27.6.14

Juncker, por bons motivos.


O Conselho Europeu indigitou Jean-Claude Juncker para presidente da Comissão Europeia. O nome será apresentado ao Parlamento Europeu, a quem cabe confirmar a solução. No almoço dos líderes terá havido dois votos contra, vindos dos governos mais à direita da União Europeia: Reino Unido e Hungria, David Cameron e Viktor Orban.

Como sabem os que passam por este blogue, não votei em Juncker, ao contrário do que terá feito Marcelo Rebelo de Sousa. Mas defendi que se respeitasse o compromisso eleitoral das grandes famílias políticas europeias que se apresentaram às eleições. Como escrevi no texto Bravo, Tsipras:

Todas as grandes formações políticas candidatas ao Parlamento Europeu apresentaram a figura que, a seu ver, deveria ser presidente daquele órgão [Comissão Europeia] - e todas defenderam que o candidato do partido mais votado devia ser presidente, desde que conseguisse formar maioria. Não vejo outro raciocínio democrático que não seja: temos que deixar os vencedores tentarem cumprir esse compromisso eleitoral. Juncker deve poder tentar formar uma maioria que o leve à presidência. Se isso não acontecesse assim, os partidos que entraram naquele compromisso estariam a desprezar o jogo eleitoral em que entraram livremente.
Eu não apoiei o partido de Juncker nas Europeias. Mas penso que ele deve ser presidente da Comissão se conseguir formar maioria para tal. E mais: espero que consiga formar essa maioria. Se acontecer de outro modo, ganharão os cínicos que viam naquele compromisso uma farsa. E aos eleitores poderá dizer-se: era só conversa, os lugares decisivos não dependem nada do vosso voto, a Europa nunca será democrática.

Os que bradaram que aquele compromisso das famílias políticas era uma farsa, faziam-no argumentando que os governos é que decidiriam, não o Parlamento Europeu. Sempre lembrei que os governos também estavam ligados às mesmas famílias políticas, que os governos não caíam do céu aos trambolhões - e que muitos perceberiam que não podiam mudar de cara quando mudavam de cadeira. Foi o que aconteceu com Merkel, que parece nem morrer de amores por Juncker, mas acabou por perceber que seria péssimo simplesmente deitar para o lixo um compromisso eleitoral. Ainda bem que correu assim.

Não será por falta de legitimidade democrárica que Juncker deixará de cumprir. Esperemos é que não fracasse apesar da legitimidade democrática. Já bastaram dez anos de presidência da Comissão Europeia sem rumo, sem ideias e completamente dependente dos telefonemas para este e para aquela, a mostrar como pode um balão cheio de ar chegar tão longe.

E ainda não está excluído que Barroso continue a ter um lugar ao sol para os lados de Bruxelas...