A agência noticiosa AFP publicou, primeiro, e depois retirou de circulação, uma fotografia do presidente francês em que este aparecia com um ar "apatetado". Face às suspeitas de que os serviços da presidência poderiam ter tido a ver com essa opção (retirar uma foto de Hollande, sem nada de mal mas pouco edificante para a pose de um presidente), o director de informação da agência veio explicar-se em público. No essencial, afirma que foi uma decisão editorial, com fundamentos que incluem o seguinte: a linha editorial da agência inclui a orientação de não publicar imagens que ridicularizem as pessoas. Até porque, em geral, essas fotos "ridículas" retiram a imagem do seu contexto ou distorcem o sentido do que supostamente se está a noticiar.
Julgo que, face às práticas de alguma (muita) comunicação social entre nós, vale a pena reflectir nisto. Qual o valor para a informação de divulgar "peripécias" que são meras acrobacias para "vender notícias" ? Não tenderão essas práticas a sair do perímetro da informação, na realidade desviando a atenção do que realmente é de interesse público?
Claro que aqui podem responder-me: se as pessoas se interessam, é de interesse para o público. Pois, mas "ser de interesse para o público" é diferente de "ser de interesse público". Ser "de interesse público" diz respeito ao que importa para vivermos bem em comum, ao que importa para sermos uma comunidade, para sermos capazes de gerir esta coisa de estarmos todos ao mesmo tempo no mesmo espaço e em relação. "Ser de interesse público" não deveria ser confundido com a circunstância de haver muita gente com curiosidade mórbida acerca de coisas pelas quais um humano saudável não deveria ter qualquer interesse. Na verdade, muita "informação" que por aí anda serve exclusivamente para fragilizar o "interesse público" em nome do "interesse para o público".