Neste artigo "O PS pode ter começado a perder as eleições", o articulista efabula acerca do que hipoteticamente seria a posição de António Costa sobre a Grécia e a Europa. Ataca António Costa por posições que António Costa supostamente tomou - mas não se dá sequer ao trabalho de citar as declarações de AC que justificariam o que escreve: se elas tivessem sido proferidas, claro. Poderia recortar, tirar do contexto, fazer interpretações abusivas - mas nem isso. Simplesmente elabora no ar.
Na base dos equívocos deste conselheiro de Durão Barroso (terão sido os seus conselhos a conduzir o homem ao seu estatuto de presidente falhado da Comissão Europeia?) está a incapacidade para perceber o que está em causa.
Um homem que "tão bem" (!!!) aconselhou Durão Barroso... continua a não perceber essa coisa simples: sem respeito mútuo e igualdade entre todos os Estados Membros, a União Europeia acaba mal. O PS não defende os interesses nacionais na base de relações partidárias. O que interessa ao PS, na questão da Grécia, não é o Pasok ou o Syriza. O que interessa ao PS na questão da Grécia é que todos os Estados-Membros da União Europeia sejam tratados como iguais, que todos tenham direito a defender os seus interesses, que todos participem de boa-fé e empenhadamente na procura do interesse comum. O povo grego falou, vamos conversar: eles e nós todos. Isso é de interesse para Portugal, porque nós também queremos da UE outra atenção aos nossos problemas. Se a vontade da Grécia em mudar as coisas resultar, isso vai ajudar Portugal no futuro. Se a tentativa grega falhar, a nossa margem vai estreitar também. Por isso é que o PS está interessado no bom encaminhamento das negociações com a Grécia. E o governo também deveria estar, por ser do interesse de Portugal: só não está por Passos Coelho se interessar mais pelo ataque ao PS do que pela defesa do país na Europa.
A defesa do interesse nacional na Europa não se faz com base em "famílias políticas", faz-se com base nas convergências objectivas dos interesses de Portugal com os interesses de outros países. Há países governados por "partidos irmãos" cujos interesses divergem dos interesses de Portugal. Enquanto há países governados por outras famílias políticas que têm interesses convergentes com os interesses portugueses. Onde devemos procurar as alianças? Na convergência objectiva de interesses nacionais, em primeiro lugar. As "famílias políticas" servem, como acrescento, para amaciar as dificuldades negociais, quando isso funciona - e nem sempre funciona. Esse ponto essencial é esquecido por Passos Coelho, que tem do interesse nacional uma visão ideológica e partidária: sempre pretendeu usar a troika para realizar as suas experiências ideológicas, escorado na submissão "humilde" ao ministro das finanças alemão. O que é preciso entender é que a Europa tem de regressar ao funcionamento democrático das instituições, funcionamento democrático esse que foi interrompido pela troika, um corpo estranho enterrado no corpo da UE, tornando o método comunitário uma aparência.
O nosso camarada (alemão do SPD) que preside ao Parlamento Europeu, Martin Schulz, foi a Atenas, encontrou-se com o PM Tsipras e gostou do que ouviu. O Público relata assim: «“Raramente senti durante o meu mandato que tive uma discussão tão construtiva e aberta”, disse, citado pelo diário grego Kathimerini. “Há a impressão na União Europeia de que o novo Governo grego vai tentar seguir um caminho à parte”, mas “descobri hoje que não é o caso”, afirmou, após o encontro.» Isto é a família socialista e social-democrata a jogar um papel positivo neste cenário complexo. É disso que precisamos. Não precisamos nada de conselheiros de Durão Barroso a quererem empurrar-nos para as mesmas tolices que Durão Barroso andou a fazer durante a crise, levando Passos Coelho pelo braço.
Precisamos é desta visão: enterrar o "método troika" e regressar ao método comunitário, a sério, é a única forma de salvar a Europa. E de nos salvar a nós. De restituir a Europa aos europeus. E, para que isso aconteça, é bom que aconteça já com a Grécia. Perceberam agora, austeritários ideológicos, por qual razão a Grécia importa tanto?