Pedro Santos Guerreiro fecha o seu editorial de ontem no Jornal de Negócios com a seguinte frase acerca da actual situação económica e financeira: "A finança vence sempre: o urgente vai prevalecer sobre o importante". É uma frase com muito sentido. Importante seria tratar da economia. Tratar das finanças é urgente mas prejudica o que é importante. O editorial é rebuscado de modo a nunca afirmar preto no branco que não se deve acudir ao urgente. Mas deixa a pairar a acusação de que se não está a tratar do importante. Mas trata-se de um conflito muito corrente, que todos podemos perceber se pensarmos um bocadinho.
O tempo vai quente. Estamos a ensinar o nosso filho a ler. O vizinho colhe as primeiras batatas. A vizinha cuida da sua mãe velhinha. O meu irmão repara o telhado da casa para enfrentar as próximas chuvas. A minha mãe coze uma fornada de pão. O meu pai rega o milho. De repente declara-se um incêndio num pequeno bosque vizinho. Todos corremos a abafar o fogo às primeiras labaredas. Essa é a tarefa urgente do momento. Todas as outras coisas eram intrinsecamente mais importantes do que sacudir ramos contra uma chamas rasteiras: educar, cuidar, colher. Mas seria estultícia descurar o urgente em nome do importante. Mesmo que a fornada de pão se queime. Por causa do perigo de que descurar o urgente em nome do importante prejudique mesmo o importante.
Descurar o urgente em nome do importante é o que fazem os que gritam aqui d'el rei pela economia sem ao mesmo tempo contarem com o papel que as finanças têm neste mundo, gostemos ou não. Como se a economia pudesse sobreviver com as finanças no caos.