Hoje, que não é Primeiro de Abril, o Público divulga esta pérola de despacho governamental:
«Presidência do Conselho de Ministros
Gabinete da Subsecretária de Estado Adjunta do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Despacho nº 8443/2012
Ponto 1 - Ao abrigo do disposto na alínea b) do nº 1 do artifo 3º, nos nos. 1, 2, 3 do artigo e do artigo 12º do Decreto-Lei nº 11/2012, de 20 de janeiro, designo para exercer as funções de adjunto do meu Gabinete o licenciado João Paulo da Silva Carvalho, do partido político CDS-PP.»
Isto, evidentemente, é grave. E revela que há pessoas no topo do Estado que não fazem ideia do que andam lá a fazer. Contudo, convém continuar a olhar para as coisas - para qualquer coisa - com os cuidados que a vida nos ensina. Vejamos.
Sobre isto, o Público escreve, a abrir a peça:
«O ministério liderado por Paulo Portas nomeou para adjunto da subsecretária de Estado dos Negócios Estrangeiros João Carvalho, de 42 anos, funcionário do CDS-PP nos últimos 12. A origem partidária consta mesmo do despacho de nomeação publicado em Diário da República no passado 24 de Junho. João Carvalho é um dos funcionários do partido que são arguidos no processo Portucale por causa dos recibos de justificação de depósitos bancários no valor de um milhão de euros e que eram passados em nome de "Jacinto Leite Capelo Rego".»
Nem chego a perguntar "Então, mas o processo Portucale não tinha já sido enviado para o lixo?", mas sempre pergunto: "Então, os recibos eram todos passados naquele nome?"... Parece-me um exagero. Mas talvez isso seja um pormenor.
Já não é um pormenor que, depois, grande parte da notícia de página inteira leve a autora a discorrer sobre a suposta contradição entre esta nomeação e a anunciada intenção de Paulo Portas e o seu partido lutarem contra a colonização do Estado por interesses, clientelas e partidarites. Claro que esta nomeação, pelo menos no texto do despacho, é uma aberração e dá a ver uns hábitos e uma forma de pensar que deviam ser estranhas. Contudo, trata-se de uma nomeação para um gabinete governamental, onde a estrita confiança política, e mesmo pessoal, é perfeitamente legítima e mesmo necessária. E nomear para um gabinete de um membro do governo não é contratar um dirigente da função pública, sequer recrutar um funcionário público. Daí que, se os jornalistas não fossem pequenos deuses contemporâneos que não podemos tocar, eu aconselharia a autora desta notícia a pensar duas vezes antes de misturar tudo e ser demasiado apressada. Ficaria o seu trabalho mais escorreito, menos parecido com um artigo de opinião, mais respeitador da inteligência do leitor.