No dia de todos os euros (futebol, França e Grécia), o mais relevante para o futuro foi o que se passou em França. (Na Grécia, a direita trauliteira, o partido que mais directamente contribuiu para espoletar a crise, chega à frente com um alívio incompreensível de alguma esquerda surpreendente - mas disso falamos depois.)
É importante para a Europa que haja um farol de uma alternativa, uma força que chega ao poder (em condições de governar) sufragada para fazer diferente, com apoio popular para alguma coisa que não seja austeridade recessiva em nome das contas certas. A Europa não poderia sobreviver com uma total ausência de alternativas políticas ao pensamento único, com uma visão unanimista acerca do caminho a seguir. Uma democracia (e a Europa é um espaço democrático, mesmo que a arquitectura institucional não facilite a compreensão desse ponto) - uma democracia precisa de gerar alternativas no seu seio, debate, comparação. A vitória segura do PS, e dos seus aliados, em França, garante esse pluralismo real (e não apenas potencial) de que a UE precisa para não perder a alma - e as funcionalidades básicas.
Claro que só agora começa o exercício: ninguém tem soluções de êxito garantido, está tudo por reinventar, incluindo o método comunitário, tão atropelado nos últimos tempos, mas mais do que isso ainda precisamos políticas novas capazes de conciliar rigor, equidade e crescimento. Tudo pode ainda correr mal, mas a França, como ponto de esforço de uma tentativa de fazer diferente, dá uma certa esperança de que não se morra por pura acomodação à ideologia do austeritarismo.