Senhor Primeiro-ministro, queria voltar a falar-lhe no esforço que está a ser feito para manter as escolas abertas, apesar de as suas respostas terem sido no essencial muitíssimo claras, mas nós queremos também deixar clara a nossa posição.
É claro que temos de estar sempre preparados, em função de
novidades, designadamente se notarmos uma presença importante de uma estirpe do
vírus mais contagiosa e mais ameaçadora, temos de estar sempre preparados para
mudar de posição e para rever as medidas. Não temos uma posição dogmática e
aquilo que nos preocupa são as pessoas. Mas queremos aqui dizer que apoiamos
claramente o governo ao fazer todos os esforços para manter as escolas a
funcionar em regime presencial. E porquê?
É porque sentimos o dever de falar por quem não tem voz. Há
crianças para quem a escola é a única âncora segura da sua vida. Não pensemos
só nas famílias desafogadas, não pensemos só nas famílias que têm bibliotecas
em casa, que têm quartos confortáveis para os seus filhos, que têm sempre mesa
farta. Pensemos também nos que sofrem descuidos, nos que sofrem violência, nos
que sofrem carências várias. Pensemos naqueles cujos pais têm de continuar a sair
de casa para nós continuarmos a ter alimentação, electricidade, gás, e podermos
continuar a viver. E esses muitas vezes não têm voz no espaço público.
Há quem diga “fechemos as escolas, porque um ano ou dois anos
não importa, recupera-se mais tarde”. Mas nós temos nas nossas escolas muitas
centenas de milhares de crianças e adolescentes que estão em idades decisivas
do seu desenvolvimento. Nem sempre é verdade que o que se perde agora se recupera
mais tarde. É que não se trata só de aprendizagens escolares. Trata-se de
desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento sensório-motor, desenvolvimento emocional,
desenvolvimento social, que é obviamente afectado quando os nossos filhos e netos
ficam fechados em casa, porque o computador não substitui a relação educativa, não
substitui a relação humana, não substitui a relação social.
Esta perda no desenvolvimento vai custar muito nos próximos
anos, em saúde, saúde mental, saúde física. Alguns estão a fazer as contas aos
custos que isto vai ter em termos económicos. Nós estamos a fazer as contas aos
custos que isto vai ter em termos de saúde e em termos de equilíbrio das
famílias.
Lembramo-nos bem, porque os deputados do meu grupo parlamentar
falaram com centenas de escolas desde o princípio da pandemia: no primeiro confinamento,
os directores e directoras que nos diziam “temos aqui uns alunos, não são
muitos, são dez, são vinte, mas temos aqui alunos que não somos capazes de contactar
com eles, estão desaparecidos, tivemos que pedir à junta de freguesia para
procurar por eles”. Por esses ninguém fala. Mas nós falamos. Temos que falar, temos
que os proteger e não ser ligeiros.
Apoiamos o governo nesse esforço, mesmo que não sejamos dogmáticos
e, eventualmente, tenhamos de rever as medidas se a situação a isso obrigar.