27.10.09
23.10.09
vídeos que Cavaco anda a ver
O jornal Público titula assim a notícia: «Treinador marca golo e acaba expulso».
A estas horas, já devem ter explicado este enredo todo a Cavaco.
Galileu e Saramago
Sob este título, Galileu e Saramago, Carlos Fiolhais escreve hoje no Público um texto de opinião, do qual respigo:
«Saramago falou sobre a Bíblia de uma maneira que, seja-se ou não crente, não é intelectualmente séria. Não foi apenas chamar-lhe "manual de maus costumes" e "catálogo de crueldades". Foi também ter dito que o Génesis tinha "coisas idiotas", exemplificando: "Antes, na criação do Universo, Deus não fez nada. Depois, decidiu criar o Universo, não se sabe porquê, nem para quê. Fê-lo em seis dias, apenas seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje! Nunca mais fez nada! Isto tem algum sentido?". A pergunta é que não tem nenhum sentido! É o grau zero da crítica religiosa ou mesmo literária. O que não seria dito se alguém analisasse O Memorial do Convento desta maneira tão tosca? Tão errado é levar a Bíblia à letra, aceitando o que lá está, como levar a Bíblia à letra, recusando o que lá está. Francamente, não consigo distinguir entre a teologia básica dos que condenaram Galileu e esta antiteologia igualmente primitiva de um escritor contemporâneo.»Certíssimo. O significado cultural (e até político) do que Saramago tem andado a fazer, que é reaccionário, e não progressista como alguns parecem pensar, vê-se melhor com a ajuda deste ponto avançado por Carlos Fiolhais.
(Nota 1.O negrito na citação é meu, não de Fiolhais.)
(Nota 2. Para governo dos leitores, a título de declaração de interesses: eu não sou crente.)
22.10.09
governo
Aí está o novo governo. Uma questão que se coloca ao país é se o esforço de reforma feito em algumas áreas da governação será sacrificado às novas realidades de uma maioria relativa. A substituição de figuras à frente de certos ministérios torna legítima a pergunta. O futuro dirá se se trata apenas de refrescar os titulares, para manter essencialmente o mesmo rumo; de mudar de política para poupar as baterias para futuras batalhas eleitorais; ou de manter as políticas mas sofisticar as abordagens, para melhorar as condições de aplicação. Nem o programa de governo, se mantiver a tradição PS de ser o mesmo programa apresentado ao eleitorado, vai desfazer esta dúvida. Talvez as primeiras intervenções de Sócrates no novo Parlamento o façam. Ou, eventualmente, só a governação em velocidade cruzeiro fará luz sobre esse ponto.
Uma nota específica, numa pasta que julgo crucial, por razões que já aqui apresentei: a nova Ministra do Trabalho, Helena André, vice-presidente da Confederação Europeia de Sindicatos, tem o saber, a experiência e a visão política que poderão fazer dela uma peça chave da governação. Ela sabe o que valem os sindicatos - ou, pelo menos, o que deveriam valer. E não partilha nenhum dos cinismos que, acerca disso, abundam entre nós. Sabe como os sindicatos são importantes para a democracia, sabendo que a democracia na empresa é indispensável a qualquer democracia decente. E sabe como maus sindicatos podem ser os piores inimigos dos trabalhadores. Como será, com o peso de vir da liderança sindical europeia, ver o mundo do lado do governo? Acredito que Helena André dará uma excelente resposta a esta pergunta.
Nota final. Escrevi aqui antes que ficaria a contar quantas ministras teria o próximo governo do PS. São (além do PM) 11 ministros e 5 ministras. Podia ser pior. Mas também podia ser melhor (para quem acredita no valor do simbólico, como é o meu caso).
[Produto A Regra do Jogo]
Saramago e os monstros
Desde a Antiguidade Grega e Romana até, pelo menos, ao século XV, grandes autores da cultura ocidental davam por certa a existência de raças fabulosas. No Oriente, na mítica Índia. Estavam errados, parece. Contudo, não é por isso que desqualificamos todas as suas realizações. De certo, num futuro talvez menos distante do que pensamos, saber-se-á como estão erradas algumas das nossas actuais crenças científicas e filosóficas. Só nos acharão por isso tolos, no futuro, se forem tão canhestros a apreciar os contextos históricos e culturais como tem sido Saramago a falar do texto bíblico. Saramago fala como se ele próprio acreditasse que a Bíblia foi escrita mesmo por Deus. Ou como se acreditasse em deuses e gostasse mais deste ou daquele. Como se não percebesse que as religiões são fenómenos humanos.
Claro, a propositada ignorância de Saramago, gizada para vender livros, não justifica as fogueiras dos inquisidores que por aí andam. Mas a ignorância exibida sempre deu oportunidade de algum brilho funesto aos que empregam o seu saber contra a liberdade de expressão. É triste que estejam bem uns para os outros. Mas estão.
outro Lara?
Eurodeputado do PSD exorta Saramago a renunciar à cidadania portuguesa.
O eurodeputado Mário David julga-se na Idade Média ou numa qualquer república das bananas governada pelo seu amigo José Manuel Durão Barroso ao antigo estilo MRPP?
proposta paralela
CDS-PP propõe alterações às leis penais para combater sentimento de insegurança.
Eu proponho alterações às leis da física para combater o sentimento errado de que a Terra está no centro do mundo. A Terra deve passar a estar no centro do mundo. Assim o sentimento deixará de estar errado.
