28.7.11

notícias dos socialistas


Deputados do PS vão ter liberdade de voto.

O novo secretário-geral do PS, António José Seguro, pede ao grupo parlamentar que a regra básica de voto, dentro do grupo, passe a ser a liberdade individual: cada deputado vota pela sua cabeça. Continuará a haver matérias de disciplina, que dizem respeito aos compromissos básicos da governação (tais como orçamentos do Estado, moções de censura ou de confiança, ou promessas eleitorais), nas quais o deputado tem de alinhar com o grupo. Acho perfeitamente justificadas essas matérias de disciplina de voto.
Muito vai depender da aplicação, para se saber o que vale realmente esta alteração. De qualquer modo, potencialmente, trata-se de uma modificação relevante: pode fazer a diferença entre uma política de blocos e uma política de representantes livres e responsáveis, em pleno sentido das palavras. Desejavelmente, esta novidade, a mostrar-se significativa, obrigará os outros partidos a seguirem o figurino. Mais tarde ou mais cedo, por essa via, o parlamento ganhará uma nova representatividade: já não apenas a representatividade grupal, mas também a representatividade das diferenças que não podem ser reduzidas a fronteiras entre partidos. De qualquer modo, para que esta mudança tenha sentido, ela tem de ser acompanhada de outras: por exemplo, facilitando a apresentação de propostas, elaboradas por deputados individualmente, e que não tenham de esperar pela benção da direcção para chegarem a ser discutidas e votadas.
Mesmo na incerteza (as máquinas são fartamente imaginativas a contornar o que não lhes convém), estou convencido que, se os deputados socialistas souberem fazer desta ranhura uma abertura ampla, podemos estar a começar algo mais profundo do que parece à primeira vista.


22.7.11

o ministro das finanças ainda não leu as notícias


Imposto extraordinário: Parlamento aprova sobretaxa, mas deputados do PSD e CDS têm dúvidas.

«No debate com os deputados, o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, justificou o novo imposto afirmando que é indispensável para a consolidação orçamental. Em resposta a Sónia Feruzinhos, do PS, que criticou a medida como de “último recurso”, Vítor Gaspar contrapôs que a decisão é “sinal de uma estratégia falhada”, do Governo do PS. Essas medidas de “último recurso” significam “tomar medidas demasiado tarde, e tímidas”, e caminhar “de PEC em PEC até ao desastre final”, afirmou.»

Parece que o ministro das finanças de Portugal ainda não sabe da cimeira do eurogrupo de ontem. Pelo menos, continua na velha teoria de que cada país seria capaz de se desenrascar sozinho, sem acção europeia - e que, se as coisas correm mal neste ou naquele país, isso se deve exclusivamente à inépcia desse país a lidar com o mundo. Se a senhora Merkel tivesse explicado ao senhor Passos Coelho que até já ela percebeu que isto é um fenómeno internacional e sistémico, e que só uma acção ao nível da zona monetária pode dar resultados, o doutor Gaspar poderia largar as velhas teorias. E até poderia agradecer ao anterior governo de Portugal ter sido dos que mais se bateram pelo realismo necessário (a nível europeu) para assumir isso. Ou o ministro Gaspar ainda pensa que as decisões do eurogrupo, ontem, foram um ataque súbito de caridade face à Grécia e outros aflitos?


não é comigo que falas, pois não?


A um Jovem Poeta

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.

Manuel António Pina, in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"

Não somos iguais até termos tirado a pele uns aos outros.


Tínhamos chegado à Jamaica, três emissários da Convenção Francesa. Os nossos nomes: Debuisson, Galloudec, Sasportas. A nossa missão, uma revolta de escravos contra a soberania da coroa britânica em nome da República de França. Que é a pátria da revolução, o pavor dos tronos, a esperança dos pobres. Na qual todos os homens são iguais sob o machado da justiça. Que não tem pão para aplacar a fome às massas, mas mãos em número suficiente para levar o estandarte da liberdade, igualdade, fraternidade a todos os países. Estávamos na praça junto ao porto.


RECORDAÇÕES DE UMA REVOLUÇÃO
um espectáculo de Mónica Calle
a partir de "A Missão" de Heiner Müller

com
Mário Fernandes, Mónica Calle e René Vidal

de 21 a 31 de Julho de 2011
todos os dias - sessões duplas (20h e 22h)


“Os mortos estão em esmagadora maioria relativamente aos vivos.”
(in Dezanove respostas de Heiner Müller – Perguntas colocadas por Carl Weber, 1984)
























Casa Conveniente
Rua Nova do Carvalho, 11 (ao Cais do Sodré) - Lisboa
info / reservas: 96 3511971 e 91 7705762

As fotos são de Bruno Simão. (A primeira, acima, é um detalhe de uma foto original.)

20.7.11

alguém explica isto a Passos Coelho, sff ?


"Nos primeiros seis meses de 2011, a despesa efectiva do Estado emagreceu 3,4%, face a igual período do ano transacto, e a despesa primária caiu 4%, informou hoje a Direcção-Geral do Orçamento. A despesa com pessoal desceu 8%, sobretudo por causa do corte de salários dos funcionários públicos." Contudo,  «Redução da despesa no Estado abranda por causa dos juros da dívida». Juros que ficaram muito piores com o empurrão no governo anterior. Mas é mais giro dizer que há um desvio colossal, não é?


