30.3.10

Inês de Medeiros e o (que) calado Gama (a honra das pessoas)


Ler Sofia, Populismo regimental, no Defender o Quadrado.

E ler Inês, hoje no Público, respondendo à calúnia:


Por que é que eu me meto nestas coisas? Pela razão simples de estar certo de que os que caluniam gratuitamente os políticos sérios são os coveiros das instituições democráticas. (Eu escrevi "gratuitamente" referindo-me à falta de razões para o efeito.)

a mente o mundo (ler um pouco de Andy Clark)

Que coisa é essa da "mente" (ou mesmo o "espírito", como alguns preferem dizer)?

Andy Clark é um filósofo que há muitos anos vem explorando uma nova visão da mente, segundo a qual estamos errados em considerar que a mente está fechada dentro do nosso corpo (ou dentro da cabeça, no cérebro). É que, acha ele, considerar que a pele e o crânio sejam fronteiras particularmente decisivas para delimitar onde está e onde não está a mente - não é muito proveitoso. O que Clark propõe é uma visão diferente da relação entre a mente e o mundo, com a ideia de que a mente, numa certa (cada vez maior) medida, está no mundo. Complicado? É uma ideia em que vale a pena pensar. Considere o leitor, por exemplo, a relação entre o seu telemóvel ou o seu computador e os seus processos de pensamento: como é que tudo isso se conjuga?
Por razões de trabalho, tive de pegar agora no último Andy Clark, Supersizing the Mind - Embodiment, Action, and Cognitive Extension (2008). Deixo o princípio da introdução, que espero seja estimulante para alguns continuarem a pensar sobre estas coisas.

Consider this famous exchange between the Nobel Prize–winning physicist Richard Feynman and the historian Charles Weiner. Weiner, encountering with a historian’s glee a batch of Feynman’s original notes and sketches, remarked that the materials represented “a record of [Feynman’s] day-to-day work.” But instead of simply acknowledging this historic value, Feynman reacted with unexpected sharpness:
“I actually did the work on the paper,” he said.
“Well,” Weiner said, “the work was done in your head, but the record of it is still here.”
“No, it’s not a record, not really. It’s working. You have to work on paper and this is the paper. Okay?”
Feynman’s suggestion is, at the very least, that the loop into the external medium was integral to his intellectual activity (the “working”) itself. But I would like to go further and suggest that Feynman was actually thinking on the paper. The loop through pen and paper is part of the physical machinery responsible for the shape of the flow of thoughts and ideas that we take, nonetheless, to be distinctively those of Richard Feynman. It reliably and robustly provides a functionality which, were it provided by goings-on in the head alone, we would have no hesitation in designating as part of the cognitive circuitry.

Boas leituras.

Monet y La Abstracción

Exposição, no Museu Thyssen-Bornemisza e na Fundación Caja Madrid, até 30 de Maio próximo futuro.
A ideia: como é que o impressionismo de Monet foi redescoberto e reinventado pela abstracção.
O que espanta a um leigo: como é que uma pintura que pretende deixar os sentidos abertos, e a serem os autores da recepção da obra, pode vir a assemelhar-se a uma pintura assente numa operação de generalização que tem de depender tanto do trabalho do intelecto?

Claude Monet, Charing Cross Bridge, 1989



Claude Monet, Charing Cross Bridge, 1901


 Claude Monet, Nenúfares, 1920-1926


 Claude Monet, Le Pont Japonais, 1918-1924


Gerhard Richter, Lake, 1997



Zou Wou-Ki, A la Gloire de l'Image 5, 1976


 Zou Wou-Ki, 8 janvier 2001


Willem de Kooning, Untitled II, 1979

Conto Contigo


Não, não é este "Conto Contigo", ao jeito de America Needs You!, que venho aqui trazer. É para sugerir uma espreitadela a um blogue. Precisamente, o Conto Contigo. Dizem eles que o espaço serve "para divulgar e comentar os contos de um conjunto de escritores que se submetem a esse exercício de escrita temática". Só agora soube da história, incidentalmente, e a participação de um amigo de velha data incita-me à divulgação.
Faço-o publicando um dos textos mais recentes, da autoria do António Souto, intitulado Vergonha(s).

Arrasto ainda na memória aquela tirada que tantas vezes me arremessavam sem mais nem porquê, era eu miúdo de escola ou pouco mais. Bastava que me negasse (enfim, que me desculpasse) a cumprir um ou outro mandado com o sábio argumento de que tinha “vergonha” – como ter de ir a casa da Tia Rita, da Tia Saudade ou do Ti Domingos levar um recado, ou então ir à loja do Salgado ou do Salvador ou do Fernando Simões ou da Irene Mona comprar um punhado de qualquer coisa –, e zás, lá tinha que ouvir um «Vergonha é roubar!».

É claro que deveria haver outras más acções igualmente vergonhosas para além de subtrair bens alheios, mas esta era sem dúvida uma das mais sérias lá por casa, sobretudo para a boa formação de uma criança como eu, que, na altura, não pensava noutras mais ousadas, como agora conheço e são, afinal, muito comuns em gente adulta.

Também aprendi desde cedo que “Quem tem vergonha, passa fome” – variante de outros ditos que nos dias de hoje são apanágio de alguns autarcas mais temerários –, e que por isso era preciso por vezes passar a perna aos outros colegas-putos da escola e da vizinhança, que a esperteza era o escape para quem aspirava igualmente abrir bem e cedo os olhinhos, como os coelhos.

Porém, quando se abria demasiado pronto a pestana, o responso era logo “Quem não tem vergonha todo o mundo é seu”. E isto dava para os dois lados, ora como elogio, ora como reprimenda, que uma coisa era arriscar, outra ultrapassar os limites do recomendável.

O que eu então não suspeitava, catraio ainda, é que a flexão em número, para além da quantidade, podia alterar em muito a qualidade, e para melhor. De vergonha para vergonhas era um salto gigantesco, um salto de nos fazer corar. Esta foi, reconheço, uma das muitas bondades que a escola me facultou, a de desocultar os mistérios da gramática. E a de ler, sem vergonha, coisas muito bonitas, de vergonhas modeladas.

Foi o caso de Camões, de Os Lusíadas, de um Canto quase todo espraiado por idílicos campos com assediantes vergonhas à solta, ou o caso de Pêro Vaz de Caminha, da sua Carta do Achamento da Terra de Vera Cruz, de certas decorosas passagens. Desta última jóia, repescamos estas:
“Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha.”


“Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres moças, nuas como eles, que não pareciam mal. Entre elas andava uma com uma coxa, do joelho até ao quadril, e a nádega, toda tinta daquela tintura preta; e o resto, tudo ela sua própria cor. Outra trazia ambos os joelhos, com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência descobertas, que nisso não havia vergonha alguma.”


“Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não fazia grande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha.”

E se suspeitas houvesse nestas cândidas leituras, um carnaval bastaria, destes que nos chegam de terras do “achamento”, para nos convencer das generosas vergonhas que por ali abundam, em bundas e peitorais atributos, e que, de tão apetecíveis, não há vergonha que nos valha. Vergonha, mesmo, é não vê-las!

