31.7.08

duas leituras


Cavaco Silva interrompe as férias para falar hoje ao país pela televisão.


Primeira: Cavaco é um político ao contrário dos outros. Ele interrompe as férias para ir à televisão, os outros interrompem a televisão para ir de férias.

Segunda: a montagem do espectáculo é mais cara do que as palavrinhas a dizer. A ser assim, é como a maioria dos outros.

De qualquer modo, se vier dizer qualquer coisa de profundo, é mais uma glória do Estado social: as férias dão-lhe ideias que não lhe ocorrem durante o resto do ano.

30.7.08

serviço público


D. Maria II: Carlos Fragateiro vai processar Ministério da Cultura.


Estou convencido, pelas razões aduzidas em notas anteriores, que Fragateiro estava a fazer serviço público como director do TNDMII. Exonerado, pelo que se sabe até agora, "porque sim" (o Ministro da Cultura, que parece que nem arranjou tempo para ouvir o director de um teatro nacional, está a esconder a fundamentação da decisão), Fragateiro anuncia que vai processar a tutela. Se o que quer é demonstrar que tudo isto não tem justificação, e que o Ministro da Cultura faz o que não deve em vez de fazer o que é necessário, continua a prestar serviço público. Honra lhe seja feita.
Entretanto, o agora ex-director do TNDMII falou à comunicação social no Palácio da Independência, em Lisboa, por a tutela não ter autorizado o uso para o efeito do espaço onde Fragateiro trabalhava, o D. Maria. Não são só os patrões de vão de escada que se comportam como pequenos tiranos. Alguns ministros também. São os ministros de vão de escada, que, como os maus empresários, estão mais interessados no seu mísero poder pessoal do que na obra que deles se espera. Se é que se espera alguma coisa de tal gente.
Oh, vaidade...

29.7.08

o método madeirense é que paga


Tribunal Constitucional chumba Estatuto Político-Administrativo dos Açores.


A proposta tinha sido aprovada por unanimidade lá pelos representantes dos Açores. Mas esse método parece, em Lisboa e a começar por Cavaco, ter menos preferências do que o método madeirense de relacionamento com a potência colonial. (Os termos? Habituem-se. É à moda.)

temos homem (?!?!)


Director do Teatro Nacional Dona Maria II demitido.


Provavelmente surgirá algum argumento para a decisão. Isso: a decisão existe, existia, devem andar à procura dos argumentos. Mas no fundo a razão parece clara: Fragateiro, quando foi nomeado, levantou um coro de vozes dos que abominavam que se tirasse de lá um intelectual, apesar de ninguém ver grande coisa a ser feita. Tinham-no por demasiado provinciano para dirigir "o Nacional" (de Lisboa). Eis a vingança desses intelectuais. O ministro da cultura começa a fazer currículo.

O ministro da cultura, na impossibilidade de mostrar trabalho, tem de mostrar qualquer coisa. Tem de agitar-se o suficiente para que ninguém pense que está ferido de morte por eventualmente dever o lugar à coincidência de nome e apelido com outro mais capaz para a causa. E então escolhe uma via que muitos neste país ainda acham ser o atalho mais curto para um arremedo de relevância: matar quem trabalha.
Antes de Fragateiro o D. Maria estava às moscas. Agora fervilha, em espectáculos e público. Em projectos vários. Em influência na cena teatral. Mas deve ser culpado de não encenar o que o Olimpo deseja.

Lamento informar que começo a dar razão às vozes da reacção: e não se pode acabar com o ministério da cultura? É que se, por aquelas bandas, "cada cavadela, uma minhoca", se calhar mais vale.

Mais do que isso só lamento que um actor respeitável pareça estar na jogada. O putativo sucessor de Fragateiro já foi anunciando que estava a organizar a vida para a respectiva transferência. Nessas circunstâncias, pelo que isso revela, só o nomeará um ministro abaixo de... comediante.

24.7.08

hipocrisia


José Eduardo Moniz: Futebol na RTP é "golpe importante" nas televisões privadas.


«Eduardo Moniz termina as suas declarações com uma forte crítica ao Governo: "O Estado bem pode gastar dinheiro no futebol. Nós até nem temos problemas na saúde, na segurança social, no fecho de empresas, no desemprego. Que tristeza..."» Supostamente, a RTP gastou dinheiro neste movimento. Comprou qualquer coisa, terá de pagar. Claro. Mas a TVI queria comprar porquê? A TVI queria a toda a força desbaratar o seu dinheiro comprando transmissões de futebol? Ou será, antes, que a TVI queria ganhar o dinheiro que a RTP assim vai ganhar?

