Suite for Toy Piano - John Cage
31.8.08
30.8.08
canções de amor
Não são só as bicicletas que precisam de manutenção... e quem disse que alguma ginástica dialéctica não pode ser uma boa manutenção?
Clicar no botão habitual para ouvir.
Ele vinte anos, e ela dezoito
e há cinco dias sem trocarem palavra
lembrando as zangas que um só beijo curava
e esta história começa no instante
em que o homem empurra a porta pesada
e entra no quarto onde a mulher está deitada
a dormir de um sono ligeiro
E no quarto, às cegas,
o escuro abraça-o como que a um companheiro
que se conhece pelo tocar e pelo cheiro
e é o ruído que o chão faz que lhe traz
o gosto ao quarto depois de uma ruptura
faz-lhe sentir que entre os dois algo ainda dura
dos dias em que um beijo bastava
E agora, da cama
vem uma voz que diz sussurrando: És tu?
e a luz acende-se sobre um braço nu
e a mulher pergunta: a que vens agora?
é que não sei se reparaste na hora
deixa dormir quem quer dormir, vai-te embora
amanhã tenho de ir trabalhar.
Não fales, que o bebé ainda acorda
não grites, que o vizinho ainda acorda
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais
E o homem, de pé
Parece um rapazinho a ver se compreende
e grita e diz que ele também não se vende
que quer a paz mas de outra maneira
e nem que essa noite fosse a derradeira
veio afirmar quer ela queira ou não queira
que os dois ainda têm muito a aprender
Se temos...! Diz ela
mas o problema não é só de aprender
é saber a partir daí que fazer
e o homem diz: que queres que responda?
Não estamos no mesmo comprimento de onda...
Tu a mandares-me esse sorriso à Gioconda
e eu com ar de filme americano
Somos tão novos, diz o homem
e agora é a vez de a mulher se impacientar
essa frase já começa a tresandar
é que não é só uma questão de idade
o amor não é o bilhete de identidade
é eu ou tu, seja quem for, ter vontade
de mudar e deixar mudar
Não fales, que o bebé ainda acorda
não grites, que o vizinho ainda acorda
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais
E assim se ouviu
pela noite fora os dois amantes falar
e o que não vi só tive de imaginar
é preciso explicar que sou o vizinho
e à noite vivo neste quarto sozinho
corpo cansado e cabeça em desalinho
e o prédio inteiro nos meus ouvidos
Veio a manhã e diziam
telefona ao teu patrão, diz que hoje não vais
que viveste uns dias assim tão brutais
e que precisas de convalescença
sei lá, inventa qualquer coisa, uma doença
mete um atestado ou pede licença
sem prazo nem vencimento, se preciso for
(espero que não seja preciso, porque não
sei como é que eles vão viver sem os
dois salários...)
Vá fala que o bebé está acordado
o vizinho deve estar já acordado
e o amor, pronto, também está acordado
mas tem cuidado, trata-o bem
muito bem, de mansinho
que ainda agora vai pisar outro caminho.
(Letra e música de Sérgio Godinho)
29.8.08
28.8.08
27.8.08
1.8.08
e os adeleiros?
José Miguel Júdice escreve artigos no Público. O Público faz destaques dos textos dos seus articulistas no seu sítio. Hoje destaca-se lá a seguinte frase daquele articulista: "Os portugueses acham que os gestores não devem ser remunerados pelo sucesso, palavra maldita da língua portuguesa".
Não li mais nada. Posso, pois, estar a atirar ao lado. Mas, supondo que o senhor só escreveu aquilo, suposição que sei equivocada, perguntaria: E os almeidas, não deviam ser remunerados pelo seu mérito? E os mineiros? E as manicuras? E os manicuros, já agora? E as adeleiras? E os moços de recados? E as domésticas e as que não são domesticáveis? E...
A ideologia do sucesso, como se o sucesso não tivesse circunstâncias, e causas, e parceiros, é uma ideologia triste. A ideologia dos que, por muito que mudem de opinião, só vêem uma cor toda a vida.