António Souto, Vergonha(s), no Conto Contigo

igreja, pedofilia, pensar seriamente



Não sou católico (já fui), nem crente (já fui), não sou ateu (sou agnóstico, coisas que quer os fanáticos crentes quer os fanáticos ateus abominam), tenho sobre o fenómeno religioso uma posição ditada pela minha recusa da engenharia social, acho ridículas as lutas "científicas" contra ou a favor da religião, procuro pensar cada caso como um caso sem generalizações abusivas. Aflijo-me, por isso tudo, com o que se está a passar em torno da pedofilia na Igreja Católica. Há os que acham que a pedofilia é quase uma fatalidade sacerdotal por causa do celibato; há os que pretendem que a Igreja não tem nada a ver com isto, porque desviantes há em todo o lado e isso não depende da instituição (no que são mais papistas do que o Papa, o qual reconheceu, por exemplo no caso da Irlanda, que isso não é bem assim). Há os que pararam no tempo dos privilégios da Igreja e pensam que resolvem o problema pretendendo que tudo isto não passa de uma campanha; há os que aproveitam para uma espécie de cruzadas ao revés, como se a Igreja Católica fosse o símbolo de todo o mal.
No meio de tudo isto, acho que vale a pena ler (só agora o apanhei na edição em linha do Público) o artigo do António Marujo, pessoa que, além de ser de boa terra, é muito bem informada sobre questões de religião e de Igreja, o que ajuda a escrever sem papas na língua e com bom senso. A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos, por António Marujo.


(O livro "Como se Faz um Santo", é da autoria do Cardeal José Saraiva Martins, na altura Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Ele discorre sobre o tema da santidade no vídeo abaixo.)

29.3.10

estas duas notícias estarão relacionadas?


Do Público:

Cerca de dez por cento dos casais têm dificuldade em engravidar.

Mais de metade dos portugueses nunca pratica "desporto".

É que podia ser como a anedota, em que Deus diz ao tipo que queria ganhar a lotaria mas tinha demasiada fé: "mas ao menos, aposta, caramba"...

para que não digam que só dou notícias de Madrid


Recebido em tempo:

“ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” (Luís de Camões)

... a convite do Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões, o Projecto Almagreira irá abrir a edição deste ano do British Forum for Ethnomusicology, em Oxford, no dia 8 de Abril. Este concerto coincide com uma fase de reorientação musical, em obediência até ao famoso poema de Camões musicado por José Mário Branco. Assim, na tentativa de dar seguimento a novas ideias musicais, o habitual trio passará a contar com a presença do contrabaixista Afonso Castanheira, e o próprio nome do projecto será alterado, passando a chamar-se Folha. Venho por esta forma convidá-lo/a para o nosso concerto de “re-estreia” a realizar no antigo cinema Nimas (Lisboa) no dia 1 de Abril, pelas 21h30 onde se mostrará ao público este “novo” grupo e a respectiva música, a apresentar dias depois na cidade inglesa de Oxford.
Estou, por este meio, a re-endereçar publicamente o convite.

as minhas noites são mais luminosas do que os vossos dias


Ou será "iluminadas"?







Nocturnos de Madrid, estudos (by Porfírio Silva)

conservadorismo para totós


Texas apaga Thomas Jefferson do currículo.
Acrescenta o Público:
«Os novos critérios para o ensino introduzem lições obrigatórias dedicadas aos sistemas teológicos de Calvino e S. Tomás de Aquino, às teorias económicas "alternativas" e à importância de figuras e instituições do movimento conservador do país, como Phyllis Schlafly (que se opunha à igualdade de direitos entre homens e mulheres), a Minoria Moral, a Heritage Foundation, o "Contrato com a América" ou a National Riffle Association (NRA).
As lições sobre Thomas Jefferson, uma das figuras de proa da história da América, autor da Declaração de Independência e terceiro Presidente dos Estados Unidos, não resistiram ao ímpeto dos educadores conservadores do Texas e foram retiradas do currículo. As ideias revolucionárias de Jefferson, que é referido nos manuais como um dos modelos de pensamento do Movimento Iluminista, não agradam aos membros do Conselho de Educação, que se opõem à separação entre o Estado e a Igreja, como defendido por aquele "pai fundador".»

Há conservadores tão estúpidos como certos revolucionários. E vice-versa. Malta que acha que as sociedades são maquinetas a que se pode fazer "off" (ou "delete") à vontade do freguês.

(via Shyz Nogud)

a cigarra e a formiga



Ângela e os gregos.
(Clicar amplia. Cartoon de Marc S.)

filhote de robot ou filhote de engenheiros?


A Pública, revista dominical do Público, publicou ontem um trabalho sobre um dos projectos do Instituto de Sistemas e Robótica (pólo do Instituto Superior Técnico), casa onde tenho a honra de ser acolhido de momento. Sugerimos a leitura desse trabalho: Chico, o robô.


O coordenador do laboratório onde corre este trabalho deu uma conferência, no Ciclo "Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais" (de que tinho sido organizador) que foi aqui apresentada anteriormente e que pode ser vista aqui.



O filhote-robot

O “filhote-robot” é um projecto internacional (iniciado em 2004 e agora em fase de conclusão) que construiu uma série de robots designados como iCub. (Para uma apresentação inicial, Sandini et al., 2004.) Trata-se de um robot humanóide representando as características físicas e cognitivas de uma criança humana de três anos e meio, capaz de gatinhar e de manipular objectos – e de, assim, aprender pela interacção com humanos. O seu “corpo”, com um elevado número de graus de liberdade (53), nove dos quais nas mãos com três dedos independentes e outros dois para estabilidade e suporte, seis dos quais nas pernas que deverão permitir locomoção bípede; as câmaras digitais para a visão, os microfones e outros sensores; no futuro uma pele artificial; e um poder computacional fornecido por máquinas exteriores ligadas por cabos – estão já a permitir experiências de interacção com humanos dirigidas para perceber melhor como é que as capacidades sensório-motoras e cognitivas de um espécime jovem resultam dessa interacção com outros membros de uma espécie natural. É claro que o iCub não é um robot que possa já ter uma interacção natural com humanos, no ambiente dos próprios humanos, estando confinado a laboratórios e ao contacto com experimentadores. Contudo, é um avanço prometedor na experimentação de uma ideia estimulante: grande parte das aquisições pós-natais dos indivíduos de determinadas espécies é devida à interacção apropriada com outros indivíduos em estádios mais avançados de desenvolvimento.



Mais informação no sítio do projecto. As fotos deste apontamento são todas provenientes daí.




Aproveito, entretanto, para deixar aqui umas reflexões sobre a linha de Nova Robótica em que vemos este trabalho integrar-se.