Barroso tira um cisco do olho



A propósito do encontro de presidentes de junta de freguesia amanhã em Bruxelas (que me perdoem os presidentes de junta, mas quem pode chamar àquilo uma reunião de líderes?), Barroso faz prognósticos antes do jogo (Fracasso da cimeira será sentido em toda a Europa), mas sacode a água do capote: Os Estados-membros "disseram que fariam o que fosse preciso para assegurar a estabilidade da Zona Euro. Bom, agora é a altura de cumprirem essa promessa", afirmou o presidente da Comissão. Ou seja: eu não tenho nada a ver com isso, vim para Bruxelas só para me safar de Portugal, isto afinal dá uma trabalheira e está tudo de pantanas, não tenho a mais pequena ideia acerca do que é ser presidente da Comissão Europeia, vocês façam lá as contas e decidam qualquer coisa, eu não sei bem o quê.
Um Delors indicaria o rumo que a sua visão lhe ditasse. Barroso, que costuma perguntar ao directório o que pode propor sem ferir susceptibilidades, habituou-se a não ter ideia nenhuma própria - e está muito aborrecido porque os outros desta vez não se entendem acerca do que ele, Barroso, deve pensar. E ele, consequentemente, não pensa nada. Estava tão contente, porque agora os socialistas foram varridos de praticamente tudo o que é poder na Europa e isso deveria resolver todos os problemas do mundo, mas não, não está a funcionar mesmo nada bem. Até a ideia de regressar em glória para ocupar o lugar de Cavaco, pode, por este andar, sem um beco sem saída.
Quem teve a ideia de dar a nacionalidade portuguesa a este jogador que é só frangos, quando não está lesionado?

19.7.11

Cavaco faz o pino no topo de uma azeda


O Ministro das Finanças, na necessidade de tentar evitar ao país os pesados custos que teriam as palavras de Passos Coelho se alguém "lá fora" as levasse a sério, inventou uma peça de teatro para tapar o disparate. Com isso, o Ministro das Finanças cobriu a grossa irresponsabilidade do PM com a sua própria pirueta em directo e a cores. A ideia parece que era "enquanto gozam com o MF, esquecem o PM". Esquecer o PM era mesmo a necessidade do momento.
Só que parece que não mandaram a fita toda para Belém. O PR fala como se o MF tivesse dado alguma explicação para o "desvio colossal". Mas não deu. Da boca de Vítor Gaspar: «“Esta versão é da minha pura responsabilidade. Eu não tenho nenhuma informação autêntica sobre as palavras que terão sido proferidas entre “desvio” e “colossal”. Mas esta versão agrada-me particularmente.”»  Cavaco, das duas três: ou está a gozar com o pagode; ou não percebeu mesmo o MF. Alguém explica ao MF que um ministro não deve abusar das fragilidades do PR?


faltam-me os adjectivos


Macário dá como “inevitável” introdução de portagens na Via do Infante.
Cito o quotidiano: «Depois de ter sido um feroz opositor da introdução de portagens na Via do Infante no âmbito do programa de alteração do projecto, Macário Correia afirmou hoje, em declarações à TSF, que compreende o ponto de vista do Governo e que as portagens naquela via que cruza o Algarve são “inevitáveis”.»

Diz Macário: «"Compreendemos aquilo que o Governo actual e o anterior vinham defendendo a respeito deste ponto de vista, ainda que não seja o nosso".» É curioso é que a compreensão tenha chegado em tão propícia maré.

De facto, a política não tem de ser uma porcaria. Mas pode ser, se isso fizermos dela. Fizermos, salvo seja.

18.7.11

estágios na Madeira


Nada que uma Jacquerie não resolvesse. Ou, se não quisermos ser tão... terminantes, nada que o Gulag, pacientemente, não curasse.

Na ausência de Sócrates, os viciados na política do ódio escolhem outras vítimas. Não parece nada é que estejam capazes de refinar os métodos. Pelo contrário: estão cada vez mais boçais.

15.7.11

depois da gravata, nova fase da campanha de poupança de energia


No ministério de Assunção Cristas já estão todos sem gravata.

Não sei se a medida tem condições para gerar um efeito relevante ao nível dos objectivos declarados. Veremos. De qualquer modo, e desde já, revelou a imensa capacidade de comentadores, comentaristas e comentadeiros de sítios de jornais e blogues para dizer mal de tudo e mais alguma coisa. Para já não falar na pergunta, que parece ser tomada como inteligente, "então, mas havia algum regulamento a obrigar a usar gravata?" - com a implícita resposta, também para ser julgada inteligente, "se não era obrigatória [a gravata], não faz sentido dizer-se que deixou de o ser". Enfim, personagens que escrevem torto por linhas direitas. Antes Cristas.

Aproveito para, dando o pouco apoio que posso ao governo de Portugal, sugerir uma modalidade de possível expansão da campanha governamental a favor de um fresco sem custos.

Joanne Gair shows off the tie-dyed shirt she painted on model Annelise Burton.
Photo by The New Zealand Herald.


traduções português-português


"desvio colossal" = "foram detectados desvios e a consolidação orçamental vai exigir-nos um trabalho colossal".

"fdp" = "eu sou um bom filho, prezo o respeito dentro da família e evito qualquer disputa".

Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação


Vítor Gaspar dá nova interpretação a palavras de Passos Coelho ("desvio colossal") e fala em “trabalho colossal”.