(Há muito que o CDS-PP explora o sentimento, aliviado de procurar que a razão ajude a esclarecer o sentimento.)
Expectativas. O Pacto para o Emprego.
1. Os governos do PS têm adoptado uma prática, no tocante à definição da sua linha de rumo, que consiste em traduzir o programa eleitoral do partido no programa de governo após uma vitória eleitoral. Nada de mais transparente. Desta vez, sendo embora minoritário o governo, é expectável que seja seguido o mesmo método - já que nenhum partido da oposição, aparentemente, quis ter qualquer coisa a ver com a definição do rumo da governação. Deste modo, é interessante voltar a ver o programa com que o PS se apresentou às eleições do passado dia 27 de Setembro.
2. Um dos pontos que mais me interessou no programa eleitoral do PS foi o tocante ao Pacto para o Emprego. O agora (quase) partido de governo propunha-se avançar com esse Pacto "enquanto instrumento dirigido a promover a manutenção e a criação de emprego, bem como a criar condições para a sustentação da procura interna", capaz de criar "um novo consenso social de resposta à conjuntura". O que se podia ler no programa, relacionado com este Pacto para o Emprego, parece indicar existir a consciência da necessidade de alterar significativamente o equilíbrio dominante no mundo do trabalho, articulando várias mudanças: aumentar o emprego, reduzir a precariedade, melhorar a produtividade e a competitividade, elevar as qualificações, promover a melhoria sustentada dos salários, reduzir mais as desigualdades. Essa mudança articulada é, aliás, muito necessária: tanto por razões de eficiência económica como de justiça social. Concretizá-la, sem estatizar a economia nem mercantilizar a sociedade, tem de passar pelo reforço do diálogo social, da contratação colectiva e da participação dos trabalhadores.
3.Entendido deste modo - e acho que o programa do PS aponta para este entendimento - o Pacto para o Emprego seria uma das principais linhas estruturantes de toda a acção do próximo governo. Até por relançar um processo de mobilização social como base para o desenvolvimento socialmente equilibrado do país. Essa seria, aliás, uma excelente resposta a uma crítica absurda que certos sectores das direitas fizeram ao PS. Escreviam durante a campanha eleitoral, quer fontes partidárias quer fontes jornalísticas, que o programa do PS era estatista porque daria "pouca atenção ao papel das empresas". Ora, o que isso denuncia é uma pobre operação: reduzir a sociedade às empresas, ou mesmo apenas a certas funções das empresas. Há muito mais sociedade do que as empresas. E há muito mais do que interesses económicos dentro das próprias empresas. Por elas serem feitas de pessoas, que não podem ser reduzidas ao papel de produtores (nem de consumidores). O Pacto para o Emprego, como processo social, seria muito mais do que "intervenção do Estado". E, assim, apelaria a muitas responsabilidades que têm andado um tanto diluídas - ou distraídas.
4. Confessamos a nossa expectativa acerca do futuro deste vector da acção do próximo governo. E "andaremos por aqui" a dar atenção a isso mesmo.
[Produto A Regra do Jogo]
19.10.09
devem andar mal as finanças de Saramago
Já aquando da publicação d'O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), um livro menor (contrariamente a outros do mesmo autor, que considero excelente literatura), José Saramago mostrou um grande desconhecimento da história do cristianismo e dos seus debates. Achava ele que criava algo de novo acerca do que poderia ter sido "a verdadeira história" da peça central do cristianismo - quando não fazia mais do que repetir uma pequena parte da imaginação que a própria história da teologia cristã comporta. Muito mais e melhor do que ele, as múltiplas heresias cristãs sempre inventaram belas histórias e interpretações alternativas face à ortodoxia de cada momento. Sabendo todos que a história de um "deus" é sempre um grande romance. Para um divertimento teológico, mais valia ler uma boa história do pensamento cristão do que ler Saramago.
Ainda não peguei em Caim, o novo livro do homem. Mas vou ler. Leio cada Saramago logo que sai. Mas temo o pior. O barulho do chorrilho de tolices que têm constituído as suas declarações sobre a Bíblia, a mostrar uma atroz ignorância sobre esse objecto cultural, prenuncia um mau livro. É que se o autor acha necessário fazer assim o pino, com risco de entorse, para o vender - deve ser que ele próprio acha que a coisa, enquanto leitura, não presta. Temo o pior.
Líder da comunidade judaica diz que Saramago não conhece a Bíblia.
rescaldo das autárquicas: os independentes. uma proposta
Os míticos "independentes" nas candidaturas a órgãos do Estado democrático não correspondem à encomenda. Como em todos os mitos, aliás. Os "independentes" são foragidos dos partidos, nos casos em que os partidos eram a última barreira contra a indecência. Quando os partidos foram capazes de impor a sanção política, que tem de ir para além da sanção judicial por mor da causa pública, e correram com quem mostrava um currículo impróprio - os foragidos tornaram-se "independentes". Com o aplauso de "gente de bem", como Otelo Saraiva de Carvalho que veio a terreiro defender o Isaltino de Oeiras.
Esta situação defrauda todos aqueles que esperavam que as candidaturas independentes fossem uma porta aberta para cidadãos vindos de fora dos recintos partidários poderem refrescar a vida pública. Não devemos, pois, fechar essa porta. Mas devemos impedir que ela se torna uma fronteira sem lei.
