31.1.11

se Passos Coelho é mesmo tão valente como quer fazer crer...



... deve dizer claramente que quer, por exemplo, a Carris, os STCP e a CP a cobrar o custo real das viagens aos clientes de transporte público. Só isso as poderá impedir de darem prejuízo. Passos Coelho poderá aproveitar para dar o montante dos aumentos que isso significa. E, de passagem, poderá também aclarar a sua posição sobre o Metro do Mondego, que tem um "pequeno problema" de "falta de verba". Por aí teremos um princípio de compreensão dos magnos projectos do homem. Menos do que isso será uma confissão de desonestidade política.

O presidente do PSD quer que o Governo identifique quais são "as empresas que dão prejuízos crónicos " e que devem fechar.

viver na luz


Um mapa da luz. Sendo "luz" a colaboração científica entre alguma pessoa de uma cidade e alguma outra pessoa de outra cidade. Quanto mais brilhante aparece uma linha de luz, mais forte é o laço.


Uma explicação mais detalhada do método, bem como mais imagens, aqui.

28.1.11

há gente que compra tudo feito


Parece que António Barreto disse que "Se não houver uma grande reforma nos próximos tempos, Portugal corre o risco de sofrer uma revolução".(*)

"Sofrer uma revolução"?! Mas já nem uma revolução somos capazes de fazer, limitamo-nos a "sofrê-la"?
Ai estes políticos que deixaram de o ser por não lhes terem reconhecido as magníficas capacidades para "grandes reformas"...

(*) Barreto é assim citado pela RTP, mas acho que ele não usou a palavra "sofrer".

uma viagem à índia (o tempo dos hábitos)


Gonçalo M. Tavares:
Tal como aforismos, os objectos pessoais concentram
múltiplos dias num pequeno espaço. (Cada objecto
envolvido em ritual ou em hábito é, em tempo: muito,
mesmo que tenha poucos centímetros.
Uma Viagem à Índia, Canto VIII, estrofe 1 (excerto)

27.1.11

no bojo das últimas presidenciais fermenta um movimento, ou mais ?


O espaço do comentarismo político, assumido ou disfarçado, é pródigo em pérolas. Uma das preferidas versa o "monopólio dos partidos" neste regime representativo. (Por exemplo: "as presidenciais são dos poucos momentos na vida política que escapam ao monopólio dos partidos".) Já passando ao lado do facto de que há muitos lugares electivos neste regime a que podem candidatar-se cidadãos independentes, dispensando qualquer ligação partidária, essa conversa do monopólio dos partidos evita confrontar-se com esta questão muito simples: o que são os partidos políticos mais do que organizações de cidadãos que se juntam para influenciar os nossos destinos comuns?
Claro que os partidos políticos reais, aqueles que existem mesmo, em lugar de estarem apenas numa ilha em nenhures, têm defeitos, insuficiências, pecados. Muitíssimos, é bom de ver. Só não têm essas metástases pecaminosas aquelas obras humanas que não passam da ideia. E, mesmo assim, a ideia, para se manter limpa, tem de permanecer relativamente vaga e abstracta. O mundo mancha tudo, essa é uma condição só desconhecida de quem nunca tentou levar nada à prática. E esses, puros, que imaginam como seriam imaculados se passassem à acção, usam ser os que mais depressa desatam a morder pai e mãe quando saem a barra e as vagas lhes empurram os órgãos internos para cima e para baixo até à dor. É que a virgindade é muito perigosa quando nos apanha desprevenidos no meio da selva habitada.
Fácil é compreender que dá uma trabalheira criar um partido, coisa que assusta imenso os paladinos da "independência". É precisa a bênção de 7500 cidadãos, um projecto de estatutos, uma declaração de princípios ou programa político, denominação, sigla e símbolo. Tudo isso dá imenso trabalho, uma canseira - e, claro, muitos nem sequer percebem por que é que um partido há-de ter programa, já que o seu "programa" é uma ideia à solta pronta a qualquer pega de cernelha.
A brilhante ideia alternativa é o "movimento": uma antecâmara, um porto de abrigo, um cruzamento que pode fazer-se ou desfazer-se com relativa facilidade, um nó numa rede (tão pós-moderno, o modo de fazer). Claro que há muitos movimentos que nasceram, precisamente, do movimento: numa dinâmica "de baixo para cima", gente que se encontra ao andar e, reconhecendo-se num caminho, cria marés. Essas são as glórias da cidadania. Mas há outros movimentos que nascem da cristalização: a cristalização de um momento, tentando guardá-lo numa gavetinha para o recriar noutro momento futuro (outra eleição, por exemplo).
Estamos fadados, parece, para que as eleições presidenciais sejam fornos de "movimentos", daquela espécie que se destina a guardar a fotografia para mais tarde descongelar um pico de febre. E não há muitos entusiastas que parem para pensar onde acabaram tantos movimentos desses. Já, por outro lado, o nosso sistema, apesar da podridão que tantos lhe apontam com ligeireza, permitiu, ainda mais ou menos recentemente, a emergência e afirmação de um partido politico que veio modificar a arquitectura partidária. E nem foi preciso recorrer ao expediente justicialista, como aconteceu na Itália das "mãos limpas". Trata-se, claro, do BE. O seu percurso até hoje, gostemos dele ou não, mostra que "o sistema" tem espaço para o investimento em novos posicionamentos. Agora, isso não cai do céu. Pois não. Mas quem espera que a solução caia do céu, bem pode deixar descansado o espaço da cidadania - em vez de fazer de conta que tem para ele ideias milagrosas.

***

A propósito de criar "movimentos":


(E este "paralelismo" nem é nada contra o "Movimento Homeostético", entenda-se.)

quando a alemanha começa a ver mais longe do que a um metro dos seus próprios pés


Alemanha inclina-se para Governo económico na zona euro. «O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, defendeu hoje que se esclareçam “rapidamente os passos a dar para criar um Governo económico entre os países da zona euro, aberto à participação de outros países da União Europeia. (...) Por seu lado, o presidente executivo do grupo Metro AG, o maior do retalho na Alemanha, Eckhard Cordes, veio dizer hoje que a Alemanha tem o “dever moral” de ajudar países endividados como Portugal e a Grécia. “Existe quase uma obrigação moral para que a Alemanha e as indústrias alemãs dêem apoio a países como Portugal e a Grécia”, afirmou Eckhard Cordes, que falava num dos painéis do Fórum Económico Mundial de Davos, Suíça, citado pela agência Bloomberg. “Temos de ter em mente todos aqueles frutos que fomos capazes de colher ao longo dos últimos anos”, afirmou.»

