Política de educação: Manuel Alegre aconselha a "ouvir a voz da rua", acrescentando que "se tantos [professores] estão na rua, terão as suas razões".
Não há nada mais "alegrista" do que "ouvir a rua". Esse é o elemento onde Manuel Alegre sabe viver, cuja vida política sempre foi palavra e rua. Nos tempos em que isso era difícil, dando direito a perseguições, Alegre praticou. É louvável por isso. Hoje em dia terá de ser diferente a avaliação. Alegre, que reivindica sempre a condição de ex-candidato presidencial para dizer o que julga mais popular em cada momento, quer que se ouça a rua - mas, na condição de ex-candidato presidencial, porque esse parece ser agora o seu bilhete de identidade, devia ir mais longe. Deveria apresentar qualquer coisa de concreto. Propostas.
É que as "razões da rua", em democracia, não podem valer mais do que as "razões dos que estão em casa". A democracia não é o poder da rua. Uma comunidade política, porque não é um rebanho, tem de saber pensar no futuro, ter pensamento estratégico, avaliar as consequências das práticas correntes. E os futuros filhos da nação não se manifestam, ou porque ainda são muito novos ou porque ainda não existem. E, por vezes, pensar no futuro implica vencer as resistências do que já estão "no terreno". Vencer a rua.