Perante a crise, estão em início de proliferação os governos de tecnocratas na Europa. Independentemente do que realmente venham a ser os próximos governos da Grécia e da Itália, é de notar que tenham sido equacionadas soluções recheadas de "homens competentes" que têm andado fora dos círculos políticos. Isso aparece como uma resposta à crise da política. Realmente, o que se está a passar na Europa é, no fundamental, um fracasso da política: os políticos não viram o que vinha, quando viram não perceberam, quando perceberam não foram capazes de responder à altura. Bizarro é que a resposta à crise da política não seja melhor política - e melhores políticos -, mas a fuga à política. A fuga à política, sob qualquer forma de governo dos técnicos, é um povo a fugir com o rabo à seringa, à espera que "os competentes" façam por nós o nosso trabalho de encontrar colectivamente respostas aos problemas. Qualquer governo de tecnocratas é o fracasso da inteligência social, a derrota de um povo enquanto colectivo civilizado, uma comunidade a meter o rabo entre as pernas e a fugir pela calada. Gostava de ver partidos políticos renovados, novos programas políticos, novos políticos à altura. Mas a "democracia" tecnocrática é a negação de tudo isso. E não pode levar-nos a nenhum sítio onde o ar seja respirável.