No tempo de Manuela Ferreira Leite havia vários dirigentes do PSD encarregues de dar interpretações do que ela dizia. Cada vez que a senhora presidente dizia mais um disparate, Pacheco Pereira, ou outro intelectual de serviço, dava uma "interpretação". A interpretação era o que a senhora poderia ter dito, mesmo que fosse irrelevante, em vez de, como fazia frequentemente, proferir insanidades. Mas, nesse tempo, a presidente do PSD era apenas uma senhora que gostava muito de Cavaco, odiava muito Sócrates - e estava disposta a dizer qualquer coisa que servisse essas duas paixões. Em conformidade, os interpretadores das palavras da senhora eram, simplesmente, outros bondosos dirigentes do PSD.
Agora, Passos Coelho, que se seguiu a MFL, também tem interpretadores. Só que, alcandorado à dignidade de PM, não pode ser qualquer um a dedicar-se a tão insigne hermenêutica. Por isso, o Ministro de Estado e das Finanças passou a acumular a pasta da Interpretação. Vítor Gaspar tem uma nova pasta, sendo agora Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação de Sua Excelência.

Note-se, contudo - e aqui socorro-me do vídeo divulgado pela Shyznogud - que Vítor Gaspar, depois de apresentar a teoria de que Passos Coelho não teria falado de "desvio colossal", e que essa expressão seria o resultado infeliz de terem rasurado uma série de palavras entre "desvio" e "colossal", explica, passo a citar: «“Esta versão é da minha pura responsabilidade. Eu não tenho nenhuma informação autêntica sobre as palavras que terão sido proferidas entre “desvio” e “colossal”. Mas esta versão agrada-me particularmente.”» Trocando por miúdos, o que o Ministro de Estado, das Finanças e da Interpretação de Sua Excelência, disse, foi o seguinte: «o PM disse um disparate; era bacano que tivesse dito, por exemplo, aquilo que eu acabei de dizer que ele disse, em vez de andar a dizer tolices».
Já nem o Ministro de Estado e das Finanças se contém.

abissal


Hoje, um poema de Manuel António Pina.

Atropelamento e Fuga

Era preciso mais do que silêncio,
era preciso pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de nervos, um incêndio,
portas a bater, correrias.
Mas ficaste calada,
apetecia-te chorar mas primeiro tinhas que arranjar o cabelo,
perguntaste-me as horas, eram 3 da tarde,
já não me lembro de que dia, talvez de um dia
em que era eu quem morria,
um dia que começara mal, tinha deixado
as chaves na fechadura do lado de dentro da porta,
e agora ali estavas tu, morta (morta como se
estivesses morta!), olhando-me em silêncio estendida no asfalto,
e ninguém perguntava nada e ninguém falava alto!

de Atropelamento e Fuga (2001)

nem tudo o que parece um jornal é um jornal


Pode ser simplesmente um buraco de ódio a tentar usar a única receita que conhece.


reportagem da Madeira


Jardim só aplicou 29,5% das verbas recebidas na reconstrução Madeira.

Na imagem abaixo: o tipo do escafandro é só para impressionar (para dar a ideia de que a malta anda a fazer o seu trabalho). Na verdade, o resto do maralhal está sentado, envergando vestido longo, olhando ligeiramente para a direita.


Miss Bernhardt, full-length portrait, seated, facing slighlty right,
with person in deep sea diving gear standing alongside (c. 1880).

ainda a campanha interna do PS


Por boas razões, o que se passa dentro de um partido por ocasião da escolha de um novo líder interessa à generalidade dos que se interessam pela democracia. Por isso me interesso pela actual eleição para secretário-geral do PS, ainda mais sendo esse o partido com que me identifico na cena política nacional. É uma disputa na qual não apoio - nem deixo de apoiar - qualquer dos candidatos em presença, apenas por entender que é uma eleição onde nem todas as cartas foram colocadas em cima da mesa. De qualquer modo, há agora um "pequeno tema" sobre o qual entendo pronunciar-me, por me parecer relevante para lá dos muros deste ou daquele partido, a saber: os debates entre Seguro e Assis devem ser públicos (como quer Francisco) ou reservados aos militantes (como quer António José)?
As verdadeiras razões de cada um serão, suponho, tácticas. Assis quererá debates públicos para aumentar a repercussão das suas palavras, atrasado como está no contacto com as bases, que nunca foi muito a sua chávena de chá. Seguro preferirá jogar em casa, para não dar palco a Assis (um argumento que já foi usado outras vezes por políticos de outros quadrantes com altas responsabilidades), mas também para poder ter o discurso específico que os militantes querem ouvir para se sentirem afagados, discurso esse que poderia não ser o mais conveniente para debates televisionados, por exemplo.
Sobre as razões tácticas não me pronuncio: quer porque nunca fui bom nesse campo, quer por serem opções legítimas mas de mera oportunidade (sem alcance político geral, desde que a táctica não abocanhe tudo o que importa mais). Pronuncio-me, contudo, sobre as justificações públicas apresentadas.
Acho que Assis tem razão quando quer debates abertos. Como mostrou a campanha Sócrates/Alegre há uns anos, é uma oportunidade para mostrar ao público o vigor das ideias que fervilham dentro do partido. Ou, pelo menos, para ensaiar argumentos para o subsequente debate com outras forças políticas. Não há que recear que a "lavagem de roupa suja" ponha uns pingos na imagem imaculada do partidos: os partidos não têm imagens imaculadas, e aquilo que o "povo" em geral imagina que se passa "lá dentro" é muito pior do que realmente pode ser visto nestas circunstâncias eleitorais.
Acho, por outro lado, que Seguro tem razão em querer debates fechados. Os partidos são organizações, grupos humanos com interioridade, com espaço próprio, com solidariedades acrescidas ligadas a propósitos comuns, com reserva que confere liberdade, arenas onde se deve poder pensar alto sem entrar no circo mediático. Na minha concepção de um partido democrático, esse espaço de acrescida liberdade interna é uma necessidade. Se não for assim, os militantes só podem falar livremente com o parceiro do lado: quer dizer, só há debate sem constrangimento na secção local, porque fora desse espaço tudo é escutado pelo público em geral, pelos outros partidos. É como obrigar o treinador de uma equipa a dar a táctica para o jogo ao microfone, para que todo o estádio ouça. No fundo, isso equivale à lógica do "centralismo democrático", que é afinal uma lógica totalitária, porque os militantes só são livres de expressar a sua opinião na "primeira instância": daí para a frente, têm de ter cuidado com o que dizem para "não prejudicar o partido". E não me venham com a história da transparência: se um candidato a líder quer debater a estratégia da sua relação com os outros partidos, deverá fazê-lo na praça pública, mostrando as cartas todas aos outros partidos? Não me parece. Esta é, precisamente, a razão porque sempre achei errado que os congressos do PS tenham, há muitos anos, passado a ser completamente abertos à comunicação social: tornaram-se, assim, meros comícios.
Se concordo com Assis e concordo com Seguro, acho que deveria haver debates dos dois tipos. E há. Mas um único debate aberto ao público é pouco: é perder uma oportunidade de mostrar o pensamento dos socialistas ao país.