Proposta: só pode candidatar-se como independente nas eleições autárquicas quem não tenha exercido mandato em qualquer órgão autárquico, em representação de algum partido, num dado período imediatamente anterior à apresentação da candidatura. (Sugere-se que esse período corresponda a mandato e meio em velocidade cruzeiro.)
Propostas de alteração?
Aditamento. Entretanto, surgiu esta notícia:
PS prepara expulsão de militantes que se candidataram como independentes.
Por mim, acho perfeitamente normal que a um jogador do Leixões não seja permitido virar-se a meio do jogo para começar a defender as cores do União de Leiria. Para fazer isso, terá de mudar de clube, segundo as modalidades previstas. Ninguém é obrigado a pertencer a qualquer partido - mas essa pertença tem de ter regras. Por muito que isso desagrade aos individualistas de pacotilha que acham que tudo o que seja colectivo, grupo ou instituição pode ser achincalhado pelo puro egoísmo e irresponsabilidade individual.
18.10.09
16.10.09
coisas realmente importantes
18 por cento dos portugueses são pobres e a situação tende a piorar.
França cria Rendimento Solidário contra pânico de ser pobre.
Só as ajudas do Estado alemão evitam duplicação do número de pessoas pobres.
Esta sim deve ser uma grande prioridade nacional. Apesar de uns demagogos fascistóides continuarem a tentar ganhar votos com a miséria extrema, preocupados com o facto de algumas pessoas receberem do Estado por mês aquilo que eles dão de gorjeta numa refeição num restaurante.
15.10.09
anúncio
A(O) candidata(o) seleccionada(o) irá trabalhar em simulações e em experiências reais com populações de células e colectivos robóticos. Será dada preferência a candidatas(os) com preparação multidisciplinar, mas é também incentivada a submissão de candidaturas cuja competência se encontre principalmente em uma das áreas mencionadas. Os candidatos serão classificados de acordo com i) adequação ao tema deste edital; ii) curriculum vitae; iii) cartas de referência. As candidaturas estão abertas a cidadãos nacionais e estrangeiros.
The successful candidate will work on simulations and real experiments with cell populations and robot collectives. Multi-disciplinary backgrounds will be preferred, but candidates whose expertise lies mainly in one of the above areas are encouraged to submit their application as well. The applicants will be ranked based on i)adequacy to the call topics; ii) curriculum vitae; iii) letters of reference. The call is open to national and foreign citizens.
totalitarismo para tótós
"Não há condições para qualquer forma de coligação", disse Bloco a Sócrates.
Louçã recusa ajustar linha política do BE e rever relações políticas com o PS.
O essencial do espírito do totalitarismo reside no tudo-ou-nada. Nós contra o mundo, se necessário for, porque o mundo não pode ter razão contra nós. Esse é intrinsecamente o cancro anti-democrático dos radicalismos de fachada, que são os que não sabem nada da raiz das questões. E por isso confundem ser radical com ser extremista. Parece que Louçã não sentiu o vento. E, com isso, Fazenda sobe sobe sobe balão sobe.
esguicho
João de Deus Pinheiro, cabeça-de-lista do PSD por Braga, foi deputado pouco mais de meia hora.
Renunciou.
Deputado esguicho.
Para uma política de verdade a esguicho.
(Meia hora é o tempo para ver se há pequenas mantas escondidas debaixo dos assentos? É que cada um deve alimentar as suas próprias lendas.)
traição
PS e PSD subscrevem lista para recandidatura de Gama a presidente da Assembleia da República.
Então, e ninguém grita "traição"?!
Não seria obrigação de todos os partidos da oposição impedirem o acesso de qualquer membro do PS a qualquer lugar do Estado?!
Pensava ser esse o espírito da estação...
sociologia política em postas de pescada
Dos bons romances não se lêem resumos. É preciso subir a encosta a pulso, tropeçando em cada pedra, arranhando as mãos, ferindo os joelhos. Só assim se pode saborear a paisagem que se vislumbra lá do alto - quer dizer, o prazer que se aprecia quando o fim vem no momento certo.
A mesma coisa com as boas trapalhadas. Não se resumem para não lhes perder o sumo. Assim com a lama da "blogosfera política". Mesmo quando se trata do blogue do Dr. Pedro Santana Lopes. Vale a pena - vale um estudo de sociologia política - ler os comentários a este post. Mais do que o próprio post, a sequência de comentários. O ponto que mais me inebria é a determinação que alguns comentadores mostram em não ligar nenhuma à informação disponibilizada, continuando o seu "raciocínio" imperturbavelmente.
Começo a dedicar-me mais sistematicamente a analisar caixas de comentários...
[A "reportagem" da "traição de Pacheco Pereira" no "blogue oficial dos socialistas" está aqui.]
[Que não acabes nunca de me esquecer]
Que não acabes nunca de me esquecer
(A memória como um dente-de-leão
Que resiste a todos os sopros,
Um lume de partículas suspensas
Pairando como luz num dia de Verão,
Enxames crepusculares sobre um curso de água).
Que indelével seja qualquer coisa,
Um cristal de noite, o resto de um riso,
Uma cintilação na nebulosa de instantes
Em que acordámos juntos
E percebemos, num misto de alívio e alegria,
Que o amor não tinha acabado ainda,
Que ainda não nos deitáramos a perder.
