A insustentável leveza de quê?
Ao Gonçalo
“O poema não é mais verdadeiro nem mais
consciente do que uma teoria científica
(provavelmente, é-o menos) o poema não contém
atrito por definir o mundo ou desvendar a
metafísica. O atrito do poema tem a ver com o
corpo, a distância e a lentidão.”
consciente do que uma teoria científica
(provavelmente, é-o menos) o poema não contém
atrito por definir o mundo ou desvendar a
metafísica. O atrito do poema tem a ver com o
corpo, a distância e a lentidão.”
Pedro Eiras  – A Lenta Volúpia de Cair
Deixar cair uma maçã com toda a força;
Não estamos aqui pela gravidade, mas porque
Amamos o chão – a terra – se possível, metemo-la
toda na boca, perdi um bloco de notas que me
compraste no museu do Galileu, nele tinha notas sobre a
aflição e o  atrito – a ligação entre poesia e ciência, a Vontade
de estar dentro de  Ti. A maçã contínua cai – sem que
Newton ou um poeta suicida  – Esqueci-me do número do
andar – tenham ainda o sabor da razão na boca,  azedo e
verde, sem ter asas, nem querer voar:
A insustentável leveza de  quê? O atrito do
ar enquanto desces e perdes toda a poesia e a
inocência, a vontade de cair naquilo que nunca será
ciência – falo da  razão – 
está nos teus olhos, dentes e boca.
Nuno Brito, Créme de la Creme, Porto, Planeta Vivo, 2011