27.4.13

credo, eleições.


“Vertigem e obsessão por eleições” estão a condicionar o PS, diz Moreira da Silva.

Também concordo que os partidos democráticos não devem ser eleitoralistas. Quero dizer: não devem afirmar, irresponsavelmente, e apenas para tentarem ganhar eleições, aquilo que não possam respeitar quando forem governo. Mas, quanto à recente descoberta do PR, e agora do número 2 de Passos, de que as eleições são para estar quietinhas no seu sítio para não incomodarem o governo, várias perguntas se me colocam.
Cavaco só descobriu o valor da estabilidade quando os partidos que o apoiam chegaram ao governo? O PSD só descobriu agora o perigo do eleitoralismo, depois de ter provocado uma crise por interesse partidário e de ter ganho eleições a cavalo numa ementa de mentiras?
Além dessas perguntas, corriqueiras, ocorre-me outra: os eleitores deverão ser impedidos de concluir que foram enganados nas últimas eleições? Os eleitores deverão ser impedidos de concluir que o governo em exercício é uma nódoa? E se a rejeição popular for esmagadora, podemos ignorar isso?
Eu até escrevi aqui, recentemente, que não julgo razoável que o PS ande insistentemente a pedir eleições, como já fez, porque não acho que esteja consolidado como alternativa, havendo muito trabalho de casa a fazer nesse sentido. E mantenho essa posição. Mas, e Seguro esteve bem ao afirmá-lo com clareza, é vital para a democracia que haja alternativa. E ela é tanto mais urgente quanto mais maléfico é o trabalho do governo. E, por vezes, a dimensão do desastre opõe-se aos calendários e à própria estabilidade, que não é um fim em si, mas um valor instrumental. Tentar diabolizar as eleições é politiquice: politica da boa seria, da parte do presidente e do governo, trabalhar para que o seu desempenho não dê aos portugueses ganas de os correr antes do calendário. Infelizmente, governar bem é mais custoso do que ameaçar com o papão. Embora a instabilidade possa, de facto, ser um papão. Aliás, o papão que foi a causa mais imediata do "resgate", diligentemente empurrado pela voracidade dos que agora se agarram apenas à estabilidade, como se fosse o valor único. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas às vezes sem que mude nada a (falta de) qualidade dos actores.