A generalidade das postas que tive oportunidade de ler, nos últimos dias, sobre a polémica entre Rui Ramos e Manuel Loff em torno da obra de História de Portugal que em boa hora o Expresso se lembrou de oferecer ao povo, mostram algo que me parece extremamente grave: a maioria dos comentadores que, em blogues, tocaram nesse tópico têm em muito má conta a "História" como disciplina científica. Quer dizer: partem do princípio que investigar história é um exercício necessariamente dominado pela ideologia.
Isto quer dizer que eu penso que a investigação histórica pode ser higienizada, separada do resto do pensamento de um investigador? Não. Quer dizer que eu penso que um historiador que só ande à procure de confirmação dos seus pre-juízos, ou que só escreva para público o que tenha esse condão, não é um historiador, é um aldrabão. Isto quer dizer que eu penso que a ideologia é má para a investigação histórica? Não. Quer dizer que só reconheço o nome de investigador a quem, partindo do ponto que partir, por exemplo das suas convicções, aceite submeter a duras provas as suas teses e corra o risco de procurar o que as pode mudar. Atacar, ou defender, este ou aquele historiador principalmente por causa das suas convicções políticas, em vez de criticar ou suportar as suas teses enquanto historiador, é tratar a investigação histórica como um mero subproduto da ideologia.
É por causa do tipo de espectáculo que tem sido dado por alguns dos intervenientes nesta novela, designadamente por aqueles que entraram na questão antes de tudo como uma guerra política insusceptível de ser travada no plano histórico, e por causa de muitos espectáculos parecidos que se vão dando ao longo do tempo em disciplinas das ciências sociais e humanas, ou das humanidades, que há quem trate estas disciplinas como "ciências moles". Conversa fiada, afinal.
Condição na qual estão sempre em risco de cair. Mas risco que não constitui uma inevitabilidade.
(Isto não é um texto de epistemologia. É apenas um desabafo.)