13.7.11

socialistas (again)


Um comentário interessante ao debate de ontem entre Seguro e Assis, assinado por Filipe Henriques, no blogue Real República.
Um excerto:
«Por fim a única discussão onde realmente existiu alguma diferença entre os candidatos: as primárias.(...)
Chegou a levantar-se a questão de “como se sabe quem é simpatizante?” ou “pode um militante do PSD ir votar nas primárias do PS?”. Sobre isso gostaria de apontar para os estatutos do Partido Socialista onde, no capítulo 2, encontramos o artigo 7º (que define a inscrição e registo no partido dos simpatizantes) e os artigos 13º, 14º e 15º (que indicam os direitos e deveres dos simpatizantes).
A existência de primárias não é nada novo, e também não é nada circunscrito aos Estados Unidos. O exemplo que gostava de aprofundar aqui é o de Espanha. Tal como defende Assis, no PSOE e no PSC podem votar nas primárias tanto os simpatizantes como os militantes, e nas recentes eleições municipais e autonómicas existiram duas grandes primárias: Madrid (região) e Barcelona.
No caso de Madrid a participação dos militantes e simpatizantes ultrapassou os 81% (o PSOE estava na oposição), e em Barcelona ficou-se pelos 34% (o PSC estava no governo, sendo que nos militantes a participação ultrapassou os 60%).
Em ambos os casos as sondagens mostraramm uma recuperação dos candidatos Tomaz Gómez e Jordi Hereu, devido à mobilização do eleitorado socialista provocada pelas primárias.
Conclusão: as primárias não matam o debate (pelo contrário), e mobilizam os eleitores rumo às eleições.»
Seria interessante, para o debate, que se evitassem as tentativas de tratar o adversário como "inimigo dos militantes".

socialistas


Vi ontem à noite o debate entre Seguro e Assis, na qualidade de candidatos à responsabilidade de secretário-geral do PS. Acho que teve aspectos interessantes: revelou algumas diferenças entre os candidatos, projectou ideias relevantes acerca do caminho que os socialistas podem trilhar nos próximos tempos. Contudo, vi lá tiques que, para quem conhece os personagens há tantos anos, dão uma certa vontade de rir, pela previsibilidade. Não me parece que o conteúdo do debate tenha enfraquecido em nada o PS, até pelo contrário - e acho de mau gosto que apoiantes de um ou de outro tenham avançado, no rescaldo, para a tentativa de incriminar "o adversário" como responsável por afirmações prejudiciais ao partido. (Afinal, os congressos são abertos ao mundo e não se pode dizer tudo na televisão?) Não creio que o debate vá mudar o voto de muitos socialistas, pelo menos daqueles que já esperavam há muitos meses ou alguns anos pelo "seu" secretário-geral. A única nota amarga (para mim) é que fiquei a pensar, depois de desligado o aparelho (obviamente, não fiquei a ouvir comentadores que ouvem sempre aquilo que eu não ouço) que, se a memória não me falha, esta é a primeira corrida para secretário-geral do PS em que todos (ambos, neste caso) os candidatos foram dirigentes da JS e nunca tiveram uma ocupação profissional permanente fora da política.

12.7.11

mais seco que um cavaco


Vitor Gaspar, ministro das finanças da república portuguesa, sobre o acolhimento que lhe deram os seus pares em Bruxelas: “Fui recebido com uma simpatia absolutamente inexcedível”.

Compreende-se: "Vítor Gaspar apresentou programa de ajustamento em 180 segundos".

