6.2.15

algo que nem chega a ser uma polémica.




Neste artigo, o meu camarada Francisco Assis (FA), numa reflexão sobre a forma como em Portugal se tem acompanhado o processo grego, afirma, a dado passo, o seguinte:

«Na verdade, seria trágico para o país que uma parte do Partido Socialista se afastasse de uma linha até aqui historicamente prevalecente, inscrita numa tradição de compromisso europeu, quer no plano doutrinário, quer no âmbito político. »

Fico a pensar: a quem se referirá FA? Para dizer a verdade, não tenho visto nenhum responsável do Partido Socialista a afastar-se da tradição de compromisso europeu. Parece que FA segue aquela técnica de inventar um adversário para depois esgrimir com ele argumentos. O que resulta patético quando o suposto adversário só existe precisamente na invenção de quem quer argumentar contra um fantasma, em lugar de argumentar com o que realmente existe.

Busco no artigo qualquer coisa que me possa esclarecer acerca do que realmente estará FA a querer dizer. E leio que FA encontra no Partido Socialista traços de "demonização do PASOK, que alguns levaram a cabo com uma leviandade assustadora". Começo a perceber: tal como alguns "internacionalistas" ortodoxos de outras correntes queriam, em tempos, obrigar os seus partidários a defender, contra tudo e contra todos, e contra os factos, "a pátria do socialismo", mesmo quando em nome do "socialismo" se cometiam barbaridades, como assassínios em massa ou invasões de outros países - agora há quem julgue sensato que defendamos o Pasok, como, digamos, partido irmão, apesar de acharmos que ele seguiu uma política contrária aos interesses do seu povo. Francamente, isto parece-me obsoleto: os partidos valem por aquilo que realmente se põem a representar, não por aquilo que deveriam representar em teoria e em abstracto. E os tempos de submeter o pensamento e a acção política a relações esclerosadas de "família política", sem outras considerações,... é um tempo que passou. Ou ainda devemos estar solidários com os socialistas de Craxi?! Aliás, a querer ser assim tão fixista nas suas solidariedades, FA teria que dividi-las entre o Pasok e o novo partido de George Papandreou, que, tendo saído do Pasok, continuou a ser presidente da Internacional Socialista. Estes esquematismos simples têm destes problemas...

FA termina o artigo com um apelo: «não sucumbamos à tentação do imediato e do efémero; permaneçamos fiéis a uma visão mais estruturada e de mais longo prazo da nossa vida colectiva.»
Concordo.
Uma "visão mais estruturada e de mais longo prazo da nossa vida colectiva" não deve ignorar as necessidades políticas da Europa, que não sobreviverá como força de progresso se não voltar a ser entendida como espaço democrático, onde todos os povos de todos os Estados Membros são respeitados nas suas escolhas democráticas.
Para que "não sucumbamos à tentação do imediato do efémero" importaria não querer levar debates ideológicos sérios à boleia de acusações simplistas e burocráticas, quando tanto precisamos de equacionar a vida concreta dos povos nas nossas reflexões políticas. É que, se esquecermos isto, seremos varridos por esses mesmos povos. Por termos abandonado a nossa obrigação democrática, que é a de apresentarmos alternativas políticas, em vez de nos acomodarmos ao pensamento único.
Mesmo quando alguns parecem julgar que só o pensamento único é decente.
Mesmo quando alguns parecem esquecer que o movimento social-democrata, socialista e trabalhista sempre se caracterizou, precisamente, pela diversidade e pluralidade.

(Aproveito para aconselhar a leitura da entrevista de António Costa ao Público sobre a actualidade europeia: “Sempre recusei que a renegociação da dívida fosse a única e a necessária solução”.)