24.4.14
quarenta Abril depois.
Desarrumado, é esse o estado do meu sonho.
Os sonhos costumam ser inteiros,
mundos vistos de dentro com a precisão da aparência,
perfeitamente calculados com pouca geometria
e voo, muito voo.
Mas este desarrumou-se:
todos parecem poder brincar lá dentro,
dizer palavras temporárias como verdades eternas
tentando aplacar esta nudez das colinas na cidade
ou sussurrar de cócoras memórias proscritas
escondidos nas cortinas de veludo
enquanto os principezinhos da república brincam à cabra cega
com os sérios e impolutos herdeiros do espírito do ballet rose
a sonhar, que eles também sonham
(o que é teu é sonho, o que é meu é crime)
com a caça à lolita nos jardins do hierarca.
Desarrumado, é esse o estado do meu sonho.
Sem perceberes que a razão do naufrágio do titanic
foi não serem afinal suficientemente estanques
os compartimentos que mantinham o universo a navegar,
julgaste que os sonhos se cumpririam dentro de ti,
que os sonhos atravessariam os desertos recolhidos nas tuas mãos,
que podias resolver o problema da habitação | a paz | o pão sozinho,
julgaste que sonhar é coisa para sonhadores
e olha, o sonho e o crime fizeram casas nos mesmos bairros,
procriaram anões tremendamente eficazes, fortes como touros
alimentados pelo sangue das virgens e o leite dos centauros
e hoje, que já não se distingue um criminoso pelas intenções,
o estado do meu sonho é isto: desarrumo.