Sofia Copola é que percebeu Durão Barroso

Somewhere, de Sofia Coppola; cena de abertura.
(Volume a 90%, por favor.)

europas há muitas


Gabriel Alonso, O rapto de Europa, 2009

A "crise" veio atrapalhar duas concepções de Europa.
A esquerda soberanista (que está sempre a reclamar contra o imperialismo de Bruxelas) acordou para a realidade de que "a Europa tem de fazer qualquer coisa". Perceberam, finalmente, que sozinhos neste mundo estamos tramados. É bom que tenham percebido isso: podem deixar de lado o disco riscado do nacionalismo míope que usa(va)m para ganhar uns votos à família dos sociais-democratas, socialistas e trabalhistas. Podemos, em consequência, começar a pensar ao nível do continente (mesmo que sejamos, apenas, uma região periférica da Ásia).
Os federalistas, pelo contrário, podem ser vítimas do seu sucesso. Explico-me. Parece pouco provável que a Europa se safe desta tormenta sem acrescentar novos níveis de integração política ao que existia antes. Governo económico da Europa, a sério. Só que, ainda por cima quando chegamos lá com os "elos fracos" mais fracos do que nunca, é óbvio que quem paga vai esclarecer quem manda. Isto é: finalmente, a Alemanha vai compreender que não lhe interessa deixar cair os mais fracos e vai, com os outros contribuintes líquidos, aceitar pagar o preço de não sermos comidos pelos "mercados" - mas vai reforçar a sua capacidade para determinar o sentido da governação económica. Manda quem paga, paga quem manda. Vamos, para fazer isso, ficar mais parecidos com um Estado federal. Os federalistas (entre os quais me incluo) vão ter (em certa medida) o que andam a pedir há muitos anos - mas vão pagar a conta política mais depressa do que se poderia imaginar, porque será evidente que, partindo de onde partimos, uma Europa mais coesa será uma Europa mais centralizada. Assim, a partilha de soberania será mais desequilibrada do que poderia ter sido se tudo isto tivesse sido feito antes de estarmos com a corda na garganta.
E estamos fartos de saber que as cordas na garganta são argumentos tramados.

11.7.11

uma crise ao seu almoço


A "reunião de crise entre os responsáveis da zona euro", convocada por Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, com uma certa pompa e circunstância - até parecia que estava a apontar o dedo a Barroso pela incapacidade deste para tomar qualquer iniciativa relevante - afinal era um almoço, que o convocante diz que se faz muitas vezes. O almoço terminou sem conclusões oficiais e o fim das sobremesas à boca dos nossos queridos líderes foi anunciado no Twitter. Que finura.

eu agencio, tu agencias, ele agencia


A comissária europeia para a Justiça, Viviane Reding, propôs hoje o desmantelamento das três principais agências de rating norte-americanas, a Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, em declarações ao jornal alemão Die Welt
.

Não percebo por qual razão os comissários europeus dizem coisas na imprensa que não se nota nada dizerem nas reuniões do colégio de comissários, onde as decisões para tomar iniciativas deviam ser tomadas. Ou será que eles até dizem, mas o inefável Barroso faz-se mouco? É que começa a ser pornográfico tão evidente "muita parra e pouca uva" nesta conversa.

Ao mesmo tempo, acho bizarro que se queira dar a ideia de todos os problemas serem culpa dos três gigantes americanos da notação. As agências de rating fazem aquilo que lhes pagam para fazer: qualificar a saúde financeira de instituições as mais variadas. É claro que, se eu quero fazer certos negócios com uma entidade que está do outro lado do mundo, tenho a opção de ir lá ver e estudar a respectiva saúde; mas isso é caro e difícil, pelo que, usualmente, se opta por exigir que uma agência destas dê a sua opinião. Num mundo onde se fazem tantos negócios a grande distância, estarão todos dispostos a renunciar a este serviço? Duvido.
Também acho uma certa graça à enorme esperança depositada numa agência europeia. Que resultados terá a sua acção? Em certos casos, nenhum: se a agência europeia disser, acerca de uma empresa ou país, coisas muito diferentes do que dizem as três grandes americanas, "o mercado" vai suspeitar e vai jogar pelo seguro. É como ter sistemas de alarme em casa: mesmo que os alarmes sejam ineficazes quando desafiados, os ladrões, podendo escolher entre uma casa com e outra sem alarme, jogam pelo seguro e atacam a casa sem alarme. Quando a agência europeia der boa nota a países ou empresas a que as três americanas dão má nota, a maior parte dos agentes preferirá jogar pelo seguro e acreditar que são melhores os que reúnem boa nota de todos. Por essa razão, só os que estejam predispostos a acreditar preferencialmente nos europeus é que darão crédito a essa agência. Só que, nesse caso, não se percebe porque não pode o BCE tomar essa responsabilidade a seu cargo. É que é um tanto bizarro - voltando à comissária europeia acima citada - falar de criar agências independentes na Europa e na Ásia. As agências consideradas americanas (uma das grandes até tem maioritariamente capital de um cidadão francês, parece) só não são independentes por terem sede nos EUA? Se mudassem a sede para a Europa passavam a ser independentes? Estranho. Como se "cria uma agência independente"? Independente de quê e de quem?

Tão mau como a Europa não fazer nada para se defender do ataque político que tem vindo a sofrer - é a Europa deixar-se envolver em falsos debates de ilusórias soluções. Nada compensa a falta de governo económico da Europa e a falta de coesão da zona euro - se continuarmos a não levar a sério que estamos todos no mesmo barco; se não se compreender que não vale de nada tentarem castigar os aflitos, porque esse castigo irá recair, cedo ou tarde, sobre todos.