Sempre quero ver o que dizem agora aqueles (portugueses) que diziam há tempos que a Alemanha não tem nada que se preocupar com os outros, que nós é que tínhamos de nos desenrascar por "isto" ser tudo assunto nosso.

ele há alternativas do diabo



Na Visão de hoje, num trabalho sobre Berlusconi e as suas embrulhadas.


o magalhães dá a volta ao mundo


Comissão Europeia encerra processo contra Portugal por causa da concepção e adjudicação dos Magalhães, informa o Público.
Mais em detalhe: «A Comissão Europeia confirmou que o governo violou o direito comunitário na concepção técnica e na adjudicação directa de mais de um milhão de computadores dos programas de educação, mais conhecidos por Magalhães.Apesar disso, Bruxelas decidiu encerrar o processo aberto contra Portugal depois de o Governo se ter comprometido a corrigir todas as infracções detectadas, embora avisando que vai vigiar de perto o cumprimento das promessas. “Em resultado da intervenção da Comissão, as autoridades portuguesas passarão a realizar concursos públicos e a tomar medidas para assegurar que os contratos de fornecimento serão abertos a todas as empresas da UE interessadas”, afirma Bruxelas.»

O assunto é simples. Mesmo que a Comissão Europeia tenha razão neste caso (não sei), são inúmeras as tentativas de todos os Estados Membros da União Europeia para se furtarem nisto ou naquilo às regras da concorrência do "mercado único". Às vezes conseguem, outras não. Por regra, os agentes políticos e as "forças vivas" de cada um desses países unem-se a favor dessas acções do tipo "o que é nacional é bom", já que se trata de "puxar a manta" o mais possível para os "pés" das respectivas economias nacionais, que isto de Europa é muito "amigos amigos, negócios à parte". Em Portugal, pelo contrário, o que mais há é gente disponível para fazer queixinhas a Bruxelas. A ideia é deixar mal o governo português, criar-lhe dificuldades. Na prática, o resultado é o anunciado: “Em resultado da intervenção da Comissão, as autoridades portuguesas passarão a realizar concursos públicos e a tomar medidas para assegurar que os contratos de fornecimento serão abertos a todas as empresas da UE interessadas”.
Ai que os portugueses são tão amigos dos europeus todos. Com a possível excepção dos portugueses...

1961


Em 1961 - há cinquenta anos - aconteceram muitas coisas importantes. Algumas, como o desvio do Santa Maria, deram dores de cabeça a Salazar. Outras só me dão dores de cabeça a mim. Destas últimas não reza a história. Daquelas outras, reza, sim. Como Irene Pimentel está a mostrar, com primeira lição aqui. A seguir, já que a senhora sabe do que fala e escreve com limpidez.

irritações de um cidadão

David Bresó, Inocência Perdida

Confesso que há coisas que, tomadas com o café da manhã, me fazem começar o dia mal-disposto.
Leio uns blogues onde encontro quem aponte o dedo acusador aos que, na esquerda, ou na área do socialismo, não deram o litro por Alegre nestas presidenciais. Embrulhadas as acusações, veladas ou às claras, em considerações relativas à história recente do PS, ao "socratismo" e a quejandos pecados e pecadores, parece que qualquer simpatizante do PS que não se tenha apresentado para pagar o tributo de sangue merece ser rotulado de traidor para pior.
Pois eu, que não fiz nenhuma campanha presidencial, excepto contra Cavaco, que nunca escondi o disparate que considerava estar aninhado nesta candidatura de Alegre, só posso rir-me dessas vozes para evitar a vontade de chorar com tão brutos democratas. Alegre, que há tempos se candidatou contra o candidato do seu partido, reclamando (e bem) os direitos e deveres de cidadania mobilizados nessa opção, foi por isso por muitos muito louvado. Bizarro é que, dos mesmos lados, venham agora contra quem, não sendo poeta mas tendo também direitos de cidadania, e consciência e tudo, entendeu pensar e fazer diferente do que os "órgãos competentes" decidiram que era a "posição oficial". Quem ontem primava pelas delícias do desvio, hoje quer bater com as armas dos alinhados.
Parece que alguns paladinos da cidadania, ou, pelo menos, useiros e vezeiros em encher a boca com tais proclamações, só gostam que cada um pense pela sua cabeça quando pensa o mesmo que tais porta-estandartes. Mas ficam amofinados quando os outros exercem os mesmos tão proclamados deveres de cidadania, um dos quais há-se ser a auto-determinação no pensar e no agir quando se trate de procurar o bem comum. Mais depressa se apanham os falsos profetas da cidadania do que um coxo, essa é que é essa.
Mesmo assim, por muito previsível que fosse a manobra, ela não deixa de ser irritante. Publicada em blogues ou sussurrada entre "adeptos".


25.1.11

uma espécie de sublevação que está em curso mas estava pendente dos resultados das presidenciais


Informação de última hora: «O movimento SOS Educação (dos colégios privados) não é um grupo de tolinhos que apenas quer que seja o Estado a suportar as propinas dos seus filhos em colégios privados. O movimento SOS Educação é um grupo de gente organizada, que tem um plano secreto — e altamente profissional — de sublevação e insubordinação popular (...).»

O "plano da revolta", por capítulos: um, dois, três.
No um, verificar como a "revolução" teria sido abortada se as presidenciais tivessem tido outro resultado.
No dois, ler com atenção a parte sobre os atestados médicos fantasiosos.
No três, ver a parte sobre a manipulação política ("figura política proeminente").

O incentivo de uma certa esquerda parlamentar a este SOS parece estar a dar os seus frutos.

presidenciais, danos colaterais à esquerda (os casos do PCP e do BE)

Bo Bartlett, America, 2007

Podem tecer-se as mais variadas considerações acerca do desempenho de Francisco Lopes como candidato presidencial, o conteúdo e o estilo da campanha, a instrumentalidade das presidenciais para a manobra interna partidária e muitas outras coisas de que podemos ou não gostar. Não obstante, não foi certamente por culpa do PCP que a esquerda perdeu esta presidencial. Nem esta nem nenhuma outra. O PCP sempre soube, neste tipo de eleições, preservar a sua reserva de identidade sem alienar as condições de convergência à esquerda quando ela se torne possível e útil. Com maior ou menor brilho, foi também o que aconteceu desta vez.
Já o mesmo não se pode dizer do BE. O processo que terminou com a reeleição do pior PR desta democracia constitucional, incluindo a elevada percentagem de voto branco e outras formas de rejeição explícita do "sistema", é o ponto cimeiro da estratégia de condicionamento que Louçã tem conduzido como forma de relacionamento à esquerda.
A vertente anti-PCP dessa estratégia não é desprezível: se Cunhal, para apelar ao voto em Soares, teve de pedir aos comunistas para taparem a cara no boletim de voto com uma mão e marcarem a cruz com a outra, imagine-se o que Jerónimo não teria de lhes pedir se tivessem de votar em Alegre. É que Alegre será uma das poucas pessoas que terá deixado ao PCP do PREC uma recordação mais amarga do que o próprio Soares. Mas claro que, para a estratégia de afirmação de Louçã, fazia todo o jeito humilhar o PCP ao voto obrigado no "seu" candidato.
A vertente anti-PS da mesma estratégia foi ainda mais evidente. Marcando Alegre como candidato do Bloco, Louçã deixava duas alternativas ao PS: arranjar outro candidato e arriscarem-se os socialistas a ficar com menos votos nas presidenciais do que o BE; juntar PS e BE na mesma candidatura presidencial, ao mesmo tempo que em todos os outros sectores do tabuleiro se combatiam ferozmente. Entre os dois males, a direcção do PS escolheu o que lhe pareceu menor, evitando ser derrotado por um entendimento cordial entre o BE e um sector do eleitorado socialista: decidiu embarcar na mesma nau que o escorpião, cuja natureza tem muita força nos momentos decisivos. O PS, a meu ver (e como já aqui escrevi há tempos), escolheu mal: devia ter ido à luta, com um candidato que representasse o melhor do seu impulso modernizador - mas não quis ou não pôde ir por aí.
O resultado da magnífica estratégia de Louçã é bem claro para a esquerda: a campanha de Alegre, mais do que a sua magra votação, representou um grande passo atrás em qualquer ideia de entendimento do PS com a esquerda da esquerda. A evidência de que o herói dessa convergência não colocou em cima da mesa nenhuma ideia nova concreta que fosse inspiradora para as esquerdas; o ziguezaguear de Alegre entre umas bicadas ao governo e uns piscares de olho às oposições; a incapacidade para sair das generalidades; a debilidade conceptual que teve o seu zénite quando Alegre aceitou calado que Cavaco, sentado à sua frente, amalgamasse Estado Social com caridade - tudo isso tornou hoje praticamente impossível defender um esforço de convergência à esquerda. Mesmo para quem, como eu, sempre pensou para esse lado.
Sempre estou para ver se ainda há, no Bloco, força política para questionar esta estratégia. Que há lá quem queira fazer do BE um grupelho radical, acredito que sim. Que haja lá quem queira fazer do BE uma força capaz de induzir mudanças sérias na política portuguesa, por via da capacidade de usar o seu peso parlamentar e social para reorientar políticas, deixando de lado as alianças com a direita (como no caso das escolas privadas), ainda estou para ver.
Entretanto, resta-nos esperar que Sócrates continue a fazer o trabalho de evitar que Portugal seja entregue às receitas do FMI, enquanto Passos Coelho é por isso que suspira - e a esquerda da esquerda, para esse peditório, só dá retórica. Vá lá, se juntarmos também as corporações: retórica e providências cautelares que descredibilizem o esforço de Portugal nos mercados financeiros internacionais (que, por muito diabólicos que sejam, de momento são quem tem o cacau de que precisamos).