«José Eduardo Moniz acusa o Governo de conviver "mal com a comunicação social e com a liberdade que a sua actividade implica"». Porque a SPORT TV vendeu direitos de transmissão à RTP e não à TVI? Mas se antes os vendera à TVI, em outros anos... Os líderes das empresas privadas abusam na nossa paciência quando fingem estar a falar de política e dos interesses gerais quando na verdade estão apenas a falar de negócios e do que querem ganhar a mais do que já ganham. Infelizmente muitos privados querem parasitar o Estado na forma do costume: o Estado que faça o que só dá despesa enquanto os privados fazem o que só dá lucro - e enquanto os mesmos privados berram que querem concorrência. Hipócritas.

23.7.08

a quem incomoda


Sócrates garantiu hoje que o PCP e o Bloco de Esquerda terão todo o tempo de debate necessário sobre o Código de Trabalho, assegurando que o PS quer debater o diploma para travar a discussão contra os "embustes" da esquerda sectária.


Só posso aplaudir. Este governo só tem sido prejudicado quando não há tempo suficiente e oportunidades bastantes para discutir aprofundadamente as matérias em cima da mesa. A oposição tem jogado principalmente na manipulação de ideias feitas e de chavões. (Alegre nem isso: limita-se a repetir banalidades sem qualquer conteúdo que só parecem sérias por causa da sua voz grave e das suas inflexões misteriosas.) É preciso debater, claro. Sempre, mais e melhor. E é engraçado ver a quem isso incomoda. Vou respondendo: aos que, em substância, distorcem as coisas para melhor alisarem o seu fato. Mas nem sempre o que se faz ao fato se pode fazer aos factos. (Esperamos pelo acordo ortográfico.)

pequeno comércio


Roubos em hipermercados sobem e voltam ao nível de 2003.


E o pequeno comércio de bairro mais uma vez esquecido. Gaita.

Chávez na mão


Sócrates reúne-se hoje com Chávez pela terceira vez em menos de oito meses.


Só três vezes? Isso é muito menos do que os erros graves de português exibidos pelo jornal Público na sua primeira página no mesmo lapso de tempo.

Post Scriptum: Os ricos podem ser amigos de todos, desde que haja conveniência, e os pobres só podem ser amigos dos que nada têm, não é verdade? Pelo menos em política internacional é assim que costumam pensar os "grandes". E os jornais que pensam como eles.

provérbio africano


O meu amigo José Manuel Dias publicou no COGIR o seguinte provérbio africano:

Em África, todas as manhãs, uma gazela acorda.
Sabe que tem de correr mais depressa que o leão, ser mais veloz ou será morta.
Todas as manhãs, um leão acorda.
Sabe que tem de correr mais depressa que a gazela mais lenta, ou morrerá de fome.
Não interessa se és um leão ou uma gazela. Quando o sol se levantar será bom que corras.


Digo eu: felizmente, em sociedades civilizadas, os humanos fizeram alguma coisa para que a nossa vida não se limite ao jogo dos predadores e das presas. Apesar dos liberalismos económicos, mesmo à vista dos seus manifestos fracassos, fazerem tudo para nos devolver ao estatuto do leão e da gazela.

22.7.08

grandezas e misérias


Capturado Radovan Karadzic, antigo líder sérvio da Bósnia.


Karadzic vai ser transferido para Haia.



Vai demorar tempo até que a justiça deixe de se virar só contra os perdedores. Mas, entretanto, é bom que alguns criminosos deixem de merecer as honras do mundo. Entretanto, apesar da crise, a União Europeia ainda motiva vários países a darem sinais de boa vontade como inscrição para uma eventual adesão.
Assim vão as grandezas e misérias deste mundo.

Aveiro - futebol - robots - campeões do mundo



O RoboCup, Campeonato Mundial de Futebol Robótico, decorreu este ano em Suzhou, na China. O RoboCup organiza-se em diferentes Ligas. Uma das ligas mais importantes da modalidade principal, a Liga de Robots de Tamanho Médio, tem agora um novo campeão do mundo: a equipa CAMBADA, da Universidade de Aveiro. Ver notícia aqui no sítio da UA.

A ciência e a tecnologia feitas pelos portugueses estão uma vez mais de parabéns! Sem que faltem os específicos parabéns à CAMBADA, é claro!

Se alguém pensa que "futebol robótico" é uma brincadeira, sugiro esta leitura para uma introdução ligeira ao significado dessa linha de investigação. E divirtam-se!