Nuno Rocha Morais, Últimos Poemas, Quasi, 2009
14.10.09
[Para além do Pont Adolphe]
Para além do Pont Adolphe, a vida é outra,
A noite é de carne.
Para além do Pont Adolphe, fica o bairro das putas,
As ruas dos cabarés, a minha casa.
Para além do Pont Adolphe,
Há tantas putas como anjos, que saem das igrejas;
As putas esvoaçam em torno dos pináculos,
Os anjos arrastam-se e tropeçam nas asas.
Para além do Pont Adolphe, eu casei contigo,
E não terás de voltar para ninguém a certa hora.
Para além do Pont Adolphe, a tristeza
Já não será sargaço nos teus olhos,
A alma já não é uma casamata,
Nenhuma dor inventou as lágrimas
E a implosão delas, o engolir delas.
Para além do Pont Adolphe, já não precisas de esconder
Os livros que te dou, as páginas não precisam de arder,
O meu nome despiu-se de toda a peçonha.
Mas nunca atravessaremos o Pont Adolphe.
Nuno Rocha Morais, Últimos Poemas, Quasi, 2009
13.10.09
suspender
Sindicato dos Magistrados do Ministério Público apela à suspensão dos sistemas informáticos da Justiça.
Lê-se no Público: «A suspensão imediata de todos os sistemas informáticos do Ministério da Justiça foi, hoje, defendida pelos dirigentes do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), na sequência da denúncia de um ataque aos sistemas informáticos de alguns organismos do Estado Português. O Ministério da Justiça desmente e garante a segurança do sistema. (...) O SMMP solicita à Assembleia da República que exerça os seus poderes de fiscalização, de forma a pôr fim ao clima de insegurança e desconfiança no campo da Justiça.»
Primeiro. Não é só Cavaco Silva que pensa que há sistemas informáticos completamente seguros.
Segundo. Começou o ensaio da peça "suspender". É, talvez, a nova forma que tomará a coligação negativa.
[Com um punhal, de noite]
Cracóvia, 1914
Com um punhal, de noite,
Com um punhal, alguém bate,
Sem cessar, no umbral.
A terra é uma língua verde,
A infância, um veado azul.
Com um punhal, de noite,
Com um punhal, alguém bate,
Sem cessar, nas paredes dos quartos.
O inferno é o rosto da tua mãe,
O inferno é o rosto da tua irmã,
Pedra e anjo e bosque.
O relógio de sol marca sempre meia-noite,
A tua alma foi com a música
Colher bagas, que esmaga no corpo -
Azuis, vermelhas, violetas.
A cidade é toda vielas
Entre as mandíbulas das muralhas
E os caninos das torres;
A única luz é de archotes plangentes
E jamais se cansam os cortejos fúnebres,
Coros de passos em ranger de gravilha.
Com um punhal, de noite,
Com um punhal, alguém bate,
Sem cessar, à tua cabeceira.
Nuno Rocha Morais, Últimos Poemas, Quasi, 2009
12.10.09
eleições e cidadania
As eleições autárquicas de ontem trouxeram-me algumas alegrias daquelas que habitualmente se esperam neste tipo de actos. A vitória de António Costa em Lisboa é o primeiro exemplo dessa categoria (até por termos sido "blogue apoiante" dessa candidatura).
Contudo, como não tenho o hábito de me alongar em comprazimentos com vitórias eleitorais, não vou entrar em detalhes dessas contas. Provavelmente, até passaria aqui por alto estas eleições, não fora o querer aqui registar um exemplo de cidadania que acho saudável assinalar.
A foto junta (de má qualidade técnica, do que me desculpo com a circunstância de ter sido feita com telemóvel) testemunha uma das muitas mesas de voto que mobilizaram cidadãos ao serviço da democracia e do país. E, neste caso em particular, testemunha a humildade democrática de Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, que também se apresentou a dar o exemplo desse serviço público, lado a lado com anónimos como nós. Foi ontem na 4ª Secção de voto da Freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Gestos que mostram a grandeza da pessoa e, do mesmo passo, engrandecem a nossa democracia. Pese embora o facto de, tendo seguido atentamente o percurso público de Jorge Sampaio, esta elevação democrática não nos surpreender, apraz-nos registá-la para ilustração da república.
10.10.09
esquerda quimicamente pura?
Jorge Bateira (JB), em artigo no Público (6 de Outubro, republicado no Ladrões de Bicicletas, onde o li), trata da questão “Tornar possível a esquerda necessária”. O texto merece reflexão. E comentários.
Há dois pontos de partida no texto de JB. Primeiro, “as esquerdas” não souberam entender os anseios do seu eleitorado e construir uma solução governativa estável, face a um cenário político (o actual) que há muito era previsível. Segundo, é necessária uma “esquerda socialista” que não se limite a fazer a gestão do capitalismo (para usarmos uma expressão antiga, que não é de JB). A proposta de JB para dar uma resposta a essa situação é “a criação de um grande partido que se reivindique do reformismo transformador”.
Há, neste balanço e proposta, vários pontos que merecem consideração.