presidenciais, danos colaterais à esquerda (o caso do PS)

Bo Bartlett, Empire, 2007

No espaço do PS há várias formas de ver a relação entre esse partido e os demais elementos do espectro partidário.
Há os advogados do "orgulhosamente sós", que acham indesejável ou impraticável que o PS se entenda com quem quer que seja para dar base a uma solução governativa. Há os que sonham acordados com uma aliança com o PSD, encarando o bloco central como a estabilidade máxima que se pode dar ao regime. E há os que, desejando um PS mais ousado na ruptura com as delícias da "mera gestão do capitalismo", preferem que o jogo estratégico conte com o BE e/ou com o PCP.
Os isolacionistas, na sua aspiração à pureza do "mais vale sós que mal acompanhados", representam esse traço da cultura política nacional que é a identidade imatura. Identidade imatura é aquela que teme as misturas por medo da diluição. Entre nós preza-se pouco a capacidade para juntar esforços, a sabedoria do compromisso; foge-se da negociação concreta do possível como se isso fosse um pecado. É aceitável ter preferência por maiorias absolutas: é também a minha preferência, por ser a fórmula que garante a melhor identificação das responsabilidades pelo rumo da governação. Coisa bem diferente é adoptar a postura "ou nós, ou o dilúvio". O PS, a persistir nessa linha, cairá continuamente na situação de governo minoritário, o que, em geral, nem é bom para o país nem para o PS. (Como se verá: este governo será despedido quando for mais conveniente à direita, não ao país.)
Pelo seu lado, os socialistas adeptos do "bloco central" dão pouco valor a um activo importante de qualquer democracia: a existência de alternativas reais. Meter os dois maiores partidos no mesmo saco pode, em certas ocasiões, ser necessário, mas a prazo equivale a condenar o país a ser sempre governado mais ou menos com a mesma política, mesmo que isso seja feito com "estilos" diferentes. Essa doença do rotativismo já deu maus resultados no passado, não deixará hoje em dia de agravar o desinteresse "do povo" pela governação da casa comum.
Os que vêem o PS como um dos partidos da esquerda, que desejariam dar alguma tradução política à maioria aritmética que PS, PCP e BE têm a maior parte do tempo, têm um problema óbvio para resolver: o ódio de estimação que PCP e BE dedicam ao PS. O PS é, muitas vezes, o principal alvo a abater para bloquistas e comunistas. Esses partidos alimentam uma cultura "de oposição" que dificulta conceber uma governação PS partilhada com eles. PCP e BE são, em questões absolutamente essenciais para o entendimento do mundo de hoje, habitantes de um imaginário passadista. O exemplo mais gritante é a sua posição sobre a União Europeia, que confunde sistematicamente a oposição a certas políticas com a oposição à própria UE, algo inaceitável para os socialistas.
Eu, que estou entre os minoritários (vejo o PS à esquerda, quer pelas suas políticas, quer pelos seus parceiros preferenciais), reconheço que esta "sensibilidade" tem tropeçado num obstáculo de monta: PCP e BE, mesmo nos dias em que se entregam menos à coligação negativa que têm com o PSD e o CDS para esmigalhar o PS, mostram-se claramente avessos a pensar no mundo que realmente existe, preferindo ter programas políticos que dispensem a realidade. O PCP e o BE continuam a falar como se o mundo fosse infinitamente plástico, como se o PS não nos levasse directamente ao paraíso na terra por pura falta de vontade.
Nestas circunstâncias, estamos muito carecidos de que se mostre, pelo exemplo, como é que uma batalha política pode ser conduzida em convergência entre o PS e a auto-proclamada esquerda da esquerda. Isso exigiria reflexão política inovadora, estudo aturado dos problemas essenciais, propostas que quebrem os atavismos de que todos padecemos, uma nova linguagem da imaginação concreta. Sim, imaginação concreta: ser novo, não em generalidades, mas em problemas reais e que as pessoas compreendam. Sim, imaginação concreta: dar respostas atendendo ao mundo que temos e aos problemas que estão aí, não somente conversas vagas e proclamações canoras que ninguém entende como se trocam por miúdos.
Manuel Alegre teve a responsabilidade - e a oportunidade - de fazer essa reflexão e traduzi-la em discurso político. Passou completamente ao lado. Mostrou-se absolutamente incapaz dessa tarefa. Por esse lado morreu. Infelizmente, com isso deu um golpe duríssimo em todos os que entendem ser necessário e urgente que as esquerdas encontrem uma convergência mínima face a este mundo agora ainda mais complexo e incerto. A poesia hoje está mais difícil. Precisa de palavras novas. Que Alegre não teve. Palavras que, do alto da sua sobranceria de quem já viu tudo e percebeu tudo, Alegre não soube construir. É justo debitar-lhe esse dano colateral, que todos vamos pagar, tenhamos ou não sido "alegristas".

devo ou não devo dar os parabéns a Cavaco vencedor?


