19.3.15

lugares mal frequentados.



O secretário-geral do PS anunciou (a 14 de Março) que os socialistas vão propor que o próximo governador do Banco de Portugal seja nomeado por decreto do Presidente da República, sob proposta do Governo e com audição obrigatória no parlamento.

Ontem, o porta-voz do PSD, Marco António Costa, referindo-se a essa proposta, disse que “quando toca a lugares, o Partido Socialista, se for necessário, até muda a Constituição”.

A expressão "quando toca a lugares", referindo-se ao Governador do Banco de Portugal, revela que o PSD já só pensa em "lugares". Revela que o homem que fala por Passos Coelho trata o "lugar" de Governador do Banco de Portugal como mais uma mordomia a distribuir pelo círculo dos próximos. (Será que prefere meter o cargo de Governador do Banco de Portugal no moinho da CRESAP, que o governo usa para controlar partidariamente tudo o que é nomeação?)

Mas, enfim, esta voracidade de Marco António pelo controlo não chega a ser surpreendente.

Surpreendente mesmo é que o PSD parece que até já desconfia do companheiro (é assim que se tratam os militantes do PSD) que está pelo Palácio de Belém. O Professor Cavaco Silva desdobra-se em carinhos com o governo, tendo desistido definitivamente de ser (ou até de parecer) o Presidente de todos os portugueses. Mesmo assim, Marco António está preocupado com a possibilidade de um mecanismo de nomeação cuja palavra final fica com o PR. Ou estará preocupado com o parlamento, onde também tem maioria?

Afinal, a proposta de António Costa envolve na escolha do Governador do Banco de Portugal três órgãos de soberania que estão todos, neste momento, na mão da coligação de direita: PR, Governo, Parlamento. O que acrescenta é transparência (audição no Parlamento) e cooperação institucional. É isso que desagrada a Marco António, transparência e cooperação institucional?

Até percebo: vem bem na linha que se está a tornar visível para todos no comportamento dos nossos desgovernantes, desde os ziguezagues na estória da evasão contributiva até às declarações do PM no Parlamento sobre a "bolsa VIP" do fisco. A transparência assusta esta gente.