13.7.08

O Império Romano e a União Europeia

Em Maio de 2007 publicámos aqui uma série de três apontamentos sobre "O Império Romano e a União Europeia". O programa Câmara Clara, da RTP2, de Paula Moura Pinheiro, dedica-se na sua edição de hoje (22h30m) ao que, grosso modo, é o mesmo tema. Decidimos, por isso, reeditar aqui, desta vez "tudo numa penada", esses apontamentos.


I


Muitos creditam à União Europeia (ex-CEE) 50 anos (1957-2007) de paz e prosperidade a benefício dos povos europeus. Contudo, mesmo entre os que foram intensamente financiados por outros mais prósperos (como os portugueses), parece haver uma moda de indiferença ou até desconfiança face a essa “casa comum”. Parece pairar a convicção de que o que temos está garantido e não nos pode ser tirado, mesmo que demos largas aos egoísmos nacionais e cuidemos pouco de participar na construção europeia. Será assim? Procuremos contribuir para uma resposta com um paralelo com o império romano e a sua queda.


Poderíamos sempre tentar uma resposta “cultural”. Por exemplo, lembrando que ferramentas culturais básicas se ressentiram: a capacidade de ler e escrever, muito difundida no império romano devido às necessidades burocráticas e económicas, não apenas entre as elites mas também nas “classes médias”, regrediu no período pós-romano até ao ponto de mesmo grandes reis ocidentais terem sido analfabetos. (O clero foi, em larga medida, uma excepção importante.) Mas nesse campo poderíamos apontar, após a queda do império romano, o florescimento de formas superiores de cultura, por exemplo aquelas que foram protegidas e praticadas nos círculos religiosos. Por exemplo nos mosteiros e nas catedrais. Mas não vamos por aí. Vamos às coisas “menores”, à vida material quotidiana.


No auge da sua extensão o Império Romano incluía quase toda a Europa ocidental, largas faixas em redor do Mediterrâneo, bem como regiões mais orientais, desde os Balcãs à Grécia, Egipto, Ásia Menor, chegando à Síria e fazendo a oriente fronteira com a Pérsia e com as regiões caucasianas. A queda do Império a Ocidente, em 476 d.C., deu lugar a um longo período de retrocesso sócio-económico, como escreve Bryan Ward-Perkins, em “A Queda de Roma e o Fim da Civilização”: “o domínio romano, e sobretudo a paz romana, trouxe níveis de conforto e sofisticação para o Ocidente que não tinham sido vistos anteriormente e que não seriam vistos de novo durante muitos séculos”. Veremos, amanhã, o que quer isso dizer mais em concreto.







II



Clicar para animar...


O que Bryan Ward-Perkins procura mostrar, em “A Queda de Roma e o Fim da Civilização”, é que a queda do império romano do ocidente representou um retrocesso na vida material da maioria da população. Vejamos alguns dos seus exemplos.


Os romanos produziam bens de uso corrente (não apenas de luxo), de qualidade muito elevada, em enormes quantidades, e depois difundiam-nos largamente, sendo por vezes transportados por muitas centenas de quilómetros para serem consumidos por todos os grupos sociais (não apenas por ricos). A existência de “indústrias” muito desenvolvidas, funcionando com trabalhadores razoavelmente especializados, produzindo em grandes quantidades e vendendo para zonas remotas do império, suportadas em sofisticadas redes de transporte e de comercialização, era possível graças à infra-estrutura de estradas, pontes, carroças, hospedarias, barcos, portos de rio e de mar – e à burocracia imperial, incluindo um exército numeroso, para enquadrar e proteger todo esse fervilhar. Exemplos concretos são como seguem.


A cerâmica, utilizada para o armazenamento, preparação, cozedura e consumo de alimentos, era de alta qualidade, tanto em termos práticos como em termos estéticos. O nível de sofisticação da cerâmica romana usada para preparar e servir alimentos só volta a ser observado alguns 800 anos depois, pelo século XIV. Também as artes da construção de edifícios, que os romanos tinham sofisticado quer para casas luxuosas quer para casas vulgares, em vastas regiões do antigo império perderam-se e deram lugar a povoados construídos quase inteiramente de madeira, onde antes se construía de pedra e tijolo (para já não falar das casas mais sofisticadas com aquecimento por baixo do chão e água canalizada). Já a fundição de chumbo, cobre e prata, que permitia a realização de muitos utensílios sofisticados, também entrou em queda com o desabar do império e só nos séculos XVI e XVII terá voltado a atingir os níveis da época romana.