8.7.11

uma experiência de pensamento para o fim de semana


Se a Moody's tivesse baixado a notação da república para "lixo" durante o governo Sócrates, imaginem o que diriam muitos dos comentadores que andam por aí indignados. Quer dizer: a quem apontariam o dedo.

(Um consequência positiva das eleições de 5 de Junho passado é que aumentou muito o grau de patriotismo da oposição de turno.)

«Acordai!» | PR ouviu Fernando Lopes Graça


Cavaco diz que “agências norte-americanas são ameaça à estabilidade europeia”.



Cavaco abandonou a pose de vénia pelas sibilas dos mercados. Aleluia! A que se deverá o milagre da ressurreição do presidente?

gente que não aprende


Fernando Nobre: “Os que pensavam que estava à procura de um tacho enganaram-se”.

O homem ainda não entendeu que já vimos e ouvimos dele o suficiente para perceber o que vale.
Pena é que lhe tenham dado guita.


Questionado sobre o seu futuro político, o médico confessa que jamais dirá “jamais”
. Sim, já percebemos que tudo o que afirma pode mudar enquanto o diabo esfrega um olho.

São estes os "regeneradores" que temos? "Chiça", como dizia "o outro".

o tipo de "liberdade" que nos trouxe até aqui


Milton Friedman sobre a aplicação das suas ideias "económicas" pela ditadura sangrenta de Pinochet no Chile, depois do derrube violento do governo legítimo de Salvador Allende: «Foi o primeiro caso em que um movimento em direcção ao comunismo foi substituído por um movimento na direcção do mercado livre.»





(Encontrado no branco no branco. Obrigado, mdsol.)

7.7.11

liberdade de imprensa e outras liberdades


News of The World fecha depois do escândalo das escutas.
Continua o Público:«O grupo que detém o tablóide britânico News of The World anunciou esta tarde que o jornal vai acabar depois do escândalo das escutas abusivas. James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch, revelou que a edição do próximo domingo será a última deste jornal, justificando que o escândalo não só tirou prestígio ao jornal como a publicidade caiu.»

Pois, o aborrecimento foi ter caído a publicidade. Caso contrário, continuava tudo na mesma marmelada, é isso?

(Ai, se por cá calha haver investigação de certas coisas, com sorte também escassearia a publicidade para certos meios. Mas isto sou eu a deambular.)

pois, ainda não chegaram as mordaças que foram encomendadas



Um blogue intitulado "O desporto e a sua economia" publica este post que acima se ilustra. O primeiro "aqui" é, pois, o Machina Speculatrix.

Um esclarecimento ao autor da pérola acima: pela parte que me toca, não estou de volta, já que nunca me fui embora.

E uma pergunta ao mesmo autor: pensava que tínhamos sido enviados para o Tarrafal, era?

Note-se, na imagem, que se trata de uma publicação em data recente. Não, não é um post da década de 1930.

(O sr. Fernando Tenreiro que me desculpe, mas falta-me a paciência para certas... enfim, coisas.)

TGV defenestrado




Passos mantém TGV mas reformula o projecto. O presidente da Confederación Española de Organizaciones Empresariales (CEOE) afirmou hoje que o Governo português está a planear avançar com o TGV de forma mais lenta do que o esperado e "provavelmente com um novo plano com diferenças técnicas". Juan Rosell falava à saída da reunião com o primeiro-ministro português, que também contou com a presença da CIP - Confederação Empresarial de Portugal.

Afinal, parece que o governo de Portugal não suspendeu o TGV. Parece que apenas vai repensar o projecto. E foi preciso vir a Portugal um dirigente dos empresários espanhóis para que a suspensão da suspensão fosse anunciada aos portugueses. Já tivemos um presidente da república que era conhecido por se explicar melhor em inglês do que em português. Agora temos um primeiro-ministro que se explica melhor aos espanhóis do que aos portugueses. E ainda diziam que Sócrates falava mal espanhol...

6.7.11

o projecto "retrovisor" da Moody's


Estela Barbot sobre o "lixo": "Esta é uma nota da Moody's ao anterior Executivo"
.

Pois, a Moody´s está envolvida num projecto secreto chamado "retrovisor".

(As pessoas não têm vergonha do ridículo?)

fotografias de gente a fazer o pino


O Miguel tirou fotografias a vários artistas a fazer o pino. O grande mestre faz o pino por sua própria conta e risco. Outros fazem o pino junto com a turma toda, para não se sentirem tão ridículos.

Grandes patriotas - do tipo "só hoje me lembrei que sou português".


entre sócrates e platão


Cavaco Silva diz "não haver mínima justificação" para corte de rating feito a Portugal.

Claro que não. Esse é precisamente o problema: como é que, na fábrica das notações, entram porcos inteiros por um lado e saem chouriços embalados do outro. Mas esse problema não é novo. Novo, para certos agentes políticos, é que já não apareça na TV alguém que pudesse ser culpado de todos os males, que tenha desaparecido de cena o bode expiatório (sim, já sabem, o tipo que ia para Paris estudar filosofia, mas que desistiu quando o informaram que Platão já tinha morrido e nunca ensinara na Sorbona).

Entretanto, há por aí quem continue a fazer de conta que isto se resolve com mais conversa da treta. Gente que esteve tempo de mais acomodada às mordomias de só ter o trabalho de dizer mal. Acho que ainda não perceberam qualquer coisa.

