O prémio de mérito no valor de 500 euros, que distingue os melhores alunos dos vários cursos do ensino secundário de cada uma das escolas do país, foi suspenso pelo actual Governo.
(Reporto-me ao Público em papel, não à incompleta notícia em linha.)
A poucos dias de serem entregues prémios de mérito a alunos do secundário, o ministro que antes de o ser tanto encheu a boca com a promoção do mérito… mandou anular a entrega da pecúnia. Assim se ensinam os adolescentes de uma verdade corrente hoje em dia: a palavra dos adultos não vale um centavo. Talvez a ver se saía airosamente desse acto de deseducação pública, Crato manda dizer que as escolas disporão desse dinheiro para apoiar famílias carenciadas, num suposto incentivo à solidariedade. Não vão as alunas e alunos que ficaram a ver o prémio por um canudo esquecer-se do assunto, serão eles a destinar o dinheiro.
Há aqui, desde logo, algo bizarro. A solidariedade tem razões. O dinheiro que se gasta em solidariedade é destinado por análise das condições e das circunstâncias. Nisso a solidariedade é diferente da esmola, que depende apenas do arbítrio de quem dá. Na solidariedade com razões, o destino do apoio não é decidido arbitrariamente, ao gosto de quem quer que seja. Ser uma pessoa a destinar um apoio, só porque “aliviaram” essa pessoa de um prémio que tinha conquistado, é irracional, introduzindo na suposta solidariedade um vector que lhe seria, normalmente, alheio. O estudante que ficou sem o prémio pecuniário ganhou um pequeno poder, decidir de um apoio “solidário” que não devia estar sujeito a impulsos esmolares.
Mas há, nesta história, uma lição suplementar: para dar à solidariedade, tira-se ao mérito. Um ministro da educação que ensina aos nossos jovens que solidariedade e mérito puxam a corda para lados opostos… é um verdadeiro ministro da má educação.