Enquanto no império as moedas de ouro, prata e cobre eram perfeitamente acessíveis e largamente utilizadas nas trocas económicas, o que veio depois foi o desaparecimento quase total da utilização diária da moeda, a par com o desaparecimento de indústrias inteiras e de redes comerciais. Os produtos de luxo continuaram, em maior ou menor grau, a ser produzidos para os mais ricos, mas os produtos de uso mais geral e de qualidade é que escassearam ou desapareceram. Em certas zonas do antigo império, certos aspectos da economia e do bem-estar material regrediram para níveis da Idade do Bronze. Mesmo muitas economias regionais foram destroçadas pela instabilidade política e militar.


Os benefícios do império também se estenderam à agricultura. Um exemplo curioso: até o tamanho médio do gado aumentou consideravelmente no período romano, graças à disponibilidade de pastos de boa qualidade e de forragem abundante no Inverno. O tamanho do gado regrediu, depois da queda do império, para níveis pré-históricos.


E que é que isto tem a ver com a União Europeia?



III



Em que é que a queda do Império Romano do Ocidente pode contribuir para uma reflexão sobre a União Europeia? O que é que interessa que a queda do Império Romano do Ocidente tenha tido como consequência um abaixamento dos níveis de conforto e de sofisticação da vida de largos estratos da população?


A queda do império romano do ocidente não foi, como vimos ontem, apenas um abalo para as elites políticas, sociais e culturais. Representou um retrocesso no conforto material da esmagadora maioria da população. Já para não falar de que desapareceu assim o instrumento do maior período contínuo de paz (500 anos) vivido na região mediterrânica. Talvez seja útil reflectir nisto: o progresso e o bem-estar (material e espiritual) não estão nunca garantidos. Podem sofrer atrasos profundos e duradouros se não soubermos preservar e melhorar as formas sociais e políticas que são as suas condições de possibilidade.


O império romano durou muitos séculos e foi finalmente abalado e destruído. E demorou muitos séculos a recuperar o que se perdeu. A “nossa Europa” tem 50 anos e há nela ainda muito por fazer. E também ela não está garantida para todo o sempre, dependendo da sabedoria com que soubermos ajustá-la continuamente às novas necessidades. Estaremos conscientes disso quando alimentamos o cepticismo, ou mesmo a indiferença, face a essa realização comum de paz e de progresso? Estaremos cientes de que nenhuma realização das sociedades humanas pode sobreviver à indiferença dos seus principais beneficiários?


Quererá isto dizer que devemos aceitar a UE como o melhor dos mundos possíveis? Aceitar sem crítica as suas políticas (e os seus políticos)? Não. Quererá isto dizer que a UE é intrinsecamente boa? Que devemos prescindir de tentar torná-la mais útil aos seus povos e aos outros povos do mundo? Não. Isto quer apenas dizer que nada está historicamente garantido e que, se não assumirmos (individual e colectivamente) a nossa quota-parte de responsabilidade pelo futuro comum, as consequências podem ser desagradáveis.

Peer Gynt


Peer Gynt, de Henrik Ibsen, pelo Berliner Ensemble, encenado por Peter Zadek,
no Festival de Teatro de Almada (12-07-08).
Fenomenal.
(Má-foto-minha...)


subversão urbana



(Grafito em Almada. Foto de Porfírio Silva. 12-07-08)

9.7.08

o Olimpo privado


Carlos Tavares: modelo de governação do BCP não é o adequado.


Ainda há quem continue a falar como se os "erros de gestão" e as "faltas de respeito pelo cliente" só acontecessem na administração pública. Pelos vistos, alguns dos santos do Olimpo da coisa privada também têm caruncho. (Não é que isso seja de espantar, ou seja uma novidade. O que é de espantar, embora também não seja uma novidade, é que há por aí muitos "comentadores" que ignoram tudo o que não cabe na sua visão a preto e branco.)

Mercado e Estado - Ladrões de Bicicletas


Queria sugerir uma visita ao Ladrões de Bicicletas. Mais especificamente a uma série de (por enquanto três) apontamentos, da autoria de José M. Castro Caldas, intitulados Mercado e Estado I, Mercado e Estado II, Mercado e Estado III.



