19.2.14

Vitorino e Capucho.

Nesse recanto do mundo que dá pelo nome de "redes sociais", vai um clamor de escândalo por António Vitorino ter apresentado o livro do ex-ministro Gaspar. O mínimo que lhe chamam parece ser traidor. Não li nada que parecesse uma análise política ao conteúdo da intervenção de Vitorino, um homem que está habituado a dizer tudo o que entende sem perder a cortesia em frente dos seu interlocutores, por ser suficientemente inteligente para não precisar da grosseria para se fazer ouvir. Suspeito, pois, que o clamor é basicamente contra o simbolismo de um socialista simplesmente respirar o mesmo ar que Gaspar. Apesar de eu não ter a mínima simpatia por Gaspar, respiro mal nesta tentativa de separar o país em ilhéus, cada um a servir de colónia para uma corrente de opinião. 
De qualquer modo, suponhamos que Vitorino expressou alguma opinião sobre Gaspar que os escaldados como eu não podem aceitar. Será isso motivo para o tratar como renegado? Só digo o seguinte: alguns dos que ainda há poucos dias se escandalizavam por causa da expulsão de Capucho do PSD, por mais do que pura opinião, e bradavam contra o suposto sectarismo, alguns desses agora apressam-se a excomungar Vitorino por delito de opinião. Não dará que pensar?
Em democracia, qualquer partido que aspire a fazer algo de concreto tem de ser muito plural, para fazer convergir no essencial muita gente com muitas diferenças de opinião. Batalhar pelo sectarismo é entregar o ouro ao bandido. Neste caso,  como danos colaterais, talvez Seguro agradeça.