12.3.14

a Ucrânia e nós.


Já expliquei que nada no assunto Ucrânia me parece linear ("Um apontamento Ucraniano"). Contudo, o que tem acontecido nesse país merece uma reflexão mais geral sobre os processos de contestação. Deixo, por hoje, só a minha contradição de partida.

Por um lado, a forma violenta como se processou a mudança de poder na Ucrânia deu acesso aos comandos do Estado a uma série de forças indesejáveis, nomeadamente extremistas de direita, incluindo saudosistas dos partidários de Hitler, sendo que algumas dessas forças não hesitam em usar a violência para abrir caminho. Isso poderia ter sido evitado com uma transição pacífica e negociada, ou se, pelo menos, o anterior poder tivesse respeitado mais lealmente as oposições.

Por outro lado, provavelmente nada teria acontecido se as oposições se tivessem mantido pacíficas. O anterior grupo dirigente estava agarrado às suas cadeiras e nunca mudaria no essencial o seu estilo autoritário (para dizer o mínimo). É quase certo que só a violência permitiu desestabilizar a anterior situação.

Vale a pena obedecer só para evitar a violência e as suas consequências? Ou "perdido por cem, perdido por mil"? As respostas "burocráticas" não ajudam a explicar nada. E, um destes dias, podemos voltar a pensar nisto a partir do caso da Grécia: vendo as coisas da actualidade, valeu ou não valeu a pena agitar a rua num dado momento de um passado recente?