No post que escrevi ontem, dez minutos depois das primeiras projecções, onde me reconhecia como derrotado com a eleição de Cavaco, disse que não dava os parabéns ao vencedor.
Um companheiro desta aventura que é "a bloga", Tiago Tibúrcio, critica-me, em comentário a esse post, assim: "dar os parabéns parece-me ser a expressão de respeito que devemos aos nossos adversários políticos e, principalmente, àqueles que os elegem. A prova de que a democracia é a melhor forma de convivermos com as nossas divergências políticas."
Reconheço a pertinência da crítica e reconheço que, para o caso geral, Tiago está certíssimo. Mas insisto em não dar os parabéns ao Cavaco vencedor. Por qual razão? Acontece que eu antevi o que veio a confirmar-se mais cedo do que eu esperava, apenas umas horas depois: Cavaco não acabou a campanha ao saber dos resultados; Cavaco eleito prolongou a disputa eleitoral para dentro do estatuto presidencial, recusando objectivamente ser o presidente de todos os portugueses e escolhendo ser apenas o presidente "dos seus"; Cavaco tratou os que o atacaram politicamente como se fossem maus portugueses e maus democratas; Cavaco, além de se julgar moralmente superior, traça a fronteira da moralidade com a imoralidade junto aos seus pés. Ora, isso é intolerável. Nesses termos, não lhe devo o respeito democrático a que Tiago Tibúrcio se refere. Cavaco, na sua pequenez, esquiva-se ao respeito.

um caso a seguir com atenção


Todos os cozinhados políticos que integram o populismo na receita devem ser vistos com muita cautela. Não obstante, encaro com alguma curiosidade a evolução da estratégia de resistência à ditadura jardinista na Madeira.

23.1.11

o princípio do que aí vem


Cavaco Silva, no discurso da vitória, continua a campanha eleitoral: insiste na afronta aos adversários, auto-elogia-se, fala para os seus e parece convencido que quem não votou nele é mau português. Será que ainda não percebeu que a campanha eleitoral acabou? Quem é pequeno nem nos momentos de vitória é capaz de se transcender.

presidenciais

Se as projecções anunciadas há dez minutos estiverem razoavelmente certas, Cavaco Silva foi eleito à primeira volta. Várias observações são-me suscitadas por esse facto.
Primeiro, eu estou do lado dos derrotados. Aquilo que é estimável politicamente para a maioria dos portugueses, a mim repugna-me. A vários níveis: político, de carácter, de valores, de cultura. Nada que me espante.
Segundo, Francisco Louçã deve estar satisfeito com o resultado: isto é principalmente o produto da opção da direcção do BE por fazer refém toda a esquerda, em particular o PS, na questão presidencial. A escolha antecipada de Alegre, um militante do PS em permanente tensão com o seu partido, e também alguém pouco estimado pelos comunistas, tornou extremamente difícil qualquer convergência estratégica para derrotar a direita nestas eleições. Louçã colocou acima do interesse presidencial de toda a esquerda um velho sonho trotsquista: derrotar na mesma guerra a social-democracia e o leninismo. Não é assim que se fazem convergências.
Terceiro, o PS não conseguiu escapar ao ardil do BE e não foi capaz de tratar da questão presidencial como a questão relevante que ela é. Não pensou a tempo no assunto - ou, no mínimo, se pensou, não conseguiu nenhum soldado relevante para esta batalha. Agora vai pagar isso muito caro.
Quarto, vamos ter um Cavaco à solta: ferido por finalmente se ter percebido que ele não é o puro que pretende ser, mas talvez ainda mais perigoso por isso, Tendo provado o sangue da pura disputa político-partidária, provavelmente gostou da adrelanina e vai querer mantê-la a níveis suficientemte elevados para mostrar que ainda é o chefe.
Se estes resultados servissem à esquerda para iniciar uma reflexão, talvez ainda valessem a pena. Mas, provavelmente, nem isso.
É a vida, como dizia o outro.
Ah, não dou os parabéns ao vencedor, isso não dou certamente.

re-rite no MUDE


re-rite é uma instalação multimedia produzida pela Philharmonia Orchestra, de Londres. Dá-nos a possibilidade de estarmos no meio de 101 músicos a executar A Sagração da Primavera (Stravinsky), observar diferentes naipes a tocar as suas partes, fazer as vezes de alguns dos músicos tomando em mãos os seus instrumentos, observar o maestro Esa-Pekka Salonen a dirigir e colocar-nos na sua posição. O vídeo reproduz alguns momentos de Salonen a dirigir a orquestra. re-rite está no MUDE (Museu do Design e da Moda, Lisboa) entre 9 e 23 de Janeiro de 2011. Quer dizer: apresse-se!

21.1.11

uma viagem à índia (a história de um país)


Gonçalo M. Tavares:
(...) mas mente-se tanto a contar a história
de um país como a história de um amor que
terminou mal.
Uma Viagem à Índia, Canto VIII, estrofe 4 (excerto)

gente que faz


Proposta de reorganização administrativa do concelho de Lisboa: a infografia compara o mapa das freguesias actuais com o mapa das freguesias propostas (proposta de 17 de Janeiro, depois de negociações inter-partidárias).
Há políticos que fazem. Responsavelmente.
É possível avançar, negociando.
Mas estas coisas não interessam nada aos profetas da desgraça, estejam acantonados nos órgãos de comunicação social, nos postos de comentaristas, ou até em cargos institucionais desta nossa república.


A animação usa os materiais publicados pelo Público.

20.1.11

ainda se fazem presidentes assim?


Faz hoje meio século que terminaram os 8 anos de Dwight D. Eisenhower como presidente dos Estados Unidos. Era uma sexta-feira. O seu discurso de despedida foi proferido na terça-feira anterior, a 17 de Janeiro de 1961. Trata-se de um discurso muito interessante, todo ele. Queremos aqui realçar um aspecto desse discurso: aquela passagem pela qual foi criado o conceito de "complexo militar-industrial". Eisenhower dá uma descrição concisa mas relevante dessa realidade nova - e alerta para as preocupações que ela justifica.

Uma das páginas do suporte escrito do discurso.
(National Archives and Records Administration, aqui)

Eis um excerto (editado) da secção do discurso que trata do "complexo militar-industrial":
«A vital element in keeping the peace is our military establishment. (...) Until the latest of our world conflicts, the United States had no armaments industry. (...) [W]e have been compelled to create a permanent armaments industry of vast proportions. (...)
This conjunction of an immense military establishment and a large arms industry is new in the American experience. The total influence – economic, political, even spiritual – is felt in every city, every Statehouse, every office of the Federal government. We recognize the imperative need for this development. Yet we must not fail to comprehend its grave implications. Our toil, resources and livelihood are all involved; so is the very structure of our society.
In the councils of government, we must guard against the acquisition of unwarranted influence, whether sought or unsought, by the military-industrial complex. The potential for the disastrous rise of misplaced power exists and will persist.
We must never let the weight of this combination endanger our liberties or democratic processes. We should take nothing for granted. Only an alert and knowledgeable citizenry can compel the proper meshing of the huge industrial and military machinery of defense with our peaceful methods and goals, so that security and liberty may prosper together.»

