22.1.21

A oposição de direita em destaque


 Preâmbulo
 
Já nem é preciso ser profeta: os tenores da oposição de direita criticam quando está aberto, criticam quando está fechado; fariam sempre diferente, mas só o dizem depois de estar feito (prognósticos só no fim do jogo, como dizia o outro); nada os incomoda dizer uma coisa hoje e outra amanhã. E, uma vez mais, não se inibem na mentira.
 

A mentira de Telmo

 

Comecemos pelo deputado do CDS que mais dificuldade temos em distinguir do deputado do Chega. Telmo Correia apressou-se a criticar o governo após o anúncio do encerramento das escolas, afirmando que o Primeiro-Ministro, na terça-feira, no Parlamento, garantia “em tom quase arrogante” (sim, arrogância pura está reservada para Telmo) “que não havia nenhuma necessidade de fechar as escolas”.

 

Ora, a verdade é que nessa terça-feira, nesse debate parlamentar, onde Telmo Correia esteve (até falou), o Primeiro-Ministro disse, claramente, ainda na primeira ronda, em resposta ao primeiro deputado a intervir (Adão e Silva, líder parlamentar do PSD), o seguinte: “Nós estamo-nos a bater, neste momento, para manter as escolas abertas, porque sabemos bem o enorme custo social que representa fechar as escolas. Amanhã vamos iniciar uma campanha de testes rápidos em todas as escolas para reforçar a segurança em todas as escolas. Mas, senhor Deputado, se para a semana soubermos, se amanhã soubermos, se daqui a quinze dias soubermos, por exemplo, que a estirpe inglesa se tornou dominante no nosso país, muito provavelmente vamos mesmo ter de fechar as escolas, e aí farei isso que tenho que fazer, que é fechar as escolas.” E repetiu a mesma mensagem, durante o mesmo debate, em várias outras respostas a outros grupos parlamentares.

 

Daí resulta, inequivocamente, que Telmo Correia chamou os jornalistas para mentir. Infelizmente, temos agora no CDS quem deite fora o resto de qualquer decência que antigamente se poderia ter esperado do partido que se reclama (reclamava) da democracia-cristã.

  

 

Rui e Francisco, rios cheios de curvas

 

Podíamos esperar de Rui Rio que estivesse um pouco melhor do que Telmo Correia? Já é duvidoso, depois de tudo o que temos visto, com o PSD a fazer parte da equipa dos cataventos.

 

O exemplo do alívio do confinamento no Natal é claro. Recordemos esta declaração do presidente do CDS (2 de Dezembro): “Eu acho que o Natal é uma quadra importantíssima do ponto de vista familiar, sendo a família a célula fundamental da nossa sociedade, e também religioso. Para muitas famílias, pode ser o último Natal que passarão juntas, portanto o Governo tem que ter muita sensibilidade, humanidade e bom senso na forma como vai preparar essas medidas.” Alguém o viu, depois, lembrar que tinha defendido um alívio no Natal? 

 

No Parlamento, poucos dias depois, num debate com a responsabilidade que tem a renovação da autorização, solicitada pelo Presidente da República, para a declaração do estado de emergência, declara o PSD, pela voz da deputada Mónica Quintela: “Não conhecemos ainda as medidas que o Governo pretende implementar, não parece desajustado que sejam atenuadas no Natal, festa da família por excelência e que sejam mais restritivas na passagem de ano”.

 

O Presidente da República resumiu bem, quando afirmou publicamente que antes do Natal todos os partidos tinham sido a favor de um alívio das restrições nessa quadra – e que alguns até queriam um alívio maior. Mas a cobardia imperou, logo a seguir.

  

 

Rui Rio e o constante ziguezague em matéria educativa

 

O actual presidente do PSD tem muitas opiniões sobre educação. Costuma, aliás, ter opiniões para todos os gostos. Por exemplo, umas vezes acha que temos professores a mais, outras vezes acha que temos professores a menos. Se Rui Rio quisesse evitar contradições flagrantes, teria um registo do que já disse e consultaria o tal registo antes de prestar novas declarações. Não faz isso, porque, em matérias como a educação, teria de ficar eternamente calado.