Em primeiro lugar, dada a forma como coloca a questão das esquerdas, JB é equívoco quanto ao Partido Socialista. Está a propor que se tente implicar o PS numa renovação das esquerdas ou está a propor que se tente destruir (e/ou vencer) o PS? Se está a propor que se tente destruir o PS, mais valia assumi-lo com clareza. Nesse caso partiríamos para o debate sabedores de que há quem, falando à esquerda, não seja capaz de uma avaliação correcta do papel do PS na construção da democracia portuguesa e na configuração de muitas soluções sociais progressistas que ela incorporou. Seria lamentável que JB fosse apenas mais um herdeiro do velho ódio leninista contra a social-democracia, um ódio que tem razões históricas muito concretas que não deveriam poluir o debate da esquerda em Portugal no século XXI. Até por se dar o facto de esse ódio histórico estar intimamente ligado à dualidade entre revolução e liberdade, uma dualidade que teve muitas consequências liberticidas.
Em segundo lugar, numa coisa JB não é equívoco: parece que todos os males da esquerda se devem aos partidos socialistas, ao PS e aos seus congéneres. Os partidos “socialistas” (entre aspas, como coloca JB) são denunciados como estando distraídos de tudo o que é essencial. Contudo, JB não tem uma linha para reflectir sobre o peso de outros problemas da esquerda: as esquerdas que perderam o respeito à liberdade, as esquerdas com concepções extremamente centralistas e controladoras acerca da relação entre o Estado e a sociedade, as esquerdas moralmente repressivas e retrógradas, as esquerdas que perderam a noção da eficiência social, as esquerdas cúmplices do militarismo e do nacionalismo, … Será necessário dar exemplos, JB? É certo que há erosão, ou talvez mesmo decadência, em certos partidos da Internacional Socialista, como JB menciona: mas não se poderá dizer o mesmo, ou pior, de outras forças da esquerda europeia e mundial? Das duas uma: ou JB só acha interessante aquela esquerda que não tenha qualquer enraizamento na história dos séculos XIX e XX, e procura uma esquerda quimicamente pura – ou, se pelo contrário quer contar com a experiência e a história de todas as esquerdas que realmente têm existido, não pode fazer um balanço tão enviesado e parcial. Talvez por ver as coisas deste modo não consiga JB ser mais equilibrado a distribuir responsabilidades quanto à actual (quase) impossibilidade de uma solução governativa estável à esquerda.
Em terceiro lugar, JB parece demasiado simplista a elencar os pecados dos partidos “socialistas” (com aspas, a seu gosto), dando de barato que esses partidos, enredados na gestão do capitalismo, não se interessam por questões como a democracia no seio da empresa, o equilíbrio de forças na negociação salarial, o pleno emprego como prioridade da política económica. Acho que, simplesmente, é factualmente errado que os partidos socialistas não se interessem por essas questões. Concordo que é preciso levar os partidos socialistas a serem mais agressivos na promoção dessas questões estruturantes, pelo menos em alguns casos, e até no caso português. Aí pesou o pensamento único, concordo. Mas acho completamente equivocado supor que todos aqueles temas sejam estranhos ao ideário social-democrata, trabalhista e socialista. Não vejo bem que tipo de estratégia possa servir a criação desse “homem de palha socialista” – para melhor tratar de o queimar. A não ser que se trate, efectivamente, do mero objectivo de destruir o PS.
JB coloca questões essenciais, que outros colocaram antes e que têm de continuar a ser colocadas. Por exemplo, quanto à necessidade de não continuar a tratar o trabalho e a natureza como mercadorias. Contudo e este é o meu quarto e último ponto – parece -me redutor sugerir, como faz JB, que para isso seja necessário criar um novo partido “agregador”. Essa forma de colocar as questões tem, a meu ver, dois problemas fundamentais. Primeiro, é uma forma de poluir a utopia: transfere a questão política para a questão da organização, naquela velha ideia da esquerda quimicamente pura: fazer um exército de anjos que não estejam contaminados pelos pecados do mundo. Tentativa de descontaminar a esquerda da sua história, em vez de assumir a história. (Se calhar isso faz falta a quem só vê defeitos na história dos socialistas, mas não vê problema nenhum no passado de outras esquerdas.) Segundo, centrar os esforços no “novo partido puro e limpo” será um álibi, uma desculpa esfarrapada, para não fazer o que realmente há a fazer: encontrar uma forma útil de convivência entre as esquerdas que existem. Que existem agora, que estão no terreno. É que o país e o mundo não param à espera desse exército de anjos despoluídos. E mais um atalho para fugir aos desafios que aí estão – seria puramente lamentável.
9.10.09
vozes a ouvir
Leio Luís Moita:
Tenho dificuldade em compreender a mera postura de combate do Bloco e do PC contra o PS, justamente numa conjuntura em que teriam condições para condicionar positivamente as orientações políticas dominantes. Tanto mais quanto, à escala mundial, a crise do neo-liberalismo parece representar a oportunidade de alguma inflexão política no sentido favorável aos sectores que têm sido críticos em relação à globalização selvagem e ao “capitalismo desorganizado”. Não sei se seria possível uma “política de esquerda” (tanto mais quanto hoje parece difícil definir todos os contornos dessa alternativa), mas deveria tentar-se em Portugal “uma política um pouco mais à esquerda”, em correspondência com a vontade da maioria do eleitorado.
No Cão como tu, sob o título Notas soltas.
para que serve o Nobel?
Nobel da Paz para Barack Obama.
