3.2.19

Mónica e as relíquias.



Chamaram-me a atenção para o facto de Maria Filomena Mónica dedicar a sua coluna no Expresso desta semana a atacar Porfírio Dias.

Não conheço nenhum Porfírio Dias, embora essas palavras em português se pronunciem de forma muito parecida com a pronúncia castelhana do nome do 29º Presidente do México, Porfírio Díaz. Mesmo assim, notei que MFM fala de quem critica como sendo "esta gente" - um palavreado que, a filho ou aluno meu, eu censuraria, por mera questão de educação. Mesmo tratando-se do 29º Presidente do México...

Entretanto, como não há nenhum Porfírio Dias no Secretariado Nacional do PS, e nenhum Porfírio Dias publicou um artigo na edição de 21.01.2019 do Público, talvez a Senhora Professora Mónica esteja a atacar, afinal, Porfírio Silva e a sua (minha) frase "O acesso ao ensino superior qualifica-se, portanto, como um direito fundamental."

Do ponto de vista do conteúdo, não há grande coisa a dizer do artigo de Mónica. Que faça gala do elitismo que, há muitos anos, exibe, nem é novidade nem merece grande retorno. Aliás, debater não é ignorar os argumentos dos outros, muito menos distorcê-los. Não vou, portanto, pedir a Mónica que responda à minha interpretação da Constituição da República Portuguesa nesse ponto, em vez de misturar alhos com bugalhos.

Porque, no fundo, o que está em causa é outra coisa: Mónica, segundo explicou num dos seus escritos, morava do lado certo da Rua Rodrigo da Fonseca e eu, provavelmente, moro do lado errado. Provavelmente, pelos critérios de Mónica, eu não deveria ter chegado ao ensino superior. Deveria, provavelmente, ser agricultor, para continuar a linhagem familiar. Nuno Crato também praticava uma política de desviar para becos sem saída aqueles que ficariam "melhor" numa escolha vocacional precoce, para não "incomodarem" aqueles que realmente "tinham jeito para estudar".

Afinal, para usar uma espécie de chavão, deve ser por estas e por outras que o conceito de luta de classes ainda continua a ser usado por alguns. Neste caso, uma luta entre a classe dos que vivem do lado soalheiro e a classe dos que vivem do lado sombrio da Rodrigo da Fonseca. Relíquias.

Porfírio Silva, 3 de Fevereiro de 2019


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