8.5.12

romper com a troika.


Soares diz que PS tem de romper com a troika.

A ideia de "romper com a Troika", expressa como ideia de um interruptor, ligado/desligado, agora-sim-agora-já-não, cortar agora e cortar a direito, "romper" - é uma ideia demasiado simplista para o que está em causa.
Há uma distância entre ter engolido as condições enfiadas mais ou menos à força na nossa goela pelos homens do fraque, que deixaram ao país pouca margem para escolher, e ser ideologicamente entusiasta de Troika e mais ainda, como já se identificou publica e expressamente Passos Coelho. Certo, há essa diferença e ela importa. Mas os países não são "peixes binários", nem o vento sopra no modo tudo ou nada. Há uma complexa equação e há uma série de incógnitas em jogo, que envolvem múltiplos actores e múltiplos níveis institucionais. Querer que ignoremos isso e demos passos maiores do que a nossa perna é pura irresponsabilidade. E aqueles que pagariam o preço real da ousadia, nas suas condições de vida, se "rompêssemos" com quem nos empresta o dinheiro assim como quem dá cá aquela palha, merecem mais respeito.
Um federalista como Mário Soares (nisso, sigo-o) não ignora nada disto, nem atira as culpas para o papão da perda de soberania nacional. Mas deveria ter sempre presente que não é simples o trabalho que há a fazer para deslocar as placas tectónicas do pensamento único. As palavras de ordem demasiado simples ficam, em geral, aquém do esforço de pensamento e concertação que precisamos para resolver situações complexas. É que, como me lembrava há poucos minutos, desde Belgrado Zagreb, o meu amigo Z., "os grandes navios viram muito lentamente". E convém não os atirar contra os icebergues.