Mais do que admiração, tenho respeito por Obama. Ele tem uma atitude correcta face a um mundo esquisito. Contudo, que se entregue o Nobel da Paz a uma promessa, mais do que a uma realização bem sucedida (que Obama ainda estará para produzir), diz bem da tempestade que este nosso mundo atravessa. Os sinos dobram: mas será baptizado, casamento ou funeral?
rescaldo das legislativas / o PS e a esquerda
Para quem saiba ler os últimos anos, e sem prejuízo de nada do que entretanto escrevemos, parece claro que o PS precisa de uma esquerda. Uma ala, uma corrente, um sector, uma tendência, uma sensibilidade. Chamem-lhe o que chamarem. O PS precisa de uma esquerda. Porque o socialismo - português, europeu, mundial - andou demasiado tempo preso do pensamento único. Preso do consenso... dos outros.
Só que, neste partido (como noutros, embora talvez menos do que noutros) desconfia-se muito de quem não lê pelo livro.
Agora, o que o PS precisa é de uma esquerda que não viva pendente das ambições presidenciais (ou quaisquer outras ambições pessoais) de qualquer "figura". E isso é que tem mantido em estado comatoso a esquerda do PS. Que la hay, la hay...
Só que, neste partido (como noutros, embora talvez menos do que noutros) desconfia-se muito de quem não lê pelo livro.
Agora, o que o PS precisa é de uma esquerda que não viva pendente das ambições presidenciais (ou quaisquer outras ambições pessoais) de qualquer "figura". E isso é que tem mantido em estado comatoso a esquerda do PS. Que la hay, la hay...
pudera
Gato Fedorento e os estilhaços das legislativas abafaram campanha autárquica.
É natural que os Gato abafem muita coisa.
Basta comparar o discurso presidencial (?!) de 29/09/09 com a respectiva leitura por RAP - e ficamos logo a saber o que é que tem mais interesse.
prémio para a sandice / falta de lógica / do quotidiano i
O quotidiano i coloca como manchete hoje que "o Ministério Público quer punir o autor das denúncias anónimas contra Sócrates", explicando depois no miolo que se trata de tornar exemplar (pela negativa) um caso de perturbação da investigação por via do soprar de informações objectivamente falsas. Correcto, a meu ver. Pode ser que ainda se chegue a mais uma condenação por conspiração entre gente da política, da comunicação e das "forças da lei e da ordem" para prejudicar um líder político. Não seria a primeira neste caso, como se sabe e alguns fazem por olvidar.
Entretanto, o mesmo i tem um apontamento na secção Semáforo que termina com a seguinte frase:
Se as denúncias são falsas como pode isso perturbar o trabalho da PJ e do MP?
Sendo a coisa rubricada com A.C. - alguém pode dar a A.C. umas lições elementares de lógica? Ou, alternativamente, alguém no i pode impedir os A.C. deste mundo de andarem por aí a escrever sandices? Ou será que A.C. tem alguma máquina universal da verdade que lhe permita - e à PJ e ao MP - discriminar sem mais o que é verdadeiro e o que é falso, assim impedindo qualquer falsidade de influir nos caminhos da justiça? É que, nesse caso, o trabalho da Justiça ficaria imensamente facilitado. E a gente agradecia.
8.10.09
ANOS 70 ATRAVESSAR FRONTEIRAS
Dia de inaugurações no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (F.C. Gulbenkian). Delas destaco a da exposição ANOS 70 ATRAVESSAR FRONTEIRAS. Fica até 10 de Janeiro de 2010. Claro que lá voltaremos, para o olhar mais atento que não está disponível em inaugurações, mais para ver os artistas e outras pessoas do que as respectivas obras.
A rua também festejou: reviveu uma intervenção de 1974, que aqui fotografei com telemóvel, à falta de melhor preparação. (Não, o telemóvel não fotografa nada: eu é que fotografei.) Dizem-me que a intervenção foi criada então, e recriada agora, por Clara Menéres. Mas, aí, fio-me no que me dizem, que eu não sei. (Ou, pelo menos, não sei se sei. Se está certo o que me disseram, sei. Mas, sem saber se está certo o que me disseram, não sei se sei. Ou estou errado?)
Nova vida para o Centro de Arte Moderna? Suspeito que sim. Que bem merece.
Esta exposição, que ocupará praticamente a totalidade do CAM, visa mostrar a produção artística portuguesa da década de 70, época particularmente fecunda para a história da cultura e das artes visuais em Portugal. Será dada ênfase a obras que traduzam a assunção de uma ideologia de experimentação (estética, plástica, formal), uma enorme variedade de orientações (materiais e plásticas) e linguagens, desde as tradicionais pintura e escultura, até à performance, à instalação, bem como à consagração da fotografia e da imagem em movimento. Pretende-se também dar alguma visibilidade a um núcleo de documentação histórica, realçando o cartaz como suporte de comunicação global.Actualização [12/10/09]
Pode ler-se no Grão de Areia: «O Grupo Acre, em Agosto de 1974, surpreendia pela manhã os habitantes das cidades de Lisboa e Porto, pintando, durante a noite, as ruas e passeios com padrões abstractos. Até a Torre dos Clérigos foi alvo desta liberdade de criar.»
A foto abaixo vem desta fonte, completando o que fora escrito acima.
Acção Cultural elaborada pelo Grupro Acre, Rua do Carmo, Lisboa, Agosto de 1974
Bella Ciao
Una mattina mi son svegliato,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
Una mattina mi son svegliato,
e ho trovato l'invasor.
O partigiano, portami via,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
O partigiano, portami via,
ché mi sento di morir.
E se io muoio da partigiano,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E se io muoio da partigiano,
tu mi devi seppellir.
