25.2.14

a flor do cardo.


Alguém, de nome Nuno Abrantes Ferreira (não sei se é nome real ou nome artístico) escreveu há dias por aí esta pérola:
«A minha empregada doméstica chama-se Deolinda. Tem 42 anos e quando era jovem sonhava ser fadista. Ainda chegou a cantar em casas de fado, mas nunca conseguiu viver das cantorias. E um dia teve de deixar cair o xaile, desistir dos sonhos de menina e pegar num espanador para limpar o pó dos outros. E ainda bem! Porque se ela fosse fadista, quem é que hoje me limpava a casa e me engomava as camisas?!»

Eu poderia dedicar-me a chamar nomes a quem escreveu isto. Não vale a pena: o escriba é capaz de achar que eu estava bem era a limpar-lhe a casa ou a engomar-lhe as camisas - e quem sou eu para lhe dizer que ele seria mais útil a engomar do que a escrever nos jornais? Chamar nomes aos aristrocatas que teorizam sobre as ilusões da ralé (pelo menos é como eles parecem ver a coisa) é uma perda de tempo.

O texto que estou a mencionar tem por título "O sonho não comanda coisíssima nenhuma". Creio que o artista que dá pelo nome de Nuno Abrantes Ferreira deve pensar que só se sonha a dormir. De uma coisa estou convicto: o tal artista teria deixado o mundo em melhor estado se tivesse estado a dormir todo o tempo que andou a pensar e a escrever esta ode às ovelhas de rebanho. Pagarão bem aos profetas do conformismo?