que o Syriza estudou, reflectiu e pode perfeitamente ter condições para obter para os gregos aquilo que a direita (e uns socialistas de cabeça perdida) não foi capaz de obter nos anos que passaram. Tudo isso depois de uma crise que, na Grécia, apareceu com aquela viruência e descontrolo porque a direita de lá pura e simplesmente falsificou as contas nacionais. Coisa que trataram de fazer esquecer.

Agora, vemos esta notícia: "Syriza exclui saída da Grécia do euro. Cenário conduziria à rutura da zona euro e a mais austeridade". E isso foi afirmado por Yannis Miliós, um dos quatro economistas responsáveis pelo programa económico daquele partido. Acho que, desta vez, isto deve dar que pensar aos "camaradas portugueses do Syriza": afinal, quando chega a altura de governar, se calhar vale a pena deixar de lado a retórica pseudo-radical e começar a pensar nas consequências concretas, para as pessoas concretas, de prometer aventuras.

Claro que nada disto será fácil. Creio que o Syriza e o povo grego deveriam ter sempre presente que, numa negociação a 28, não podemos nunca estar certos de qual será o resultado exacto de um processo. O que a Grécia quer talvez possa ser obtido e, no entanto, isso não acontecer da forma exacta em que o pensaram. Mas temos de louvar que queiram tentar.

Talvez os mais puros dos radicais ainda tenham alguma coisa a aprender com alguns socialistas da velha escola da social-democracia à moda antiga... que querem combinar firmeza com capacidade negocial e foco nos objectivos, não na retórica.


14.1.15

Se Juncker tivesse tempo para dar umas explicações a Passos...



É a tal leitura inteligente do Pacto de Estabilidade e Crescimento...

O governo português não sabe o que é "uma leitura inteligente" do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Pelo menos, PPC mete os pés pelas mãos quando fala nisso, porque precisa de atacar esse conceito que o secretário-geral do PS defende há muito. E que vai fazendo o seu caminho na Europa. É o próprio presidente da Comissão Europeia que reconhece o conceito, o usa e até o aplica em medidas que podem favorecer, por exemplo, a França e a Itália.

Portugal, pelo que se consegue compreender das regras ontem anunciadas, fica de fora da linha da frente dos que podem beneficiar da nova "leitura inteligente". Pois: com um governo que assobia para o lado, que não faz o seu trabalho em Bruxelas, que prefere manter a teoria de que a austeridade é que é boa, Portugal fica na segunda linha dos pequenos passos que Juncker vai dando.

Podia ser de outra maneira se o governo de Portugal defendesse Portugal, em vez de defender as teses das suas pequenas lutas interpartidárias. Neste caso, o governo português não é preguiçoso: faz-se preguiçoso para disfarçar os erros das suas escolhas políticas.

(O director do Económico reconhece parte da questão. Mas deixa outra parte no tinteiro. Pois. Aqui: Leitura flexível do Pacto? É melhor ler outra vez.)

9.1.15

algumas perguntas e respostas sobre violência e religião.


A mortandade no Charlie Hebdo tem a ver com religião?
Tem.

Esses atentados têm a ver com a religião muçulmana?
Têm.

Todos os muçulmanos são fanáticos?
Não.

Ser muçulmano implica apoiar a violência para defender valores religiosos?
Não.

O fundamentalismo religioso é exclusivo dos muçulmanos?
Não.

As religiões maioritárias no Ocidente também têm uma história de violência religiosa?
Têm.

O cristianismo está, na actualidade, isento de tentativas de dominar ideologicamente as sociedades?
Não.

Há, hoje em dia, cristãos que apoiam a violência como meio de afirmação da sua religião?
Há.

Todos os católicos ou cristãos apoiam meios violentos para propagar as suas ideias?
Não.

Só as religiões têm culpas no cartório por promoverem meios violentos para impor ideias?
Não.

O fenómeno religioso pode ser claramente separado de outros processos sociais, de forma a identificar a religião como causa única e pura de certos actos?
Não.

O mundo é mais complexo do que parece. Ver o mundo a preto e branco ajuda a tornar o mundo a preto e branco, mas não ajuda a mais nada que seja positivo.

a superioridade da liberdade.


Fazer humor com os humoristas que morreram por fazer humor.
Por não haver nenhuma justificação para calar o pensamento.
Aqui está a superioridade de quem entende a liberdade.

«Charlie procura a sua próxima primeira página: 'Uma liquidação em dia de saldos, isso é que era...!'.»

8.1.15

JE SUIS CHARLIE.




JE SUIS CHARLIE


Eu podia negar. Responder-te que não
fui eu que falei a fala livre.
Abanar a cabeça como se eu não
tivesse desenhado palavras no chão da cidade.
Como se não carregasse o fardo da responsabilidade
de avançar contra o vento.
Eu podia renunciar - mas apenas no sentido
de esse ser o outro caminho,
a porta de uma estrada que eu não tento.
Tive que dizer-te que sim, era eu
a mão que tu procuravas para cortar
"oui, c'est moi"
E agora o meu corpo frio voa
e a minha mão desenha no ar
tudo o que ainda tinha por inventar.

Há um traço imenso a ligar todos os nós
da corrente dos que morrem
sempre que morre a liberdade do outro.
E tu, quieto, desenhas esse traço continuamente.

Porfírio Silva (sobre o 7 de Janeiro de 2015 em Paris)

7.1.15

Passos Coelho é como um relógio parado, que duas vezes por dia parece estar certo.


Passos Coelho é como um relógio parado, que duas vezes por dia parece estar certo.

Quando estava na oposição e em campanha eleitoral, Passos Coelho dizia que era contra o aumento de impostos, que o país não precisava de mais austeridade, que apertar demasiado o cinto podia matar o doente. Na oposição e em campanha eleitoral, Passos Coelho dizia que se estava a atacar o Estado Social, queixava-se de que havia desempregados sem subsídio, que se estava a atacar a classe média, que era preciso defender os reformados e pensionistas. Passos Coelho até se pronunciava contra a alienação de participações do Estado, dizendo que isso era vender os anéis.

Quando chegou ao governo, Passos Coelho fez tudo ao contrário do que prometera. Passou a aplicar a receita do empobrecimento, empobrecimento que defendeu com todas as letras como receita. Aumentou os impostos, apertou e apertou os nossos cintos, atacou a classe média, visou os reformados e pensionistas, deixou de achar que as privatizações fossem vender os anéis.

Agora, como está de novo em campanha eleitoral, Passos Coelho volta a adoçar o discurso e a vestir a pele de cordeiro, fazendo de conta que a partir de agora é que as coisas vão correr bem. O pior já passou, diz ele, enquanto atira para debaixo do tapete os problemas, aos quais tenciona voltar com a mesma receita se os portugueses voltarem (voltassem) a elegê-lo.

Tal como um relógio parado, que duas vezes por dia parece estar certo – por momentos, parece estar certo – Passos Coelho, sempre que entra em modo campanha eleitoral, esquece o seu programa de empobrecimento. Sempre que entra em campanha eleitoral, Passos Coelho “parece estar certo”. O pior é que, passada “aquela” hora, o defeito do mecanismo volta a impor-se, a verdadeira natureza do “relógio parado” (o verdadeiro programa) volta a tornar-se patente. Se lhe dermos essa oportunidade.