Desenvolvimento para Robots

A maior parte dos sistemas da Nova Robótica trata com, digamos assim, robots que já “nascem adultos”. Todo o complexo de processos que, nas espécies que se reproduzem sexualmente, levam da célula única resultante da fecundação ao indivíduo adulto completamente formado, é ignorado. Essa falta de atenção ao desenvolvimento (pré-natal ou pós-natal) é o espaço que pretende ser ocupado pela Robótica do Desenvolvimento (RD), ou Robótica Epigenética, como resposta ao diagnóstico de que esse pode ser um entrave crucial às ambições das Ciências do Artificial. Como escrevem (Lungarella et al. 2003:179): “A mera observação de que quase todos os sistemas biológicos – em diferentes medidas – passam por processos de amadurecimento e desenvolvimento, comporta a convincente mensagem de que o desenvolvimento é a principal razão pela qual a adaptabilidade e a flexibilidade dos sistemas compostos orgânicos transcende a dos sistemas artificiais”.
A RD não constitui ainda um campo de investigação bem delimitado e permanece muito heterogéneo. Autores diferentes concentram-se em momentos e aspectos diferentes da interacção entre organismos e ambiente no desenvolvimento de um organismo. Por exemplo, na esteira de (Teuscher et al., 2003) vem uma preferência por abordagens centradas na concorrência de três processos (filogenia, ontogenia, epigenia) que, em escalas temporais diferentes, conformam os organismos adultos de uma dada espécie. Já (Zlatev e Balkenius 2004) induzem uma abordagem mais interessada pelos aspectos psicológicos do desenvolvimento pós-natal. De qualquer modo, a RD difere de outras visões das Ciências do Artificial em aspectos essenciais, dos quais passamos a destacar alguns que consideramos mais significativos.

Primeiro, a RD sublinha sem concessões o papel do corpo na cognição: seja qual for a base inata, os mecanismos cognitivos virão a ser o resultado dos processos de interacção entre um corpo com certas características sensório-motoras e um mundo em movimento em que esse corpo tem de se desembaraçar.

Segundo, o desenvolvimento é um processo incremental, em que o que é possível num estádio depende do que se adquiriu em estádios anteriores – mas, igualmente, um processo não linear, com instabilidades, regressões, mudanças de ritmo, ritmos desencontrados em dimensões diferentes.

Terceiro, o desenvolvimento cognitivo é condicionado, mas também apoiado, por constrangimentos do corpo: as limitações sensoriais, se limitam as capacidades cognitivas, também protegem o seu carácter incremental (por exemplo, as limitações visuais do recém-nascido permitem que só tenha que lidar com um fluxo restrito de dados visuais, de acordo com o desenvolvimento incipiente do sistema neuronal).

Quarto, o desenvolvimento não depende de um controlador central que organize todo o processo, sendo em muitos aspectos mais um conjunto de processos de auto-organização, ligados a diferentes aspectos da interacção com o ambiente. O que é interessante é que processos centralizados, favorecidos por certas correntes mais clássicas das Ciências do Artificial, provavelmente seriam incapazes de lidar com os mesmos problemas. Atente-se, por exemplo, no que significa o “mero” controlo da estrutura constituída pelo esqueleto e pelos músculos. Mesmo que cada um dos cerca de 600 músculos do corpo humano só tivesse duas posições (contraído ou relaxado), isso faria com que o número de possíveis configurações do sistema (2600) fosse superior ao número de átomos no universo conhecido. Esse tipo de complexidade dos organismos vivos sugere que o projecto explícito de criaturas artificiais com sistemas de controlo centralizados pode ser impraticável.

Quinto, o desenvolvimento (pós-natal) depende essencialmente de processos sociais, já que ele acontece graças a um número massivo de interacções continuadas com outros indivíduos, principalmente da mesma espécie, adultos ou em estádios ulteriores de desenvolvimento, que proporcionam naturalmente (na maior parte dos casos sem um treino específico) os desafios adequados ao carácter incremental do processo. Por essa via, provavelmente impossível de formalizar de maneira a poder ser automatizada, a espécie acolhe os seus espécimes – de forma social (apesar de a dimensão social ter demorado tanto a começar a ser sequer pensada pelas Ciências do Artificial).

Fico com alguma esperança de que sigam as ligações e descubram, a partir daqui, um pouco do que se faz em Nova Robótica por esse mundo fora - ficando, de passagem, mais despertos para o facto de em Portugal haver quem esteja na linha da frente da investigação mundial nestas matérias.

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REFERÊNCIAS

(Lungarella et al. 2003) Lungarella, M.; Metta, G.; Pfeifer, R.; Sandini, G. 2003. Developmental robotics: a survey. Connection Science, 15(4), 151-190

(Sandini et al., 2004) Sandini, G.; Metta, G.; Vernon, D. 2004. RobotCub: An Open Framework for Research in Embodied Cognition. In: Proceedings of Humanoids 2004 (IEEE-RAS/RSJ International Conference on Humanoid Robots). Los Angeles, Novembro de 2004

(Teuscher et al., 2003) Teuscher, C.; Mange, D.; Stauffer, A.; Tempesti, G. 2003. Bio-inspired computing tissues: towards machines that evolve, grow, and learn. BioSystems, 68 (2-3), 235-244

(Zlatev e Balkenius 2004) Zlatev, J.; Balkenius, C. 2004. Why ‘Epigenetic Robotics’?. In: Balkenius, C.; Zlatev, J.; Kozima, H.; Dautenhahn, K.; Breazeal, C. (eds.). Proceedings of the First International Workshop on Epigenetic Robotics: Modeling Cognitive Development in Robotic Systems. Lund, Lund University Cognitive Studies

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Pedimos desculpa aos leitores, mas só umas horas depois de publicado este texto nos apercebemos de que tinha "fugido" uma formatação de texto que transformava uma potência noutro número que não correspondia ao que se estava a tentar dizer. É quando falamos nos músculos do corpo humano. Lá fica o pessoal a pensar que os filósofos só dizem disparates quando se põem a falar de números...

chocante



Papa diz que não se intimida com os "murmúrios da opinião dominante". Segundo o Público «O Papa Bento XVI declarou hoje, nas cerimónias do Domingo de Ramos, na Praça de São Pedro, que a sua fé lhe dará a coragem para não se intimidar pelas críticas que lhe estão a ser feitas a propósito dos abusos sexuais cometidos por padres».
Mas o problema são as críticas ou são os factos? Meter a sua fé ao barulho parece-me desajustado. Explique-se, homem, e deixe-se de conversa da treta, que não somos meninos de coro (e se fossemos parece que tínhamos de reforçar as protecções).

