30.1.14

o inconseguimento de Assunção Esteves.




Vai por aí um tsunami de escândalo e espanto com os termos usados por Assunção Esteves numa entrevista. O vídeo inserido acima é um dos exemplos das escolhas de palavras que têm dado pasto a esse barulho do diz-que-disse. Desculparão os meus amigos que muito se têm rido e gozado com estas palavras de Assunção Esteves, mas atrevo-em a perguntar: estão aborrecidos por a senhora falar difícil? Acho que deveriam estar mais preocupados com os disparates que por aí se dizem em substância.

Claro, já ninguém quer ler um livro de Heidegger porque é difícil, ou de Habermas, ou de Sartre, vindo depois que também há artigos de jornal que são difíceis (e dizemos mal) e poemas que são difíceis (e não lemos) e puxamos para baixo, para que todos falem fácil, escrevam fácil... pensem fácil.

Se há um demagogo qualquer (há vários) a dizer tolices semanalmente na TV, criticamos se vai contra as nossas opiniões. Mas até somos capazes de aceitar se gostamos das teses... porque é preciso ler a cartilha ao povo. O que queremos é conversa fácil.

Eu não falo como Assunção Esteves, sabe quem me conhece. Ela adora rodriguinhos. Pode não ser o meu estilo - não é. Mas isso não devia merecer o escárnio que por aí tem andado. Seremos já tão incapazes de ouvir um discurso com conteúdo que tropeçamos nas palavras e somos por isso impedidos de chegar às ideias propriamente ditas? Ou será que simplesmente nos vingamos de não percebermos os conceitos com piadas torcidas acerca do estilo?

Em questões de gosto, podemos ter preferências por este ou aquele estilo, mas não cabe diabolizar uma pessoa ou um discurso por questões de estilo. Principalmente em tempos de grande exigência como estes que vivemos, acho que devemos poupar as nossas raivas para as questões de fundo, de substância, em vez de gastar as energias em ataques vulgares contra a forma como uma pessoa coloca rendilhados no seu falar. Acresce que anda por aí muita gente, até com responsabilidades, que se calhar ficou irritada por não perceber toda a extensão do que ela disse - e depois vingam-se fazendo barulho. Estou cansado dos que exigem que se fale barato e se pense barato. E estou cansado de que, quando não se gosta de alguém, tudo vale para a achincalhar.

Acresce que, em minha opinião, a segunda figura do Estado diz, nestas breves palavras, coisas muito acertadas. O que nem sempre é o caso, ainda em minha opinião. Contudo, abomino estes "campeonatos de boxe": quando entendemos que alguém não está do nosso lado da barricada, tudo o que ela diga serve de pasto ao escárnio.

Pronto, podem começar a insultar-me.