Cabe notar que Eisenhower, ainda referindo-se ao complexo militar-industrial, tece considerações sobre a investigação científica, as quais ainda hoje merecem reflexão:
Akin to, and largely responsible for the sweeping changes in our industrial-military posture, has been the technological revolution during recent decades.
In this revolution, research has become central; it also becomes more formalized, complex, and costly. A steadily increasing share is conducted for, by, or at the direction of, the Federal government.
Today, the solitary inventor, tinkering in his shop, has been over shadowed by task forces of scientists in laboratories and testing fields. In the same fashion, the free university, historically the fountainhead of free ideas and scientific discovery, has experienced a revolution in the conduct of research. Partly because of the huge costs involved, a government contract becomes virtually a substitute for intellectual curiosity. For every old blackboard there are now hundreds of new electronic computers.
The prospect of domination of the nation's scholars by Federal employment, project allocations, and the power of money is ever present and is gravely to be regarded.
Yet, in holding scientific research and discovery in respect, as we should, we must also be alert to the equal and opposite danger that public policy could itself become the captive of a scientific-technological elite.

Vale a pena ler mais deste discurso.
Entretanto, deixo um vídeo sobre parte da secção relativa ao complexo militar-industrial (com legendas em espanhol):


Para lá das diferenças ideológicas, pergunto: ainda se fazem presidentes assim?

China compra 200 votos aos EUA - ou será 200 Boeing?


Acerca da visita do presidente chinês aos Estados Unidos, escreve o Público que "no que diz respeito à economia foi imediatamente anunciada a assinatura de dezenas de contratos comerciais com companhias americanas, no valor de 45 mil milhões de dólares (33,3 mil milhões de euros). Entre eles, está um acordo para a compra de 200 aviões à Boeing até 2013."

Mas, então, não aparece nenhum teórico do isolacionismo a pulsar de receios de que os EUA estejam a alienar a sua auto-determinação política na cena internacional por causa de tão substanciais negócios com o senhor Hu Jintao? É que, quando é Portugal a negociar com a China, dizem logo que se anda a vender a pátria. E agora nem perguntam quantos votos no Conselho de Segurança das Nações Unidas vale cada um dos 200 Boeing...

19.1.11

só não percebo por que não há-de haver um sindicato de presidentes da república


Em Portugal há sindicatos de juízes e de magistrados do ministério público. Sindicatos de titulares de órgãos de soberania, que talvez, se se reproduzissem, pudessem também dar origem a sindicatos de ministros, sindicatos de deputados, sindicatos - sei lá - de presidentes da república em exercício (proporcionando a maravilhosa experiência de um sindicato uni-pessoal). É claro que tão bonito fenómeno acaba por produzir bonitos resultados. Vejamos: João Palma, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, revela-se um mentiroso. E os associados de tal sindicato parecem achar bem, talvez debaixo do princípio "o crime compensa". Afinal, ele está a tentar que os seus magistrados fiquem de fora dos sacrifícios que estão a ser pedidos a quase todos os portugueses. E isso, lá por aquelas bandas, parece ser tido por legítimo.

as coisas de que o Rui se lembra


Roubado ao Rui Herbon.
Com os meus melhores cumprimentos. (Vão lá ver a série toda!)


um mundo em rede


Cavaco Silva não mudou substancialmente nada desde que apareceu na política portuguesa. As pessoas é que se vão esquecendo dos pormenores. No plano político, Cavaco Silva é, fundamentalmente, o homem que, acabado de chegar à presidência do PSD, tentou travar a assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE, porque queria ser ele a "ficar na fotografia" de uma glória que não lhe cabia; é o primeiro-ministro que presidiu ao esbanjamento dos fundos comunitários após a adesão de Portugal à "Europa"; o político que usou o dinheiro público para comprar maiorias eleitorais concedendo (em momento "oportuno") à função pública regalias insustentadas no estado da nação; o calculista que pensa primeiro em si, depois em si, depois em si, e só em último lugar pensa nos outros se já não se lembrar de nada em que lhe convenha pensar primeiro em si - o que o faz reincidir na traição aos seus companheiros políticos, apesar de se aproveitar bem dos seus amigos de negócios. Em Portugal (e por esse mundo fora), tudo isso dá votos.
No plano pessoal, para não entrar em conversas desagradáveis - são sempre desagradáveis as conversas sobre tipos que se fazem de santos para melhor explorarem a boa vontade dos outros - basta lembrar este episódio (contado no Random Precision) para compreender quem é o verdadeiro Cavaco Silva. E a sua rede.

os filhos saem de casa, a casa é que não se vai embora nem por nada


Cavaco Silva para Defensor de Moura, agastado por o incomodarem com perguntas que ele há anos evita responder, como quem não tem nada a ver com a malta do BPN e da SLN: "Se nem acompanhamos a vida dos nossos filhos quando saem de casa, o que é que eu tenho a ver com a vida profissional de pessoas que estiveram no Governo há 25 anos?".

Empresa do grupo SLN envolvida na compra de casa de férias de Cavaco (aquela cuja escritura só aparecerá depois das eleições).

Os amigos ele já não conhece. Para o compensar de tamanha tristeza, sempre fica a modesta casinha de milhões.

18.1.11

adivinha


Correia de Campos: "Alegre não é alternativa. Cavaco garante estabilidade. E eu já não é a primeira vez que faço merda por falar demais."

Qual é a parte desta declaração, qual é ela, que Correia de Campos não proferiu mas bem podia ter proferido?

Resposta aqui.

(Pode ser conveniente fazer de conta que não se percebe Cavaco, o que anda a fazer e o que já fez no passado. Pode achar-se que a aposta presidencial do PS é uma tolice. Pode alguém querer vingar-se de posições passadas de Alegre. Tudo isso eu até compreendo. Só me custa a perceber que pessoas inteligentes imitem Cavaco na tendência para dar facadas nos seus correligionários políticos durante uma campanha eleitoral. A não ser que o truque de Correia de Campos seja dar a ideia que apoia Cavaco e, com isso, fazê-lo perder votos.)

uma viagem à índia (o mundo é claro e escuro)


Gonçalo M. Tavares:
Na Índia, homens velhos que escutámos
durante horas e julgávamos já eternos,
levantam-se, subitamente, e começam a
urinar em plena rua, para cima do lixo
que cães, segundos antes, tentavam mastigar.
Respeito e nojo coincidem estranhamente
no mesmo homem: o mundo não
é claro e depois escuro, o mundo, cada pedaço dele,
é claro e escuro.
E quando um místico urina com displicência ao nosso lado
ensina-nos isso, e outras coisas.
Uma Viagem à Índia, Canto VII, estrofe 21

o FMI, a China, ... e os duques - continuação


Em comentário ao post anterior, o FMI, a China, ... e os duques, o editor do blogue América em 30 segundos lembrou que esta "estratégia de susto" com a China não é nova nem é uma invenção das cabecinhas portuguesas. O vídeo abaixo mostra parte de uma campanha para instilar o medo da China nos EUA.