28.3.10

Música Sacra Popular de Las Américas


Um belo fim de tarde, outra vez a aproveitar as comemorações da Semana Santa em Madrid: um concerto, na Paróquia de Santa Cruz, ali ao cimo da Calle de Atocha, pelo agrupamento Cámara Sacra: Música Sacra Popular de Las Américas. Destaco, pela sua beleza, a Misa Cubana de Rodrigo Prats; e a Misa Criolla de Ariel Ramírez. A formação é dirigida pelo cubano Flores Chaviano, que também é compositor e guitarrista - e que entretanto está radicado em Espanha.
Eu não sou crente e não vivo estes concertos como celebração da Paixão de Cristo, como é o caso com outros. Mas encaro o fenómeno religioso como um fenómeno cultural. (Bom, há mais nesta carta, mas não é conversa para agora.) E, claro, tenho imenso apreço pelo papel que a Igreja em certos países desempenhou e desempenha, como espaço onde se abrigam os que lutam pela liberdade. Além de, evidentemente, toda a boa música com a inspiração das Américas (toda a música onde entra de alguma forma um sopro negro) ser de uma frescura, de uma leveza inspirada, que muito aprecio. Como tive de ouvir o concerto em pé (apesar de mesmo ao lado dos músicos e cantores), até tive vontade de dançar e tudo. E, como sabeis, para certas culturas isso não representa nenhuma falta de respeito pela "casa de Deus".

Deixo aqui uma espreitadela ao "Gloria" da Misa Criolla, do argentino Ariel Ramírez (falecido muito recentemente, a 10 de Fevereiro passado), interpretadas por outra formação que não aquela que hoje ouvi.


La Douleur, de Duras


La Douleur, sobre textos de Marguerite Duras, encenado por Patrice Chéreau em colaboração com o coreógrafo Thierry Thieû Niang, com Dominique Blanc a dar voz e olhos e corpo e movimento e lágrimas e desespero e esperança e outra vez desespero e a calma às vezes e outras vezes a desistência e sempre a dor sempre a dor - a dar tudo isso a Duras pela via do texto dela. Teatro, no quadro da Semana da Francofonia 2010, em Madrid. Uma importação da produção para o Théâtre des Amandiers, de Nanterre, em 2008. No Teatro de La Abadia.
O tema da espera. Neste caso, uma mulher que espera. A circunstância concreta aqui é a guerra, o campo de concentração de onde a mulher espera que o marido regresse. Como se pode regressar de um campo de concentração, um "daqueles" campos de concentração. Mas há tantas outras esperas inúteis. Inúteis? Quão útil pode ser a inutilidade? Neste mundo onde se descarta facilmente, tudo é inútil. E tudo se julga por uma função de utilidade esperada. Utilitarismos de todos os feitios. Nem que seja para combater esse mundo, há inutilidades que valem a pena. Se as fizermos valer a pena.
A espera aqui é concreta: é Duras que espera pelo marido, naquele tempo em que a maioria estava contente pela recente libertação de Paris, alguns já tinham recebido de braços abertos os seus sobreviventes, alguns já sabiam que os seus tinham morrido nos campos - e outros estavam na incerteza. Como Duras. E é a história dessa espera, e de como foi possível afinal salvar Robert Antelme do campo e da burocracia da guerra e da paz que por pouco não o deixavam lá morrer. E como foi receber o marido em estado vegetal e tornar a fazê-lo homem. Num mundo que, em tais circunstâncias, fica ao mesmo tempo tão pequeno e tão fundo. Tão pequeno por serem tão poucas e tão perto as coisas que interessam. Tão fundo por estarmos tão próximos do nada e da possibilidade de tudo voltar a ser possível. A dor. A realidade concreta da dor. Ali em cima de um palco, quase sem adereços, onde só está uma mulher só, essa Dominique Blanc que se entrega toda a encher o palco de gente pela sua voz e o seu gesto, fazendo-nos ver e sentir tanto movimento, tanto sentimento, uma intelectual a pensar de forma monstruosamente poderosa no meio da dor.
O encenador disse: "Duras não nos poupa detalhes, Blanc não nos poupa matizes." E cada variação da alma da personagem assim exposta é um corte na nossa pele. E na nossa alma. (Já me esquecia: isso não existe.)


La Douleur [présentation]

27.3.10

da linguagem comum


O filósofo Donald Davidson (1917-2003) começa o seu ensaio “The Method of Truth in Metaphysics” (1977) com a seguinte frase: “In sharing a language, in whatever sense this is required for communication, we share a picture of the world that must, in its large features, be true.” Vamos lá ver o que é que isto interessa aqui e agora.

Davidson insere-se numa linha de investigação filosófica que toma como objecto a linguagem comum. Como escreveu John Austin, outro filósofo desta linha, que teve há algum tempo em Portugal um invulgar direito de antena popular proporcionado pelo gato fedorento RAP, "a nossa comum provisão de palavras incorpora todas as distinções que os homens, no decurso de muitas gerações, verificaram ser vantajoso traçar e as conexões que verificaram ser vantajoso assinalar: são seguramente mais numerosas, mais credíveis - uma vez que passaram o longo teste da sobrevivência dos mais aptos - e mais subtis, pelo menos em todos os assuntos práticos correntes, do que qualquer outra que tu ou eu possamos conceber sentados nos nossos cadeirões - o método alternativo preferido". Assim sendo, analisar a linguagem comum resulta em analisar a realidade: "quando examinamos o que havemos de dizer e quando, que palavras haveríamos de usar em que situações, não estamos a olhar apenas para palavras (nem para "sentidos", o que quer que isso seja), mas também para as realidades, para falar acerca das quais usamos as palavras: estamos a usar uma pronunciada capacidade das nossas palavras para penetrar a nossa percepção dos fenómenos - embora não como um árbitro definitivo". [1]

Ora, para Donald Davidson [2], a existência de uma linguagem que serve para comunicar, prova que os falantes que partilham essa linguagem também partilham uma visão do mundo que, em linhas gerais, é verdadeira. Davidson coloca no foco da sua análise a actividade interpretativa, consistindo em procurar compreender o discurso de outros falantes como compreensão daquilo em que eles acreditam: é esse intérprete que, para compreender o discurso alheio, tem de partilhar com o autor desse discurso uma visão do mundo globalmente correcta. Vejamos o argumento.
Acreditar em alguma coisa, e identificar e descrever essa crença particular, só é possível dentro de um sistema alargado e complexo de crenças inter-relacionadas. Por exemplo, que eu acredite que "uma nuvem está a passar em frente do sol" e descreva essa crença, só é possível sobre o pano de fundo de uma densa malha de outras crenças apropriadamente associadas com essa: que o sol existe, que as nuvens são feitas de vapor de água, que a água pode existir no estado líquido mas também no estado gasoso, ... , e assim sucessiva e indefinidamente.
Precisamente pela mesma razão, eu só posso compreender o que outra pessoa diz se o meu método de interpretação do seu discurso não supuser que o seu sistema de crenças é fortemente errado. Se eu suponho (por exemplo, porque ela o diz) que outra pessoa acredita que (A) = "uma nuvem está a passar em frente do sol", suponho que essa pessoa tem uma malha de crenças (α) relacionada com (A). E, para eu poder interpretar a crença dessa pessoa como sendo a crença em (A), tenho de supor que (α) seja suficientemente parecida com a minha própria malha de crenças relacionadas com (A). Isto é: interpreto a outra pessoa na base das minhas próprias crenças; eu só posso compreender o que os outros dizem se os interpretar como partilhando comigo um vasto (mesmo se não total) acordo acerca do que está relacionado com o que é dito. Mesmo para poder discordar de algumas das coisas em que o outro acredita, tem de haver uma ampla base de acordo entre nós: é sobre o pano de fundo das concordâncias que as discordâncias são inteligíveis. Não posso compreender alguém acerca de quem suponho que a generalidade das suas crenças são erradas.
Mas, o que me garante que o nosso domínio de acordo coincida precisamente com o que é verdade? Nada garante. Não posso garantir quais são as partes do domínio de acordo entre mim e os meus interlocutores que são verdadeiras: no entanto, muito tem de ser verdade para que algo seja falso. Davidson pretende demostrar isso com o argumento do "intérprete omnisciente", a que não vamos passar (até por o considerarmos falacioso, como já tivemos oportunidade de explicar noutro local).

