Vejamos. Um trabalho ser bem ou mal pago não depende apenas do que se recebe em troca. Para simplificar, deixemos de lado as questões do esforço necessário à concretização das tarefas atinentes e da qualificação requerida. Falemos apenas da quantia a receber em troca de um certo tempo a aplicar . Por exemplo, €100 por duas horas é mais barato do que €100 por dez minutos. Assim sendo, podendo mexer numa das duas variáveis (preço, tempo), pode variar-se de duas maneiras a justiça associada à troca. Se não posso pagar mais, posso pelo menos reduzir o tempo requerido para pagar o mesmo.
Aparentemente, o governo, depois de recorrer ao corte dos pagamentos, quer compensar com a técnica orçamental complementar, mais simpática, de cortar no ano. Governo quer acabar com Corpo de Deus, 15 de Agosto, 5 de Outubro e 1 de Dezembro. É um bocado aborrecido ficarmos com um ano com menos 4 dias, mas melhora o nível de vida: não só trabalhamos menos 4 dias, como são menos quatro dias em que temos de comer, vestir, lavar a cara e gastar água, por aí adiante. Podiam era aproveitar para acabar com os anos bissextos, mandando o 29 de Fevereiro à vida, o que abundaria do lado da simplificação administrativa. Aplaudo, pois, esta ideia governamental de cortar 4 dias ao ano, compensando com uma mão o que andam a retirar com as outras todas.
Desculpe?!
A ideia não é cortar os dias? A ideia é cortar os feriados desses dias? Então, continuam a cortar do mesmo lado, percebi bem?
Paciência. Temos de nos consolar com a ideia de que é desta que vamos passar a ser competitivos, com mais quatro dias de trabalho por ano, pelo mesmo preço. Por um preço mais baixo, certo, mas isso já era sabido.