Agora, sigam a pista para perceber outras razões pelas quais a tese do vídeo deve ser considerada uma mistificação.



o FMI, a China, ... e os duques


João Duque, um dos economistas que comentam comentam comentam como se tivessem pilhas da tal marca:
"Eu, se tivesse votado no PS, tenho dúvidas de que tivesse dado o mandato de venda do País a alguns países com que agora nós procuramos ter relações de financiamento. Não estava previsto em nenhum programa de acção eleitoral ou, mais tarde, no programa do Governo a possibilidade de empenhar a palavra política de Portugal perante a China ou qualquer outro país! (...) Não sei se faz sentido quando há, ou pode haver, uma alternativa, que é o recurso ao apoio do Fundo Europeu, ao mecanismo de estabilização financeira." (no DN)

Dois pontos interessantes (para além da pura mentira/fantasia de que Portugal empenhou a sua palavra política com quem quer que seja).
Primeiro: a coligação de políticos e comentadores que quer o FMI em Portugal não desarma. Querem ganhar eleições à conta de uma intervenção do FMI, para não terem de obrigar Cavaco a fazer o pino para provocar eleições por qualquer motivo fútil. E, claro, querem o FMI como desculpa para as suas políticas, porque não têm coragem para as assumir.
Segundo: continuam a fantasiar com a China, como se estivéssemos a vender a alma ao diabo por eles comprarem dívida portuguesa nos leilões. (Percebo que haja muita gente escaldada com compras "discretas", como as compras e vendas de certas acções do BPN não cotadas, mas convém não extrapolar.) Vale a pena perguntar: faz isto algum sentido? Veja-se, por exemplo, aqui: "A China, o maior detentor de dívida norte-americana, aumentou a sua posição de credor dos Estados Unidos em agosto pelo segundo mês consecutivo, após dois meses de declínio. O Departamento do Tesouro referiu que a participação chinesa na dívida pública dos Estados Unidos subiu em agosto para 868,4 mil milhões de dólares (621 mil milhões de euros), um aumento de 2,6 por cento após um ganho ligeiro de 0,4 por cento em julho." E isto é coisa que já está a rolar há muitos anos, não é de agora.
O que esta malta inventa para continuarem a alimentar os seus teatrinhos.

16.1.11

Beckett por Lupa em Almada


Peça de de Samuel Beckett, Endgame esteve sexta e ontem no Teatro Municipal de Almada, pela mão de Krystian Lupa, um encenador teatral polaco de renome mundial. A obra é interpretada por uma grande equipa do Teatro de la Abadía, Espanha. Desta feita não pude ir, mas já tinha visto, no ano passado, em Madrid (e relatei aqui). Queria rever, mas não foi possível. Não vi ainda crítica nenhuma desta passagem por cá, mas achei estranha a versão portuguesa do título, Fim de Festa. Por razões que se explicam aqui, algo como "Final de Jogo" ou "Fim de Jogo" parecer-me-ia mais adequado (ou mesmo "Final de Partida", porque, em jogos como o xadrez, uma "partida" é um acontecimento específico dentro de um jogo e os "finais" são quase uma disciplina dentro da teoria do jogo). Mas é recorrente este fado de querermos acrescentar em português algo que, embora mais vistoso, se arrisca a fazer uma pequena traição ao original. Mas isto sou eu a resmungar, apenas. A resmungar por não ter ido, claro.
Está por aí alguém que tenha ido e queira dizer alguma coisa?



subir na horizontal


Única, a revista do Expresso, ao número 1994 (deste fim-de-semana) dedica-se ao tema CHEFE. Uma das peças é uma espécie de "manual de sobrevivência para 10 tipos de chefes" que podemos encontrar nas empresas. Para cada tipo de chefe é dado um retrato-robô e umas instruções para lidar com o robô em causa.
A última categoria de chefe a ser descrita é o "engatatão". O "manual de sobrevivência" para este caso reza assim: "Tenha cautela. Não se deixe envolver e clarifique que não está disposta a entrar no jogo. Se, contudo, considera que pode obter benefícios (mesmo não concretizando a vontade de quem manda), procure manter a chama acesa sem ser demasiado explícita/o." (ênfase nossa)
Para lá das óbvias hesitações acerca do género gramatical a usar em tão magnificente conselho (numa ocorrência, o conselho parece ser só para mulheres; noutra ocorrência usa-se um "a/o" para alargar o campo), ficamos a saber que Joana Madeira Pereira, a autora do texto, deixa em aberto a possibilidade de lidar com situações - que muitas vezes são de assédio - com a técnica de "manter a chama acesa". Alimentar a situação, portanto.
É demasiada leviandade não perceber que todas as técnicas da família do "subir na horizontal" não deviam ser matéria para graçola, já que configuram perigo real para as pessoas envolvidas. Será muito difícil perceber isto?




Joan of Arc , Cohen , Anna Calvi


Anna Calvi pega na canção de Cohen e trata de nos dar o poema apenas com os seus recursos de instrumentista.


Segredo , Maria Teresa Horta


Segredo

Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar.

Maria Teresa Horta


prendas de fds


John Cage, num programa popular de TV, em 1960, a apresentar a sua obra Water Walk.


(visto em Chemoton, um livro de sabedoria em forma de blogue, por Vitorino Ramos)

15.1.11

"a um metro de distância dos meus sapatos"


Quando Cavaco Silva apoiava a economia portuguesa (Um desfile no Portugal Fashion).




pecado e milagre: pequeno ensaio de teologia agnóstica


Bento XVI aprovou formalmente a validade de um milagre atribuído ao seu antecessor, João Paulo II, abrindo assim o caminho para a sua beatificação, seis anos após a sua morte.

Há um tique que alimento com o fito de incomodar alguns dos meus amigos que se acham mais racionalistas. Consiste em usar categorias extraídas do universo religioso para dizer coisas em que acredito, vestindo essas categorias, afinal, roupas que não são tão inúteis como parecem aos mais duros dos pensadores livres. Exemplifiquemos.
Pecado. Há religiosos de certos credos que pensam o pecado como a quebra de uma proibição divina, fundada menos no seu valor intrínseco do que na autoridade da fonte legislativa (os deuses em causa). Também há religiosos dos mesmos credos que vêem o pecado como algo a admitir, ou mesmo a carecer, de uma elaboração dentro da história e das circunstâncias concretas, sabendo que isso implica que mude a própria noção do que é ou não é pecado. De todos os modos, é muito generalizada a crença de que o pecado é uma categoria sem qualquer préstimo fora das referências religiosas. Vejo a coisa de forma diferente. Concebo como pecados certas acções que, não importa o que diga a lei, desrespeitam a dignidade humana na concretude da pessoa, conhecida ou desconhecida, que anda por este mundo. (Talvez devesse alargar o campo, não me restringindo a pessoas, mas essa é outra questão.) Pecado é atentar contra o outro concreto.
Outro exemplo dessas categorias é o milagre. Os milagres são, ainda para certos religiosos, manifestações divinas irrompendo na ordem natural. Quer dizer: actos específicos de um deus que interrompe propositadamente a ordem natural para obter um desvio específico, particularmente favorável a esta ou aquela pessoa (ou grupo). Sem sair do campo religioso, é possível pensar o milagre de forma menos intervencionista: o milagre pode ser o maravilhoso, resultante de conjugações que não sabemos bem como se produzem, que espantam os humanos por nem sempre o bem resultar dos nossos planos e poder acontecer graças aos efeitos não intencionados da conjunção de boas vontades. Também aqui me atrevo a dar uma interpretação não religiosa do milagre: milagre é o resultado de jogarmos com a natureza das coisas um jogo em que empenhamos menos de conhecimento do que de arrojo. Fazemos coisas cujo poder não conhecemos bem, por razões que assumimos serem boas, mas com um défice de prudência. Podemos, assim, obter um excesso de consequências. Esta concepção de milagre é moralmente neutra: o excesso de consequências pode ser benéfico ou maléfico.
Uma consequência destas minhas concepções "hetero-teológicas" de "pecado" e de "milagre" pode resultar perturbadora: é que, então, um milagre pode ser um pecado. Quer dizer: a "maravilha" que resulta de libertarmos no mundo as consequências do nosso arrojo - por exemplo, largando no mundo poderosas ideias erradas - pode, pelo tal défice de prudência, ser um monstro.
Não sou, de todo, um pregador anti-religioso. Falta-me até a paciência para esse estilo. Mas, à luz das considerações acima acerca de "pecado" e "milagre", pelas quais um milagre pode ser um pecado, tenho de reconhecer que esta afirmação sobre a beatificação de João Paulo II, embora dura, faz sentido e apela à reflexão: Milagre da propagação da SIDA, reconhecido, irá acelerar beatificação de João Paulo II.