E seppellire lassù in montagna,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E seppellire lassù in montagna,
sotto l'ombra di un bel fior.
E le genti che passeranno,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
E le genti che passeranno,
Mi diranno «Che bel fior!»
«È questo il fiore del partigiano»,
o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!
«È questo il fiore del partigiano,
morto per la libertà!»
asfixia democrática
Lisboa: Posição sobre António Costa foi enquanto "cidadão", realça Carvalho da Silva.
Se toda esta novela em torno do apoio de Carvalho da Silva a António Costa para presidente da câmara de Lisboa se passasse no PS, andaria meio mundo (à esquerda e à direita do PS) a dizer que se vivia um clima de asfixia democrática. Como não é, todos os disparates são permitidos. Até Carvalho da Silva tem de vir lembrar que é um cidadão. Parece que alguns julgam que ele é apenas um militante.
EGO * teatro * cérebro / consciência / espírito
EGO, de Mick Gordon e Paul Broks, uma peça sobre o cérebro e a mente, sobre "o que é ser um eu". O texto não é um grande texto de teatro. A interpretação não parece no seu conjunto fazer jus à gravidade do assunto, mas é suficiente (a intérprete de Alice, Catarina Lacerda, é a mais convincente). A encenação é eficaz e dá o mais possível ao texto e à problemática. Espectáculo curto, perfeito para entrar como exercício num curso de filosofia das ciências, de psicologia, de Inteligência Artificial. É conveniente ir para lá com alguma informação prévia; alimenta uma boa discussão colectiva posterior.
O problema está mesmo nos "mitos científicos e filosóficos" enraizados no texto. Fala-se de coisas que não passam de ficção científica (teleporte) como se fossem factos indiscutíveis. E são endossados todos os sofismas principais de uma visão estreita sobre o assunto, como se fossem "ciência pura". Este texto serve bem um certo "materialismo barato" sobre a mente. Claro, acho que ninguém com um módico de informação científica duvida disto: não existe nenhum processo "espiritual" dissociado de algum processo cerebral. Mas a ideia de que a mente humana não é mais do que a actividade cerebral - essa já é outra tese e há muitos e bons argumentos contra ela. Ah, não se enganem: não é preciso acreditar na alma, nem em entidades míticas, para dizer isto. Embora a retórica da peça seja a mesma retórica das posições científicas que se arrogam ser as únicas detentoras do ponto de vista correcto sobre os factos: ou isto, ou os mitos. Tretas, digo eu.
Mas, enfim, vale a pena passar pela Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, até Domingo 11 de Outubro. Pode ser que vos aconteça como a mim: passei o espectáculo todo a imaginar o que eu diria se no fim houvesse ali mesmo um debate. Apeteceu-me até tirar notas...
O problema está mesmo nos "mitos científicos e filosóficos" enraizados no texto. Fala-se de coisas que não passam de ficção científica (teleporte) como se fossem factos indiscutíveis. E são endossados todos os sofismas principais de uma visão estreita sobre o assunto, como se fossem "ciência pura". Este texto serve bem um certo "materialismo barato" sobre a mente. Claro, acho que ninguém com um módico de informação científica duvida disto: não existe nenhum processo "espiritual" dissociado de algum processo cerebral. Mas a ideia de que a mente humana não é mais do que a actividade cerebral - essa já é outra tese e há muitos e bons argumentos contra ela. Ah, não se enganem: não é preciso acreditar na alma, nem em entidades míticas, para dizer isto. Embora a retórica da peça seja a mesma retórica das posições científicas que se arrogam ser as únicas detentoras do ponto de vista correcto sobre os factos: ou isto, ou os mitos. Tretas, digo eu.
Mas, enfim, vale a pena passar pela Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, até Domingo 11 de Outubro. Pode ser que vos aconteça como a mim: passei o espectáculo todo a imaginar o que eu diria se no fim houvesse ali mesmo um debate. Apeteceu-me até tirar notas...
7.10.09
ler Louçã
Há por aí boa gente que não pára de ler Louçã.
É tudo mentira, mas soa bem.
É tudo mentira, mas soa bem (II).
Que não lhes doam os olhos.
comunistas de sacristia
Depois de Carvalho da Silva ter declarado hoje de manhã, após uma bica com António Costa, que “é preciso para Lisboa e para os lisboetas que António Costa ganhe as eleições", temos da LUSA a informação de que o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou hoje:
"Estou autorizado pelo meu camarada Carvalho da Silva, que acaba de mandar uma mensagem à Comissão Coordenadora da CDU a informar das condições em que fez uma declaração sobre a situação de Lisboa mas também a transmitir a sua posição de apoio claro e inequívoco à CDU, pois entende que o país precisa de um reforço da CDU."
Não tarda nada, o Avante! vai começar a insinuar que Carvalho da Silva teve uns problemas com a Casa Pia.
O Câmara Corporativa chama a isto assassinato no Comité Central. Eu, a isto, chamo comunistas de sacristia. Da sacristia do inferno, claro.
(Nem vale a pena mencionar o português em que Jerónimo se exprime. Não é só nisso que ele anda de mãos dadas com a dra. Manuela.)
Carvalho da Silva apoia António Costa.
Santana Lopes desvaloriza apoio de Carvalho da Silva a António Costa.
Ruben de Carvalho diz que apoio de Carvalho da Silva a Costa não fragiliza campanha.
as esquerdas
Carvalho da Silva apoia António Costa.
