Governo compra Mercedes de 141 mil euros.
O Público noticia que a presidência do conselho de ministros comprou um Mercedes caro. A mensagem é óbvia: austeridade para o povo, forrobodó para os altos cargos. Se a mensagem não fosse essa, a coisa não seria notícia. A menos que o Público entenda que o Estado português deva mandar as personalidades estrangeiras em visita deslocarem-se de eléctrico, táxi, um "dois cavalos" talvez. (É preciso saber para que servem aqueles carros, claro.) À jornalista Maria Lopes, e à direcção do Público, parece-lhes que a coisa pode passar por notícia graças à concepção de Estado que está ao seu alcance: Portugal só se comportaria bem se se comportasse como uma loja de esquina, uma tribo qualquer perdida entre a Europa e a América. Os chefes de Estado e outros altos responsáveis que nos visitem devem ser levados a almoçar sandes de couratos na Baixa, devem dormir no parque de campismo da Praia Grande - e devem andar só por SCUT que continuem sem portagens. É por querer alimentar concepções destas - basta ver os comentários que essas notícias despertam - que os autores destes textos são sabotadores da vida em comum. São incendiários da polis: e custa a crer que o façam sem se aperceberem de que é isso que fazem. É por isso que Maria Lopes coloca "as obrigações protocolares" entre aspas: se calhar por achar que "as obrigações protocolares" só podem ser uma desculpa esfarrapada para gastar dinheiro mal gasto em grandes carrões. A falta de senso, a falta de noção do que são as realidades deste mundo, a vontade de fazer jornalismo de sarjeta que explora a ignorância das pessoas, o desejo cego de dizer mal - juntam-se para criar estes pequenos montros de letras a insultar a inteligência dos seus leitores. Definitivamente, esta imprensa despreza os seus leitores.