7.5.14

das emboscadas.


O folclore do governo na "saída limpa", sendo um embuste (que é, e a história da carta escondida ao FMI é apenas um passo da dança), tem muito de uma manobra de judo: aproveitou o impulso do adversário para o derrubar. Quer dizer, aproveitou o barulho das oposições que andaram a clamar contra programas cautelares, fazendo-os equivaler, sem mais considerações, a um segundo resgate.

Infelizmente, isto significa que a esquerda, incluindo o PS, ainda não percebeu uma coisa muito simples: a verdadeira gestão desta crise faz-se a nível europeu. E a gestão a nível europeu não é transparente, não é controlada democraticamente, passa em larga medida por acções que a estrita legalidade proibiria (especialmente no caso da acção do BCE) - e, ponto central, todos os governos querem proteger o status quo, quer dizer, querem proteger os governos que estão, porque isso se confunde com a estabilidade da zona.

No caso específico do PS, parece que só Sócrates percebeu isso - e por isso quis aguentar e evitar o resgate. Sabia que havia maneira de fazer de outro modo e sabia que a Europa queria fazer de outro modo. A actual direcção do PS, que entrou em campo com a primeira prioridade engatada em defender a narrativa passista contra Sócrates, por conveniência interna, nunca mais conseguiu perceber nada do que se passa. E continua numa guerrilha onde, não percebendo a dinâmica europeia, só pode estar sempre a cair em emboscadas do governo. Na verdade, o PSD detesta Portas, mas adoptou em toda a linha o esquema de propaganda do feirante ocasional de camisa aberta. E, para a oposição que temos, isso vai chegando.