25.4.13

é o amor.



Fui ver o último João Canijo. "É o Amor". As mulheres dos pescadores de Caxinas. (Ok, para saberem o que dizem as sinopses dos críticos procurem noutro sítio, que eu não sou crítico. Passo à minha visão do objecto.)

Pode parecer um documentário, à primeira vista. Se fosse um documentário, não seria grande coisa: o tempo não é de documentário. É, isso sim, um ensaio e, convenientemente, tem o tempo de ensaio: tempo de deixar tempo para pensar para além das imagens. Quando as imagens encharcam, isso é para nos dar a oportunidade de pensar mais qualquer coisa.

É nesse espaço que surge o filme: em grande parte construído pela actriz Anabela Moreira, que é também o nome da sua personagem. Pergunta-se: que tem isso de interessante, se todas as outras pessoas que aparecem estão com os seus próprios nomes - e se isso deve indicar que é mesmo um documentário? Pois, nem tudo o que parece é. A Anabela Moreira, depois de ter construído, com a sua pertença lá, toda a situação que permite o filme (familiarizando-se com as outras mulheres), constrói depois, dentro dessa bolha, toda uma história, toda uma questão. Ela é o peixinho fora de água, no meio de pescadoras que fazem pela vida digerindo as angústias que ela tem como mulher e profissional, cabendo-lhe a ela montar toda a história que faz do filme aquele filme. A história da actriz urbana que se descobre peixinho fora de água perante mulheres de raça. E, claro, a "Mestre", a mulher de pescador, Sónia Nunes, também está a representar, não está só a ser "a Sónia Nunes", está a ser aquela personagem e faz isso muito bem (mesmo que não saiba fazer a teoria do que ali fez).

Visto mais de longe, "É o Amor" é um encontro de raspão entre dois mundos, sendo que o planeta é que rasga o cometa: o cometa vem em grande velocidade, de fora do sítio, para ver as dificuldades de Caxinas, mas é o cometa que acaba impressionado. Perante a força de quem, à partida, pensaríamos ser "o elo fraco", mas se revela o elo forte, porque não há tempo para dar de comer à dor.

Um filme mais difícil do que parece à primeira vista, mas, sem dúvida, um João Canijo. O que o torna obrigatório.