6.11.13

afinal, também há alemães bons...


Segundo leio, «O Partido Socialista congratula-se com a designação, hoje confirmada, de Martin Schulz como candidato do Partido Socialista Europeu (PSE) à presidência da Comissão Europeia.» Isto resulta da ideia, que fez caminho nos últimos anos, de que as famílias políticas europeias devem anunciar previamente quem apoiarão para presidente da Comissão na sequência das eleições para o Parlamento Europeu.

Este apoio não é propriamente uma novidade e também não esperava que o PS pudesse fazer diferente. De qualquer modo, cabe notar que este cenário pode trazer futuras dificuldades (mormente, eleitorais) ao Partido Socialista. Se a Alemanha, como se espera, vier a ser governada proximamente por uma "grande coligação" (CDU/CSU-SPD), o partido de Martin Schulz passará a ser co-artífice da governação alemã, passando a constar na mesma fotografia que Merkel na política europeia. Não é difícil imaginar que isso possa ter custos, principalmente se o SPD não tiver capacidade para impor algumas modificações relevantes na política europeia da Alemanha, designadamente no que toca à forma de conceber a solidariedade com "o Sul". Contudo, isso pode nem ser o mais complicado de gerir para o PS. Suponhamos que a "grande coligação" passa por uma cláusula (eventualmente, secreta até ao desfecho das eleições europeias) que faça de Martin Schulz o candidato da Alemanha (e, portanto, da senhora Merkel) a comissário ou a presidente da Comissão Europeia. Nesse caso, Martin Schulz passará a ser, ainda mais claramente, o "homem de Merkel" na Europa. Grande desafio. Por quê recear um cenário destes? Porque vários líderes socialistas e socialdemocratas têm chegado ao poder e frustado as expectativas que os eleitorados tinham de que conseguissem mudar alguma coisa, nos seus países e na Europa. Se essa decepção se repetir com a Alemanha, um tsunami abater-se-á sobre todos os "partidos irmãos". E, então, também sobre o PS português. A maldição da múmia (quando chegam lá, não conseguem mudar nada) tornar-se-ia (sublinho a forma verbal: tornar-se-ia) uma peste devastadora para as esquerdas moderadas e pró-europeias em todo o continente.

Bem entendido, temos de ter alguma esperança de que o SPD, chegado ao poder na Alemanha, consiga mudar alguma coisa na governação alemã e europeia. Mas a vida tem demonstrado que nem todas as esperanças nos dão saúde.