11.11.09

pousio



Como dizia a Professora T.A., "pousio". Para pensar, é preciso dar pousio. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, pousio é "período geralmente de um ano em que as terras são deixadas sem semeadura, para repousarem". O resultado é que as terras voltam, depois disso, a uma maior força produtiva. Quando se deixa de querer remeter para o cultivo da terra, a referência ao ritmo anual deixa de ser importante. O pousio pode ter outros tempos. Mas permanece necessário.

Entretanto, no mesmo (magnífico) dicionário, a entrada seguinte é "pouso", que pode ser, por exemplo, "lugar onde uma ave descansa de voar". Diria que o pousio pode ser o pouso de quem pensa. Para voar com outro rumo.

Pode um blogue dar a pensar? O pousio o dirá. Quanto a este blogue, isso quer dizer: devagar, um(a) (a)post(a) de cada vez. De vez em quando. Dar pousio aos elementos que rolam pelos dias ao sabor das razões e das emoções, da diversidade que falta à máquina.

O problema desta explicação é ela ser apenas "racional", dando a aparência de ser desinteressada (a lógica serve-se fria?).

A outra explicação, mais interesseira, talvez seja, então, o "ritmo biológico". Pegando, por exemplo, em O Polegar do Panda - Reflexões sobre História Natural, de Stephen Jay Gould (versão portuguesa na Gradiva), lemos que ele nos diz(ia) que o tempo biológico dos animais se distingue do tempo newtoniano. Nos mamíferos, por exemplo, todos respiram uma vez por cada quatro batimentos cardíacos - mas os mamíferos pequenos respiram e batem os seus corações mais depressa do que os grandes mamíferos. A taxa metabólica também aumenta com o aumento do peso do corpo. Também o cérebro. "Medidos pelos seus relógios internos, os mamíferos de diferentes tamanhos tendem a viver a mesma quantidade de tempo. É um hábito profundamente entranhado no pensamento ocidental que nos impede de conceber este importante e reconfortante conceito. Somos treinados desde muito novos para encarar o tempo absoluto newtoniano como único estalão válido de medida num mundo racional e objectivo." (p. 338)

Gould, falando-nos dos "tempos de vida que nos couberam em sorte", relacionando tamanho com tempo, dá-nos uma pista: porque não viver como um grande animal? Por que não "postar" apenas semana a semana, aumentando o nosso tempo de vida (talvez cheguemos a ser tão velhos como a baleia ou o elefante). Claro que os animais mais pequenos são mais irrequietos, dão mais cor à praça. Paciência. Se os blogues apelam a que sejamos autores, usemos os truques do ritmo biológico para sermos autores do nosso tamanho.

É claro: é preciso reconhecer que, quando a vida ferve, todas estas reflexões são ultrapassadas pelas urgências...