14.1.11

eles não fizeram isto, pois não?



O Albergue Espanhol não é um blogue imaginário. Existe mesmo. Mas publicou esta "entrevista" de Paulo Campos, na qualidade de secretário de estádio adjunto:


Entretanto, sabe-se lá por quê, esqueceram-se de lembrar que tinham cortado o cabeçalho da coluna, que é este:

Depois de o João Magalhães ter completado o boneco, fazem de conta que era tudo humor

Se eu fosse humorista detestaria que me confundissem com aldrabices.
Como leitor de blogues detesto que me sirvam aldrabices.
Mas há gostos para tudo.

Post Scriptum: Falo do blogue como autor da "brincadeira", em vez de a tomar como acção individual de um dos seus autores, porque a caixa de comentários mostra que o autor da proeza foi socorrido pela solidariedade de outros membros relevantes do albergue.

perguntas com respostas


Que está em causa nos estatutos dos magistrados judiciais e do Ministério Público?

A Vaca De Fogo (Madredeus)

À porta daquela igreja
Vai um grande corropio
Às voltas de uma coisa velha
Reina grande confusão
(...)
Soltaram uma vaca em chamas
Com um homem a guiar
(...)
São voltas
Ai amor são voltas
São as voltas
São as voltas da maralha
Ai são voltas
Ai amor são voltas
São as voltas da canalha
(...)
À porta daquela igreja
Vive o ser tradicional
Às voltas de uma coisa velha
E não muda a condição


lisboa ontem à noite


A caminho de ir ouvir o som que fazem os braços de Esa-Pekka Salonen quando se agitam frente a uma orquestra, tive visões assim.





andam bandos à solta


Cerca de 400 populares de Cantanhede dão as mãos para apoiar Renato Seabra.


Todas as pessoas, por mais hediondo que seja o crime que possam ter cometido, merecem ser apoiadas. Apoiadas na reconstrução de si mesmas, na compreensão do mal que fizeram, na colocação das pedras de um novo caminho e das traves de uma nova habitação.
Mas estas manifestações não são para apoiar pessoa nenhuma. Estas manifestações apoiam o crime propriamente dito, na medida em que fazem parte de uma movimentação para desculpar o acto homicida e torturador. Ir para a rua tentar legitimar um crime hediondo é em si mesmo um crime hediondo. Que já toleremos isto é um sinal de podridão colectiva.

inovações jornalísticas


O Público não pára de nos surpreender. Agora com um novo método de dar destaque a notícias no seu sítio na web: repetir. Uma notícia repetida muitas vezes transforma-se num facto, será?


13.1.11

ai, isto não dá votos


Dizem-me que isto não dá votos. E que a esquerda não deve ser invejosa ou mesquinha.
Que estas coisas não rendem votos, concordo. Mas não se pode andar no mundo só para ganhar votos. Uma república que pactua com a indecência é uma república onde não vale a pena ser cidadão.
E não percebo o que é que isto tem a ver com inveja. O direito de propriedade é respeitado, mas tem regras. O homem não sabe da papelada? A casa foi adquirida por troca com um construtor civil e não se sabe bem como foi? Há off-shores metidas no assunto? Ai, agora, querer saber se o PR está metido numa "aldeia" destas é questão de inveja, ainda por cima quando ele tem a mania que é mais sério do que toda a gente?!
Acho que o pragmatismo eleitoral tem limites. Querer calar isto por que não dá votos - parece-me demais.

o mísero professor


Eu era um mísero professor.



Reportagem na Visão de hoje. "Visão: tenha uma!", como eles dizem.



Público inventa nova designação para o governo da república


O Público aconchega a sua manchete de hoje assim: "Marketing e BCE salvam leilão da dívida".
Portanto, há um agente identificado: o BCE.
O outro fenómeno é difuso: "marketing". O que será isso? Estarão a falar das agências de marketing? Mas como se meteram elas nisto?
A coisa explica-se depressa, com o texto que segue: "Compras do Banco Central Europeu e movimentações do Governo garantem colocação de 1249 milhões de dívida".
Está a coisa esclarecida: falava-se de movimentações do Governo. Afinal parece que o Governo se mexe. Ao contrário das declarações de Cavaco, que fala de "o que o Governo diz que está a fazer". "Diz que".
O título, então, deveria ser: "Governo e BCE salvam leilão da dívida".
Mas isso é coisa que eles não podem confessar.
Que o Governo esteja a trabalhar para enfrentar a crise é coisa que "eles" querem esconder. Especialmente quando a oposição de direita, agora abertamente liderada por Cavaco, espera que os mercados nos castiguem o suficiente para lhes facilitar o acesso ao poder que não são capazes de conquistar por mérito próprio.




a crise, Juno e a nuvem


Afirmações claras precisam-se. Como esta:
« (...) esta crise financeira da zona euro resulta única e exclusivamente de decisões políticas tomadas pelo Partido dos Pacóvios Europeus (PPE) que no presente controla a esmagadora maioria dos governos europeus, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia.»
Quer saber por quê? João Pinto e Castro explica.

12.1.11

miguel de vasconcelos: as notícias de que foi defenestrado em 1640 são manifestamente exageradas


Teresa Caeiro na CNBC, apresentada como deputada social-democrata, num dia crucial para a economia portuguesa, bem cedo pela manhã (ainda o sol mal raiava), a falar para os mercados. A mensagem, em grandes linhas, é esta: temos um governo absolutamente incapaz de fazer face à situação, um governo que só faz asneiras; Portugal está enterrado até ao pescoço; esperem mais uns poucos meses que vamos dar-vos a crise política que temeis.
Miguel de Vasconcelos vive.

(O vídeo começa com uns segundos de publicidade, mas vale a pena esperar pela peça, onde Miguel de Vasconcelos aparece passado um minuto. A peça é do dia 10.)


(agradeço ao Miguel a ligação)

uma barba por uma causa


O actor belga Benoît Poelvoorde apela aos seus concidadão para não cortarem a barba enquanto os dirigentes partidários não conseguirem formar um governo para o país. A Bélgica está sem governo federal há quase sete meses. Só espero que as mulheres belgas não sigam o apelo...