Europa, senhores, como se faz política na Europa? Estão à espera de Aljubarrota para deixar de pensar doméstico e pensar ao nível a que as coisas se podem resolver, hoje em dia?! Espanto-me. Sócrates praticamente não tinha "amigos socialistas" nos outros governos da UE, mas Passos está rodeado de "governos amigos" por todos os lados. Quando começa a usar isso para algum préstimo que ao País interesse?

a crise não caiu do céu, pois não?


Pedro Santos Guerreiro, no Negócios online:
As causas da descida do "rating" de Portugal não fazem sentido. Factualmente. Houve um erro de cálculo gigantesco de Sócrates e Passos Coelho quando atiraram o Governo ao chão sem cuidar de uma solução à irlandesa. Aqui escrevi nesse dia que esta era "a crise política mais estúpida de sempre". Foi. Levámos uma caterva de cortes de "rating" que nos puseram à beira do lixo. Mas depois tudo mudou. Mudou o Governo, veio uma maioria estável, um empréstimo de 78 mil milhões, um plano da troika, um Governo comprometido, um primeiro-ministro obcecado em cumprir. Custe o que custar. Doa o que doer. Nem uma semana nos deram: somos lixo.
You bastards, diz ele. Mas vale a pena perguntar quem merece a interjeição. Pedro Santos Guerreiro atribui a crise a Sócrates e a Passos Coelho, porque não consegue ser suficientemente trampolineiro para negar que a crise política é que precipitou tudo isto. Mas, bem entendido, é gato escondido com rabo de fora: apesar de Passos ter mentido inicialmente sobre o caso (escondendo um longo encontro pessoal com Sócrates), Passos boicotou a estratégia de Sócrates para termos o apoio da Europa, e votou contra o PEC IV, por ser essa a sua conveniência político-pessoal. E isso trouxe um extraordinário agravamento da nossa exposição aos "mercados". E os mercados não engolem as patranhas que os comentadores-e-jornalistas-que-passam-para-o-lado-de-lá-com-extrema-facilidade caseiramente fazem de conta que valem alguma coisa.
Está na hora de a coligação negativa assumir o poder: o PSD e o CDS devem chamar os seus antigos aliados do PCP e do BE para o governo. Afinal, se montaram juntos este circo, é natural que assumam juntos o espectáculo. Os "mercados" apreciarão, certamente.

guerra civil


Ontem à noite, Cinemateca. Ver "Guerra Civil", de Pedro Caldas. Prémio Tobis de Melhor Longa-metragem Portuguesa no Indie Lisboa 2010. Alertados pela imprensa de que não iria, pelo menos para já, passar ao circuito comercial.
O filme tem um tema corriqueiro, para pessoas que ainda se lembram da sua adolescência, assim se revendo num espelho; para pessoas que já não se lembram da sua adolescência, para que tentem lembrar-se; para pais traumatizados por não terem percebido nada da adolescência dos seus filhos; para pais que fizeram o que se pode fazer para que a adolescência dos filhos não seja nem melhor nem pior do que tem de ser; para filhos e para pais que saltaram a adolescência e caíram directamente no purgatório, sem passar entretanto pelo céu nem pelo inferno. Um filme que trata um tema corriqueiro com uma melancolia certa e um pouco reflexiva. Com uma história que acaba como acabam todas as histórias quando o argumentista não sabe o que fazer à história: como quem nunca chegou a compreender como saiu da adolescência. Um filme com momentos belos, que promete bastante durante bastante tempo para não nos deixar arrependidos de ter ido.
A estratégia formal do filme, em círculos e em eternos retornos, mostrando que a vida não é só o nosso lado da vida, é uma estratégia formal interessante - mas que pode fracassar. Tivemos, ali, a prova de que pode fracassar. A pessoa da Cinemateca que preparou o visionamento trocou a ordem das bobines e, como confessou em público, achou que fazia sentido assim. O realizador teve de interromper a projecção para dar a sua própria ideia do filme, repondo a ordem das partes tal como ele a tinha pensado, embora admitindo que aquela outra "ordem das bobinas" também podia ser, excepto porque cortava uma cena central, estruturadora daqueles universos pessoais ali a rodar.
Enfim, uma obra que vale a pena ver, se chegar às salas.
Se chegar, porque há "um problema de direitos" que tem impedido a comercialização. Perguntado sobre qual era esse problema, o realizador mandou perguntar ao produtor. E acrescentou que o produtor não estava presente, embora estivesse na sala o advogado do produtor. Claro, como somos um país grande grande grande, fechamos um interessante filme português fora do circuito comercial por causa de uns "direitos", que não são de certeza os nossos direitos. Mas, claro, todos os direitos devem ser protegidos.



5.7.11

e pur si muove


Moody’s corta rating de Portugal para lixo.

A esta hora os partidos da direita portuguesa que costumavam estar na oposição já devem ter percebido que se passa qualquer coisa no mundo que não é um mero efeito dos pecados dos portugueses.

da alegria na governação


Governo aprova fim das golden share da PT, EDP e Galp Energia.

