26.8.14

postal para João Miguel Tavares.



Um certo sector do comentarismo político nacional, não tendo coragem para defender Seguro, opta por cavar em torno de António Costa. É o caso de João Miguel Tavares neste texto: O triplo salto de António Costa. Eu compreendo: a vida de comentador deve ser muito difícil, especialmente em Agosto. Compreendo tão bem que até lhe vou fazer o favor de lhe explicar duas coisas simples a propóstio do texto em referência.

Primeiro - e começamos pelas amenidades. João Miguel Tavares acusa Costa de só dizer banalidades. Que bela retórica de comentador: o comentador repete o que outros comentadores já disseram e escreveram milhares de vezes, sobre esta pessoa e sobre dezenas de outras, porque é fácil de dizer e parece bem - mas não reconhece a sua banalidade enquanto acusa os outros de banalidades.
João Miguel Tavares devia pensar no seguinte: um candidato a PM, por um partido que aspira a ser governo, tem a noção dos tempos e não gasta o seu latim pesado numa campanha prévia, numa disputa interna, um ano antes das eleições. Até porque um programa de governo não se faz só com as pessoas que aceitam entrar numa disputa interna a um partido, por mais "aberta à sociedade" que seja uma eleição primária. Talvez compreender isto não fosse uma banalidade e fosse útil ao comentador. Se o comentador lesse as propostas de AC e as criticasse, percebia. E, aí, alguma coisa haveria de ser possível discutir. Como isso dá trabalho, saca do revólver da banalidade e dispara... fumo.

Segundo - e aqui mais a sério. João Miguel Tavares acusa António Costa de, falando de Rui Rio como fala, desrespeitar os eleitores do PS, os do PSD - e o próprio processo democrático! Gorda acusação, feita com ar grave. Vejamos.
Costa fala de Rio por quê? Anote, João Miguel Tavares, a frase que devia ter compreendido. É quando AC diz: "É preciso que a vida política e o grau de relacionamento entre as pessoas se tenham degradado muito para que baste duas pessoas não se insultarem e até terem estima mútua para já serem parceiros de coligação! O que é necessário é que o PS seja capaz de corporizar a grande maioria do contra (que já existe) numa maioria absoluta, mas não cometa erros do passado e não entenda maioria absoluta como autosuficiência. O país precisa de compromissos políticos."
João Miguel Tavares não compreende que AC usa a sua relação com Rui Rio para batalhar contra o método político do conflito permanente e para castigar o abuso de linguagem agressiva dirigida aos adversários. António Costa já vem fazendo este movimento desde há bastante tempo, tendo repetidamente sinalizado o significado deste seu comportamento. Mas o comentador ainda não percebeu. Não satisfeito com não compreender, João Miguel Tavare ignora olimpicamente as declarações expressas de AC e acusa-o de arrogância. Mal vai o comentador quando tem de NÃO ler o que comenta para conseguir escrever o seu comentário.