E por cá, que tal uma barba por um país?

Alguns já têm:

Outros, nem por isso:

 

Eu estou a fazer a minha parte...

o cravo e a ferradura


Cavaco dá informações em directo sobre leilão da dívida.

Cavaco diz que "as coisas não estão a correr mal neste momento", mas acrescenta que é preciso saber "de onde veio a procura".

Até vamos fazer de conta que não percebemos que Cavaco aproveita todas as ocasiões para minar a resistência da República. Parece que, desta feita, vai sugerindo aos jornalistas, como quem não quer a coisa, que investiguem se não são países suspeitos a aliviar a pressão sobre Portugal: vejam lá "de onde veio a procura". Mas posso estar enganado.
Por isso pergunto outra coisa: Cavaco investe alguma parte das suas poupanças em obrigações do tesouro da República de que é presidente? Talvez fosse uma boa propaganda para Portugal, mesmo que a taxa de juro ainda não esteja ao seu nível de exigência.


o aprendiz de Passos Coelho

Steven Meisel, Human robots

Um PR em exercício, quando se lança à campanha pela reeleição nunca é um candidato igual aos outros. Tem uma vantagem: notoriedade, que não precisa de conquistar na campanha, acrescendo que muitos o vêem com os olhos de quem prefere o conhecido ao desconhecido. Tem uma desvantagem: o candidato não pode deixar de ser presidente durante a campanha, a manobra eleitoral não pode ser ocasião para alienar as condições de exercício da magistratura. Na verdade, quando esta cautela é satisfeita, ela torna-se numa vantagem, na medida em que os demais candidatos também prestam uma indifarçável vénia ao presidente que habita o candidato.
Cavaco Silva, a demonstrar desde há muito por que é o pior PR desta democracia constitucional, mudou tudo isso: a manobra politiqueira, que fez e promoveu durante o primeiro mandato tão sub-repticiamente, passou agora à luz do dia. Embalado pelas dificuldades do governo, dificuldades que qualquer governo teria nas actuais circunstâncias, o candidato-presidente estrutura a sua campanha numa clara oposição ao governo. Nem se coíbe de criticar em campanha os actos de governo de que foi politicamente co-responsável enquanto presidente. Nesse sentido, Cavaco Silva é agora um aprendiz de Passos Coelho: no salão compromete-se nas políticas e no rumo, na praça arenga contra as mesmas políticas e o mesmo rumo.
Cavaco aplica agora ao país a receita que desde sempre aplicou aos seus correlegionários: a duplicidade. Aprendiz por aprendiz, mais valia seguir Maquiavel do que Passos Coelho. Só que, para o homem que não sabia quantos cantos tem Os Lusíadas, Maquiavel tem a desvantagem de não aparecer na televisão.

Cavaco Silva aumenta as críticas e desafia Governo a explicar medidas de austeridade.

doenças do pensamento


Uma sociedade onde os cães raivosos andam pelas nossas ruas e entram nas nossas salas vestindo fato e gravata - e escrevendo e publicando estas coisas - já deixou de ser uma sociedade civilizada. Mesmo - ou especialmente - quando usam inchar o peito à menção da civilização ocidental.



(via João Magalhães, a quem roubei a imagem)

11.1.11

é preciso manter os nervos sob controlo


(título alternativo: post aberto ao excelente Eduardo Pitta por ocasião de uma discordância)

Eduardo Pitta é dos bloggers portugueses que respeito sem dúvida, mesmo na discordância. Esse respeito deve-se à sua escrita escorreita (isto é uma questão de forma, mas interessa muito à higiene mental), tanto como à sua independência e frontalidade (questões de carácter, que hoje moram no lado decisivo da cidadania e da política).
Isto serve de introdução a uma radical discordância com este post de Eduardo Pitta.
Se é que estamos a falar disto, claro: Teodora Cardoso defende pedido de ajuda ao FMI.
Pela simples razão de que Teodora Cardoso não é menos livre a pensar do que Eduardo Pitta, nem menos desassombrada, nem menos rigorosa. E porque precisamos muitíssimo de preservar a capacidade de discutir sem preconceitos e sem anátemas os assuntos públicos. Especialmente os complicados. Pelo que precisamos em grau extremo guardar as pedras para outra altura - sem, de modo algum, deixarmos de opinar em liberdade.
Achei importante dizer-lhe isto, caro Eduardo.

um político que se revela


A possibilidade de Portugal pedir ajuda internacional face à pressão dos mercados sobre a dívida soberana tem dois aspectos.
Tem um aspecto técnico: financeiramente, o dinheiro emprestado pelo Fundo Europeu de Estabilização e pelo FMI pode ter um preço mais baixo do que o preço que estamos a pagar no mercado. Se esse preço é demasiado alto em termos das condições impostas para a ajuda, é uma questão a ver: também não vamos passar bem se continuarmos a ser asfixiados por taxas de juro desproporcionadas. Financeira e economicamente a ajuda internacional pode até ser o cenário menos mau.
O busílis está em que essa possibilidade tem também um aspecto simbólico. Ironicamente, toda a gente clama por um mecanismo europeu capaz de socorrer os países atacados pelos especuladores - mas todos fogem como o diabo da cruz desta versão ad hoc desse mecanismo. É que, tal como as coisas têm sido feitas, o cenário é montado para apresentar os ajudados como falhados. Há razões para isso: são os países apanhados com fraquezas à mostra que mais facilmente são atacados pelos lobos. Só que isso mostra a fragilidade europeia: enquanto nos EUA as transferências orçamentais entre o nível estadual e o nível federal são um mecanismo normal de defesa do conjunto, na Europa isso funciona como uma tragédia grega. Esse aspecto simbólico é politicamente da maior importância.
É por isso especialmente grave o actual conluio entre Cavaco Silva e Passos Coelho. A distribuição de tarefas é a seguinte: Passos Coelho afia as facas na praça pública, só lhe faltando mandar telegramas ao FMI dando a localização das portas por onde deverão entrar os batedores para os exércitos invasores, prometendo desde já que abrirá o regaço para acolher o poder. Cavaco Silva optimiza a estratégia, fazendo o papel do cínico: "eles dizem que estão a tentar, deixem-nos tentar, não digam nada, deixem-nos estrebuchar até ao fim, para que não possam acusar-me de conluio e me deixem as mão livres para dar a machadada após as presidenciais".
Nada de surpreendente. Cavaco Silva, na verdade, sempre foi um homem de partido. Só que disfarça quando acha que não é o momento de colher os despojos da batalha. Se for hora de salvar a sua própria pele, até é capaz de vender os companheiros (como se viu na última campanha das legislativas). Já quando os céus prometem recompensas ele apresta-se a colher os louros. É essa hora que ele pensa ter chegado. A estratégia da hipocrisia, linha de continuidade de toda uma vida política, atinge o topo.

10.1.11

vira minhoto


Defensor Moura pede demissão de Cavaco.

Por indecente e má figura.

Oh, oh, então o Moura não sabe que eu sou o presidente?! O presidente, chiça !!



postal aos derrotistas



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