4.1.14

análise do pântano.


À ESPERA DOS BÁRBAROS
por Constantino Cavafy



O que esperamos nós em multidão no Forum?

          Os Bárbaros, que chegam hoje.

Dentro do Senado, porque tanta inacção?
Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?

          É que os Bárbaros chegam hoje.
          Que leis haveriam de fazer agora os senadores?
          Os Bárbaros, quando vierem, ditarão as leis.

Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?
E às portas da cidade está sentado,
no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?

          Porque os Bárbaros chegam hoje.
          E o Imperador está à espera do seu Chefe
          para recebê-lo. E até já preparou
          um discurso de boas-vindas, em que pôs,
          dirigidos a ele, toda a casta de títulos.

E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,
hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?
E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,
e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?
E porque levavam hoje os preciosos bastões,
com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?


          Porque os Bárbaros chegam hoje,
          e coisas dessas maravilham os Bárbaros.

E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores
para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?

          Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,
          e aborrecem-se com eloquências e retóricas.

Porque, subitamente, começa um mal-estar,
e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!
E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,
e todos voltam para casa tão apreensivos?

          Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.
          E umas pessoas que chegaram da fronteira
          dizem que não há lá sinal de Bárbaros.

E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?
Essa gente era uma espécie de solução.

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(tradução de Jorge de Sena)