O que me interessa aqui e agora é aplicar o raciocínio acima a uma comunidade política. Por exemplo, a democracia portuguesa. Se, como tem acontecido, continuarmos a rasgar a base de comunicação decente dentro desta comunidade, vamos acabar mal. Se vivemos no mesmo mundo, no mesmo barco – e se precisamos de nos entender acerca do que fazer para navegar melhor – não podemos continuar a julgar como basicamente errado quase tudo aquilo que afirmam e julgam os outros membros da nossa comunidade, como se eles vivessem noutra terra e pudessem ser completamente indiferentes à nossa sorte comum. Sob pena de perdermos de vista o próprio mundo que nos é comum e não espera parado que saibamos o que queremos. Grande parte da política portuguesa nos últimos tempos tem passado pela desqualificação da própria palavra dos agentes: distorcer, desconfiar, desqualificar, baralhar os planos (tornar conversas privadas em assunto político, por exemplo).

Continuar nesta linha de destruição do outro como interlocutor e pensar que o país pode ser viável dessa maneira - é como pensar que é possível existir um par de namorados ligado por um grande amor apesar de cada um julgar o outro absolutamente inconsciente, irrealista, mal informado, perverso, mentiroso, …

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REFERÊNCIAS

[1] AUSTIN, J.L., "A Plea for Excuses", in Philosophical Papers, Oxford, Clarendon Press, 1979 (para a terceira edição, sendo a 1ª edição de 1961; trata-se de uma reimpressão do texto publicado pela primeira vez em 1957), p.182

[2] , DAVIDSON,D., "The Method of Truth in Metaphysics", in Inquiries into Truth and Interpretation, Oxford, Clarendon Press, 1984 (republicação do original de 1977), pp.199-205


o Sócrates do PSD?


Pedro Passos Coelho é o novo líder do PSD.

Passos Coelho é o novo líder do PSD.

Penso que PPC pode ser um bom líder para o PSD. Por "bom líder" entendo alguém que dê um rumo à casa, que faça uma oposição sustentada e que, desse modo, convença o eleitorado de que pode ser vizir em lugar do vizir. PPC é um tipo de político pouco apreciado em Portugal: um tipo que não tem galões nenhuns mas decide preparar-se para exercer uma função e se bate para ter a sua oportunidade. Pode ser um pouco radical em certas coisas, mas isso só faz bem ao país e ao PSD: que haja uma alternativa, quer dizer, que se proponham políticas diferentes.
Também ninguém dava nada por Sócrates e, afinal, os adversários, para o tramarem, tiveram que deixar de fazer política para fazer porcaria (com a imprensa, com os tribunais). Porque Sócrates se mostrou de uma determinação e coragem políticas surpreendentes. Há uma diferença: Sócrates, quando apareceu, era menos interessante do que os "padrinhos" que o arranjaram para tomar conta da casa. PPC, tanto quanto é dado saber, é mais interessante do que os "padrinhos" que conseguiu arranjar. Vejamos o que isso lhe vale.
O país precisa de política, para sair do chiqueiro. Vamos ver se PPC tem coragem para isso.

Passos Coelho sublinha que o resultado “é inequívoco”.

26.3.10

a santa aliança


Escreve o Miguel Abrantes, no Câmara Corporativa:
Voltando ao tema das audições, foi desde muito cedo claro que haveria que ouvir os protagonistas da única conspiração conhecida para condicionar o direito de informação dos cidadãos, a célebre “inventona” das escutas de Belém. Surpreendentemente (para quem ainda se surpreenda com estas coisas), Luciano Alvarez e Tolentino de Nóbrega não estiveram para se maçar e disseram-se indisponíveis para ir ao Parlamento. Vai daí, o BE achou por bem também não incomodar Fernando Lima, o ex e actual assessor do Presidente da República. Parece que a Santa Aliança ainda mexe.
Integral aqui.

palhaçadas monárquicas



Público: Sapadores de bombeiros retiram bandeira monárquica que susbtituiu a nacional.

i: Bombeiros retiram bandeira monárquica.

Isabel Moreira, no jugular:
Bonito é roubar a bandeira republicana e colocar, no seu lugar, a bandeira monárquica. E no Parque Eduardo VII. Um parque assim baptizado em honra de Eduardo VII, de Inglaterra, famoso pelas suas infidelidades conhecidas e toleradas pela obediente esposa, um verdadeiro playboy, o que me parece indiferente, mas que é o retrato tão actual da queda dos valores conservadores que as monarquias europeias pretendiam e pretendem hipocritamente representar.

Desta vez o PPM não conhecerá os autores e não fará uma capa de jornal a toda a largura e coisa e tal? Ou a legalidade e a ilegalidade dependem da amizade?

Inês de Medeiros, deputada, e o calado Gama (a honra das pessoas)


Fernanda Câncio, no Diário de Notícias, excerto:
«A não ser, espera, que Inês de Medeiros não tenha dado uma morada falsa. Que o seu dossier de candidatura diga, claramente, no local de residência, "Paris, França" - aliás à imagem do seu BI, emitido em 6 de Dezembro de 2005. E que a decisão de candidatar uma portuguesa residente em Paris pelo círculo de Lisboa tenha - obviamente - sido do partido que a convidou, que como os outros partidos candidata residentes nos Açores para o círculo de Bragança e terá considerado que a residência num país do espaço de livre circulação europeu não limita os direitos de cidadania nem restringe as possibilidades de representação política. E que a existir uma limitação ela teria sido, decerto, detectada e apreciada aquando da submissão da candidatura aos serviços competentes. Ou não?
É certo que a deputada se mantém inscrita como eleitora em Lisboa, mas na mesmíssima situação de desencontro estão muitos milhares de concidadãos: confundir tal com falsificação será no mínimo estulto. Mais ainda o é o facto de, tendo sido os serviços da AR que, após a eleição, informaram Medeiros do seu direito legal ao pagamento das viagens que faz à residência, ser à deputada que se pedem explicações, enxovalhando-a e denegrindo-a meses a fio. Ainda que a calúnia e difamação sejam já a normalidade, talvez não fosse má ideia perguntar, simplesmente, aos serviços do Parlamento o porquê da "confusão". E a Jaime Gama porque está tão calado.»
Via jugular.