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4.7.08

The Fly, The Opera


Quem se lembra do filme "A Mosca", de David Cronenberg, e além de se lembrar aprecia a metafísica desse realizador (como é o nosso caso), deve saber que está já no mundo uma ópera a partir da narrativa que essa filme retoma. Estreada em Paris, com o próprio realizador no papel de encenador, com música de Howard Shore, não teve oportunidade de contar connosco. E provavelmente isso não virá a acontecer, com grande pena nossa. Para lamber as feridas dessas impossibilidades, vamos dando espreitadelas no sítio da obra. E vamos deixando algumas imagens de lá, que sugerem que a inspiração não se perdeu.
Aproveitem.



































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3.7.08

mãos sujas


Colômbia: Ingrid Betancourt e três réféns americanos resgatados pelo Exército.

Há muitas mãos sujas na Colômbia, não apenas as das FARC. Isso acontece em muitos outros lados. Mas regozijo-me quando seres humanos são retirados de algumas dessas mãos sujas. E repugnam-me os que, nessa hora, se contorcem para evitar esse regozijo. Um ser humano é um ser humano é um ser humano é um ser humano. Será assim tão difícil entender?

desmame



(Clicar para aumentar. Cartoon de Marc S.)

as falas dos predadores


Façamos todos de Robin, e roubemos o Estado através da única arma que nos resta: a fuga fiscal.


Qualquer teoria pode encontrar hordas de defensores, por mais absurdas que sejam as teorias e mais ilustres os teóricos. Viver em sociedade e teorizar a selva é possível, como se lê.
Tal postura tem enormes vantagens para os seus portadores: podem continuar a fazer de conta que, por haver alguns casos em que a ordem emerge do caos, se pode daí concluir em geral que basta deixar trabalhar a mão invisível para que os colectivos se auto-organizem. E assim podem dispensar-se de pensar a ordem social, porque se encontram justificados pela ideia de que o laissez-faire absoluto a produziria.
"Apenas" precisam de ignorar os (numerosos) contra-exemplos.
As falas dos predadores, afinal, traduzem a preguiça do pensamento.


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2.7.08

se pensa que sabe o que é a linguagem...

... devia ler alguma coisa de filosofia da linguagem para compreender que falar não é tão linear como parece.
Caso não tenha paciência para essas leituras tem uma boa alternativa para arrancar: ir ao Teatro São Luiz ver/ouvir o Ricardo Araújo Pereira interpretar uma súmula das teorias de John Austin, um importante filósofo da linguagem, teorias essas que podem parcialmente ser resumidas pelo título "como fazer coisas com palavras".
Infelizmente, aquilo está mais do que esgotado. Eu tenho um mísero bilhete, que suspeito dar direito apenas a permanecer agachado debaixo de uma cadeira - mas ainda alimento a esperança de que, mesmo dessa posição inominável, possa dar algumas espreitadelas ao que se vai passar.
Entretanto, se o/a caro/a leitor/a for muito sério/a, como o espectáculo se anuncia, poder ler um texto relativamente aprofundado (um artigo introdutório numa publicação académica) neste sítio (português do Brasil, mas que se danem os puristas) acerca das principais teses do Austin.
Se os que não são filósofos podem fazer isto pela filosofia, o que não poderiam os filósofos (se estivessem para aí virados, claro).

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1.7.08

pela minha rica saúde


Lê-se hoje no jornal Público: «Se não se fizer nada entretanto, dentro de cinco anos poderemos ter um sistema de saúde que não responde às necessidades da população, alerta o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) no seu relatório anual, que é oficialmente divulgado hoje em Lisboa.»

Actualização: O governo quer aumentar o número de médicos no sector público da Saúde através da abertura de mais vagas nas universidades, da identificação de estudantes portugueses no estrangeiro e da contratação de médicos de outros países, anunciou hoje a ministra da Saúde.

Um governo do PS tem de levar este aviso muito a sério.
Este governo tratou, e bem, de introduzir alguma ordem nas despesas da saúde. O desperdício é criminoso, especialmente num país pobre, como (comparativamente com a nossa região de referência) é o caso de Portugal. É, realmente, necessário gastar bem. Não gastar nem mais um tostão do que o necessário. Caso contrário, a direita e os interesses económicos rapidamente mobilizarão tal argumento para privatizar à tripa forra - o que se fará, não duvidem, em prejuízo dos que menos podem. E, quando o sistema público for apenas para os desgraçados sem alternativa, o seu clamor não chegará aos céus - e os que hoje bramam estarão calados - e o SNS tornar-se-á um pardieiro.
Mas - há sempre um mas - é necessário gastar tudo o que seja necessário. Não podemos pagar com doença o que se poupa em dinheiro. Está na hora, pois, de o governo do PS dar um sinal de que está atento a estes sinais.