Decisões deste tipo acabariam por ter de ser tomadas mais tarde ou mais cedo, dado o enquadramento europeu (dominado pelo "pensamento único" segundo o qual o Estado só atrapalha, excepto quando está a defender os grandes negócios) e o caderno de encargos específico que foi assinado em troca de uns dinheiros que vamos pagar caro. Tais decisões não deixam, contudo, de diminuir a margem de manobra de quem deve defender o interesse de todos, quando confrontado com fortes interesses privados mais virados para o curto prazo do lucro. Por isso, por essa Europa fora, os governos nacionais mais diligentes fazem de conta que sim, claro, evidentemente concordam com esses princípios liberalizadores todos - mas, pela calada, mantêm ligados todos os cordões que podem à decisão política. A diferença está na alegria com que este novo governo de Portugal cumpre o que se lhe pede, certamente convencido que essa história de direitos especiais do Estado é uma herança dos sovietes (ou dos anteriores governos, o que, para os novíssimos salvadores da Pátria, vem a dar no mesmo).
O ponto é que a alegria ideológica com que se tomam as medidas não poupará nada nas consequências.

4.7.11

não batam mais no Nobre


Fernando Nobre renuncia a mandato de deputado. Cabeça de lista do PSD não informou formalmente a bancada do PSD.

Nobre não é pior do que os muitos populistas que por aí andam. A única diferença é que, regra geral, os que dizem cobras e lagartos dos "políticos" não chegam a ter oportunidade de mostrar o que verdadeiramente valem. Nobre teve várias oportunidades de mostram o que era - e aproveitou bem, mostrando-se à transparência horrenda da vacuidade cheia de si e de arrogância perante os demais. Nobre serve à causa pública de mostruário dos túmulos caiados de branco que andam por aí disfarçados de moralistas.
Entretanto, convém lembrar que o disparate de Passos Coelho com Fernando Nobre não foi original, vinha de antes. Quem teve a brilhante ideia de ir buscar Nobre a casa, para se candidatar a presidente da república, bem pode limpar as mãos à parede.
Oxalá a lição aproveite a alguém.

1.7.11

somos um país de mãos largas


O comissário europeu dos Transportes, Siim Kallas,confirmou que Portugal perderá os fundos previstos se cancelar o projecto do TGV.

"Em termos concretos, os fundos de coesão são uma decisão dos Governos e podem ser realocados, mas os fundos de projetos prioritários não podem ser realocados. Então, se o projeto for cancelado, este dinheiro não poderá ser usado e regressará ao orçamento europeu", afirmou Siim Kallas.

Parece que José Manuel Barroso, perguntado, terá dito que o assunto iria ser estudado. Mentira, não vai nada ser estudado. Se Portugal não quer, não precisa,não pode - o dinheirinho volta para a caixa. Não era isso que o PSD andava a pedir há vários anos? Não se ouviu, cá dentro, várias vezes, o aviso de que era isto que ía acontecer? Sim, mas as campanhas de oposição cega têm muita força, não é Dra. Manuela? Não é, senhor PM?


alô, Grécia, temos uma ilha para a troca


Não sei se ajudará muito o equilíbrio das vossas contas públicas, mas certamente ajudaria o nosso. Já é alguma coisa, não?

Exibição de bandeiras da FLAMA coincide com novas ameaças de Jardim a Lisboa.

cibernética à portuguesa





O que Passos Coelho anunciou ontem NÃO é um aumento de impostos.

A picada extraordinária equivalente a uma fatia do subsídio de Natal NÃO é um aumento de impostos.

A promessa eleitoral de não aumentar os impostos NÃO foi quebrada.

A prioridade à punção do lado do consumo, em vez do lado do rendimento, NÃO foi esquecida.

Dizer que "isto" é por culpa da "herança" NÃO é justificar-se com o passado, logo, por aí não se quebra uma promessa eleitoral: até porque essa promessa foi feita já depois das eleições.

Dar a ideia que as contas entretanto conhecidas eram esqueletos no armário NÃO é pretender que o FMI, o BCE e a Comissão Europeia não sabem analisar as contas de um país, nem é pretender ignorar que eles estiveram cá há meia dúzia de semanas a vasculhar tudo.

Tudo isto, bem vistas as coisas, é uma engenharia de almas. A sociedade é uma grande máquina; as almas dos cidadãos são as suas peças; se as almas se enfurecerem, os corpos produzem baforadas de gás tintadas de raiva; se a máquina for a vapor, os sopros de raiva fazem andar a máquina. É uma cibernética um bocado básica, mas é o que temos.


Strauss-Kahn Case Seen as in Jeopardy


Segundo o The New York Times de hoje, Strauss-Kahn Case Seen as in Jeopardy:
The sexual assault case against Dominique Strauss-Kahn is on the verge of collapse as investigators have uncovered major holes in the credibility of the housekeeper who charged that he attacked her in his Manhattan hotel suite in May, according to two well-placed law enforcement officials.(...)
Since her initial allegation on May 14, the accuser has repeatedly lied, one of the law enforcement officials said. Senior prosecutors met with lawyers for Mr. Strauss-Kahn on Thursday and provided details about their findings, and the parties are discussing whether to dismiss the felony charges. (...)
The investigators also learned that she was paying hundreds of dollars every month in phone charges to five companies. The woman had insisted she had only one phone and said she knew nothing about the deposits except that they were made by a man she described as her fiancé and his friends. (...)
Mr. Strauss-Kahn was such a pariah in the initial days after the arrest that neighbors of an Upper East Side apartment building objected when he and his wife tried to rent a unit there. He eventually rented a three-story town house on Franklin Street in TriBeCa.
Dá que pensar. Ou não?