Ontem, o Dr. Paulo Portas, com meio fato de Vice-Primeiro-Ministro e meio fato de dirigente partidário, usou uma circunstância oficial para fazer campanha eleitoral e para atacar o Partido Socialista. Até aqui, a indignidade não surpreende, porque dela o actual governo tem usado e abusado. Mesmo assim, desta vez, o desplante do Dr. Paulo Portas conseguiu surpreender.
O Dr. Paulo Portas diz que o Partido Socialista reviu as contas do cenário macroeconómico. Ficamos a saber, por esta declaração, que o Dr. Portas não viu o documento de que fala, ou se viu não leu, ou se leu não compreendeu.
O PS fez as contas ao Impacto Financeiro do Programa Eleitoral, e tornou essas contas públicas, de forma transparente. Nós avaliámos o impacto de cada medida que consta do nosso programa, para que a nossa campanha eleitoral seja uma campanha esclarecedora. Já a Direita não mostra as contas, limita-se a atacar o método e a seriedade com que o PS tem trabalhado.
E por que é que a Direita não mostra as contas? Porque tem um programa escondido, nomeadamente um programa de privatização da Segurança Social, que não poderia esconder se mostrasse as contas. Porque se não escondesse as contas teria de explicar como vai cortar 600 milhões de euros no sistema de pensões, como prometeu em Bruxelas.
É, aliás, irónico que quem fala em revisão das contas seja o Vice-Primeiro Ministro do governo que mais revisões fez aos Orçamentos de Estado. O actual governo apresentou 12 orçamentos, uma média de 3 por ano durante a legislatura. Em matéria de revisão de contas, o dirigente partidário PP já se esqueceu de que ainda é Vice-Primeiro-Ministro.
O que confunde o Dr. Portas é que os compromissos que o PS tem vindo a apresentar aos portugueses são estudados, com método e com seriedade, e por isso são coerentes. Isso confunde o Dr. Paulo Portas porque, em matéria de programa, a Coligação tem duas caras: enviou em Abril para Bruxelas um Programa de Estabilidade diferente do programa eleitoral apresentado aos portugueses.
O Dr. Portas, se tivesse lido e compreendido o Estudo sobre o Impacto Financeiro do Programa Eleitoral do PS, também não teria confundido as nossas previsões sobre o emprego com promessas eleitorais. O Dr. Portas, nem como dirigente partidário nem como vice-Primeiro-Ministro deve ter lido o Plano de Estabilidade enviado pelo governo para Bruxelas. Porque, nesse caso, teria de assumir que ele próprio (na sua interpretação) fez promessas de criação de emprego. Infelizmente, nenhum jornalista presente da conferência de imprensa se lembrou de fazer tal pergunta...
O Dr. Portas diz que não são os governos que criam emprego, que são as empresas. Mas deveria dizer mais: este governo, se não cria emprego, pelo menos trabalha bastante bem as estatísticas: tem "trabalhado" muito para que os números escondam a realidade, para que muitos desempregados deixem de contar como tal, para que muitos emigrantes, ao partir, deixem de pesar nos números do desemprego. O governo cujas políticas mais provocaram destruição de emprego, o governo Passos & Portas, é o governo que mais fabrica estatísticas de emprego. Que, na matéria, é apenas o que sabe fazer.
Se o Dr. Portas tivesse, apenas, um pingo de noção das enormidades que disse num único encontro com a imprensa, teria vergonha. Seria uma vergonha merecida, justa, razoável. Mas isso seria pedir demasiado ao Dr. Portas, um Vice-Primeiro-Ministro em funções a fazer campanha eleitoral enganadora. Sim, porque ele não quer ficar atrás de Passos.
(Imagem daqui)