José Manuel Fernandes volta hoje, no Público, ao assunto do jornalista Cerejo se ter constituído assistente no processo Freeport e continuar a escrever peças jornalísticas sobre o caso.
(Uma nota lateral. O senhor Cerejo, numa das últimas edições, investia, com a raiva espumante que se conhece dos seus escritos, contra um advogado que o criticou severamente por aquela "assistência". Nessa "peça", o senhor Cerejo notava a extrema simpatia da direcção do jornal em deixar o tal advogado escrever a criticar um jornalista da casa. Já que o senhor Cerejo escrevesse opinião no seu próprio jornal, era um direito adquirido (estava implícito na prosa). Agora que o senhor Fernandes escreve a defender o senhor Cerejo, sempre estou para ver se o senhor Cerejo continua a debitar graçolas sobre a caridade extrema da direcção do jornal em o deixar lá escrever. Só para ver se se confirma que o senhor Cerejo vê aquilo como a sua leira, com desagrado por ir lá quem o questione. Ponto final na nota lateral.)
José Manuel Fernandes acusa de quererem atentar contra a liberdade de informação aqueles que não acham bem que um jornalista manipule um instituto judicial (o de assistente no processo) para ter melhor acesso ao sumo do mesmo (processo). E alonga-se numa lengalenga sobre o interesse público. JMF não percebeu o que escreveu o advogado que opinou contra a salgalhada do assistente-às-vezes-e-outras-vezes-jornalista, naquele ponto em que denunciava a visão "A Bem da Nação" que certos jornalistas têm do interesse público. Confirma-se que JMF também partilha essa noção: em nome do interesse público, vale tudo.
Não está em causa que o "interesse público" tenha de ser interpretado por muitos; agir pelo interesse público não pode estar dependente de uma "Autoridade Nacional para o Interesse Público", já que nesse caso tornar-se-ia um "interesse do quem governa". Mas o que se exige é que se perceba esta coisa simples: num Estado de Direito é preciso respeitar os mecanismos, não misturar tudo. Misturar tudo é, por exemplo, um jornalista manipular os mecanismos da justiça para objectivos exteriores ao funcionamento da justiça. Essa visão "vale tudo por aquilo que nós invocamos como interesse público" é o próprio cerne dos regimes totalitários. O Estado de Direito vai por partes, para se poder garantir que se cumpram as regras. Estes jornalistas armados em deuses da justiça acham que, armados com a invocação do interesse público, estão livres para usar todos os meios a que possam deitar mão. Mesmo que isso implique "torcer" os mecanismos legais. Esse é o tal espírito do velho "A Bem da Nação": desde que seja para defender a sua visão do "bem", tudo se permitem a si mesmos.
Perigosos, esse defensores do bem.