Pode ter-se a opinião que se entender sobre Carvalho da Silva. Mas fazem mais "pelas esquerdas" estes gestos, de um certo desprendimento partidário, do que aqueles que berram muito por compromissos à esquerda mas, enquanto falam, vão dando chancadas por baixo da mesa aos demais parceiros. É que apelar a compromisso à esquerda e, ao mesmo tempo, usar os implícitos da guerrilha contra o PS, afinal a principal força a que se apela para esse compromisso, parece hipocrisia política. Parece.
meias verdades são mentiras
Ao acordar, ouvi hoje na TSF (noticiário das 7 da manhã), que a Presidência da República tinha emitido uma nota a esclarecer que o procedimento de Sua Excelência Cavaco nas recentes comemorações do 5 de Outubro tinha sido conforme os precedentes de anteriores primeiros magistrados aquando de outros períodos eleitorais. O locutor lembrava os ditos do PM no 5 de Outubro e interpretava que esta era uma espécie de resposta. Fiquei zangado: o PM não pode andar por aí a lançar remoques ao PR sem estar bem informado.
Vejo, agora, por serviço público do Câmara Corporativa, que fui levado pelas meias verdades de Sua Excelência Cavaco. Lê-se lá: «Acontece que, nas ocasiões em que as eleições foram em Outubro, os presidentes da República se abstiveram de comparecer, mas não foram em seguida a correr para os jardins de Belém discursar. E não o fizeram pela simples razão de que o que estava (e está) em causa não é o local em que discursam, mas o que possam dizer nos discursos.»
Aborrece-me, sabe-se lá por quê, aborrece-me a ideia de a Presidência da República acobertar uma espécie de mentirosos que são aqueles que para tanto usam as meias verdades. Espero estar errado. Que alguém me ilumine.
6.10.09
vidas
Le chant des partisans
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Ami, entends-tu les cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ohé, partisans, ouvriers et paysans, c’est l’alarme.
Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et les larmes.
Montez de la mine, descendez des collines, camarades !
Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les grenades.
Ohé, les tueurs à la balle et au couteau, tuez vite !
Ohé, saboteur, attention à ton fardeau : dynamite…
C’est nous qui brisons les barreaux des prisons pour nos frères.
La haine à nos trousses et la faim qui nous pousse, la misère.
Il y a des pays où les gens au creux des lits font des rêves.
Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève…
Ici chacun sait ce qu’il veut, ce qu’il fait quand il passe.
Ami, si tu tombes un ami sort de l’ombre à ta place.
Demain du sang noir sèchera au grand soleil sur les routes.
Chantez, compagnons, dans la nuit la Liberté nous écoute…
Ami, entends-tu ces cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh…
[Deveria ser dado que morrêssemos]
5.10.09
[Não nos deixeis cair na curiosidade dos outros]
Não nos deixeis cair na curiosidade dos outros,
Na piedade dos outros ou, pior, de nós mesmos.
Livrai-nos de sermos eternamente jovens,
Mas também nados-velhos, mortos-vivos.
Livrai-nos sobretudo de nos jactarmos.
Não nos deixeis cair nas ciladas
Daqueles que só se desculpam ou nunca se desculpam.
Não nos deixeis cair na tentação de corrigir a vida
Quando tantas coisas nos morrem
E morrem às nossas mãos ou pela nossa memória.
Livrai-nos de falarmos em nome dos outros,
Dai-nos cada dia a lembrança de também sermos outros
E não nos perdoeis nunca se o esquecermos.
Nuno Rocha Morais, Últimos Poemas, Quasi, 2009
3.10.09
Irlanda / SIM / Lisboa : para que servem as campanhas
Projecções indicam que Irlanda diz Sim ao Tratado de Lisboa.
Governo irlandês assume vitória do "sim" ao Tratado de Lisboa. Campanha do "não" já reconheceu a derrota.
Um aspecto essencial da campanha do segundo referendo irlandês ao Tratado de Lisboa, da parte dos apoiantes do "sim", foi desmontar as mentiras da campanha do "não". Sim, as mentiras: as afirmações falsas, mas descaradas, de que isto ou aquilo seria uma consequência do novo Tratado - quando "isto" ou "aquilo" de facto não constava directa ou indirectamente do Tratado ele mesmo. É para isso que servem as campanhas. Mas às vezes é difícil, por se confiar excessivamente em que as pessoas sabem distinguir espontâneamente entre o que é verdade e o que é mentira. Mas não, muitas vezes não sabem. E há algumas pessoas que conhecem a técnica: quanto mais formidável for a mentira, mais ela tenderá a não ser prontamente desmascarada. (Há dirigentes políticos entre nós que andam a aplicar afanosamente essa técnica: estamos de olho neles...)
2.10.09
politó - logo...
Nuno Rogeiro parece que escreveu na Sábado:
É a Belém que cabe o juízo soberano de nomeação do próximo PM. Esta decisão não terá de ser a indigitação do candidato do partido mais votado.
A primeira pergunta que me veio à cabeça após esta leitura foi:
E ainda pagam a estes tipos para escrever isto?
Depois pensei melhor e fiz outra pergunta, que me pareceu mais pertinente:
E ainda pagam a estes tipos para escrever isto?
Dias difíceis.
[agenda: MFL, Jerónimo, Sócrates - e mais alguém - em Belém.]