25.3.10

federação ibérica de juventudes anarquistas

Um cocktail com muitos temperos. Quem dera que alguns dos mencionados entrassem em todas as receitas.


melancolia europeia

(Cartoon de Marc S.)
(clicar para ampliar)

Misterio del Cristo de los Gascones, pela Nao d'Amores


A companhia é espanhola (residente em Segóvia) e tem nome (Nao d'Amores) retirado de um auto de Gil Vicente, o espectáculo já pôde ser visto (e vimos) em Lisboa (no Teatro do Bairro Alto, integrado no Festival de Almada, edição 2008), agora (ontem) pudemos reencontrar uma e outro em Madrid.

A companhia, especializada no reportório renascentista, apresenta um trabalho baseado num dos primeiros elementos do teatro espanhol: uma recriação contemporânea da cerimónia litúrgica da Paixão como tinha lugar na Igreja de San Justo em Segóvia. O "Cristo de los Gascones" era (e é agora outra vez) uma imagem do Cristo, policromática e com os braços articulados, quase do tamanho de um humano adulto, que o sacerdote oficiante nessa igreja usava (e agora usam os actores) para explicar alguns episódios da vida, morte e ressurreição de Cristo segundo as crenças católicas. A música utilizada nesta versão tem como ponto de partida uma obra do "Cancioneiro da Catedral".

Desta feita, a oportunidade aconteceu na Basílica de San Francisco el Grande, numa apresentação integrada nas comemorações da Semana Santa de Madrid 2010. Apesar de já conhecermos o trabalho, soube a diferente esta apresentação numa igreja (cheia), com as luzes apagadas ao princípio da noite (só com o zimbório e os vitrais iluminados a partir do exterior), explorando o espaço bem diferente daquele que existe no Teatro do Bairro Alto. A acústica não facilitava a compreensão detalhada do texto: nesse aspecto, estivemos mais confortáveis em Lisboa, apesar de termos, neste texto, um espanhol mais próximo do português do que é o caso na actualidade. Curiosamente, recebidos numa igreja, este texto e representação parecem mais heterodoxos do que vistos num teatro. São exemplos disso o quadro do baptismo de Cristo, envolvendo o herói num divertimento quase infantil com as águas, ou o episódio da Madalena, apresentado como uma tentação erótico-amorosa do Cristo.
O vídeo que se segue, bem como o cartaz que acima se reproduz, não apontam para esta representação em concreto, mas são produto genuíno da companhia.



24.3.10

trocado Gama / trocado eu


Devo um pedido de desculpas a Jaime Gama
. O Secretário de Estado chama-se mesmo Trocado. Quanto ao resto, continuo a achar que o comportamento de Gama foi arrogante, raiando o malcriado. Assinado: Porfírio Silva, Madrid, a 24 de Março de 2010. Citações judiciais para o endereço habitual.

"a diplomacia não tem estados de alma"



Exactamente, Eduardo Pitta. A coragem não é tomar atitudes - é assumir-lhes as consequências.

(Na altura pensei que era uma vergonha o governo não fazer respeitar a autoridade do Estado. Afinal, estava-se apenas à espera do momento.)


esquerdas, a deles e a nossa


Vi, recentemente, gente da esquerda portuguesa, incluindo simpatizantes do PS, festejar aí pela blogosfera a vitória, em França, da esquerda lá deles (deles, dos francos, claro). Coisa que envolve, assim para começar, o PSF, a Frente de Esquerda (comunistas incluídos) e a coligação Europa Ecologia. E, das regionais de agora, já com o olho nas presidenciais.
Alguns desses festejantes e contentes, ao mesmo tempo iam escrevendo na página ao lado acerca da impossibilidade absoluta, e até do notório desinteresse, de um entendimento luso entre o PS e aqueles que se reclamam como a esquerda da esquerda.
Deve ser o PS lá deles que é muito vermelho, a esquerda da esquerda francesa que é muito cor de rosa, ou então escapa-me qualquer coisa.
Por que é que há coisas que "os outros" podem fazer e em Portugal, e para os portugueses, são sempre "impossíveis" (para as nossas cabeças, claro)?


23.3.10

Calígula, de Camus, um excerto para filósofos da polis

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(estamos no fim da Cena VII do I Acto)

CALIGULA
Et bien, j’ai un plan à te soumettre. Nous allons bouleverser l’économie politique en deux temps. Je te l’expliquerai, intendant… quand les patriciens seron sortis.

Les patriciens sortent.

(Cena VIII)

Caligula s’assied près de Cæsonia.

CALIGULA
Écoute bien. Premier temps : tous les patriciens, toutes les personnes de l’Empire qui disposent de quelque fortune – petite ou grande, c’est exactement la même chose – doivent obligatoirement déshériter leurs enfants et tester sur l’heure en faveur de l'État.

L’INTENDANT
Mais, César…

CALIGULA
Je ne t’ai pas encore donné la parole. À raison de nos besoins, nous ferons mourir ces personnages dans l’ordre d’une liste établie arbitrairement. À l’occasion, nous pourrons modifier cet ordre, toujours arbitrairement. Et nous héritions.

CÆSONIA, se dégageant
Qu’est-ce qui te prend ?

CALIGULA, imperturbable
L’ordre des exécutions n’a, en effet, aucune importance. Ou plutôt ces exécutions ont une importance égale, ce qui entraîne qu’elles n’en ont point. D’ailleurs, ils sont aussi coupables les uns que les autres. Notez d’ailleurs qu’il n’est pas plus immoral de voler directement les citoyens que de glisser des taxes indirectes dans les prix de denrées dont ils ne peuvent se passer. Gouverner, c’est voler, tout le monde sait ça. Mais il y a la manière. Pour moi, je volerai franchement. Ça vous changera des gagne-petit. (…)
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eu pensava que grande parte da esquerda era laica



Eu pensava que grande parte da esquerda era laica. Que não espera que caia maná do céu. Que acreditava na necessidade do nosso próprio empenhamento responsável na modificação das nossas condições. Mas não: certas tomadas de posição relativamente ao PEC, que fazem passar a ideia de que "tudo é possível", não são apenas idealistas: são profundamente "religiosas", quer dizer, vivem de "fézadas". É que uma coisa é propor outras opções perfeitamente compatíveis com o quadro que enfrentamos (como alguns membros do PS têm proposto, por exemplo aqui), outra coisa é querer convencer alguém de que podemos ir, a gosto, de qualquer ponto da história a qualquer outro ponto da mesma história do mundo, sem limitações de espécie alguma. Como se a cabra pudesse optar por ter um pescoço de girafa para maior facilidade em alcançar as folhas das árvores mais altas.
Por outro lado, não me surpreende o "orgulhosamente sós" de algumas dessas vozes que se reclamam de esquerda da esquerda. Uns tantos dos que criticam o PEC entendem, no fundo, que Portugal viveria bem era sem os constrangimentos da Europa e do Euro e dessa tralha toda. Autarcia. O velho sonho salazarista. Sós contra o mundo. Talvez também fechar as fronteiras, o que faria uma bela ponte ideológica com a direita mais extrema. Comer o pão das nossas searas. Beber o vinho das nossas cepas. Respirar o ar das nossas serras. E estiolar à sombra da irresponsabilidade de uma esquerda que deixou de ter tomates para dizer a verdade. E a verdade é que o "socialismo" ou qualquer outra coisa que se queira prometer, mesmo que seja apenas um pouco mais de igualdade e de equidade, só lá vai com esforço. "Por nossas mãos, por nossas mãos", como dizia a canção.
(Isto, claro, não me deixa ter menos pena da pobreza de espírito daqueles que, "do nosso lado", tratam as divergências como "traição". Mas essa é outra história.)