 

Ontem, Rui Rio veio comentar a decisão de fechar as escolas. Depois de defender o encerramento das escolas. Agora diz que não percebe como o governo passou uma semana a defender as escolas abertas para agora as fechar. Talvez Rui Rio esteja a seguir a teoria da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que ontem disse (na Comissão Parlamentar de acompanhamento da pandemia e da recuperação) que "a nova variante [britânica] não é determinante para a decisão de encerramento das escolas", acrescentando que a variante britânica é uma desculpa do PM... Mas só um tresloucado pode alinhar com essa teoria, porque a verdade é que o vírus tem mutações, várias, e algumas colocam novos desafios, dos quais nem mesmo a ciência tem domínio de imediato.

 

A verdade é que a resposta à pandemia, no que toca à regulação da vida em sociedade, tem de seguir a seguinte linha: “O Governo deve ajustar as medidas às circunstâncias concretas em cada momento.” A frase é, mais uma vez, da deputada do PSD, Mónica Quintela, em debate formal no Parlamento, em Dezembro. E está certa: não há nenhuma regra que se possa determinar e manter imutável, sem adaptação às circunstâncias. Parece que há quem imagine que teria sido possível fechar os portugueses em casa e mantê-los encerrados durante um ano ou dois, porque isso seria “determinação”, “coerência”, “firmeza”. E isso evitaria oscilações, alívio de medidas agora, aperto de medidas depois. Mas essa ideia é um disparate. Não só a saúde mental das pessoas seria destroçada com medidas desse tipo, como simplesmente, a fazer isso, deixaríamos de ter condições sequer para sobreviver, uma vez que precisamos de comida e de muitas outras actividades. Essas actividades continuam a ser desempenhadas por milhões de pessoas, mas esses milhões de pessoas parecem invisíveis para alguns oradores. E, portanto, a verdade é esta, como disse aquela deputada no PSD num dia de acerto: “O Governo deve ajustar as medidas às circunstâncias concretas em cada momento.” Apelo à senhora deputada que explique a matéria ao presidente do seu partido, seria serviço público.

 

 

A previsível imprevisibilidade de Rui Rio

 

Devemos estar verdadeiramente espantados com Rui Rio? Não. Rui Rio não tem uma ideia para o país, excepto a ideia de que seria excelente que Rui Rio fosse primeiro-ministro. Rui Rio é tudo e o seu contrário. No início do ano lectivo, quando o Ministério da Educação insistiu em recomeçar a escola presencial, muitos tentaram boicotar essa decisão. Fizeram mal. O primeiro período demonstrou largamente que a aposta no ensino presencial foi segura, as escolas foram dos espaços mais seguros no país e um período completo de ensino presencial foi um enorme benefício para as crianças, adolescentes e jovens.

 

No constante alarme contra o ensino presencial, Rui Rio não está sozinho. Ainda há dois dias Mário Nogueira disse na televisão: “como a FENPROF disse em Setembro, ia tornar-se impossível não fechar as escolas”. Os incendiários de todos os matizes encontram-se por vezes nos mesmos incêncios…

 

Rui Rio também reclama ensino à distância. Não lhe serve uma reorganização do calendário escolar, que tente salvar as semanas de escola com uma deslocação dos períodos de pausa lectiva. Talvez porque nunca tenha percebido que o computador não substitui a relação educativa, que é relação humana e relação social. Poderá ter de haver ensino à distância, outra vez? Pode ser que sim. Pode não haver alternativa. Mas não vejo nenhuma razão para estar contra uma interrupção agora, que se deverá recuperar depois, até tendo em conta o clima de tensão e de incerteza que temos neste momento e que muito afecta todos.

 

Estes são dias difíceis, para todos. Mereciam mais responsabilidade da parte dos dirigentes partidários. A oposição de direita está transformada no abutre da pandemia: tentar ganhar votos com a desventura dos portugueses. O protofascista agradece, porque esse é o tipo de lama em que eles medram.

 

 
 
Porfírio Silva, 22 de Janeiro de 2021
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