22.3.10

trocado Gama


Este vídeo parece ser o vídeo da cena em que o presidente do parlamento português ridicularizou um secretário de estado, no plenário daquele órgão de soberania, por ele não se dirigir aos representantes do povo com a fórmula regimental. Mas não é. Este vídeo é, ou parece ser, o vídeo que mostra que o presidente do parlamento português dá a palavra a um membro do governo com uma descortês troca de nomes, chamando-lhe "trocado" em vez de Torcato. Talvez seguindo a moda, lançada por outros mais dados a palhaçadas com as autoridades.
Sou eu que ouço mal e Gama falou certo? Espero bem que sim, que seja eu a estar errado. Caso contrário, o mesmo presidente do Parlamento que embarca em teses populistas e demagógicas contra os deputados, também não pratica o respeito pelos titulares de que tão ostensivamente se quer mostrar defensor.

Acrescento mais tardio do que o desejável: Devo um pedido de desculpas a Jaime Gama. O Secretário de Estado chama-se mesmo Trocado. Quanto ao resto, continuo a achar que o comportamento de Gama foi arrogante, raiando o malcriado. Assinado: Porfírio Silva, Madrid, a 24 de Março de 2010. Citações judiciais para o endereço habitual.


o estrangeiro nosso de cada dia

«Los extanjeros están ahí, son parte de nuestra sociedad, de nustras ciudades, y hay que buscar una solución de vida conjunta que no pase por el relativismo.»

«Ahora, es necesario recuperar la polis y, con ella, el sentimiento de hospitalidad al que nos debemos.»
Lola Blasco Mena, Generación

Fotografias de Pierre Gonnord, da série Terre de Personne







quando a política vale a pena



Obama faz história com aprovação da reforma da saúde.

Reforma da Saúde histórica aprovada no Congresso dos EUA.

Por muito que Obama tenha tido que ceder para conseguir a aprovação desta reforma - e foi muito - este acto legislativo é um daqueles que representam o melhor da política. Esta peça teve também do pior que há na política americana: o uso de todos os meios, incluindo as mais baixas calúnias, para ocultar a verdadeira discussão com acusações torpes ao Presidente e aos Democratas. Contudo, em saldo global, trata-se de uma decisão que realmente interessa a milhões de cidadãos: os que serão directamente beneficiados e os que preferem viver num país com mais decência humana. É isto que precisamos aprender com esta batalha: a política só vale a pena se lutarmos por causas. Mesmo que estejamos errados. Sem isso, a política é um mau telejornal. E disso já temos que baste.


21.3.10

o Calígula de Camus

A companhia teatral L'OM-IMPREBÍS, nascida em Valencia, está a apresentar em Madrid, no Teatro Fernán Gómez, a peça de Albert Camus “Calígula”. A peça, em que Camus tencionava representar ele próprio o papel principal, teve um primeiro manuscrito em 1939; aquando das primeiras representações, em 1945, foi entendida como uma fábula sobre os horrores do nazismo; continuou a ser significativamente reelaborada até 1958, sendo, para Camus, acerca de um problema mais geral do que qualquer horror historicamente localizado. Esta é uma reflexão sobre a procura do impossível. Nas palavras do próprio Camus, esta peça, junto com Le Malentendu, tratava de precisar o pensamento expresso em L’Étranger e em Le Mythe de Sisyphe. Pertence, pois, ao pensamento sobre o absurdo.
No princípio, Calígula queria a Lua, uma das (poucas) coisas que não possuía. Com o passar do tempo e uma mais aguda compreensão do seu lugar como imperador, querer o impossível torna-se um programa para o poder: “Acabo finalmente de compreender a utilidade do poder. Ele dá ao impossível a sua oportunidade. De hoje em diante, a liberdade não mais terá fronteiras” (Acto I, Cena IX). Em Calígula, que se declara “o único homem livre neste império” (Acto I, Cena XI), a tirania não é uma loucura. Como diz Cherea de Calígula: “Imperadores loucos, nós conhecemos disso. Mas este não é suficientemente louco. E o que detesto nele é que ele sabe o que quer” (Acto II, Cena II).

As ideias perigosas não são ideias peregrinas, repentinas, não vão de mãos dadas com o impulso. As ideias perigosas são grandes sistemas. Na peça, Cherea diz aos patrícios que vai colaborar no golpe de Estado contra o imperador, não pelas pequenas razões deles, que querem vingar-se de afrontas pessoais várias, mas antes “para lutar contra uma grande ideia cuja vitória significaria o fim do mundo”. Essa “grande ideia”, nascida na cabeça do poder que se quer suficientemente absoluto para obter o impossível, tem a sua própria lógica, é capaz de sistema filosófico. Não há-de ser por isso que devemos ceder: podemos ser esmagados pela retórica do sistema, mas temos de encontrar os nossos meios de lhe fazer frente. Como conclui Cherea: “Il faut bien frapper quand on ne peut réfuter” (Acto II, Cena II). Essa realidade política é muitas vezes ignorada: quantos estão tão convencidos da sua razão que esquecem que “vencido” e “convencido” são coisas distintas.
Às “grandes ideias”, à demanda do “impossível”, pode opor-se a gente “normal”, com ou sem aspas, com ou sem os desprezos que a qualificação por vezes acompanha. Cherea, respondendo a Calígula, que lhe perguntava por que quer ele matar o imperador, diz (Acto III, Cena VI): “Gosto e necessito de segurança. A maior parte dos homens são como eu. São incapazes de viver num universo onde o pensamento mais bizarro pode num segundo entrar na realidade – onde, a maioria das vezes, entra como uma faca num coração. Eu também não quero viver num tal universo.”


A versão que vimos desta peça, ontem em Madrid, tem uma força que assenta no próprio texto. Contudo, o desempenho de Sandro Cordero, no papel de Calígula, ajuda muito a tornar verosímil o que vemos e ouvimos. O comportamento do imperador parece, à nossa sensibilidade burguesa, tão bizarro – esquecidos que às vezes estamos da nossa capacidade de produzir horror e de pactuar com o horror – que o objecto teatral camusiano arrisca parecer-nos fantástico, uma fábula. Calígula, que não se contenta em ir mandando matar ou matando pelas suas próprias mãos os que o rodeiam, quer ser, para contrariar um consulado demasiado morno, quer ser a própria peste que a natureza não mandava. Manda fechar os celeiros para haver fome. Assume-se como um deus. É amante da irmã e de outras, que não se impede de estrangular. Organiza um “sistema de impostos” assente no assassinato. E por aí adiante, numa lista de crimes que exibem grande imaginação. O actor, mostrando a quase inocência juvenil com que vai amadurecendo a liberdade do tirano, dando a ver como a inteligência pode servir o puro desprezo por todos os outros seres, humanizando em carne e osso a infantilidade do experimentador com o poder, torna tudo aquilo acreditável. E esse é um feito necessário: temos de compreender que tudo aquilo é possível. Que a história não é menos absurda que a peça.
Camus escreveu desta peça que não se tratava de teatro filosófico – quando ela é, manifestamente, teatro filosófico. Tal como este Calígula diz que não é um tirano porque os tiranos matam por ideias e ele não tem ideias – quando ele tem a mais poderosa de todas as ideias, a ideia de querer a utopia.


agenda política na justiça


Jorge Sampaio em entrevista ao Público.
Pergunta - Há uma Justiça com agenda política ou é uma desconfiança?
Resposta - Há uma profunda desconfiança sobre isso e não pode haver de todo. Por exemplo, de acordo com o que veio nos jornais, o processo do procurador Lopes da Mota deixa-nos alguma preocupação; por isso os votos de vencido na instância de recurso são da maior importância. Sabe-se agora que, afinal, se tratou de uma única conversa, a sós, entre Lopes da Mota e os procuradores do caso Freeport, que dão versões diferentes, sobretudo quanto ao tom e quanto ao sentido da conversa. E sabe-se também que a única pessoa que ouviu as versões de ambas as partes, a procuradora distrital de Lisboa, Francisca van Dunen, votou contra a punição por não haver qualquer razão objectiva para preferir qualquer das versões. Vale a pena que continue a esclarecer-se o porquê da punição, cuja justiça, neste enquadramento, deixa as maiores dúvidas.
Aqui.

19.3.10

Gama é um infoexcluído?



Deputados socialistas batem com as tampas dos computadores
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«O protesto dos deputados aconteceu quando Jaime Gama respondia a uma interpelação do deputado socialista, e presidente do Conselho de Administração da AR, José Lello, que se queixou de os repórteres fotográficos captarem imagens dos écrans dos computadores dos deputados, violando a sua privacidade. O presidente da AR respondeu que os computadores não são pessoais e que há regras para o trabalho dos repórteres, estando ao alcance dos deputados mudarem essas regras se o entenderem. Estas declarações de Gama suscitaram também uma vozearia na bancada do PS.»

Razão tem a Maria João: «Cá para mim o Jaime Gama é um infoexcluído. A questão não é o instrumento, é o que se faz com ele (sim, também se aplica aqui, esta máxima). Se o deputado estiver a consultar a sua conta bancária, são dados privados. Se estiver a ver o mail, são dados privados, se estiver a inserir passwords, são dados privados. O computador pode ser um bem público, mas o que se faz com ele pode (e muitas vezes deve) ser privado.»

Mas, além disso, mais preocupante é que também Gama esteja a enveredar por atirar rebuçados ao populismo, aos que querem tratar os deputados (e qualquer pessoa com responsabilidades de interesse público) como se não tivessem direito ao seu espaço pessoal e tivessem de se considerar sempre "na arena". Se é com a ajuda dessas palhaçadas que Jaime Gama se quer projectar (não sei bem para onde), faria bem lembrar-se que nunca conseguiu fazer-se eleger para nada a que tenha concorrido em seu nome pessoal. Isto só para não lhe darem ideias. Se já nem o Lello o atura...

dia doS paiS (o dia do pai comemoro em privado)


Relatório Estrela: Eurodeputada portuguesa luta por licenças maiores para os pais.
Ricardo Bação, 34 anos, "Key Account Manager" da Optimus, empresa de telecomunicações do grupo de Belmiro de Azevedo, vai ser pai pela primeira vez daqui a dois meses e garante - com toda a certeza e alguma emoção - que vai gozar a licença de paternidade. "Porque considero que é um momento único. E não podemos desperdiçar estes primeiros dias de vida", afirma, reconhecendo que a mãe é mais importante do que o pai, "nos primeiros tempos". Ricardo Bação sublinha que quer estar com o bebé e também com a mulher e mãe da criança. "É muito importante dar apoio e estar ao lado da mulher nestes momentos".
Continua no Diário Económico, aqui.

Sobre o "relatório Estrela", a "entrevista Estrela".

um quase post aberto a José Sócrates


PEC causa fractura no governo socialista de José Sócrates. «Há quem admita que o próprio José Sócrates estará desconfortável com o PEC, mas incapaz de dizer que não a Teixeira dos Santos.»

Congelamento das prestações sociais abre divisões entre ministros de Sócrates.

Este pode ser o momento de viragem deste governo. Ou Sócrates toma a coisa a peito, mostra quem manda e mostra que o programa eleitoral é para cumprir - e pode recuperar a iniciativa política, redesenhando a equação própria do PS e os desafios que ela deve colocar aos outros partidos e forças sociais (incluindo sindicatos e patronato); ou o PS, Sócrates, o grupo parlamentar e os fazedores de opinião socialista calam a boca por conveniência - e acabou a festa, pá. A partir daqui será sempre a cair. O outro dirá "porreiro", mas já sem o "pá", claro.

Em política há que os ter no sítio. Especialmente se se quer liderar alguma coisa. Não se pede a Sócrates que tenha lido Platão. Pede-se que mostre que sabe o que prometeu aos portugueses. Eu lembro só uma dessas coisinhas.

18.3.10

quê



Escreve Francisco Clamote, no Terra dos Espantos:
A Comissão de Inquérito é o lugar apropriado para Ferreira Leite apresentar prova das suas acusações, com todas as consequências que ao caso couberem. Seria, aliás, estranho que à autora das acusações não fosse dada a oportunidade de prová-las.E direi mais: estranho é que não seja ela própria e o seu partido a exigir a prestação do seu depoimento.
Integral: Andamos a brincar às acusações ou quê?
Francisco, a resposta é: "quê"...

mais alertas


De outro perigoso extremista, o deputado pelo PS, João Galamba:
(...) apetece-me deixar aqui um proposta de alteração do PEC. Dado que os bancos lucraram com a generosa política monetária do BCE e não têm injectado o que devem na economia real, e tendo em conta que foi o sector financeiro que nos meteu neste aperto, que tal anunciar um aumento da taxa efectiva de IRC. Quanto? Tanto quanto necessário para, primeiro, não impôr tectos cegos e injustos na despesa com o RSI e, segundo, para não cortar no investimento público. Seria uma medida da mais elementar justiça e contribuiria para uma maior dinamização da actividade económica.
Integral: proposta de alteração do PEC.

Ou de outro jugular, João Pinto e Castro:
A mim, não me faz espécie uma eventual privatização dos CTT, mas estranho que a decisão apareça assim caída do céu, como se fosse a coisa mais natural e inquestionável do Mundo. Dir-se-ia que os espíritos dormem durante anos e depois, acossados por uma qualquer emergência, despertam para a vida e se ofuscam com a luz. (...) A falta de dinheiro não é desculpa para se brincar às políticas.
Integral: Revoadas de políticas.